O que é genero discursivo

Conhecendo gêneros discursivos

Objetivos

1) Aperfeiçoar as habilidades de leitura e interpretação de códigos verbais e não verbais;

2) Relacionar a escolha do gênero discursivo à finalidade do uso da linguagem;

3) Capacitar-se no reconhecimento, compreensão e uso de linguagens não verbais;

4) Exercitar a proficiência como leitor nas diferentes modalidades de linguagem.

Ponto de partida

O homem produz linguagens, transforma outros homens com ela e transforma também a si mesmo por meio da interação com o mundo. A linguagem, portanto, não é um objeto que pode ser aprisionado e controlado, pois está em constante transformação. Assim, uma palavra ou um símbolo pode ter um significado unívoco, quando tomados isoladamente, fora do espaço sócio-interativo, mas seu sentido só se revela a partir do contexto ou situação na qual estão inseridos.

Sugestões de atividades

1) Apresentar à classe diferentes modalidades de texto ou discurso, propondo um levantamento das características formais e do uso de cada um desses discursos;

2) Formular perguntas destinadas a pontuar a discussão sobre as modalidades textuais:

a) Pode-se considerar na elaboração do texto a possível individualidade do autor/enunciador, ou seja, seu estilo de se manifestar linguisticamente e construir seu discurso?

b) Trata-se de um gênero discursivo que deve obedecer a um formato ou padronização, como um "documento oficial" ou uma "nota de serviço", nos quais não há espaço para a subjetividade?

3) Discutir os conceitos de texto ou discurso a partir de concepções teóricas diferentes, apresentadas abaixo.

a) "Em sentido amplo, a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou moderno. Concretiza-se, pois, numa cadeia sintagmática de extensão muito variável, podendo circunscrever-se tanto a um enunciado único ou a uma lexia quanto a um segmento de grandes proporções." (E. Guimarães)

b) "A linguagem é considerada aqui como a capacidade humana de articular significados coletivos e compartilhá-los em sistemas arbitrários de representação, que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido." (Parâmetros Curriculares Nacionais, 2000)

Fontes de consulta

BAKTHIN, M. "A Estética da Criação Verbal", Martins Fontes.

BAKTHIN, M. "Marxismo e Filosofia da Linguagem", Hucitec.

GUIMARÃES, E. "A Articulação do Texto", Ática.

KOCH, I.V. "O Texto e a Construção dos Sentidos", Contexto.

Os gêneros discursivos/textuais estão nas salas de aula e são recomendados pelos documentos oficias que regem a educação brasileira. Além disso, o uso deles em sala de aula é aconselhado por uma imensa gama de trabalhos e pesquisas na área do ensino de língua portuguesa, por já ter sido comprovada a eficácia de um trabalho pautado na perspectiva dos gêneros. Pensando nisso, trouxemos algumas das principais concepções de gêneros discursivos/textuais que norteiam o entendimento sobre a temática.

Primeiramente, traremos a concepção de base Bakhtiniana, ou seja, o que o filósofo russo Mikhail Bakhtin e seu círculo de companheiros pensaram sobre a questão do gênero discursivo.  Bakhtin nomeia os gêneros enquanto discursivos e diz que é por meio deles que se dá a comunicação verbal, surgindo, assim, das necessidades comunicativas de uma dada esfera de atividade humana. As esferas são ambientes com características particulares como a esfera jornalística, publicitária e acadêmica. Dessa forma, os gêneros são enunciados que se estabilizam por meio dos usos pelos falantes, sendo conceituados enquanto “tipos de enunciados relativamente estáveis”. Tipo pelo fato de os enunciados de um mesmo gênero apresentarem partes constituintes em comum, que são o tema, a composição e o estilo. Entretanto o mesmo autor diz-nos que todo enunciado é único e irrepetível, porém à medida que os enunciados são produzidos eles trazem características comuns mesmo cada um sendo único. Além disso, Bakhtin classifica os gêneros enquanto primários e secundários, sendo os primeiros os que transitam na esfera do cotidiano e mais simples e os segundos os que estão esferas de criação ideológica (religião, política, acadêmica, etc.) e são mais complexos e formais.

Em uma perspectiva sócio-retórica, temos os estudos feitos por Charles Bezerman (2006, p.31) que ao abordar a questão gêneros textuais afirma que eles

são fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas podem realizar e sobre os modos como elas os realizam. Gêneros emergem nos processos sociais em que pessoas tentam compreender umas às outras suficientemente bem para coordenar atividades e compartilhar significados com vistas a seus propósitos práticos. [...] são parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais. (2006, p.31)

Nesse texto, Bezerman constroi o conceito de gênero a partir da observação da necessidade que as pessoas têm de compreender umas às outras para participarem, compartilharem, realizarem atividades sociais.

Mostra que os gêneros são passíveis de mudanças, de acordo com o decorrer do tempo e dos campos por onde eles transitam: as mudanças podem ser tão profundas que os nomes dos gêneros mudam, ou o que não era considerado gênero passa a ser. Nesse processo, o homem exerce um papel singular, ativo, pois é a partir dele, do seu contexto sócio-cultural-histórico e das suas necessidades comunicativas que surgem novos gêneros textuais ou são modificados os já existentes. 

Afirma que a maioria dos gêneros apresenta características de fácil reconhecimento. Porém, mostra alguns problemas em tentar identificar os gêneros somente por meio das características, pois, dessa forma, considera somente o mundo cultural imediato, esquece que os gêneros ultrapassam a barreira do tempo; esquece que os gêneros variam de acordo com a área do conhecimento por onde circulam e de acordo com o passar do tempo, “à medida que as pessoas passam a orientar-se por padrões em evolução” (BAZERMAN, 2006, P. 40). Por fim, apresenta algumas sugestões para identificar e analisar os gêneros, que vão além da descrição de seus elementos característicos que são “de fácil reconhecimento”. Essas sugestões podem ser visualizadas no texto integral.

Por fim, Norman Fairclough também apresenta uma concepção acerca do gênero, desenvolvendo uma teoria que não veja o texto para o texto, mas o relacione com a estrutura social. Assim, ele chama o gênero de textual e conceituando-o enquanto

Um conjunto de convenções relativamente estável que é associado com, e parcialmente realiza, um tipo de atividade socialmente aprovado, como a conversa informal, a compra de produtos em uma loja, uma entrevista de emprego, um documentário de televisão, um poema ou um artigo científico” (apud MEURER, 2005, p. 81)

O autor diz que cada gênero ocorre em um determinado contexto que envolve agentes que o produzem e consomem, porém Fairclough não se propõe a montar uma teoria de análise de gêneros, mas traz princípios e métodos ao longo de sua obra acadêmica que podem servir de apoio. O linguista ressalta ainda que “um gênero implica não somente um tipo particular de texto, mas também processos particulares de produção, distribuição e consumo de textos” (apud MEURER, 2005, p. 81-82).

Estas são as três teorias acerca do gênero discursivo/textual mais utilizadas em trabalhos que o tem por temática. Existem muitos outros linguistas e teóricos que estudam o gênero sob diversos pontos de vista tanto em uma perspectiva teórica quanto aplicada. Para os interessados em se aprofundar no assunto, sugerimos o livro “Gêneros: teorias, métodos, debates”, que está incluso na bibliografia deste verbete.

Referências

 BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAZERMAN, Charles. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; HOFFNAGEL, Judith Chambliss (orgs.). Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2006.

MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Gêneros: teorias, métodos, debates. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2005.  

Gêneros textuais são estruturas relativamente estáveis de composição, com as quais realizamos intervenções sociais, tanto por escrito quanto por meio da fala, ou seja, os gêneros são as ferramentas, os instrumentos que utilizamos para podermos exercer os atos comunicativos em geral: uma curta mensagem via Whatsapp, e-mails corporativos, produção de reportagens, entrevistas, contos, páginas de diário, receitas de bolo, artigos científicos, seminários, teses etc.

Os gêneros adaptam-se às nossas necessidades de comunicação e remodelam-se, a depender do tempo em que são produzidos. Antigamente, era comum que as pessoas enviassem telegramas, caso quisessem velocidade na interação; hoje esse recurso tornou-se obsoleto, pois temos tecnologias suficientes para comunicarmo-nos em um piscar de olhos.

O que é genero discursivo
Conhecer os gêneros textuais facilita a realização de atos comunicativos eficientes.

Veja também: Gêneros literários: a classificação com base na literatura clássica

Conceito de gênero

Os gêneros textuais podem ser definidos como unidades formadoras de sentido, com determinados propósitos ou intencionalidades discursivas. Nesse sentido, a vontade do emissor (locutor) poderá ser revelada por meio do discurso: informar, convencer, contar uma história, persuadir, posicionar-se, opinar etc.

Importante ressaltar que não é o fato de pertencer a um determinado gênero que fará com que o texto seja rigorosamente imutável, ou seja, é uma inverdade dizer que todos os artigos de opinião serão iguais. A estrutura do texto e o que ele enuncia sempre dependerão das condições de produção: quem diz, por que diz, para quem, como, por meio de qual veículo, com qual intenção e em que contexto.

Para entendermos melhor o contexto dos gêneros textuais, podemos construir a seguinte imagem: os gêneros são elementos constitutivos de grandes conjuntos, uma vez que reúnem determinadas sequências linguísticas em sua composição, mas se diferem com relação à intencionalidade, e trazem também outras características que se desenvolvem considerando o contexto cultural e temporal a que estão submetidos.

Vejamos: se pensarmos em um grande conjunto chamado tipo narrativo, poderemos ver dentro dele diversos elementos: fábula, conto, crônica narrativa, diário, romance etc. O que esses textos têm em comum? Todos eles contam histórias, narram, relatam... No entanto, todos eles realizam isso da mesma forma? Não.

Se observarmos os gêneros fábula e conto, veremos imediatamente que, embora pertençam ao tipo narrativo, são textos que se diferenciam, por exemplo, com relação à construção das personagens e à intenção discursiva, tanto que a fábula, de maneira alegórica, provoca, por meio da narrativa, a reflexão sobre um ensinamento, uma moral, algo que não pertence ao universo composicional do conto.

Diferença entre gênero e tipo textual

Enquanto os gêneros são formas flexíveis de textos, os tipos, por sua vez,  caracterizam-se pela rigidez, pela estruturação pautada em sequências linguísticas, pelo uso de vocabulário específico, por relações lógico-semânticas com propriedades mais fixas, sendo os grandes conjuntos nos quais estão contidos os gêneros textuais.

Os estudos linguísticos, em sua maioria, reconhecem pelo menos os seguintes tipos ou tipologias textuais: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição. Quando conseguimos reconhecer os tipos textuais, temos mais condições de interpretá-los com eficácia, uma vez que os efeitos de sentido produzidos pelos textos estão também relacionados à forma como estruturam-se.

Veja, a seguir, um quadro comparativo |1| bastante didático que elenca as diferenças entre tipos e gêneros textuais.

Tipos textuais

Gêneros textuais

Constructos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas.

Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas.

Constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos.

Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas.

Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas e tempo verbal.

Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função.

Designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.

Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc.

Elementos dos gêneros

Podemos dizer que existem três elementos básicos na formação dos gêneros textuais, os quais são formadores do discurso: tema, forma composicional e estilo.

Com relação ao tema, é importante dizer que não se trata apenas do assunto que será tratado no texto, mas é aquilo que parte também de um determinado ponto de vista ou intencionalidade de quem diz ou escreve. Assim, o tema será o conteúdo trabalhado com base em um determinado valor ou ideologia, de acordo com estudiosos da área.

Já a forma composicional e o estilo ligam-se às escolhas com relação ao vocabulário, estrutura e registro, ou seja, à forma como o texto irá organizar-se para que cumpra com seu papel de intervir socialmente.

Esses elementos demonstram, portanto, que os textos, de acordo com as condições de produção que são dadas no momento da fala e da escrita, observando-se os papéis sociais dos envolvidos nos atos comunicativos, aproximam-se ou distanciam-se uns dos outros, a depender da forma como quer-se intervir por meio deles.

Leia também: Intergenericidade: hibridização de gêneros textuais

Exemplos

  • Seminários
  • Palestras
  • Enciclopédia
  • Verbetes de dicionários
  • Propaganda
  • Receita culinária
  • Bula de remédio
  • Manual de instruções
  • Regulamento

Notas

|1| MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. 298p.