A definição do que é psicopedagogia por estudiosos

A Psicopedagogia como área de especialização e atuação:
esclarecimentos para os interessados

Juliana Zantut Nutti

Falar sobre Psicopedagogia não é uma tarefa simples, pois este é um campo de conhecimento relativamente recente e com muitas ramificações, tanto em termos de pesquisa científica, como de atuação profissional.O próprio termo Psicopedagogia é, muitas vezes, objeto de controvérsias e, na vasta literatura sobre o tema, encontram-se várias definições. Muitos esperam que a o curso de Psicopedagogia ofereceria uma espécie de formação “breve” em Psicologia, o que não condiz com a realidade, como veremos a seguir. Para discorrer sobre o tema, dividirei o texto em três partes:1. Um histórico do surgimento da Psicopedagogia no mundo e no Brasil;2. Uma tentativa de definição do conceito de Psicopedagogia;

3. Um panorama das tendências atuais em termos da formação e da atuação do profissional nesta área.

1. Histórico da PsicopedagogiaSegundo a literatura, as primeiras idéias sobre Psicopedagogia surgiram na França, por volta da década de 40, seguindo a tendência da Europa como um todo em se estudar as possíveis influências orgânicas no processo de aprendizagem e no sucesso escolar. Assim, médicos e educadores desenvolviam pesquisas conjuntas para a detecção de possíveis problemas de aprendizagem e para o planejamento de medidas de intervenção orgânicas e pedagógicas.Seguindo esta tendência, foi inaugurado, em 1946, o primeiro “Centro Psicopedagógico”, que tinha como objetivo desenvolver um trabalho integrado entre médicos e pedagogos, voltado para crianças com problemas escolares e comportamentais. O nome “Centro Psicopedagógico” foi escolhido propositadamente, para que os pais das crianças consideradas portadoras de “problemas” encaminhassem os seus filhos com menos constrangimento, sugerindo que a consulta seria de caráter psicopedagógico e não médico.Esses centros se multiplicaram até o início dos anos 60, obtendo muito sucesso, em parte atribuído a um trabalho de equipe, composta por médicos, psicólogos, pedagogos, psicanalistas, dentre outros profissionais da área de saúde e educação. O trabalho consistia basicamente no diagnóstico dos problemas do aluno, baseado nas queixas de pais e professores.No entanto, no final dos anos 60, esta forma de trabalho de caráter essencialmente clínico, começou a ser questionada pelos educadores, por acreditarem que esse tipo de atuação implicava num processo de rotulação dos alunos que eram encaminhados aos centros e por não concordarem com a intervenção realizada apenas em relação ao indivíduo, sem a preocupação com a análise do contexto sócio – educacional a que esses pertenciam.No ano de 1967, publica-se na França, um trabalho de uma dupla de pesquisadores, Vasques e Oury, afirmando que a medição, a observação e a testagem dos alunos individualmente, sem o conhecimento de sua  atuação na escola é arriscado e, principalmente, muito abstrato, podendo até comprometer a formação posterior do aluno. A partir dessa posição, eles propõem um trabalho de caráter institucional, onde pedagogos e psicólogos atuariam tentando integrar os alunos e seus professores.Esta vertente da Psicopedagogia acreditava que a concepção de insucesso escolar necessitava ser revista e que não era mais possível relacionar as causas dos fracassos escolares única e exclusivamente a desordens orgânicas dos alunos. Esta visão da Psicopedagogia despertou a atenção dos educadores de países com altos índices de fracasso escolar, que estavam buscando novas alternativas para a resolução deste grave problema.

Dentre esses países destaca-se a Argentina, onde a Psicopedagogia foi e é considerada uma carreira profissional, onde os “Centros Psicopedagógicos” estão vinculados à rede pública de ensino, além da existência de várias clínicas e consultórios subvencionados pela previdência social, fazendo do acompanhamento psicopedagógico uma atividade rotineira e popular.

2. A Psicopedagogia no BrasilDa mesma forma que na Argentina, em nosso país, o fracasso escolar vêm impulsionando os educadores a buscarem novas alternativas para a reversão de seus efeitos e a sua efetiva eliminação. O fracasso escolar ocorre no Brasil desde a década de 40 e, no decorrer de todos esses anos, vêm sendo debatido por estudiosos de várias áreas, preocupados com as graves conseqüências sócio-educacionais acarretadas por esse fenômeno.As teorias explicativas sobre o fracasso escolar têm se deslocado de uma perspectiva centrada no fracasso do aluno a uma perspectiva mais atual que compreende o fracasso escolar como o fracasso do próprio sistema educacional e da sociedade em geral, em não conseguir proporcionar um ensino de qualidade aos cidadãos, especialmente os das classes populares.Diante desse clima de interesse dos estudiosos da educação por alternativas de sucesso escolar, associados às influências de experiências educacionais bem sucedidas desenvolvidas em outros países é que surgem, a partir da década de 60, as primeiras iniciativas de atuação psicopedagógica no Brasil. Várias clínicas psicopedagógicas foram instaladas e se voltaram para o atendimento de crianças com baixo rendimento acadêmico, encaminhadas pelas escolas.Em 1988, criou-se a “Associação Brasileira de Psicopedagogia.”

Pode-se, então, perceber que a Psicopedagogia é uma área relativamente nova no Brasil.

2.1 Definição de PsicopedagogiaApós a recuperação histórica do surgimento da Psicopedagogia no Brasil e no mundo, persiste a inevitável questão: afinal, o que é Psicopedagogia?Pelo senso comum, geralmente define-se Psicopedagogia como a união da Psicologia e da Pedagogia, o que expressa uma concepção muito reducionista sobre o termo.Dentre a coleção de definições existentes na literatura, optei por a de Scoz (1994: 12)Psicopedagogia é a área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes, recorrendo aos conhecimentos de várias ciências, sem perder de vista o fato educativo, nas suas articulações sociais mais amplas.Portanto, de modo geral, a Psicopedagogia é concebida como uma área de estudo interdisciplinar, ou seja, integra várias ciências, como a pedagogia, a psicologia, a neurologia, a fonoaudiologia e que está voltada para o estudo e o acompanhamento do processo ensino – aprendizagem.Enquanto área de conhecimento interessa a todo profissional que se dedica à Educação, pois possibilita uma análise das teorias relacionadas com as ações de aprender e de ensinar. Tem como referenciais a Epistemologia Genética, a Psicologia Social e a Psicanálise, dentre outros.

Dentre as contribuições da Psicopedagogia, destaca-se a conscientização da importância do ato educativo, através de uma prática que visa o sucesso do aluno e a melhoria da qualidade do processo ensino – aprendizagem.

3. Tendências atuais na formação e atuação do psicopedagogoA Psicopedagogia possui atualmente duas grandes ênfases de formação e atuação: a ênfase clínica e a institucional. A Psicopedagogia Clínica privilegia o atendimento terapêutico individual. As escolas encaminham os alunos considerados portadores de dificuldades de aprendizagem por intermédios de seus familiares para as clínicas, consultórios ou serviços psicopedagógicos. Estas clínicas são geralmente formadas por equipes interdisciplinares (pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais etc) que diagnosticam e tratam o problema do aluno. As ferramentas para a avaliação e intervenção diagnóstica dos indivíduos em atendimento são centradas na aplicação das chamadas “provas piagetianas”, as quais auxiliam na avaliação da etapa de desenvolvimento cognitivo em que o indivíduo se encontra e que tipo de operações intelectuais é capaz de realizar com maior facilidade, assim como variados jogos, os  quais contribuem de maneira específica para a retomada do desenvolvimento cognitivo de maneira interativa e significativa para o indivíduo, além de outras intervenções.A Psicopedagogia Institucional, por sua vez, é desenvolvida pelo profissional dentro da própria escola com o objetivo de prevenir e minimizar os problemas de aprendizagem dos alunos e, especialmente, criar estratégias no âmbito escolar para que a prevenção das dificuldades de aprendizagem ocorra de forma sistemática e eficaz. O seu trabalho implica a existência de trabalho de equipe envolvendo todos os profissionais da escola: professores, coordenador pedagógico, diretor, pais e outros especialistas.A formação do profissional de Psicopedagogia nas duas ênfases pode ser realizada através de cursos de especialização em nível de pós – graduação lato sensu. Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia, os cursos de especialização são mais procurados por profissionais que atuam em escolas e que procuram subsídios para atuarem de forma mais preventiva do que remediativa dos problemas de aprendizagem. Mas, atualmente há uma vasta procura por profissionais da área de saúde como psicólogos e fonoaudiólogos que querem atuar no acompanhamento clínico de alunos com problemas de aprendizagem.A Psicopedagogia no Brasil ainda tem muitos desafios a serem enfrentados, seja no projeto de construção de uma identidade profissional, na delimitação do campo de atuação profissional e na busca da qualidade dos cursos de especialização. No entanto, o maior desafio da Psicopedagogia é a sua popularização, pois ainda é vista pela sociedade como uma área de trabalho bastante elitista.

A Psicopedagogia também tem se voltado com muita força para o movimento da Educação Inclusiva, através de um trabalho integrado com especialistas da área de Educação Especial.

Referências BibliográficasSCOZ, B. Psicopedagogia e Realidade Escolar, o Problema Escolar e de Aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1994

PERES, M. R. Psicopedagogia: aspectos históricos e desafios atuais. Revista de Educação, PUC – Campinas, v. 3, n. 5, pp. 41-45, novembro, 1998

Para saber mais sobre a Psicopedagogia, consulte a página na Internet da Associação Brasileira de Psicopedagogia no endereço: http://www.abpp.com.br/