A população soteropolitana tem sentido os efeitos da crise hídrica em Salvador. Ao longo do ano, foram diversos períodos de falta de abastecimento. Show Dezenas de bairros foram atingidos pela falta de água e sofreram com o racionamento. Afinal, por que está faltando água? A crise hídrica em Salvador não é isolada. Definitivamente, a situação hídrica (e consequentemente energética) é delicada em todo o país. Os níveis dos reservatórios que abastecem cidades como São Paulo também estão baixos. Na capital da Bahia, houve problemas de obras na estação de tratamento, bem como vazamentos. Fique ligado para entender melhor. A crise hídrica em Salvador é uma soma de vários fatoresAntes de mais nada, é importante compreender como funciona o abastecimento da região. A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) é a responsável por este serviço em diversos municípios baianos. No mês passado, houve um vazamento na adutora, que reduziu a oferta de água para os soteropolitanos. Assim, foi preciso fazer um reparo, que gerou nova quebra no fornecimento em muitos bairros da capital. Por outro lado, a crise hídrica em Salvador é sentida desde o começo de 2021. Manutenções recorrentes e obras para desviar um trecho da adutora, suspenderam o abastecimento diversas vezes. Se não bastassem as questões de gestão, existe um problema ainda mais grave. O nível de água do rio Paraguaçu, que não recebe chuva forte há muito tempo, está bastante baixo. Por isso, na última semana, o Inema suspendeu em 50% o uso do volume de água permitido para este rio. Isso agrava a crise hídrica em Salvador, que tem 60% da sua água proveniente deste rio. Com mais de 600 quilômetros de extensão, passam mais de 20 municípios pelo Paraguaçu, que deságua na Baía de Todos-os-Santos. Dessa forma, os 2,3 milhões de baianos que dependem do rio podem sofrer com a escassez. Além disso, a água do Paraguaçu é utilizada por milhares de agricultores para irrigar plantações onde são cultivados alimentos básicos. A falta de água afeta todo o ecossistema, bem como a economia. Os rios são essenciais para todas as civilizações, desde o cultivo de alimentos até o fornecimento de água e energia. Vamos entender melhor as consequências geradas por esta escassez? Quais são os possíveis impactos da crise hídrica em Salvador?Em escala global, os impactos da crise hídrica ganham proporções imensas. Por outro lado, a falta de água em pequenas ou grandes regiões provoca a mesma reação em cadeia. Já falamos sobre uma importante consequência: a redução na produção de alimentos básicos. A agricultura é diretamente dependente do fornecimento hídrico. Sem chuvas e água para irrigar as plantações, os alimentos não suprem a demanda da população. Logo, os preços também sobem, dificultando ainda mais a vida nas grandes cidades. Da mesma forma, o fornecimento de energia fica comprometido. A Usina Pedra do Cavalo abastece a capital baiana e fica no rio Paraguaçu, que se encontra com capacidade reduzida. A crise hídrica em Salvador já gerou um curto apagão na capital, no início de outubro. Além disso, o baixo nível dos reservatórios das regiões Sul e Sudeste também podem piorar a situação dos baianos. Como uma coisa pode ter a ver com a outra? Primeiramente, é preciso entender a relação entre a água e a geração de energia. No Brasil, as hidrelétricas têm um imenso protagonismo: 65% de nossa energia é de aproveitamento hidráulico. O sistema de geração de energia elétrica do nosso país é interligado. Assim, reservatórios de outras regiões podem ajudar a suprir a demanda de lugares distantes. É o que pode vir a acontecer, caso as regiões Sul e Sudeste não recebam o volume de chuvas suficiente. Definitivamente, não ajudaria a situação da crise hídrica em Salvador e em toda a Bahia. Soluções para a falta de águaAfinal, quais medidas podem ser tomadas para prevenir estes problemas? A escassez de água já é uma realidade para muitas pessoas no mundo. Segundo a Unicef, menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A crise hídrica em Salvador é só um pedaço do problema, que pode afetar a todos nós. A incapacidade de suprir a demanda hídrica no mundo é muito preocupante. Existem diversas entidades e movimentos alertando para os riscos iminentes da escassez. Assim, é preciso unir esforços para buscar resolver esta questão global. Empresas e governos têm um papel fundamental na gestão dos recursos hídricos. Alguns países já conseguiram ótimos resultados com soluções alternativas. Para todos nós, algumas mudanças cotidianas também podem ajudar. Economizar água e energia são atitudes diárias que podemos tomar. Cuidar do meio ambiente, bem como consumir sempre com consciência podem fazer a diferença. Esperamos que este texto tenha sido útil e que ajude a levantar uma reflexão. O que você faz para ajudar a preservar a água no seu dia a dia? 23.07.2020, 05:15:00 (Shutterstock)
Na lista dos consumidores mais conscientes, os baianos estão no topo quando o assunto é água. É que de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2017, anunciada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Bahia é o terceiro estado que menos consome água no país. No total, são 338,1 litros utilizados por dia em cada economia ativa do estado, isto é, em cada edificação atendida pelos serviços de abastecimento de água. Na Bahia, 90% das economias ativas, ou 3,84 milhões, são residências domiciliares. A quantidade de água consumida diariamente por cada economia ativa da Bahia só é maior do que em Goiás (308,4 litros por dia) e Pernambuco (302,3 litros por dia). No Brasil como um todo, o consumo médio diário estava em 420,1 litros por dia. Já Amapá, Pará e Rio de Janeiro são os estados com maior consumo. Considerando que cada residência tem, em média, três moradores, o consumo diário de água por pessoa na Bahia, em 2017, ficava em 112,7 litros por dia. Esse é um valor menor do que a média brasileira, de 140 litros por dia, para cada habitante, e aproximadamente igual ao recomendado pela Organização da Nações Unidas (ONU) de 110 litros por dia.
Perdas Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, na Bahia, 47,2% dos 2,6 milhões de metros cúbicos de água que entravam na rede de distribuição diariamente não chegavam a ser consumidos. Esse índice de perdas é acima do verificado no Brasil como um todo (38,9%) e na média da região Nordeste (44,5%).
A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), que atende a 368 das 417 cidades do estado, explica que há dois tipos de perdas: as chamadas reais, quando se tem problemas na tubulação e reservatórios, e as aparentes, quando os próprios usuários fraudam o sistema, com ligações clandestinas. "Estima-se que as perdas aparentes representem em torno de 30 a 50% das perdas totais, a depender do sistema de abastecimento. A estimativa é que o consumo das ligações irregulares seja cerca de 80% maior do que as ligações ativas regulares", explica a empresa. Só em 2017, dos 4,97 milhões de domicílios que existem na Bahia, 1,13 milhão (22,7%) não se configura como economia ativa, ou seja, não é atendido pela rede legal da Embasa ou de qualquer outra prestadora de serviço.
De acordo com a Embasa, o consumo de água está associado ao número de habitantes por domicílio e também às atividades desenvolvidas nas regiões, aos hábitos e à cultura dos moradores. "Na Bahia, que tem grande parte do seu território inserido no semiárido, existe uma variação nos hábitos de consumo conforme a disponibilidade hídrica. Assim, o consumo nas regiões litorâneas é maior do que no semiárido. Em geral, os dados de consumo registrados são, na realidade, inferiores ao consumo efetivamente realizado, por diversos fatores, como a ocorrência de fraudes e a submedição do consumo (dado que os hidrômetros tendem a medir o consumo para menos, com o passar do tempo de uso)". O Distrito Federal e alguns estados brasileiros já conseguiram levar rede de água para mais de 90% da população, como é o caso de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Outros, no entanto, principalmente os da região Norte do Brasil, possuem mais casas sem acesso a água tratada do que com acesso. Confira o ranking no gráfico abaixo. A Bahia ocupa a 13ª colocação. Desigualdade Isso não acontece só no Amapá. “Salvador tem uma oferta de água quase completa, a quase toda população. No interior, essa não é a realidade, principalmente na zona rural, onde é preciso se utilizar de poços, cisternas e outros artefatos”, disse. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, em 2017, só oito municípios baianos tinham suas áreas rurais integralmente abastecidas por rede de água e apenas um tem coleta de esgoto em toda a área rural. Sobre essa realidade, a Embasa explica que sua atuação é voltada prioritariamente para a área urbana, "embora haja o atendimento de localidades rurais, quando existe viabilidade técnica para isso". Mesmo na capital baiana, quem tem oferta de água precisa ainda lidar com as irregularidades no abastecimento. Na casa da estudante Vanessa Costa, em Fazenda Coutos, há dois tanques que armazenam o líquido para os momentos quase semanais de falta de água. “Já tivemos que ajudar os vizinhos que não possuem essa estrutura”, relembra.
Campo Alegre de Lourdes Na Bahia, quatro em cada 10 cidades (37,2%) não tinham uma residência sequer com esgoto coletado. A estimativa é que 38% de todos os domicílios baianos tivessem efetivamente seu esgoto coletado. Ou seja, a cobertura era a metade da verificada no abastecimento de água, e seis em cada 10 residências (62,0%) não tinham o esgoto coletado. Os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, no entanto, mostram também que a Bahia tem avançado tanto no abastecimento de água quanto na coleta de esgoto. Em comparação com a última pesquisa realizada em 2008, o número de municípios baianos com abastecimento de água por rede geral passou de 414 para 416, e a cobertura domiciliar do serviço avançou de 67,4% para 77,3% das residências no estado. Já o número de cidades com coleta de esgoto no estado passou de 214 para 262, entre 2008 e 2017, o maior crescimento absoluto registrado em todo o país, no mesmo período. O percentual de domicílios baianos com coleta de esgoto também se ampliou, de 28,7% em 2008 para 38,0% em 2017. * Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro. |