Por que a energia está mais cara

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou nesta semana o aumento na tarifa da conta de luz, que vai para a bandeira vermelha 2, e passará a custar 52% mais caro. De julho a novembro o valor do kWh consumido pode passar de R$ 6,24 para R$ 9,49.

Falta de chuva significa conta de luz mais cara
Se já estava difícil manter as contas em dia, o anúncio do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pode tornar a vida do consumidor ainda mais complicada. Nesta semana, o ministro anunciou o aumento na tarifa da conta de luz, que deve afetar consumidores do país inteiro.

No início de maio, representantes dos ministérios de Minas e Energia, Desenvolvimento Regional e Infraestrutura, além de órgãos como Agência Nacional de Águas (ANA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se reuniram para alertar sobre a possível crise hídrica que poderia acontecer.

Entenda
Nessa época do ano, é comum, em quase todo o Brasil, vivermos momentos de seca. Normalmente, o período chuvoso corresponde aos meses de outubro a março, ou seja, o verão. No restante do ano chove pouco na maioria dos estados e, principalmente, nas regiões responsáveis por manter o nível dos reservatórios de água das maiores usinas hidrelétricas do país, que geram energia elétrica para nossas atividades.

As regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram esses reservatórios e com a falta de chuva, o nível de água cai e, por isso, a capacidade de gerar energia elétrica também é reduzida, o que torna o serviço mais caro. Isso acontece porque é necessário acionar usinas termelétricas, que usam combustíveis, como óleo e gás natural e tornam a produção de energia mais cara.

Ainda de acordo com Bento Albuquerque, o Brasil enfrenta atualmente a pior crise de seca em 91 anos. Ou seja, em quase 100 anos, por causa da falta de chuva, a capacidade de geração de energia dessas estações, que corresponde a 70% do país, está em menos de 30%.

É como se uma caixa d’água que pode ter 100 litros de água, estivesse apenas com 30 e sem previsão de encher novamente.

Como funcionam as bandeiras de tarifa da conta de luz?
Cada vez que colocamos um eletrodoméstico na tomada, o relógio de consumo de luz começa a rodar. Cada quilowatt (kW), que é a unidade de medida do consumo de energia elétrica, soma um pouco no valor que será pago no final do mês.

Se o valor por utilização do aparelho é menor, no final do mês a conta vem mais barata. Mas quanto mais aumenta o valor por tempo e consumo de energia do aparelho, a conta vem mais cara.

As cores do Sistema de Bandeiras Tarifárias, são as mesmas usadas nos semáforos: verde, amarela e vermelha. Elas variam de acordo com o valor gasto para produzir e distribuir energia elétrica.

Infográfico
Bandeira Verde: o cliente paga o valor de acordo com o consumo de luz durante o mês, sem cobrança de taxa extra

Bandeira Amarela: o cliente paga o valor do consumo mensal mais uma tarifa extra de R$ 1,34 a cada 100 kW consumidos por hora de gasto

Bandeira Vermelha 1: o cliente paga o valor do consumo mensal mais uma tarifa extra de R$ 4,17 a cada 100 kW consumidos por hora de gasto

Bandeira Vermelha 2: o cliente paga o valor do consumo mensal mais uma tarifa extra de R$ 6,24 a cada 100 kW consumidos por hora de gasto

NEGOCIE GRÁTIS SUAS DÍVIDAS

O valor da tarifa de energia vem escalando. Nesta semana, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou a criação de uma nova bandeira tarifária, acima da vermelha 2 – que já era a mais cara. A nova tarifa extra cobrada na conta de luz dos brasileiros passou de R$ 9,49 para R$ 14,20 a cada 100 kWh.

Assim, eletrodomésticos podem virar os vilões do orçamento doméstico, já que geladeira, chuveiro e aquecedor e ar-condicionado costumam puxar o consumo de luz.

A geladeira de duas portas, por exemplo, é o aparelho que mais consome energia elétrica – em média 55,00 kWh/mês – pois precisa ficar ligada 24 horas.

O consumo foi calculado pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a pedido do CNN Brasil Business.

O cálculo considera o uso ininterrupto do eletrodoméstico no período. Já uma geladeira mais simples, de uma porta e sem a tecnologia frost-free, gasta, em média, 30,00 kWh por mês. Com este consumo, o refrigerador, com base nos dois modelos, geraria um custo médio entre R$ 21,60 e R$ 40,32 por mês na conta de luz (veja a tabela completa abaixo).

Como calcular o consumo

Para calcular o consumo de qualquer eletrodoméstico ou eletrônico em casa, basta checar a potência do aparelho. Essa informação é dada pelo fabricante nos manuais e nas embalagens dos produtos. Para calcular o consumo, é só multiplicar a potência pelo tempo de funcionamento em horas.

Uso consciente

Clauber Leite, coordenador do programa de energia do Idec, entende que a principal preocupação é com os efeitos que aumento das tarifas pode causar aos mais pobres da população, que já são os mais afetados pelo desemprego e pela inflação.

Segundo ele, qualquer elevação agora afeta diretamente as condições de consumo e sustento das famílias brasileiras, que necessitam ainda mais da energia neste momento de pandemia da Covid-19.

“A atual crise climática já era prevista desde o início do ano. Medidas preventivas poderiam ter sido tomadas para se evitar este cenário preocupante. Destaco estímulos à eficiência energética e investimento em outras fontes de energia, como eólica e solar, com estruturação rápida, e que poderiam ajudar a poupar água dos reservatórios”, disse Leite.

Para ele, o ideal seria se antecipar à crise hídrica, mas, agora, “inevitavelmente o consumidor irá pagar mais uma vez por ineficiências do setor”. “Além de mandar a conta é preciso verificar maneiras de reduzir encargos”, completa.

Para Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação de economia do Insper, a energia elétrica, como recurso básico e necessário ao brasileiro, tem se tornado motivo de preocupação. Começando pelo fato de que os brasileiros estão tendo a exigência reduzir seu consumo com a crise de fornecimento.

“O consumidor agora tem que fazer contas para não ter um orçamento pesado. Eletrodomésticos são, sim, grandes vilões da conta de luz. Principalmente os que necessitam de mudança de temperatura — ar condicionado, aquecedor, chuveiro elétrico, ferro elétrico, panela elétrica, secadora de roupas [..]”, disse Inhasz.

Ela ainda reforça dicas de como os brasileiros podem lidar com essa alta na conta de luz e evitar gastos excessivos. “É preciso um pouco mais de parcimônia neste momento. Mesmo com os aparelhos com baixo nível de consumo, o cuidado deve ser redobrado. Estamos em um período, sim, de consumo consciente. Todos vão se adaptar facilmente”

Confira dicas para economizar energia:

Por que a energia está mais cara
Com a crise hídrica, a conta de luz está pesando cada vez mais no bolso dos brasileiros. Veja dicas para economizarCrédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Por que a energia está mais cara
Não deixe a porta da geladeira aberta por muito tempo e regule a temperatura interna segundo o manual de instruçõesCrédito: Getty Images
Por que a energia está mais cara
Não coloque alimentos quentes dentro da geladeira nem utilize a parte de trás dela para secar roupas e panosCrédito: Unsplash/Ello
Por que a energia está mais cara
Tente tomar banhos mais curtos e só ligue o chuveiro quando estiver pronto para o banhoCrédito: Unsplash/Carson Masterson
Por que a energia está mais cara
Junte roupas para usar a máquina de lavar de uma vez sóCrédito: Unsplash/Planetcare
Por que a energia está mais cara
Na hora de passar, também junte roupas e comece por peças que exigem menor temperaturaCrédito: Unsplash/Filip Mroz
Por que a energia está mais cara
Não deixe portas e janelas abertas quando estiver com ar condicionado ligado. Mantenha os filtros limposCrédito: Unsplash/Pier Luigi Valente
Por que a energia está mais cara
Utilize iluminação natural ou lâmpadas econômicas e procure pintar os cômodos com cores clarasCrédito: Unsplash/Nathan Fertig
Por que a energia está mais cara
Limpe lustres para aproveitar a potência das lâmpadas e apague a luz ao sair de um cômodoCrédito: Unsplash/Bran Sodre
Por que a energia está mais cara
Retire os aparelhos da tomada sempre que possível ou quando for se ausentarCrédito: Unsplash/Markus Winkler

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Crise hídrica e aumento da tarifa

A gravidade da crise hídrica levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a criar uma nova bandeira tarifária, chamada bandeira tarifária ‘escassez hídrica’. O novo valor da taxa extra é de R$ 14,20 pelo consumo de 100 kWh, com vigência de 1º de setembro de 2021 a 30 de abril de 2022.

Na última terça-feira (31), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu que a população reduza o consumo de energia elétrica. Durante um pronunciamento em rede nacional, ele falou sobre a gravidade da crise hídrica no país, a maior do últimos 91 anos.

Segundo o ministro, a população deve fazer “um esforço inadiável”, reduzindo o consumo de chuveiros elétricos e ferro de passar, por exemplo. Mas, mesmo com o pedido para redução, as contas podem ficar mais caras.

Racionamento

Após seu pronunciamento, Bento Albuquerque disse em entrevista à CNN que o “risco de racionamento hoje é zero”.

“Pelo contrário. Estamos tentando mostrar a gravidade da situação hídrica para que, de forma voluntária, os consumidores poupem energia. Assim, não vamos precisar importar, poderemos reduzir o uso das termelétricas e daremos mais flexibilidade ao operador do sistema”, diz.

Já o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, no entanto, contradiz a fala de Albuquerque. Ele afirmou na última quarta-feira (1º) que há risco do Brasil passar por racionamento de energia elétrica em razão da crise hídrica no país. A declaração foi dada em coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

Mourão foi questionado sobre a decisão da Aneel de criar uma taxa extra ainda mais cara a ser cobrada na conta de luz, chamada bandeira tarifária “escassez hídrica”.

“Há uma comissão para acompanhar e tomar decisões, a tempo e a hora no sentido de impedir isso aí que você [repórter] colocou [o risco de racionamento]. Que haja apagão, mas pode ser que tenha que ocorrer algum racionamento. O próprio ministro [de Minas e Energia] falou isso.​ Vamos torcer, né?”, disse.

Em sua live semanal da quinta-feira passada (26), o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que a bandeira vermelha (em vigor na época) não era “maldade”, e pediu que os brasileiros desligassem pontos de consumo de energia.