Onde mauricio de sousa estudou

A ligação do desenhista e empresário Mauricio de Sousa, 85 anos, com Mogi das Cruzes vai além das lembranças vividas desde os primeiros anos da infância até a juventude, dos bancos escolares por onde passou, dos familiares que aqui ficaram e dos amigos que fez e vem visitar com frequência. Este forte elo passa por um sonho que pretende realizar como presente para a cidade e também a si próprio: a implantação de um empreendimento ainda a ser definido.

“No passado, houve o projeto de instalação de um Parque da Mônica em Mogi, mas não vingou. A ideia nasceu antes do tempo, fiz algumas viagens para observar áreas perto da Serra do Itapeti, mas infelizmente não deu certo naquele tempo. Acho que nem a cidade e nem eu estávamos preparados”, explica o desenhista.

Porém, ele não descarta a possibilidade de empreender em Mogi. “Do ponto de vista de pesquisa técnica dos parques temáticos é difícil, porque já temos grandes parques da Turma da Mônica em São Paulo e pelo contrato, não posso ter outro tão perto. Mas ainda é possível que eu invente algo para Mogi, que está na minha história, na minha infância, principalmente, e esta é uma fase que fica grudada na gente a vida inteira, nos chamando para revê-la. Estou me devendo isso”, adianta. 
O desenvolvimento do município, principalmente nas duas últimas décadas, chama atenção do empresário. “Gosto muito de Mogi e, com o passar do tempo, a cada vez que ia visitar os parentes e amigos, ficava admirado com o crescimento da cidade e muito orgulhoso disso”,  conta, revelando que até hoje mantém seu domicílio eleitoral no município.

“Fiz isso a vida toda para aproveitar esta oportunidade de voltar à cidade. Agora, nos últimos anos, com minha idade, me dou o prazer de fugir um pouco da eleição, até porque tenho dificuldade em encontrar candidato, já que para isso precisaria ter mais conhecimento da realidade política de Mogi. Mas sempre que possível vou rever os amigos, parentes e a própria cidade”, conta.

Da Vila Ipiranga para o mundo

Nascido na vizinha Santa Isabel, Mauricio de Sousa veio ainda bebê, com os pais, o barbeiro Antônio e a poetisa Petronilha, morar na Vila Ipiranga, em Mogi das Cruzes.

“São tantas as lembranças dos tempos vividos em Mogi das Cruzes. Minha infância e juventude têm o carimbo da cidade. As recordações mais vívidas são de quando eu morava em uma casinha modesta, na pequena Vila Ipiranga, que saía da rua Ipiranga. Ali, minha mãe me ensinou a ler com gibis e recebi do meu pai minhas primeiras orientações de desenho”, lembra Mauricio.

Foi no primário do Grupo Escolar Coronel Almeida que ele fez a primeira turma de amigos. “Muitos eram nisseis, praticamente metade da classe. Depois, fui para o curso preparatório para o ginásio com a inesquecível professora Iracema Brasil (de Siqueira), que me sugeriu ilustrar com desenhos as lições de casa. Adorei”, conta.

Já no antigo Ginásio do Estado - hoje Escola Estadual Dr. Washington Luís - o aluno dedicado diz ter conhecido professores que transformavam as aulas em contações de histórias. “Ali tive as melhores notas escolares da minha vida. Mas fora da escola, brinquei na rua Ipiranga, quando ainda era de terra batida e não tinha calçada, com amiguinhos de todas as raças que moravam perto de casa, nadei no rio Tietê de águas limpas e de muitos peixes e o Clube Náutico fez parte da minha infância. Também adorava passar uma temporada na casa da minha avó Dita, uma grande contadora de histórias. Naturalmente, tive minhas namoradinhas e, como eu era muito tímido, algumas nunca souberam que eu estava enamorado delas”, revela. 

No início da carreira como desenhista, ainda em terras mogianas, Mauricio começou a fazer cartazes e ilustrações para lojinhas e bailes carnavalescos da cidade, além de trabalhos para o antigo jornal Mogi Esportivo, onde teve a missão de criar os símbolos de todos os clubes futebolísticos da região. Como repórter, acompanhou o anúncio da instalação da então Escola Industrial Getúlio Vargas - atual Escola Técnica Estadual Presidente Vargas. “Tive uma infância dourada e uma adolescência tranquila e agradável, até cair na idade adulta e vir para São Paulo, aos 19 anos”, relata.

Em 27 de outubro de 1935, Mauricio de Sousa nasce em Santa Isabel, no Alto Tietê, e vem ainda bebê morar na Vila Ipiranga, em Mogi das Cruzes, com os pais, o barbeiro Antônio e a poetisa Petronilha. Na foto, ao lado deles, com 7 meses, em 1936.

Mauricio passa a infância e juventude em Mogi, onde estudou no Grupo Escolar Coronel Almeida e no Instituto de Educação Dr. Washington Luís. Na foto, sua avó Dita, que ele diz ter sido uma grande contadora de histórias.

As lembranças da juventude vivida em Mogi ficaram na memória de Mauricio, que fez amigos na cidade. Na foto de 1952, aos 17 anos, ele passeia na Praça Oswaldo Cruz.

Em 1953, Mauricio atuava como repórter do Jornal Mogi Esportivo e acompanhou o anúncio de criação da Escola Industrial pelo então governador Lucas Nogueira Garcez.

Morando em São Paulo desde os 19 anos, Mauricio de Sousa acompanha o lançamento, em 1970, dos primeiros bonecos de vinil inspirados em seus personagens.

Já casado e com filhos, Mauricio sempre manteve o contato com Mogi. Na foto, suas filhas Mônica e Mariângela, com a avó Maria, que morava na rua Otto Unger.

A Mauricio de Sousa Produções (Estúdios Mauricio de Sousa), criada em 1959, mudou para novo endereço em 2017.

Professor vira personagem

O professor Horácio da Silveira, lembrado por muitos mogianos que passaram pelos bancos escolares do antigo Ginásio do Estado - depois Instituto de Educação Dr. Washington Luís e hoje escola estadual -, e também pelo Liceu Braz Cubas, inspirou Mauricio de Sousa a criar um de seus personagens famosos.

O dinossauro Horácio, que nos quadrinhos interage com a Turma da Mônica, é uma homenagem ao mestre de muitos mogianos.

“Tive este professor no ginásio que se chamava Horácio e batizei o meu dinossaurosinho com o seu nome”, conta Mauricio. 

O professor, querido pelos alunos e que lecionava a disciplina História, constantemente era patrono ou paraninfo da turma de formandos, graças ao carisma que tinha entre os estudantes e ao grande envolvimento nas atividades das escolas onde atuou. 

O garoto de apenas alguns fios de cabelo espetados no alto da cabeça e que troca a letra “r” pela “l” é mogiano. O personagem Cebolinha nasceu da observação que Mauricio de Sousa fazia do então menino Luiz Carlos Cruz, que jogava bola perto da chácara de sua avó. “Até hoje ele troca o ‘r’ pelo ‘l’ e nós nos falamos por telefone. O menino que inspirou o Cascão era amigo dele e tinha este apelido porque jogava três a quatro partidas no campo enlameado antes de tomar banho. Depois soube que não é que ele não gostava de água, mas morava em local afastado, inclusive sem água encanada”, conta Mauricio. 

"Um presente para a vida"

Prestes a completar um século de vida no próximo dia 25, o expedicionário Miled Cury Andere é, para Mauricio de Sousa, “um presente da vida”. O desenhista conta que descobrir o parentesco com o ex-pracinha mogiano, que lutou na 2ª Guerra Mundial, foi uma grande realização dos últimos anos. 

“Ele é meu tio temporão e eu não sabia. Um tio, inclusive, que eu conhecia desde os meus tempos do Ginásio do Estado, porque ele trabalhava lá no Washington Luís. Ligando os pontos da história da família, informações, pistas e tudo mais, já que eu não conhecia o histórico do meu avô paterno e vivia investigando sinais que me levassem até algum parente desconhecido, juntei as peças e achei o Miled”, relembra.

Desde então, Mauricio vem a Mogi visitar o tio. “Telefono sempre e quando posso vou vê-lo. Como ele era amigo do meu pai, pedi e ele está escrevendo sobre isso”, diz Mauricio. 

Foco no cinema e exterior

Mauricio de Sousa conta que o segundo filme da Turma da Mônica está pronto, já prepara o próximo lançamento e planeja investimentos em vários países 

A estreia da Turma da Mônica na telona, com o filme “Laços”, atraiu o olhar do desenhista e empresário Mauricio de Sousa para as oportunidades do mercado cinematográfico. “Agora, sem dúvida, vamos de sola para o cinema. Os resultados são fantásticos, assim como a liberdade que nós temos para criar com os artistas ao vivo. Não vou parar. E não serão só filmes, mas também seriados”, revela.

Ele conta que, depois do sucesso de “Laços”, que inclusive ganhou premiações, o segundo filme, “Lições”, já está pronto. “A Turma da Mônica e outros personagens que não entraram no primeiro filme estarão na escola. É diferente, lindo e emocionante. Ele seria lançado em dezembro, mas a pandemia empurrou um pouquinho mais para adiante. Só que gostei tanto de fazer cinema que já estou planejando o terceiro filme”, conta.

No futuro traçado por Mauricio, além da continuação do movimento criativo iniciado por ele há 60 anos, há planos de ampliar os investimentos no exterior. “Vamos continuar desenhando, fazendo filmes, lançando revistas, livros e, principalmente, pisando muito firme no mercado internacional. Estávamos meio atrasados, mas agora já abrimos uma empresa no Japão para fazermos lá a mesma coisa que fazemos aqui e estamos planejando também entrar em outros paíse”, detalha.

Na avaliação do empresário, o mercado de publicações impressas vai caminhar junto com o digital. “Este pode ser um passeio de mãos dadas, porque os dois sistemas têm condições de coexistirem tranquilamente e podemos usar o papel impresso junto com a tecnologia da internet. Tudo isso facilitou e ampliou ainda mais nosso raio de ação”, analisa.

Ainda nos planos do desenhista está a criação, depois da Turma da Mônica Jovem, de uma versão adulta dos personagens, a fim de atender ao público que já o acompanha há quatro gerações.

“Tive 10 filhos e eles cresciam e brincavam em volta de mim, me inspirando personagens e me mostrando como é que é criança, como é brincadeira de criança, do que elas gostam e do que não gostam. Eu fui me inspirando nos meus filhos, que viraram personagens. Então, aprendi muito com as crianças, principalmente a gostar e admirá-las cada vez mais como criaturas vorazes na criatividade. Depois, acompanhei meus filhos na juventude e aí veio a Turma da Mônica Jovem. Agora, preciso criar a Turma da Mônica adulta, para o público maduro, que gosta de uma leitura mais sofisticada e alinhada à sua idade”, prevê Mauricio.

Por causa da pandemia de Covid-19, nos últimos nove meses, o desenhista passa a maior parte do tempo em casa, de onde acompanha os trabalhos dos estúdios em reuniões online e por telefone. “A pandemia nos ensinou muita coisa na busca pela adaptação. Fiquei isolado em casa, em São Paulo, mas com a tecnologia a meu favor. Acompanhei a produção da equipe do estúdio online e a produtividade aumentou porque o home office realmente deu certo”, conclui.