Como fazer trabalho comparando artigos

Escrever ensaios comparativos é uma tarefa da qual se encarrega, quase sempre, a Filosofia. Consiste em dar a opinião escrita a respeito de duas posições, as quais se comparam entre elas para chegar a uma conclusão final. Você sabe como escrever um ensaio comparativo? Em umComo.com.br explicamos passo a passo como fazê-lo.

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Passos a seguir:

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Em primeiro lugar, você deve ter claro que temas você vai tratar em seu ensaio: o que você quer explicar e sob que posições ou perspectivas você o fará.

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Comece com uma introdução de carácter geral que estabeleça a semelhança entre os dois assuntos, depois passe ao foco do ensaio em concreto. O leitor deverá entender que pontos serão avaliados e que pontos não serão considerados na comparação. No final da introdução, diga qual a sua preferência ou descreva o significado dos dois assuntos.

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De seguida, você deverá descrever a primeira posição que vai tratar. Faça uma exposição detalhada das características, da história, suas consequências e todo o desenvolvimento que você considerar oportuno. Continue o seu ensaio comparativo expondo as características da segunda posição sobre o que deseja dissertar, aprofunde tanto como na primeira.

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Exemplos de como escrever um ensaio comparativo:

  • Parágrafo 1: Posição preferida de Messi / Posição preferida de Ronaldo.
  • Parágrafo 2: Estilo de jogo individual de Messi / Estilo de jogo individual de Ronaldo.
  • Parágrafo 3: Jogo aéreo de Messi / Jogo aéreo de Ronaldo.

Outro exemplo:

  • Parágrafo 1: Trabalho em equipe de Messi.
  • Parágrafo 2: Trabalho em equipe de Ronaldo.
  • Parágrafo 3: Bola parada de Messi.
  • Parágrafo 4: Bola parada de Ronaldo.
  • Parágrafo 5: Conquistas de Messi.
  • Parágrafo 6: Conquistas de Ronaldo.

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Você deve redigir um último parágrafo de fechamento, em modo de conclusão, no qual você exponha uma confrontação entre as duas posições. Tente criar uma luta entre elas para que o leitor se interesse. A conclusão deve dar um resumo breve e geral das semelhanças e diferenças mais importantes. Deve se terminar com uma declaração pessoal, uma opinião, e o "então porquê?", o que é importante sobre as duas coisas que se comparam.

Deve se deixar os leitores com a sensação de que todos os tópicos deste ensaio foram coletados de uma forma coerente, que aprenderam algo e devem ficar com a certeza de que este é o final, de maneira a não olharem à sua volta à procura de páginas que faltam.

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E, por último, a sua avaliação pessoal. Nela, você deve dizer com que posição você se identifica e por que prefere esta e não a outra. Exponha o seu argumento levando em consideração toda a sua exposição anterior.

Conselhos

  • Você deve ser coerente com a exposição das suas ideias.
  • Os ensaios são sempre subjetivos, de modo que você precisa deixar bem claro que posição lhe convence mais.
  • Se o tempo não é um problema, a melhor forma de revisar o ensaio é deixá-lo por um dia. Sair para passear, comer algo, divertir-se e esquecer-se. Depois é tempo de voltar ao texto, encontrar problemas e resolvê-los. Isto deve ser feito separadamente, ou seja, primeiro encontrar todos os problemas que conseguir sem os corrigir. Embora seja tentadora a ideia de o fazer ao mesmo tempo, é mais inteligente fazê-lo de forma separada. Mais eficiente e rápido.

Ao longo dos últimos anos avaliei e revisei estudos de análises de mercado e artigos que comparavam e contrastavam dois elementos, dois produtos ou situações. Estudos elaborados no Brasil e no Canadá, entretanto, neste artigo abordo algo que observei, principalmente, nos estudos realizados no Brasil.

Dos trabalhos que venho realizando pude verificar que não é raro ver comparações que fazem sentido, entretanto, falham na forma de expor a comparação e contraste em análise situacional. São diversos estudos que fazem a comparação entre dois produtos, duas situações históricas e assim por diante. Acho, por isso, importante resgatar os papéis "clássicos" de comparação e contraste, onde se pondera A e B igualmente, sendo:

a)      duas coisas semelhantes que têm diferenças cruciais (por exemplo, dois pulverizadores agrícola da mesma categoria, porém, com desempenhos diferentes) ou

b)     duas coisas semelhantes que têm diferenças cruciais, mas ainda assim, as semelhanças surpreendem. Por exemplo, dois sociólogos brasileiros com visões de política partidária diferentes, divergentes, entretanto, expressam perspectivas semelhantes sobre a contribuição das ciências sociais para o conhecimento da Educação no Brasil.

Há uma forma de comparação, a "buraco da fechadura", que é muito interessante, entretanto, seu uso tem sido mais frequente nos institutos de pesquisa porque, a princípio, ela pode ser difícil de se construir. O mercado usa pouco. Nela, é preciso pesar menos o elemento “A” e mais o elemento “B” da comparação. Essa forma, necessariamente, usa “A” como uma lente através da qual o estudo observa e aprende sobre “B”. Ao utilizar essa forma, fica explícito que o estudo usa “A” como uma estrutura para compreender “B” e, com isso, mudar a maneira de se perceber “B”. As comparações na forma buraco da fechadura são úteis para iluminar, criticar ou desafiar a estabilidade de alguma coisa que, antes da análise, parecia totalmente compreendida.

Quando trabalhei com textos ou estudos que apresentavam um grande número de semelhanças e diferenças e, aparentemente, elas não eram facilmente relacionáveis, o conteúdo não me passou confiança. Inevitávelmente, o excesso resulta em um exercício mecânico no qual o estudo primeiro declara todas as características que A e B têm em comum e, em seguida, declara todas as maneiras pelas quais A e B são diferentes. Para mim, um estudo assim é, em geral, fraco. Previsivelmente, a tese desse estudo resulta, geralmente, na afirmação de que A e B são muito semelhantes, embora não tão semelhantes. 

Para escrever uma boa comparação e contraste, é necessário pegar os dados brutos - as semelhanças e diferenças observadas, e torná-las coerentes em um argumento. Para isso, os cinco elementos necessários no estudo são: 

O contexto. Este é o ambiente no qual o estudo coloca as duas coisas que planeja comparar e contrastar; é o guarda-chuva sob o qual os dois elementos estão agrupados. O contexto pode consistir em (a) uma ideia, tema, questão, problema ou teoria; (b) um grupo de coisas semelhantes das quais se extrai duas para analisar; (c) informações biográficas ou históricas. Por exemplo, um artigo comparando como dois sociólogos definem o papel de economia criativa na contribuição do conhecimento mercadológico de determinados grupos econômicos no país. Nessa comparação, acredito que o melhor contexto que um autor pode definir deverá ser um eixo histórico. Um estudo que não apresenta o contexto facassa por não fazer o recorte sobre o qual as duas coisas são analisadas, ficando incapaz de propor um argumento sólido.  

Os motivos para comparação. Em um estudo sobre distribuição global de alimentos, por exemplo, ao optar por comparar a prioridade na distribuição de bananas e arroz é preciso explicitar por que esses alimentos em particular. Por que não morangos e inhames? A justificativa por trás da escolha, o fundamento para comparação, permite saber por que a escolha é deliberada e significativa, e não aleatória. Para todos os efeitos de credibilidade do estudo, é preciso indicar o raciocínio no qual é baseado o motivo para a comparação.

A tese. Como em qualquer estudo ou artigo argumentativo, a tese transmitirá a essência do argumento. Entretanto, em um estudo de comparação e contraste, a tese depende de como as duas coisas comparadas se relacionam. Elas conflitam? Complementa algo? Se estendem? Debatem entre si? Em comparação e contraste mais comum - o que enfoca as diferenças – é melhor indicar o momento que o estudo fala sobre a relação entre A e B. Usando o exemplo do estudo sobre distribuição global de alimentos, é possível dizer: enquanto o custo do cultivo e exportação de bananas e arroz é economicamente viável  para 75%  dos países que consomem estes alimentos, o custo do cultivo e exportação de morangos e inhames é viável  para somente 25% dos países que consomem estes alimentos. A relação entre A e B está no cerne de qualquer bom artigo ou estudo de comparação e contraste.

O esquema. A introdução do estudo tem que mencionar o contexto, os fundamentos para comparação e a tese. Existem duas maneiras de organizar o estudo:

• Texto a texto: onde se discute tudo do elemento A, depois tudo do elemento B.

• Ponto a ponto: onde se alterna pontos (as características avaliadas)  sobre A com os pontos comparáveis sobre B. 

Se o estudo indica que B complementa A, provavelmente, o melhor é usar um esquema de texto a texto. Se A e B concorrem, por exemplo, dois produtos de consumo em uma mesma categoria,  um esquema ponto a ponto chamará mais atenção para as diferenças. É por isso que as publicações que fazem análise comparativa de automóveis lançam mão do esquema de comparação ponto a ponto.

Independentemente do esquema, o bom estudo sabe pesar a importância das semelhanças assim como as diferenças. Os estudos mais interessantes que já trabalhei são sucintos, o autor soube pesar o quanto ele investe no argumento para chegar ao cerne da tese.

A propósito, antes de finalizar, quando um estudo opta por fazer a comparação utilizando buraco da fechadura, ele deve gastar menos tempo em A (a lente) e focar em B (objeto maior da análise) e utilizar o esquema texto a texto. Isso porque A e B podem não ser estritamente comparáveis, ou seja, A é apenas uma ferramenta para ajudar a estudar, descobrir e compreender se B é ou não o que as expectativas ou crenças atuais levam a acreditar que seja. 

Por fim,  nos artigos e estudos argumentativos é preciso vincular cada ponto do argumento à tese. Sem esses links, o estudo não é claro ao mostrar como cada ponto contribui no argumento, o que é fundamental para coerência.