Na aula passada foi visto que Paulo

 Depois de parte do teto de uma sala e de um ginásio do Centro de Ensino Paulo VI, no bairro da Cidade Operária, em São Luís, terem desabado na semana passada deixando quatro alunos feridos, as aulas tiveram que ser suspensas e só retornariam à normalidade nesta segunda-feira (28). Mas ao chegar na porta da escola, pais e alunos ficaram surpresos ao descobrirem que o reinício das aulas foi remarcado para a próxima semana.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) confirmou, na semana passada, que as aulas retornariam nesta segunda-feira (28), o que não aconteceu. O aluno Querlison Lucas contou que os estudantes não podem nem mesmo mudar de escola, uma vez que eles ainda não têm as notas do segundo bimestre.  “Disseram que era para virmos hoje, mas agora é para vir só segunda. Quem garante que segunda-feira vai ter aula. Nós nem podemos mudar de escola porque não temos nota nem do segundo bimestre”, lamentou.

A demora em iniciar as aulas tem causado revolta e preocupação nos pais e nos alunos. O técnico em TI Miguel Muniz, que também é pai de um aluno da escola conta que houve falta de comunicação por parte da escola e que os mais prejudicados são os alunos. “Mais dias sem os alunos poderem retornar à escola. Assim, as crianças perdem dias de aula”, reclamou.

O prédio da escola já havia sido fechado. Na ocasião, o centro de ensino fechou para reforma no final do mês de abril e as obras duraram quatro meses. No entanto, os estudantes informaram que os reparos não passaram da pintura da fachada e da troca de portas de algumas salas de aula. “Infelizmente, a calamidade das escolas públicas hoje, está assim”, queixou-se outro aluno.

A situação fica pior para quem está matriculado no 3º Ano e precisa dos conteúdos para realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como é o exemplo do aluno Rafael Solano que disse que o jeito vai ser estudar em casa, por conta própria. “Vou ter que estudar em casa porque na escola está complicado. Ela não fornece condições para isso”, contou.

A diretoria do centro de ensino foi procurada, mas não se pronunciou sobre o assunto. O porteiro disse que somente os adjuntos estavam presentes. Somente o porteiro da escola falou à reportagem. “Estão só os adjuntos. Eles não têm permissão para falar”, afirmou.

A Secretaria de Estado de Educação informou que o Centro de Ensino Paulo VI continua em manutenção e reparo do forro das salas de aula que está sendo substituído. A secretaria ressalta ainda que adiou o reinício das aulas para garantir a plena segurança da comunidade escolar e informa que, tão logo os trabalhos sejam concluídos, as aulas vão ser retomadas.

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Ginásio desaba em escola de São Luís (Foto: Camila Marques/ TV Mirante)

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(Foto: Instituto Paulo Freire)

Em Curvelo, a 170 km de Belo Horizonte, uma escola não tem fileiras, paredes ou apostilas didáticas. A aula é debaixo do pé de manga, e o conteúdo é a comunidade quem decide. “Paulo Freire deixou de ser uma pessoa e virou para nós um verbo: ‘Paulo Freirar’. Ao contrário do Evangelho de São João, que diz que ‘o verbo se fez carne’, um homem se fez verbo e educou todos nós”, conta Tião Rocha, fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD).

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A organização não governamental mantém a escola na cidade mineira de quase 80 mil habitantes como um exemplo vivo das ideias do educador pernambucano, que morreu em maio de 1997.

“Estabelecemos, então, que o verbo ‘Paulo Freirar’ só se conjuga no presente e significa não perder o foco. Não é um método, é olhar o outro pelo seu lado positivo, de forma solidária, um aprendizado permanente de troca”, afirma Rocha. Fundado em 1984, o Projeto Sementinha é uma iniciativa do CPCD para educação de crianças de quatro a cinco anos de idade e, além de Minas Gerais, já chegou a comunidades da Bahia, de São Paulo e do Maranhão.

A experiência da comunidade de Curvelo é inspirada na educação democrática e baseada em diálogo, como defendido por Paulo Freire, terceiro autor mais citado em pesquisas acadêmicas da área de humanas no mundo, segundo levantamento feito com a plataforma Google Scholar em 2016. Deixando livros de nomes como Karl Marx e Michel Foucault para trás, Pedagogia do Oprimido, sua principal publicação, já foi citada 72.359 vezes, atrás apenas de obras do filósofo Thomas Kuhn (81.311 vezes) e do sociólogo Everett Rogers (72.780), ambos norte-americanos.

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Influenciado pelo educador, o diretor Lourenço Garcia, que nasceu no arquipélago de Cabo Verde, dirige aquela que é considerada a melhor escola dos Estados Unidos, a Revere High School, nos arredores de Boston. O título foi dado à instituição pelo National Center for Urban School Transformation (em português, Centro Nacional para Transformação de Escola Urbana), entidade vinculada à Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, em reconhecimento à metodologia que alia a autonomia do aluno ao uso de novas tecnologias.

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Outro modelo que tem influência do pensador brasileiro é o adotado na Escola da Ponte, fundada em Portugal pelo educador José Pacheco, grande admirador da obra de Paulo Freire. Na unidade — e em outras que reproduziram o método pelo mundo —, os pilares são a educação baseada em diálogo e o empoderamento dos alunos. Os conteúdos são desenvolvidos por pesquisa: cada aluno segue seu ritmo e está sempre trocando experiências com os colegas. A escola não é dividida em turmas por série nem tem aulas com horário fixo para cada disciplina.

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(Foto: Tomás Arthuzzi + imagens do acervo Paulo Freire)

AVANÇO E RETROCESSO

No Brasil, uma das realizações mais famosas do pensador foi o projeto ousado que coordenou na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963. À época, o público-alvo não eram crianças, como na comunidade mineira, e sim 300 adultos — que foram alfabetizados em 45 dias. O novo método buscava não só ensinar a formar palavras mas também a relacioná-las ao contexto social e cultural da comunidade. A experiência, no entanto, não avançou, e hoje, mais de 50 anos depois, um quarto dos adultos ainda não sabe ler nem escrever no município.

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Nos anos 1960, quando Freire começou a implantar seus projetos, 39,7% dos brasileiros eram analfabetos, a população era predominantemente rural e só um terço das crianças frequentava escolas. “Na década de 1960, o Brasil era um dos piores países em termos de analfabetismo, mesmo entre os da América Latina, mas o número de analfabetos começou a cair anualmente, em grande parte por conta do processo de urbanização”, explica a historiadora Maria Luiza Marcílio, professora da USP e autora de livros como História da Escola em São Paulo e no Brasil.

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A iniciativa de Paulo Freire, porém, não foi vista com bons olhos pela Ditadura Militar, que o investigou e o manteve preso durante 72 dias na Delegacia de Segurança Social de Pernambuco por “subversão no meio intelectual e estudantil através do seu ‘suposto’ método de alfabetização”.

De acordo com documentos da Secretaria de Segurança Pública, os militares consideravam Freire um “homem notoriamente ligado à política esquerdista”, que “vinha comunizando o Nordeste através do seu método de alfabetização de estilo revolucionário”. Depois da prisão, o educador teve que deixar o país, em 1964. No exílio, seguiu para a Bolívia, depois para Chile, Estados Unidos e Suíça. Regressou definitivamente ao Brasil em 1980 [veja linha do tempo ao lado].

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EM PAUTA

Em 2016, o nome do educador voltou ao debate político depois que o Senado colocou em pauta o Projeto de Lei nº 193/2016, de autoria de Magno Malta (PR-ES), mais conhecido como Escola Sem Partido, que visa coibir a “doutrinação ideológica e política em sala de aula”.

“O que a gente defende é que alguns dos ensinamentos de Paulo Freire se chocam com a Constituição. Nossa crítica é de natureza jurídica, porque o uso da sala de aula para efeito de transformação da sociedade, como ele defendia, dependendo da maneira com que isso é aplicado, viola a liberdade dos alunos e a neutralidade política e ideológica do Estado”, diz Miguel Nagib, advogado e coordenador do movimento Escola Sem Partido.

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Sua indignação, conta, partiu da experiência como pai. Segundo ele, um professor de História de sua filha comparou em sala de aula o revolucionário Che Guevara a São Francisco de Assis.

Em meados de 2016, no auge da discussão sobre o projeto, o verbete sobre a biografia de Paulo Freire na Wikipedia foi alterado com informações incorretas — entre elas, a participação do pensador na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, de 1996, que teria gerado um ensino “atrasado, doutrinário e fraco”. O novo texto, depois revertido, atribuía ao pernambucano a origem da “doutrinação marxista” nas escolas e universidades.

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As alterações foram notadas por um grupo que monitora mudanças em páginas da Wikipedia e identificadas como feitas a partir de uma rede do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Em nota à época, o Serpro, empresa de tecnologia da informação do governo federal, afirmou que a edição não foi realizada nas suas instalações, mas em um órgão público federal cujo nome não pode ser divulgado por questões contratuais.

O episódio é simbólico. Mais de cinco décadas depois das primeiras experiências de Paulo Freire, a educação brasileira retoma as disputas ideológicas, enquanto velhos fantasmas continuam a assolar o país, como a má formação de professores, a evasão escolar e o analfabetismo.

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Na aula passada foi visto que Paulo
Em 1961, de cada cem alunos que entravam no Ensino Fundamental, só 5,6 chegavam à universidade. Em 2014, de cada cem alunos do Ensino Fundamental, 14 chegavam à universidade / Fonte: Censo Escolar, Inep, 2015/QEdu. (Foto: Tomás Arthuzzi + imagens do acervo Paulo Freire)

ENTRE OS PIORES

Em 1950, metade dos brasileiros eram analfabetos. Gradativamente, esse número caiu nas últimas décadas até atingir os atuais 8%. Essa porcentagem significa que 12,9 milhões de pessoas com mais de 15 anos não sabem ler nem escrever, dado que ainda deixa o Brasil em posição desagradável entre os dez países com mais analfabetos no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Tal número, diz Maria Luiza Marcílio, reflete ações insuficientes de sucessivos governos desde meados do século passado. “Desde a década de 1960, o investimento se concentrou principalmente na educação das crianças. Prova disso é que quase a totalidade dos analfabetos no Brasil têm mais de 50 anos e são os remanescentes dessa época.”

Elvira Cabral faz parte dessa estatística. A infância pobre na zona rural de Minas Gerais impediu que ela, hoje com 66 anos, frequentasse a escola quando criança. “Minha mãe criou os filhos sozinha e levava a gente para trabalhar nas fazendas com ela”, diz.

O sonho de ler as primeiras palavras só foi realizado muito tempo depois, com a chegada da aposentadoria e com os filhos criados. “Eu me senti muito feliz quando consegui ler as primeiras palavras na televisão, as placas de ‘não fume’, ‘aluga-se’”, conta.

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Cabral participou das aulas do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) no Rio de Janeiro, inspirado no projeto de mesmo nome criado por Paulo Freire em 1989, quando assumiu a Secretaria Municipal da Educação em São Paulo. Naquela época, o programa funcionava em núcleos de alfabetização e tinha parcerias com associações, igrejas e outras organizações da sociedade civil.

O objetivo era ousado: erradicar o analfabetismo, que atingia, na ocasião, 1 milhão de pessoas com mais de 15 anos só na Região Metropolitana de São Paulo. O Mova paulistano, instituído na gestão petista de Luiza Erundina, beneficiou 20 mil habitantes, mas acabou em 1993, quando Paulo Maluf, então do Partido Democrático Social (PDS), assumiu a prefeitura.

“Os países que conseguiram eliminar o analfabetismo o fizeram porque entendiam que essa era uma prioridade e a enfrentaram com vontade política, o que nos tem faltado desde sempre. Não é de hoje”, afirma Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire, organização que criou o Mova-Brasil, com base na experiência paulistana.

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Em 13 anos de existência, o projeto alfabetizou 275 mil pessoas e formou 11 mil educadores em 692 municípios. E, apesar do esforço, ainda está muito longe de acabar com o problema no país. De acordo com Gadotti, muitos programas de alfabetização falham no Brasil porque não levam em conta necessidades específicas, repertório cultural e linguagem de diferentes grupos, como indígenas, negros, mulheres e trabalhadores rurais, por exemplo.

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“O analfabetismo de jovens e adultos é uma deformação social inaceitável, produzida pela desigualdade econômica, social e cultural”, avalia.

De fato, o problema ainda nos dias de hoje se concentra nas áreas rurais das regiões Norte e Nordeste e na periferia dos grandes centros urbanos.

AULAS CHATAS

Foi na década de 1940 que Paulo Freire descobriu a paixão pelo ensino, nas aulas de língua portuguesa que começou a lecionar quando ainda era estudante da Faculdade de Direito do Recife. Nessa época, escola era para poucos: apenas uma em cada cinco crianças em idade escolar estava realmente estudando. Hoje, ainda 2,8 milhões (6,2%) de crianças e adolescentes estão fora das salas de aula.

“Nos anos 90, nós conseguimos garantir o Ensino Fundamental universalizado no Brasil. Isso para mim é um avanço, uma conquista. Mas garantir acesso não significa necessariamente conseguir a permanência desses alunos, porque a escola ainda não dialoga com as crianças, com a família, com a comunidade”, destaca a professora Dulcineia de Fátima Ferreira, do Departamento de Ciências Humanas e Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “A criança é muito esperta; chega em um lugar sem vida, abandonado, feio, onde o que ela tem a dizer não tem importância, e vai perdendo o encantamento com a escola.”

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Atualmente, o pior resultado em rendimento está entre os alunos do primeiro ano do Ensino Médio: um em cada quatro são reprovados ou abandonam o colégio. Na mesma etapa de ensino, 31% estão dois anos ou mais atrasados na escola.

Segundo a pesquisa Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Por que Frequentam?, coordenada pela socióloga Miriam Abramovay, entre os principais motivos para a permanência dos alunos na escola estão “aulas legais” (para 23,3% dos entrevistados), passeios e atividades fora da escola (15,3%) e ensino mais relacionado com a vida do aluno (10%).

“Acho que a escola tradicional todo dia tenta matar Paulo Freire, porque ela existe para si mesma, tem um programa que vem de cima para baixo, ninguém participa”, avalia Tião Rocha. “É uma escola que vive de fila, que fala de um assunto que não tem nada a ver com a cultura local, que mais se parece com uma fábrica, com escala de trabalho. Que mais se parece com um quartel, com grades, autoridade e disciplina. E, às vezes, a escola se parece com um hospício.”

Foi justamente essa imagem que Braz Nogueira teve ao chegar pela primeira vez na Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Campos Salles, localizada em Heliópolis, uma das maiores favelas da cidade de São Paulo. “Quando cheguei lá, em novembro de 1995, tinha de cinco a seis brigas diárias, de arrancar sangue do outro, que ocorriam na frente da escola. Aquilo era um espetáculo”, diz.

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A violência era um dos principais desafios da Campos Salles, já que afastava alunos, pais e professores das salas de aula. “Não existe uma ilha de paz. Existe a construção de uma cultura de paz que a escola começou, e hoje essa é uma tarefa da comunidade e da escola”, ressalta o diretor, que se aposentou no início deste ano, depois de cerca de 20 anos à frente da instituição.

A saída, então, foi discutir abertamente e enfrentar toques de recolher, brigas e ameaças a professores, além de estabelecer comissões de alunos para resolver os próprios conflitos. “Pedagogia do Oprimido foi o responsável por me trazer para o mundo da educação”, diz Nogueira, que espalhou chaves da Campos Salles entre os moradores de Heliópolis, estabeleceu o ensino por ciclos — e não por séries — e quebrou as paredes que separavam as salas de aulas, dando lugar a grandes salões.

“Tudo que a gente faz é Paulo Freire, é transformar socialmente pela educação. Então não é uma educação para a neutralidade, é uma transformação social que a gente busca com base na justiça, na democracia, na autonomia, na responsabilidade e na solidariedade, e isso é Paulo Freire”, orgulha-se Nogueira.

SEM BASE

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Uma pesquisa realizada pela ONG Todos pela Educação, com base nas informações do Censo Escolar 2015, aponta que 54,1% dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental (do sexto ao nono ano) nas redes pública e privada não têm formação nas disciplinas que lecionam.

“Quando entrei na rede estadual de São Paulo, há cinco anos, eu substituía professores de ciências, biologia e matemática. Todo ano preciso completar minha jornada com aulas de física”, contou à reportagem uma professora de 29 anos formada em Química, que preferiu não se identificar. “Tive de estudar muito sozinha para dar conta e, como eu me esforcei bastante, os alunos nem perceberam, mas acho que esse esforço depende muito do professor”, conta ela, que diz perceber a falta de formação específica também na rede privada.

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Além da falta de professores, em especial em disciplinas como química, física e matemática, a pesquisadora Dulcineia Ferreira chama a atenção para outro problema em sala de aula: os educadores não são formados pela universidade para que estimulem as crianças às perguntas e à experimentação. “A nossa escola ainda é muito pautada na ideia de transmissão de conteúdo, é ‘magistrocêntrica’, tem o mestre como centro, acha que o saber está só no professor.”

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De acordo com Ferreira, especialista na obra de Paulo Freire, é preciso acabar com a hierarquia professor-aluno em sala de aula, onde o primeiro é visto como o detentor do conhecimento e o segundo deve, sem questionamentos, absorver todo o conteúdo ensinado. “A criança é, na maioria das vezes, treinada para responder de um modo às perguntas. Não é estimulada a exercitar o pensamento, então só sabe fazer aquela fórmula.”

Para provocar a participação de todos, nas comunidades onde o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento atua, como em Curvelo (MG), são adotadas ferramentas como a chamada pedagogia da roda, em que a pauta de estudo é construída com a contribuição de todos e, nesse sentido, o professor assume um papel de mediador do conhecimento coletivo.

“O bom educador tem que, primeiro, desejar aprender, olhar para o outro, não como desigual porque é criança — ela é diferente, e com ela você vai estabelecer trocas, aprender o que ela sabe, o que deseja, aprender a cultura do outro”, explica Tião Rocha.

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54,1% dos professores do sexto ao nono ano não têm formação nas disciplinas que lecionam / Fonte: Censo Escolar, Inep, 2015/QEdu. (Foto: Tomás Arthuzzi + imagens do acervo Paulo Freire)

O QUANTO FALTA

Se na década de 1960 o principal desafio no Brasil era garantir o acesso à educação, hoje é emergencial a melhoria da qualidade, dizem os pesquisadores.

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“Em termos de quantidade, nós fomos aumentando o número de matrículas até que chegamos, no final da década de 1990, a quase 100% das crianças nas escolas. Contudo, em termos de qualidade de ensino, foi um desastre. Se você verificar o Pisa [sigla em inglês para Programme for International Student Assessment, um dos principais panoramas da educação mundial], e mesmo as avaliações da Unesco, o Brasil é um dos piores em linguagens, matemática e ciências”, revela a pesquisadora Maria Luiza Marcílio.

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Para Dulcineia Ferreira, da UFSCar, o pior nem é o mau desempenho do país nos testes internacionais — já que o método de Paulo Freire não vê testes como ferramentas pedagógicas eficientes —, mas sim a formação precária de cidadãos. “Muitas vezes as pessoas vendem pacotes pedagógicos como sendo sinônimo de qualidade, mas precisamos desvincular a ideia de que qualidade tem a ver com quantidade de conteúdo. Qualidade tem a ver com qualidade social, o conhecimento que se aprende na escola tem que ter a ver com a vida”, diz. E a vida não se encerra nos portões da escola.

“Não podemos separar a qualidade da educação da qualidade como um todo, como se fosse possível ter qualidade ao entrar na escola e piorar a qualidade ao sair dela”, ressalta o presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti. “Isso significa investir nas condições que possibilitam essa nova qualidade, que inclui transporte, saúde, alimentação, vestuário, cultura, esporte e lazer; que inclui, também, a garantia de direitos humanos, sociais, políticos, econômicos, ambientais.” Ou, como escreveu o próprio Paulo Freire, “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”.

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Porcentagem de analfabetos no Brasil

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Fontes: PNAD e IBGE

“Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las”
Paulo Freire (Ação cultural para a liberdade e outros escritos — 1982)

VIDA E OBRA1921 - Nasce Paulo Reglus Neves Freire, na cidade de Recife (PE)1943 - Paulo Freire entra no curso de Direito, profissão que nunca exerceu. Nesse período, dá aulas de português1944 - Casa-se com a ex-professora primária Elza Maia Costa de Oliveira, com quem tem cinco filhos1964 - Golpe Militar. Paulo Freire fica 72 dias preso e, depois, decide deixar o Brasil1967 - Publica seu primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade1968 - Lança o livro Pedagogia do Oprimido, que é proibido no Brasil e, dois anos depois, ganha versões em inglês e espanhol1969 - Freire é convidado para ser professor visitante da Universidade Harvard1970 - População urbana ultrapassa a população rural pela primeira vez no Brasil1974 - Pedagogia do Oprimido é publicado pela primeira vez no Brasil1979 - Lei da Anistia1980 - Paulo Freire retorna ao Brasil. Durante o exílio, viveu e trabalhou em países como Chile, Estados Unidos, Suíça, Guiné-Bissau e Moçambique1986 - Morre sua mulher, Elza Maia Costa de Oliveira1988 - Casa-se com a ex-aluna Ana Maria Araújo1989 - É nomeado secretário municipal da Educação de São Paulo durante gestão de Luiza Erundina (PT). Freire permanece no cargo até 19911997 - O pensador lança seu último livro, Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa1997 - Aos 75 anos, Paulo Freire morre em 2 de maio, em São Paulo, após um infarto

2012 - É sancionada lei federal que declara Paulo Freire o patrono da educação brasileira

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Porcentagem de analfabetos no Brasil

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Fontes: PNAD e IBGE

“Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo--se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam”
(Pedagogia do Oprimido —  1968)

GLOSSÁRIO DE PAULO FREIRE

Analfabeto
Não é uma pessoa que vive à margem da sociedade, mas um representante dos estratos dominados da sociedade.

Aula
É o lugar onde se procura o conhecimento, e não de onde se o transmite.

Círculo de cultura
É uma escola diferente, onde se discutem os problemas que têm os educandos e o educador. O círculo de cultura é um lugar — junto a uma árvore, na sala de uma casa, numa fábrica, mas também na escola — onde um grupo de pessoas se reúne para discutir sobre sua prática: seu trabalho, a realidade local e nacional, sua vida familiar etc.

Conscientização
O processo pedagógico que busca dar ao ser humano uma oportunidade de descobrir-se por meio da reflexão sobre a sua existência.

Educação
É comunicação, é diálogo, é um encontro de sujeitos interlocutores que procuram a significação dos significados.

Educação bancária
É a educação criticada por Paulo Freire, que deposita noções na mente do educando da mesma forma que se fazem depósitos no banco.

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Ideologia
É a forma pela qual toda pessoa interpreta sua vida e o mundo, interpretação que pode ser crítica e organizada ou, pelo contrário, desorganizada e não consciente.

Intelectuais
Aquelas pessoas que se dedicam a trabalhar somente com a cabeça, a pensar, ou seja, aquelas pessoas que não realizam nenhum tipo de trabalho manual.

Rebeldia
É um sintoma de ascensão; uma introdução à plenitude.

Na aula passada foi visto que Paulo
No Ensino Médio, 46,2% dos 494.824 professores não têm formação em todas as disciplinas que lecionam

O MÉTODO DE PAULO FREIRE ESTÁ ESTRUTURADO EM TRÊS ETAPAS:

1. Etapa de Investigação
Aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade onde ele vive, as palavras e os temas centrais de sua biografia.

2. Etapa de Tematização
Aqui eles codificam e decodificam esses temas, buscando o seu significado social, tomando, assim, consciência do mundo vivido.

3. Etapa de Problematização
Aluno e professor buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica do mundo, partindo para a transformação do contexto vivido.

“Na verdade, o domínio sobre os signos linguísticos escritos, mesmo pela criança que se alfabetiza, pressupõe uma experiência social que o precede — a da ‘leitura’ do mundo”
(Cartas à Guiné-Bissau — 1977)

Desempenho do Brasil no Pisa em 2015

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*Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico
Fonte: Pisa