Explique por que os donos de fábricas preferiam

Explique por que os donos de fábricas preferiam

Adaptado de HUNT (2005) Observando o quadro, podemos perceber que Portugal tem uma vantagem absoluta na produção de vinho e de tecidos, isso significa afirmar que são necessárias menos horas de trabalho para produzir estas mercadorias em Portugal do que sua produção na Inglaterra. Vemos que em Portugal são necessárias 90 horas para produzir uma unidade de tecido e 80 horas para produzir uma unidade de vinho. Significa dizer que o vinho precisa de 88% do trabalho exigido pelo tecido e que o preço do vinho equivale a 88% do preço do tecido. Já na Inglaterra, o trabalho necessário à produção de vinho e seu preço equivalem a 120% do trabalho. Segundo Ricardo, Portugal utiliza menos trabalho na produção de vinho e o preço é mais baixo, de outro lado Portugal usa 112% do trabalho incorporado na produção de vinho para produzir tecido e, assim, o preço do tecido equivale a apenas 83% do preço do vinho. Assim sendo, a Inglaterra utiliza relativamente menos trabalho para produzir tecido, mas de outro lado utiliza mais trabalho, em termos absolutos; portanto, a Inglaterra tem uma vantagem relativa na produção de tecido. (HUNT, 2005, p. 138-139). TÓPICO 3 | ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA 27 Ricardo demonstrara ainda como a acumulação de capital acompanhada pelo aumento populacional ocasionaria uma elevação da renda da terra. Demonstra que os rendimentos decrescentes diminuem de tal forma os lucros que a poupança se torna nula, tendo-se uma condição de economia estacionária, com salários de subsistência e crescimento nulo (VASCONCELOS; GARCIA, 1999; PINHO et al., 2003; HUNT, 2005). Considerado um trabalho primordial, a teoria da renda da terra de Ricardo é uma das principais formulações e contribuições para o período dos clássicos. Ricardo sustentava em duas hipóteses sua teoria: em primeiro lugar, considerava que a terra era diferente em sua fertilidade e que as terras poderiam se ordenar a partir da mais fértil para a menos fértil; a segunda premissa é a de que a concorrência sempre igualava a taxa de lucro dos fazendeiros capitalistas que arrendassem terra dos proprietários (HUNT, 2005). A teoria das vantagens comparativas defende que uma nação exportará sempre os produtos que produzir com custos relativamente menores que outros e importando os produtos nos quais se tem um custo mais elevado, o que resultaria em vantagens para ambas as economias, por isso teoria das vantagens comparativas (PINHO, et al., 2003). ATENCAO IMPORTANT E A teoria do valor-trabalho. Ricardo sustentava que o valor de uma determinada mercadoria dependia do trabalho nela incorporado. Por isso, para Ricardo as mercadorias sempre teriam preços proporcionais ao trabalho nelas incorporado (HUNT, 2005). 2.3 THOMAS ROBERT MALTHUS (1766-1834) Thomas Robert Malthus (1766-1834) era filho de família inglesa de posses. Estudou na Universidade de Cambridge. Mais tarde lecionou Economia Política na faculdade da Companhia das Índias Orientais em Harleybury, onde ficou até sua morte. O contexto histórico que viveu Malthus foi muito tumultuado e permeado por conflitos de classes, e suas obras de certa forma refletem a sua posição em relação a esses conflitos. O conflito era a Revolução Industrial, que ocorre justamente pelo sofrimento por conta da precarização das relações de trabalho que a classe operária estava passando. 28 UNIDADE 1 | ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA FIGURA 8 - THOMAS ROBERT MALTHUS FONTE: Disponível em: <https://jellyfishcoolman.files.wordpress. com/2009/10/malthus.jpg> Acesso em: 10 jan. 2015. A Revolução Industrial trouxe aumentos da produtividade, a construção de fábricas, o uso de máquinas na produção. Essas mudanças faziam com que houvesse um aumento da produtividade. Por outro lado, as condições de trabalho para a classe operária eram precárias, em níveis de mera subsistência, os sacrifícios sempre foram feitos por aqueles que tinham menor poder econômico e político, ou seja, a classe operária. A classe operária na Inglaterra vivia perto dos níveis de subsistência, com o salário deteriorado, isso por volta de 1750, na segunda metade do século XVIII (HUNT, 2005). Nessa época da Revolução Industrial é consenso de muitos estudiosos e historiadores que as condições de vida dos trabalhadores decaíram muito, e que "os pobres ficaram mais pobres simplesmente porque as classes média e rica ficaram obviamente mais ricas” (HUNT, 2005, p.111). Justamente neste momento em que os pobres estavam nas piores condições possíveis, a classe média e rica estava com capital excedente, o qual utilizava para investir. Por isso não se tem dúvidas de que quem sempre arcou com os custos sociais necessários à industrialização foi a classe trabalhadora. Este momento ainda é marcado pela perda, usurpação da "habilidade artesanal", do trabalhador, pois da manufatura passa a submeter-se ao novo sistema fabril, o que destruiu completamente o modo de vida deste trabalhador (HUNT, 2005). TÓPICO 3 | ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA 29 FIGURA 9 - PROCESSO DE EXPROPRIAÇÃO DOS TRABALHADORES FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/ images?q=tbn:ANd9GcQiSnj5-ASLIzEMTcflRcJMpGOZQXHBB6cUvKyoZkrW 2051SLkbg>. Acesso em: nov. 2012. Agora, no novo sistema fabril, a única relação era de troca entre trabalho e salário, os trabalhadores foram perdendo o acesso aos meios de produção e foram reduzidos a meros vendedores da força de trabalho e totalmente dependentes das condições de mercado para sua sobrevivência. "A máquina, que antes era um apêndice do homem, se tornava agora o ponto central do processo de produção. O homem passou a ser um simples apêndice da máquina fria, implacável e ditadora do ritmo de trabalho” (HUNT, 2005, p. 112). Esse novo sistema fabril fez com que grupos de trabalhadores destruíssem máquinas e fábricas que, segundo eles, eram responsáveis pela sua má situação. A divisão do trabalho na fábrica fez com que mulheres e crianças sem treinamento algum pudessem trabalhar tão bem quanto os homens. Para o capitalista era muito lucrativo, já que os salários pagos às mulheres e crianças eram bem mais baixos com relação aos homens. Em muitos casos, relatam os historiadores que, dadas as condições da época, famílias inteiras se submetiam a trabalhos precários nas fábricas, recebendo o suficiente apenas para comer, na maioria dos casos. Em alguns casos ainda há relatos de que os donos das fábricas preferiam mulheres e crianças, pois eram mais "obedientes" e "dóceis". 30 UNIDADE 1 | ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA No contexto descrito acima, em meio aos conflitos de classe da época da Revolução Industrial, Malthus era defensor declarado dos ricos, tanto que sua teoria da população serviu para defender esta classe. Em 1798 ele publicou sua obra intitulada An Essay on the Principle e of Population as It Affects the Future Improvement of Society, with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet, and Other Writers, geralmente conhecida como Ensaio sobre o Princípio da População. Em 1814 a principal preocupação de Malthus era com relação à luta entre os proprietários de terras e os capitalistas. Nesse período Malthus sempre defendeu os interesses da classe dos proprietários de terras. Nos princípios, a base teórica mais importante de sua defesa dos proprietários de terras era sua teoria da “superprodução” ou das depressões econômicas (HUNT, 2005, p. 118). As condições sub-humanas da classe operária e a inquietação e revolta de muitos trabalhadores fizeram surgir muitos defensores desta classe, nomes como do francês Marie Jean Antonie Nicolas de Caritat, e o inglês Willian Godwin. Malthus era contrário a essas ideias, o que foi base para seu primeiro ensaio. Quanto à sua principal teoria, a chamada teoria da população, Malthus baseava suas conclusões relativamente de forma simples: acreditava que quase todas as pessoas eram impelidas por um desejo de

Explique por que os donos de fábricas preferiam
Explique por que os donos de fábricas preferiam
Explique por que os donos de fábricas preferiam

Explique por que os donos de fábricas preferiam

THOMAS ROBERT MALTHUS E.K. Hunt Thomas Robert Malthus (1766-1834) era filho de uma família inglesa de posses. Foi educado na Universidade de Cambridge e, em 1805, foi nomeado para o corpo docente da faculdade da Companhia das Índias Orientais, em Harleybury. Ocupou a primeira cate​dra inglesa de Economia Política, onde permaneceu até sua morte, em 1834. Malthus viveu numa época tumultuada, de intensos conflitos de classes, e suas obras refletem sua posição com relação a esses conflitos. Havia dois conflitos principais. Discu​tiremos cada um deles separadamente. Primeiro, a Revolução Industrial só foi possível com imensos sacrifícios e grande sofrimento da classe operária em geral. Os trabalhadores nem sempre aceitavam humildemente estes sacrifícios e, conseqüentemente, sofriam não só com as angústias sociais e econômicas, como também com a opressão legislativa e política. Em segundo lugar, em fins do século XVIII e início do século XIX, a antiga classe proprietária de terras ainda tinha o controle efetivo do Parlamento inglês e travou-se um intenso conflito entre esta classe e a nova classe capitalista industrial. Este conflito foi travado com vistas ao controle do Parlamento, mas a razão última era decidir se a Inglaterra deveria continuar com uma economia agrícola relativamente auto-suficiente ou transformar-se numa ilha dedicada basicamente a produção industrial. CONFLITOS DE CLASSES NO TEMPO DE MALTHUS A Revolução Industrial trouxe aumentos da produtividade humana sem precedentes na História. A construção generalizada de fábricas constituiu a base mecânica desse aumento. Mas, para canalizar a capacidade produtiva da economia para a criação de bens de capital, era preciso destinar uma parte relativamente muito menor desta capacidade à fabricação de bens de consumo. Os bens de capital tinham que ser comprados a um custo social que implicava privações em massa. Embora as mudanças tecnológicas tenham aumentado a produtividade, diminuindo, com isso, um pouco este custo social, seus efeitos não foram, de modo algum, suficientes em relação ao volume crescente de capital que estava sendo acumulado. Historicamente, em todos os casos em que a sociedade foi obrigada a suportar um nível de mera subsistência para alguns de seus membros, os sacrifícios sempre foram feitos pelos que tinham menos poder econômico e político. O mesmo aconteceu com a Revolução Industrial, na Inglaterra. A classe operária vivia perto do nível de subsistência, em 1750, e seu padrão de vida (medido em termos do poder aquisitivo dos salários) deteriorou-se na segunda metade do século XVIII. Esta tendência dos padrões de vida da classe operária nas primeiras décadas do século XIX é um tema controvertido entre os historiadores. O fato de muitos estudiosos eminentes encontrarem evidência bastante para argumentar que o padrão de vida deixou de aumentar ou até mesmo baixou nos leva á conclusão de que qualquer aumento, naquela época, deve ter sido, quando muito, diminuto. Em toda a época da Revolução Industrial, não há dúvida de que o padrão de vida dos pobres caiu sensivelmente em relação aos padrões das classes média e superior. Uma análise detalhada mostra que os relativamente pobres ficaram mais pobres simplesmente porque o país e sua classe rica e média ficaram, obviamente, mais ricos. No exato momento em que os pobres estavam nas piores condições possíveis... a classe média estava com sobra de capital, que investia quase que integralmente em estradas de ferro e gastava em mobiliário e artigos domésticos apresentados na Grande Mostra de 1851 e em construções opulentas nas cidades ... nas escuras cidades do norte.� Não pode haver dúvida quanto à classe que arcava com os custos sociais, em termos do consumo sacrificado necessário para a industrialização. No entanto, os custos, em termos de menor consumo, não eram, de modo algum, a única e talvez nem a pior dificuldade que a Revolução Industrial obrigou a classe operaria a suportar. O novo sistema. fabril destruiu completamente o modo de vida Tradicional dos trabalhadores, lançando-os num mundo de pesadelos para o qual estavam completa​mente despreparados. Eles perderam o orgulho da habilidade pessoal no trabalho e a proximidade das relações pessoais que existia nas indústrias artesanais. Pelo novo sistema, sua única relação com seu empregador era através do mercado impessoal, ou o elo do dinheiro. Eles perderam o acesso direto aos meios de produção, tendo sido reduzidos a meros vendedores de força de trabalho, totalmente dependentes das condições de mercado para sua sobrevivência. Talvez pior do que qualquer destas dificuldades fosse a regularidade monótona e mecânica imposta ao operário pelo sistema fabril. Na Europa pré-industrial as tarefas do operário não eram tão especializadas. Ele passava de uma tarefa para outra, e seu trabalho era interrompido pela variação das estações do ano ou do tempo. Quando queria descansar, divertir-se ou mudar o ritmo de sua rotina de trabalho, tinha certa liberdade para fazê-lo. O emprego na fábrica trouxe consigo a tirania do relógio. A produção era mecanizada e era preciso uma regularidade absoluta para coordenar a complexa interação dos processos e maximizar o uso da nova e cara maquinaria. O ritmo de trabalho não era mais decidi​do pelo indivíduo, mas pela máquina. A máquina, que, antes, era um apêndice do homem, era, agora, o centro das atenções do processo de produção. O homem passou a ser um simples apêndice da máquina fria, implacável e ditadora do ritmo de trabalho. Em fins do século XVIII e começo do século XIX, uma revolta espontânea contra o novo sistema fabril fez com que grupos de trabalhadores destruíssem máquinas e fábricas que, para eles, eram responsáveis pela sua má situação. Estas revoltas, chamadas revoltas de Luddite, terminaram em l8l3, quando muitos trabalhadores foram enforcados ou deportados por suas atividades. A extensa divisão do trabalho na fábrica tornou grande parte do trabalho tão rotineiro que mulheres e crianças sem treinamento algum podiam trabalhar tão bem quanto os homens. Como as mulheres e crianças podiam ser empregadas com salários muito mais baixos do que os dos homens e como, em muitos casos, famílias inteiras tinham que trabalhar para ganhar o suficiente para comer, as mulheres e as crianças eram muito requisitadas. Muitos donos de fábrica preferiam as mulheres e as crianças, porque elas podiam ser reduzidas a um estado de obediência passiva mais facilmente do que os homens. A ideologia difundida naquela época - de que a boa mulher era a mulher submissa - era de grande valia para seus empregadores. As crianças eram ligadas às fábricas por contratos de aprendizado4 com a duração de sete anos ou até atingirem 21 anos de idade. As crianças não recebiam quase nada em troca das muitas horas de trabalho, nas piores condições possíveis. As autoridades que controlavam a Lei da Pobreza podiam contratar os filhos dos pobres, e isto levava a "negociações habituais ... (em que) as crianças ... eram tratadas como meras mercadorias ... entre as máquinas de fiar de um lado e as autoridades que controlavam a Lei da Pobreza do outro. Grupos de cinqüenta, oitenta ou mesmo cem crianças eram mandados para as fábricas como gado, onde ficavam presas muitos anos"� As crianças viviam na mais cruel servidão. Permaneciam totalmente isoladas de quem quer que pudesse ter pena delas, ficando, assim, à mercê dos capitalistas,ou de seus gerentes contratados, cuja principal preocupação era o desafio das fábricas concorrentes. A jornada de trabalho das crianças durava de 14 a 18 horas ou até elas caírem completamente exaustas. Os capatazes eram pagos de acordo com o volume de produção das crianças e, por isso, forçavam-nas sem piedade. Em quase todas as fábricas, as crianças quase nunca tinham mais de 20 minutos por dia para sua principal (e muitas vezes única) refeição. "Os acidentes eram muito comuns, principalmente no fim do interminável dia de trabalho, quando as crianças,