Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (UNICAMP) Leia o seguinte capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis

Capítulo XL

Uma égua

           Ficando só, refleti algum tempo, e tive uma fantasia. Já conheceis as minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a desta casa do Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos… A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento; se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos de metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze

anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquela hora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer que não tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornava-me agora toda inteira, e, ao passo que me assustava, abria-me uma porta de saída. «Sim, é isto, pensei; vou dizer a mamãe que não tenho vocação, e confesso o nosso namoro; se ela duvidar, conto-lhe o que se passou outro dia, o penteado e o resto… (Dom Casmurro, em Machado de Assis, Obra Completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008: p. 975.)

a) Explique a metáfora empregada pelo narrador, neste capítulo, para caracterizar sua imaginação.

b) De que maneira a imaginação de Bentinho, assim caracterizada, se relaciona com a temática amorosa neste capítulo? E no romance?

RESPOSTAS:

a) Nesse capítulo, o narrador compara sua imaginação às éguas iberas. A metáfora empregada pelo narrador indica que sua imaginação corre livre e solta. É também fértil e ambiciosa, porque diante da “menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre”. Desse modo, a metáfora utilizada sugere que a natureza imaginativa do narrador permite que supostos indícios se transformem rapidamente em verdades.

b) A metáfora da égua ibera remete à natureza fantasiosa do narrador, Bento Santiago, que, no capítulo citado, recorre à imaginação para escapar da carreira eclesiástica. Como justificativa para a falta de vocação religiosa, imagina confessar à mãe, a devota D. Glória, seu relacionamento amoroso às escondidas com Capitu. No romance, a imaginação fecunda de Bento Santiago justifica a hipótese de adultério, fazendo crescer o ciúme, que sustenta a acusação e condenação de Capitu sem provas concretas.

2. (FUVEST/SP) Leia o último capítulo de Dom Casmurro e responda às questões a ele relacionadas.

CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! Vamos à “História dos Subúrbios”. Machado de Assis, Dom Casmurro.

Costuma-se reconhecer que o discurso do narrador de Dom Casmurro apresenta características que remetem às duas formações escolares pelas quais ele passou: a de seminarista e a de bacharel em Direito. No texto,

a) você identifica algum aspecto que se possa atribuir ao ex-seminarista? Explique sucintamente.

b) o modo pelo qual o narrador conduz a argumentação revela o bacharel em Direito? Explique resumidamente.

RESPOSTAS:

a) Sim, a citação bíblica denuncia o repertório de leituras próprio de um ex-seminarista.

b) A argumentação desenvolvida nesse parágrafo tem um caráter dialético, partindo de uma hipótese, seguida do confronto entre pontos de vista opostos e do encaminhamento de uma conclusão, a partir da qual se tenta conquistar o leitor. Esses procedimentos discursivos podem ser associados à formação acadêmica de Bentinho.
3. (UFU-MG) Não houve lepra

“Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifoide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém, onde os dois amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: ‘Tu eras perfeito nos teus caminhos’. Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo. Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, e achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: ‘Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação’. Parei e perguntei calado: ‘Quando seria o dia da criação de Ezequiel?’ Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.” Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. CXLVI.

Este capítulo de Dom Casmurro permite classificar a narrativa de Machado de Assis como realista. Desenvolva essa ideia, comprovando-a com dois elementos do texto.

RESPOSTA:

Apesar de se tratar da morte do filho do narrador, Machado de Assis aproveita a oportunidade para denunciar as hipocrisias das relações humanas ao listar juntamente inscrição do túmulo, desenho e despesas do enterro. Além disso, a frieza como quer tratar do assunto se exibe no desfecho irônico: “Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro”.

4. (UNICAMP) Leia a passagem abaixo de Dom Casmurro:

“Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesse aqui escrevendo este livro, porque o meu primeiro ímpeto foi correr ao café e bebê-lo. Cheguei a pegar na xícara, mas o pequeno beijava-me a mão, como de costume, e a vista dele, como o gesto, deu-me outro impulso que me custa dizer aqui; mas vá lá, diga-se tudo. Chamem-me embora assassino; não serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café. “Machado de Assis, Dom Casmurro, em Obra Completa. Vol. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p.936.

a) Explique o “primeiro ímpeto” mencionado pelo narrador.

b) Por que o narrador admite que seu “segundo impulso” foi criminoso?

c) O episódio da xícara de café está diretamente relacionado com a redação do livro de memórias de Bento Santiago. Por quê?

RESPOSTAS

a) O “primeiro ímpeto” mencionado pelo narrador diz respeito ao seu desejo de beber o café envenenado, cometendo assim um suicídio. A vontade de pôr fim à vida é motivada pela suspeita que Bento Santiago alimentava sobre a traição de sua esposa Capitu. b) O “segundo impulso” mencionado refere-se à intenção de matar Ezequiel, oferecendo-lhe o café envenenado. O ato é tido como criminoso pelo próprio narrador, que indica ter desistido do suicídio ao considerar a possibilidade de assassinar o menino, movido pela suspeita de que não fosse seu filho e sim filho do falecido amigo, Escobar.

c) No início do trecho citado, o narrador sugere que aquele encontro com Ezequiel alterou sua determinação de cometer o suicídio e, em certa medida, motivou, mais tarde, a redação do livro de memórias, com o qual pretendia “atar as duas pontas da vida”. Nesse sentido, o episódio da xícara de café, como um flagrante da hesitação da personagem, mobilizada pelo impulso de cometer um suicídio ou um homicídio, concentra os elementos constitutivos do conflito central das memórias de D. Casmurro. Em seu livro, Bento Santiago, um homem já maduro e fechado em si mesmo, debruça-se sobre os momentos decisivos de sua vida amorosa e familiar na tentativa de recuperar e explicar o tempo passado. No horizonte da cena narrada está o sentimento de felicidade perdida, a suspeita da traição, a desconfiança em relação à paternidade de Ezequiel, o ciúme incontido e a oscilação característica do narrador protagonista.

 4. CAPÍTULO 132 – O DEBUXO E O COLORIDO Nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a pessoa inteira, iam-se apurando com o tempo. Eram como um debuxo primitivo que o artista vai enchendo e colorindo aos poucos, (…) a mudança fez-se, não à maneira de teatro, fez-se como a manhã que aponta vagarosa, primeiro que se possa ler uma carta, depois lê-se a carta na rua, em casa, no gabinete, sem abrir as janelas; a luz coada pelas persianas basta a distinguir as letras. Li a carta, mal a princípio e não toda, depois fui lendo melhor. Fugia-lhe, é certo, metia o papel no bolso, corria a casa, fechava-me, não abria as vidraças, chegava a fechar os olhos. Quando novamente abria os olhos e a carta, a letra era clara e a notícia claríssima.

Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume.

CAPÍTULO 40 – UMA ÉGUA
A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento, se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre. (…)

O primeiro texto descreve a angústia de Bentinho, ao perceber a semelhança entre seu filho Ezequiel e o amigo Escobar. Bentinho achava que Escobar o teria traído com Capitu, sua mulher, e que o amigo seria, portanto, o verdadeiro pai da criança. O segundo texto é uma confissão de Bentinho a respeito de sua gigantesca capacidade de imaginar.
a) A comparação entre os dois textos permite concluir se houve ou não traição? Por quê?

b) Em qual dos dois textos, a percepção leva à infelicidade? Por que a percepção conduz a esse estado?

RESPOSTAS:
a) A comparação entre os dois textos não permite concluir se houve ou não traição, porque toda a confissão de Bentinho aparece na primeira pessoa, ou seja, ele quem dá a versão dos fatos. Além disso, Bentinho declara que “a sua capacidade de imaginar é gigantesca”: “a imaginação foi a companheira de toda a minha existência…”. Portanto, o que ele dá como realidade poderia não ser mais do que a sua percepção equivocada dos acontecimentos: Capitu poderia ter sido fiel e ele, uma vítima infeliz da “égua ibera” de sua fantasia.
b) No primeiro texto, fica clara a percepção de Bentinho ao mostrar o seu ponto de vista sobre os fatos, o que seria a razão de sua infelicidade. No fragmento transcrito, a personagem aparece em pleno ato de perceber (ou imaginar ) como as coisas se teriam passado entre sua mulher e seu amigo, a partir das semelhanças (reais ou imaginárias) entre o amigo e seu filho, Ezequiel.

 5. O texto abaixo é um dos mais importantes capítulos do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Leia-o com atenção e responda às perguntas seguintes. Capítulo 123: “Olhos de ressaca” Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas… As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-Ia; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

a) Como é o comportamento de Capitu no velório de Escobar? O que chama a atenção de Bentinho no comportamento de Capitu?

b) Por que essa passagem é importante no desenvolvimento do romance de Machado de Assis?

RESPOSTAS:

a) Capitu parece sofrer muito com a morte de Escobar, tenta consolar a viúva e olha o defunto fixamente, dando a Bentinho a ideia de que agia como se fosse a própria viúva.

b) Porque o romance gira em torno dos ciúmes de Bentinho por Capitu. A cena no velório fortalece o pensamento de Bentinho com relação a uma traição da esposa com o amigo morto Escobar.

 6. Os trechos abaixo foram extraídos de Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor…

Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum desta outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cousas que não achei nele. Quantas ideias finas me acodem então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas lidas, todos me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares, e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista.

É que tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas.(Machado de Assis, Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 213.)

a) Como a narrativa de Bento Santiago pode ser relacionada com a afirmação de que a verossimilhança é “muita vez toda a verdade”?

b) Considerando essa relação, explicite o desafio que o segundo trecho propõe ao leitor.

 RESPOSTAS:

a) Segundo Bento Santiago, a verossimilhança, harmonia entre elementos fantasiosos ou imaginários que garantem a coerência da narrativa, é vista, muitas vezes, como verdade absoluta e inquestionável. Isto significa que o ponto de vista de quem escreve pode ser tomado como verdadeiro, sem levar em conta a subjetividade do narrador, como Bento Santiago que, convencido da traição de Capitu, induz o leitor a aceitar a sua tese.

b) No segundo trecho, o narrador desafia o leitor a descobrir nas entrelinhas da narrativa as verdadeiras intenções dos personagens ou a ambiguidade das suas ações, de maneira a completar tudo aquilo que não foi dito.

7. (UNICAMP )  Entre Luz e Fusco

       Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nem durou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, na sala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimos de uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com o outro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como no quintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas… talvez risque isso na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar, fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que o mandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nome de Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava um contrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus, como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes… oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei, e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidura sacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu.(Machado de Assis, Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 195-196.)

a) Em que medida a imagem presente no título desse capítulo de Dom Casmurro define a natureza da narrativa do romance?

b) No emprego da segunda pessoa, não há coincidência do interlocutor. Indique duas marcas linguísticas que evidenciam essa não coincidência, explicitando qual é o interlocutor em cada caso.

RESPOSTAS:

a) O título remete denotativamente ao instante breve em que o Sol nasce ou se põe. No entanto, a primeira frase do texto amplia o seu significado ao sugerir uma reflexão sobre a efemeridade do tempo. O protagonista relembra momentos do passado, registra as suas impressões sobre episódios que o marcaram, como a cena de despedida com Capitu antes do seu ingresso no seminário. Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista  masculino que dá nome ao romance, já velho e solitário, desiludido e amargurado pela casmurrice, conforme lhe está no apelido. A visão, pois, que temos dos fatos é perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral.

 b) O autor usa a segunda pessoa do singular nas frases “a malícia está antes na tuacabeça perversa” e em “a investidura eras tu” para se dirigir respectivamente ao leitor e a Capitu, explicitada no vocativo “oh! minha doce companheira da meninice”.

8. (PUC-SP) Machado de Assis escreveu o romance Dom  Casmurro. A respeito desta obra, é correto  afirmar que

a) divide-se em duas partes rigorosamente simétricas, das quais a primeira apresenta, seguindo uma ordem temporal rígida, o processo  que envolve a promessa da mãe de fazer  Bentinho padre.

b) é marcada por digressões, técnica em que o narrador interrompe o fluxo narrativo, dirige-se ao leitor e comenta algo que aparentemente produz  um deslocamento do assunto que vinha sendo 

c) apresenta um narrador cuja visão condiciona todos os acontecimentos à sua maneira de vê-los, induzindo o leitor à aceitação dos fatos, tais como  são, impedindo a reflexão e o afastamento crítico.

d) caracteriza a figura de Capitu, particularmente na primeira parte da narrativa, como uma jovem voluntariosa, em ações que justificarão sua infidelidade conjugal e a consumação do  adultério.

e) arrasta seus leitores por aventuras emocionantes, desvendando a vida de pessoas ilustres e dando realce à vida sentimental das  personagens, e desinteressando-se, absolutamente, de casos desimportantes de  pessoas comuns.

 9. O romance “Dom Casmurro” pode ser esquematizado da seguinte forma:
Com base nesse esquema, é correto afirmar:

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu
a) Na primeira parte do romance, Bentinho acredita que a dissimulação de Capitu está relacionada à classe social da moça. b) Na segunda parte do romance, os diversos capítulos de curta extensão atestam o ciúme de Bentinho.

c) Nas duas partes do romance, os fatos narrados provocam em Bentinho sentimentos prazerosos e amargurados.


d) Nas duas partes do romance, as fantasias de Bentinho aceleram as ações, encobrindo, propositalmente, os ciúmes em relação a Capitu.

10. (UEMG) Com relação às técnicas e estratégias narrativas adotadas na obra “DOM CASMURRO”

, SÓ NÃO é CORRETO afirmar que

a)o narrador estabelece diálogos com um suposto ‘leitor incluso’.

b)o texto apresenta relações intertextuais com a tradição filosófica, artística e literária.

c)a narrativa contém recursos metalinguísticos, sobretudo no diálogo narrador / leitor.

d)o memorialismo da narrativa é comprometido com a fidelidade dos fatos ocorridos.

11. (UNEMAT)  Considere as afirmativas sobre o romance Dom Casmurro de Machado de Assis.

I. A referência dada por Bentinho a Capitu, olhos de ressaca, demonstra o profundo fascínio que ela exerce sobre ele.

II. O amor de Bentinho por Capitu consegue vencer o ciúme e levar os dois à reconciliação.

III. Os desentendimentos entre Bentinho e Capitu são evidências do estilo romântico de Machado de Assis.

IV. É durante o velório de José Dias que Bentinho descobre que Ezequiel não é seu filho.

V. Em princípio, o sonho de Dona Glória era que Bentinho seguisse a carreira eclesiástica.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas I e III estão corretas.

b) Apenas II e IV estão corretas.

c) Apenas III e V estão corretas.

d) Apenas I e V estão corretas.

e) Todas as afirmativas estão corretas.

12. (PUC-MG) Só não é possível afirmar sobre a personagem Capitu:

a)José Dias, ao definir os olhos de Capitu como os  “ de cigana oblíqua e dissimulada”, dá início à pintura da personagem que será construída pelo narrador.

b) Feminilidade e sagacidade são os componentes da personalidade de Capitu, metaforizados na expressão olhos de ressaca.

c) A falta da manifestação da voz de Capitu é um dos elementos que contribui para que o enigma sobre o adultério se acentue na narrativa.

d) A construção dessa personagem mantém, ratifica os mitos tradicionais sobre o papel social da mulher.

13. (UFMG) Todas as afirmações sobre D. Casmurro, de Machado de Assis, estão certas, exceto:

a)Discurso em primeira pessoa favorece o clima de dúvida que paira sobre o adultério de Capitu, pois o que prevalece na narrativa são as impressões de Bentinho, o narrador.

b) Além da semelhança de Ezequiel com Escobar, outro fator acentua a dúvida de Bentinho, sobre a paternidade do filho: a capacidade de dissimulação de Capitu.

c) O adultério, núcleo da narrativa, é um pretexto para se discorrer sobre a existência humana, subordinada ao poder desintegrador do tempo, que atua de forma irreversível sobre todas as coisas.

d) A alegria do tenor italiano, que apresenta a vida como uma ópera composta por Deus e pelo diabo, projeta-se em todo o romance, mostrando que, na luta entre as virtudes e os vícios, o Bem sempre triunfa.

e) Ao tentar reproduzir no Engenho Novo a casa em que se havia criado na antiga rua Mata-cavalos, ou ao escrever suas memórias, Dom Casmurro tenta reconstituir o passado, logrando invocar-lhe as imagens e não as sensações.

14. (PUCCAMP-SP) O trecho abaixo é parte do último capítulo de Dom Casmurro, de Machado de Assis:
O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. Invocando aqui a memória e o testemunho do leitor de sua história, o narrador arremata a narrativa: a) lembrando que os ciúmes de Bentinho por Capitu poderiam perfeitamente ser injustificáveis. b) concluindo que a única explicação para a traição de Capitu é a força caprichosa de circunstâncias acidentais. c) citando uma passagem da Bíblia, à luz da qual acaba admitindo a possibilidade da inocência de Capitu.

d) pretendendo que a personalidade de Capitu tenha se desenvolvido de modo a cumprir uma natural inclinação.


e) se mostra reticente quanto à convicção de que fora traído, sugerindo que continuará ponderando os fatos.

15. (UNIUBE-MG) Numere a 2ª coluna de acordo com a 1ª, considerando a leitura do texto Dom Casmurro.

1. “Cheguei a ter ciúmes de tudo e de todos. Um vizinho, um par de valsa, qualquer homem, moço ou maduro, me enchia de terror ou desconfiança.” (Cap. CXIII)

2. “Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração?” (Cap. CXLVIII)

3. “E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.” (Cap. CXLVIII)

4. “Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho amigo Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quatuor. Mas não adiantemos; vamos à primeira parte, em que eu vim a saber que já cantava, porque a denúncia de José Dias, meu caro leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que ele me  denunciou.” (Cap. X)

5. “É verdade que Capitu, que não sabia Escritura nem latim, decorou algumas palavras (…). Quantos às de São Pedro, disse-me no dia que estava por tudo, que eu era a única renda e o único enfeite que jamais poria em si. Ao que eu repliquei que minha esposa teria sempre as mais finas rendas deste mundo.” (Cap. CI)

( ) Estilo machadiano

( ) Visão realista da vida

( ) Caráter de Bentinho

( ) Visão romântica do amor

A sequência obtida é

a) 4 – 1 – 2 – 5

b) 3 – 4 – 2 – 1

c) 5 – 1 – 4 – 2

d) 4 – 3 – 1 – 2

16. (PUC-PR) Com base na leitura de Dom Casmurro, e considerando a importância de Machado de Assis para a literatura brasileira, identifique as alternativas como VERDADEIRAS ou FALSAS:
( ) Escrito quando o Realismo era a estética dominante, Dom Casmurro é antes um “romance filosófico” que um “romance social”.
( ) Ao contrário de diversas heroínas românticas, punidas com a morte por comportamentos inadequados para os padrões de sua época, a principal personagem feminina de Dom Casmurro não morre no final da narrativa. ( ) Ainda que acreditasse não ser pai de Ezequiel, Bento Santiago não deixou que isso interferisse na relação pai-filho, e sempre quis ter o rapaz muito perto de si.

( ) Assim como em Esaú e Jacó, a presença do Imperador e as referências à vida política brasileira são constantes em Dom Casmurro e interferem nos acontecimentos narrados.


A sequência correta é:

a) V, F, F, F

b) F, F, F, V

c) F, V, F, V

d) V, V, V, F

e) F, V, F, F

17. (U. F. UBERLÂNDIA-MG) Assinale a alternativa INCORRETA, considerando a leitura da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis.

a) A linguagem do narrador é utilizada para recriar objetivamente o mundo social e também para refletir sobre o próprio ato de narrar.

b) A visão do passado que o narrador mostra constitui-se não só em uma interpretação dos fatos como também na apresentação de provas contundentes do adultério de Capitu.

c) A ambiguidade existente na obra destaca a impossibilidade que uma pessoa tem de explicar completamente outro ser humano.

d) O processo de construção literária de Machado de Assis revela-se, também, por um conjunto de intertextos.

18. (U. F. UBERLÂNDIA-MG) Considere a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, e as afirmativas que se seguem.

I. Dª Glória tentava impedir o casamento de Bentinho com Capitu, pois desejava que ele se unisse a Sancha.

II. Bento Santiago não teve problemas em homenagear o amigo Escobar, por ocasião de seu enterro, pois era seu melhor amigo.

III. A cena descrita no velório de Escobar (homens e mulheres chorando) é uma característica do Romantismo presente em todo o Dom Casmurro — obra que tem como tema os infelizes amores de Bentinho e Capitu.

IV. “Olhos de ressaca” — referência dada a Capitu — evidencia o seu poder de envolvimento e o grande fascínio que ela exerce sobre Bentinho, tal qual as vagas do mar.

V. Apesar da suspeita de adultério, o amor consegue superar a desconfiança, fazendo com que Bentinho se reconcilie com a família de Capitu.

Assinale:

a) Se apenas IV é correta.

b) Se apenas III e V são corretas.

c) Se apenas I, II são corretas.

d) Se apenas V é correta.

 19. (U. F. UBERLÂNDIA-MG) Considerando a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, é

correto afirmar que:

a) o narrador em terceira pessoa permite a exploração psicológica de um adultério tanto por parte da adúltera, Capitu, quanto da vítima, Bentinho.

b) é uma narrativa ambígua porque mostra um retrato moral da esposa Capitu feito pelo próprio marido Bentinho, de forma a não permitir que se saiba se o adultério de fato ocorreu.

c) Bentinho é semelhante a Otelo, de Shakespeare, que não tem coragem de se matar e nem tem ódio e ciúme suficientes para assassinar a esposa.

d) a casa de Matacavalos refere-se à infância de Bentinho, enquanto a casa da Glória refere-se à época de convivência com Capitu, que lhe trouxe felicidades.

20. (U. UBERABA-MG )Em relação ao romance Dom Casmurro é correto afirmar que:

a) O leitor, em razão da ambiguidade do narrar, permanece na incerteza do que aconteceu e do que foi deturpado pelo ciúme.

b) Esta é, sem dúvida, uma narrativa ambígua, mas esta ambiguidade permanece apenas até certo ponto da narrativa, porque o próprio personagem narrador confessa que interpretou mal a realidade dos fatos.

c) Como neste romance há uma clara delimitação entre o que seja imaginário e realidade, o leitor percebe de maneira clara o que é real e o que é deformado pelo ciúme.

d) A intriga do romance é de tal maneira construída que o leitor vacila em aceitar a culpabilidade de Capitu. A hesitação só termina quando encontra no derradeiro capítulo a evidência cabal de que Capitu foi uma adúltera.

21. (UFPR) A propósito de Dom Casmurro, de Machado de Assis, é correto afirmar:
a) A narrativa de Bento Santiago é comparável a uma acusação: aproveitando sua formação jurídica, o narrador pretende configurar a culpa de Capitu. b) O artifício narrativo usado é a forma de diário, de modo que o leitor receba as informações do narrador à medida que elas acontecem, mantendo-se assim a tensão. c) Elegendo a temática do adultério, o autor resgata o romantismo de seus primeiros romances, com personagens idealizadas entregues à paixão amorosa. d) O espaço geográfico e social representado é situado em uma província do Império, buscando demonstrar que as mazelas sociais não são prerrogativa da Corte.

e) Bentinho desejava a morte de Escobar (até tentou envenená-lo uma vez), a ponto de se sentir culpado quando o ex-amigo morreu afogado.

22. (UNEMAT)  A respeito de Dom Casmurro, pode-se dizer que é um romance sobre:

a) dúvida e a ambiguidade, o amor e o ciúme.

b) a vida de Bentinho e sua escolha pelo celibato.

c) Capitu, a heroína romântica, que morre no final do romance.

d) a transição da República para a Monarquia na vida política brasileira.

e) a guerra do Paraguai e a vitória do Brasil.

23. (UFPR) No segundo capítulo de Dom Casmurro, o narrador-personagem expõe as razões que o levaram a escrever suas memórias. Relacionando esse capítulo com o romance, é correto afirmar que, ao procurar “atar as duas pontas da vida”, Bentinho: a) obtém um relato lúcido e imparcial a respeito do seu passado, vencendo os preconceitos característicos da classe a que pertencia, uma vez que, tendo sido, ele mesmo, vítima de um universo social baseado na rigorosa autoridade paternal, pôde, ao final da vida, avaliar o preço alto da solidão.

b) reconhece seu fracasso, apontando as lacunas de “um livro falho” próprio narrador que, apesar de todo o esforço empreendido para incriminar sua mulher, compromete a si mesmo, distorcendo as circunstâncias que o envolvem.

c) reconcilia-se com o seu passado e consigo mesmo, mostrando-se arrependido por ter sido injusto e extremamente cruel, nos seus julgamentos e atitudes, em relação às pessoas que mais amara: não apenas diante de Capitu e Escobar, mas, principalmente, em relação a Ezequiel. d) convence o leitor de que Capitu foi de fato infiel. Os argumentos apresentados pelo narrador são suficientes para fundamentar as vagas impressões de um homem que, apesar de apegado aos valores tradicionais da família patriarcal brasileira do final do século XIX, compreende a independência de espírito de sua mulher.

(E) não consegue convencer o leitor de que Capitu é infiel. Os argumentos apresentados pelo narrador não são suficientes para fundamentar as vagas impressões de um homem que, apesar de apegado aos valores tradicionais da família patriarcal brasileira do final do século XIX, compreende a independência de espírito de sua mulher.

A exposição retrospectiva

“Já sabes que a minha alma, por mais lacerada que tenha sido, não ficou aí para um canto como uma flor lívida e solitária. Não lhe dei essa cor ou descor. Vivi o melhor que pude sem me faltarem amigas que me consolassem da primeira. Caprichos de pouca dura, é verdade.

Elas é que me deixavam como pessoas que assistem a uma exposição retrospectiva, e, ou se fartam de vê-la, ou a luz da sala esmorece. Uma só dessas visitas tinha carro à porta e cocheiro de libré. As outras iam modestamente, calcante pede, e, se chovia, eu é que ia buscar um carro de praça, e as metia dentro, com grandes despedidas, e maiores recomendações.

[…]”

E bem, e o resto?

“Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente.

Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, ver. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.” Mas eu creio que não. E tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me […] A terra lhes seja leve! […]”

24. (PUC-RS) O trecho em questão pertence à antológica obra de Machado de Assis.

a) Memórias póstumas de Brás Cubas.

b) Dom Casmurro.

c) Memorial de Aires.

d) Quincas Borba.

25. (UNEMAT)  No romance de Machado de Assis, Bento Santiago explica a origem da alcunha de Dom Casmurro que lhe foi dada, cujo motivo seria pelo fato de ser:

1.pão duro.

2.ensimesmado.

3.alegre.

4.esnobe.

5.traiçoeiro.

26. (PUC-RS) No trecho, _________, o narrador-personagem, expressa sua _________ diante da impossibilidade de desvendar os mistérios que pautam as ações humanas, elemento característico do ___________, que busca entender objetivamente os sentimentos.

a) Isaías/indignação/Romantismo.

b) Bentinho/discordância/Romantismo.

c) Escobar/insatisfação/Simbolismo.

d) Bentinho/inconformidade/Realismo.

e) Ezequiel/conformidade/Realismo.

27. (FUVEST) Podemos afirmar que na obra D. Casmurro, Machado de Assis: a) defende a tese de que o meio determina o homem porque descreve a personagem Capitu desde o início como uma futura adúltera. b) defende a tese determinista porque o meio em que Bentinho e Capitu vivem determina a futura tragédia. c) não defende a tese determinista, apontando antagonismo entre o meio e a tragédia final. d) defende a tese determinista ao demonstrar a influência da educação religiosa na formação de Capitu.

e) não defende a tese determinista de modo explícito porque não fica clara a relação entre o meio e o fim trágico dos personagens.

28. (UNIFESP – modificada) Textos para a próxima questão.

Texto I
Ultimamente ando de novo intrigado com o enigma de Capitu. Teria ela traído mesmo o marido, ou tudo não passou de imaginação dele, como narrador? Reli mais uma vez o romance e não cheguei a nenhuma conclusão. Um mistério que o autor deixou para a posteridade. (Fernando Sabino, O bom ladrão)

Texto II
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom Casmurro)
No texto de Sabino

(I), o narrador questiona a traição de Capitu. Lendo o texto de Machado

(II), pode-se entender que esse questionamento decorre de:
a) os fatos serem narrados pela visão de uma personagem, no caso, o narrador em primeira pessoa, que fornece ao leitor o perfil psicológico de Capitu. b) a personagem ser vista por José Dias como oblíqua e dissimulada, o que gerou mal-estar no apaixonado de Capitu, deixando de vê-la como uma mulher de encantos. c) a apresentação da personagem Capitu ser feita no romance de maneira muito objetiva, sem expressão dos sentimentos que a vinculavam ao homem que a amava. e) os aspectos psicológicos de Capitu serem apresentados apenas pelos comentários de José Dias, o que lhe torna a caracterização muito subjetiva.

e) o amado de Capitu não conseguir enxergar nela características mais precisas e menos misteriosas, o que o faz descrevê-la de forma bastante idealizada.

29. (UNIFESP) Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom Casmurro) Ao afirmar que Capitu tinha olhos de cigana oblíqua, José Dias a vê como uma mulher:

a) irresistível.

b) inconveniente.

c) compreensiva.

d) evasiva.

e) irônica.

30. (UNEMAT) José de Alencar e Machado de Assis, bastante próximos no tempo, realçaram a beleza de suas personagens femininas. Leia os fragmentos abaixo e assinale a alternativa correta quanto à diferença de tom dos autores ao caracterizar suas figuras.

1.“Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro” (p. 44-5).

2.“Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado […]. Não soltamos as mãos, nem elas se deixaram cair de cansadas ou de esquecidas. Os olhos fitavam-se e desfitavam-se, e depois de vagarem ao perto, tornavam-se a meter-se uns pelos outros…”(p. 15-6).

1.Iracema, como personagem secundária do romance, é a donzela pura que representa o ideal da Corte brasileira.

2.Capitu é a cortesã nobre voltada para os afazeres domésticos.

3.Iracema e Capitu encarnam o ideal do século XX, responsável pela transformação social da mulher.

4.Iracema representa a heroína idealizada e Capitu, a mulher maliciosa e desejada.

5.Iracema e Capitu têm em comum o fato de estarem presas às convenções românticas.

31. (UNIFESP) Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom Casmurro) Para o narrador, os olhos de Capitu eram olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Entende-se, então, que ele: a) começava a nutrir sentimento de repulsa em relação a ela, como está sugerido em [seus olhos] entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…

b) se sentia fortemente atraído por ela, como comprova o trecho: Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro…

c) passou a desconfiar da sinceridade dela, como está exposto em: mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. d) começava a vê-la como uma mulher comum, sem atrativos especiais, como demonstra o trecho: eu nada achei extraordinário…

e) deixava de vê-la como uma mulher enigmática, como está sugerido em: Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova.

32. (UFMS) Sobre o romance de Machado de Assis Dom Casmurro assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(01) É um romance da fase realista do escritor, no qual as personagens são mostradas

superficialmente e a história é narrada em ordem cronológica linear.

(02) O personagem-narrador, Bentinho, pretende contar suas memórias ao leitor, através

de um livro, para espantar a monotonia.

(04) A expressão “olhos de ressaca”, utilizada na descrição de Capitu, significa que eram

olhos profundos e misteriosos como o mar, pois o narrador sentia que se afogava

neles e, ao mesmo tempo, não conseguia compreendê-los ou decifrá-los.

(08) José Dias, tio de Bentinho, é o personagem secundário utilizado pelo narrador para

revelar os costumes familiares do Rio de Janeiro em meados do século XIX.

(16) O ciúme de Bentinho, manifestado ainda na adolescência, acentua-se à medida que

Ezequiel fica, a cada dia, mais parecido com Escobar.

Dê, como resposta, a soma das alternativas corretas.

Soma: 22

33. (UEMG) Assinale a alternativa em que se identificou CORRETAMENTE elementos estruturais do romance Dom Casmurro.

a)A obra apresenta um texto em terceira pessoa, em que o protagonista central, Bentinho, é abandonado por Capitu, em virtude dos ciúmes exagerados desta.

b)O narrador de primeira pessoa escreve o romance, buscando a ilusão de resgatar o seu passado através de sensações revivenciadas no presente, tentando explicar a sua “casmurrice” e, com ela, a sua própria vida.

c)O romance é narrado em primeira pessoa por D. Casmurro, que deseja registrar, memorialisticamente, o seu passado glorioso e cheio de atos dignos de serem revivenciados.

d)A narração do romance obedece ao único propósito de registrar os momentos felizes de Bentinho, vivenciados ao lado de Capitu, o que explica, em parte, a tendência do narrador pelas minúcias e pelo detalhismo.

34. (UFPR) Sobre o escritor Machado de Assis e a sua obra Dom Casmurro, é correto afirmar:

a) Junto a José de Alencar, fundou o movimento realista na literatura brasileira. Enquanto Alencar buscava a constituição de uma identidade nacional através do retrato da história brasileira e da sua formação racial, Machado de Assis se ocupou do mundo urbano e de uma sociedade cuja moral estava em franca transformação.

b) Um dos principais temas de Dom Casmurro é a descrição da sociedade brasileira da época, mostrando, por exemplo, as tensões da passagem do mundo monárquico para o republicano e o conservadorismo resultante dessa mudança.

c) Em Dom Casmurro, a narrativa em primeira pessoa é a responsável pelo tom confessional do romance, ao mesmo tempo em que lhe atribui uma verdade indiscutível. Essas proposições estão explicitadas no próprio texto, especialmente quando o narrador “explica” o livro, ainda no início da narrativa.

d) As personagens Capitu e Escobar resumem em suas trajetórias as novas relações da sociedade naquele momento: o amor era mais importante que as aparências.

e) Os capítulos curtos que constituem o romance servem bem às intenções do narrador, possibilitando comentários, paradas e retrocessos para que a história se construa aos poucos com todas as informações que ele deseja oferecer e, consequentemente, que seja conduzida segundo o seu ponto de vista.

35. (FGV) Podemos afirmar que na obra D. Casmurro, Machado de Assis

a) defende a tese de que o meio determina o homem porque descreve a personagem Capitu desde o início como uma futura adúltera.

b) defende a tese determinista porque o meio em que Bentinho e Capitu vivem determina a futura tragédia.

c) não defende a tese determinista, apontando antagonismo entre o meio e a tragédia final.

d) defende a tese determinista ao demonstrar a influência da educação religiosa na formação de Capitu.

e) não defende a tese determinista de modo explícito porque não fica clara a relação entre o meio e o fim trágico dos personagens.

Texto para as questões 35 .

“A enferma era uma senhora viúva, tísica, tinha uma filha de quinze ou de dezesseis anos, que estava chorando à porta do quarto. A moça não era formosa, talvez nem tivesse graça; os cabelos caíam-lhe despenteados, e as lágrimas faziam-lhe encarquilhar os olhos. Não obstante, o total falava e cativava o coração. O vigário confessou a doente, deu-lhe a comunhão e os santos óleos. O pranto da moça redobrou tanto que senti os meus olhos molhados e fugi. Vim para perto de uma janela.

Pobre criatura! A dor era comunicativa em si mesma; complicada da lembrança de minha mãe, doeu-me mais, e, quando enfim pensei em Capitu, senti um ímpeto de soluçar também (…)

A imagem de Capitu ia comigo, e a minha imaginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora; (…) As tochas acesas, tão lúgubres na ocasião, tinham-me ares de um lustre nupcial… Que era lustre nupcial? Não sei; era alguma coisa contrário à morte, e não vejo outra mais que bodas.”

36. (MACKENZIE) Considere as afirmações.

I. Na descrição da filha da viúva (segundo período), o narrador-personagem apresenta um atitude romântica.

II. No fato narrado, o protagonista sobrepõe o mundo imaginário às circunstâncias objetivas da realidade circundante.

III. O texto foi extraído de romance brasileiro da primeira metade do século XIX.

Assinale:

a) se todas estiverem corretas.

b) se apenas I e III estiverem corretas.

c) se apenas II estiver correta.

d) se todas estiverem incorretas.

e) se apenas II e III estiverem corretas.

37. (UNEMAT) Bento Santiago, narrador de Dom Casmurro, sente-se confuso ao ver a morte injusta de Desdêmona, quando vai ao teatro assistir à peça Otelo, de Shakespeare.

Assinale a alternativa que está de acordo com tal sentimento.

1.Indiferença à traição da mulher.

2.Certeza de que Capitu o traiu.

3.Dúvida sobre a traição de Capitu.

4.Alegria por poder livrar-se da esposa.

5.Tristeza pela infidelidade de Capitu.

38. (UFU-MG) Considere a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, e as afirmativas que se seguem: I. Da Glória tentava impedir o casamento de Bentinho com Capitu, pois desejava que ele se unisse a Sancha. II. Bento Santiago não teve problemas em homenagear o amigo Escobar, por ocasião de seu enterro, pois era seu melhor amigo. III. A cena descrita no velório de Escobar (homens e mulheres chorando) é uma característica do Romantismo presente em todo o Dom Casmurro — obra que tem como tema os infelizes amores de Bentinho e Capitu. IV. “Olhos de ressaca” — referência dada a Capitu — evidencia o seu poder de envolvimento e o grande fascínio que ela exerce sobre Bentinho, tal qual as vagas do mar. V. Apesar da suspeita de adultério, o amor consegue superar a desconfiança fazendo com que Bentinho se reconcilie com a família de Capitu. Assinale:

a) Se apenas IV é correta.

b) Se apenas I, II são corretas.

c) Se apenas III e V são corretas.

d) Se apenas V é correta.

e) Nenhuma delas é correta.

39. (CONC. FEDERAL) Machado de Assis, em Dom Casmurro, mostra Capitu como personagem de maior destaque. Bentinho nutria, em relação a ela, sentimentos de a) profunda admiração e respeito. b) amor desmedido. c) verdadeira veneração de ordem espiritual.

d) ciúme exacerbado, raiando os limites de doença mental.


e) nenhuma admiração ou respeito.

40. (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que segue.

“– Seremos felizes!

Repeti estas palavras, com os simples dedos, apertando os dela. O canapé, quer visse ou não, continuou a prestar os seus serviços às nossas mãos presas, e às nossas cabeças juntas ou quase juntas.

[…]

Gurgel voltou à sala e disse a Capitu que a filha chamava por ela. Eu levantei-me depressa e não achei compostura; metia os olhos pelas cadeiras. Ao contrário, Capitu ergueu-se naturalmente e perguntou-lhe se a febre aumentara.

[…]

Nem sobressalto nem nada, nenhum ar de mistério da parte de Capitu; voltou para mim, e disse-me que levasse lembranças a minha mãe e a prima Justina, e que até breve; estendeu-me a mão e enfiou pelo corredor. Todas as minhas invejas foram com ela. Como era possível que Capitu se governasse tão facilmente e eu não?

– Está uma moça, observou Gurgel olhando também para ela.

Murmurei que sim. Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras, as formas arredondavam-se e avigoravam-se com grande intensidade; moralmente, a mesma coisa. Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até a cabeça.”

Todas as afirmativas que seguem estão associadas ao trecho selecionado de Dom casmurro, EXCETO:

a) O relato em primeira pessoa confere tom de parcialidade à narrativa.

b) O narrador compara-se com Capitu.

c) Capitu e Bentinho estavam num momento de cumplicidade quando Gurgel chegou.

d) Capitu sabe contornar a situação, o que provoca a inveja de Bentinho.

e) A personagem feminina é descrita de forma sugestiva e sentimentalista.

41. (UFRN) No painel dos personagens secundários, o agregado José Dias destaca-se porque:

a) tem comportamento peculiar que interfere nas reminiscências de Bentinho.

b) é um personagem culto, típico da época em que se passa a história.

c) participa do cotidiano familiar e influencia as decisões de dona Glória.

d) é o personagem que acoberta os interesses ardilosos da esposa do narrador.

42. (UFRN) O romance D. Casmurro pode ser esquematizado da seguinte forma: 1ª parte 2ª parte O amor adolescente entre Bentinho e Capitu O casamento de Bentinho e Capitu Com base nesse esquema, é correto afirmar:

a) Na primeira parte do romance, Bentinho acredita que a dissimulação de Capitu está relacionada à classe social da moça.

b) Na segunda parte do romance, os diversos capítulos de curta extensão atestam o ciúme de Bentinho.

c) Nas duas partes do romance, os fatos narrados provocam em Bentinho sentimentos prazerosos e amargurados.

d) Nas duas partes do romance, as fantasias de Bentinho aceleram as ações, encobrindo, propositalmente, os ciúmes em relação a Capitu.

43. (UNEMAT) Leia os excertos.

“Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes:

‘Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.’ (p.1).”

“Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimilo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu.” (p.2)

Nesses trechos, o narrador de Dom Casmurro pretende justificar aspectos de sua vida.

Assinale a alternativa correta.

1.Bentinho tinha o propósito de atar a infância à velhice.

2.O narrador não acreditava que a escrita pudesse reconstituir sua vida.

3.Dom Casmurro consegue comprovar a traição de Capitu.

4.Na essência, o narrador permanece sempre o mesmo: seguro e confiante.

5. Bentinho consegue restaurar o passado através da reconstrução da casa.

44. (UFBA)“Quando Pádua, vindo pelo interior, entrou na sala de visitas, Capitu, em pé, de costas para mim, inclinada sobre a costura, como a recolhê-la, perguntava em voz alta:

— Mas, Bentinho, que é protonotário apostólico?

— Ora, vivam! Exclamou, o pai.

— Que susto, meu Deus!

Agora é que o lance é o mesmo; mas se conto aqui, tais quais, os dois lances de há quarenta anos, é para mostrar que Capitu não se dominava só em presença da mãe, o pai não lhe meteu mais medo. No meio de uma situação que me atava a língua, usava da palavra com a maior ingenuidade deste mundo. A minha persuasão é que o coração não lhe batia mais nem menos.

Alegou susto, e deu à cara um ar meio enfiado; mas eu, que sabia tudo, vi que era mentira e fiquei com inveja. Foi logo falar ao pai, que apertou a minha mão, e quis saber por que a filha falava em protonotário apostólico. Capitu repetiu-lhe o que ouvira de mim, e opinou logo que o pai devia ir cumprimentar o padre em casa dele; ela iria à minha. E coligindo os petrechos da costura, enfiou pelo corredor, bradando infantilmente:

— Mamãe, jantar, papai chegou!”

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1999. p. 64.

A leitura do fragmento e de todo o romance permite afirmar:

(01) Bentinho simboliza o indivíduo resistente às influências advindas das pessoas e das

circunstâncias que o rodeiam.

(02) As ações de Capitu retratam-na como uma personalidade que se impõe e que faz dela própria a autora do seu destino.

(04) O recurso frequente à fala direta das personagens dá-se em função de o autor imprimir naturalidade na divulgação do ideário religioso que pretende difundir.

(08) Os flagrantes em que os dois protagonistas são surpreendidos põem em realce a dissimulação de Capitu, um dado importante em favor da ideia de traição alimentada

por Bentinho.

(16) O relato de experiências frustrantes constitui estratégia do eu-narrador para justificar o conflito existencial que o marca.

(32) A possibilidade de ascensão na carreira sacerdotal, sinônimo de projeção social e de vantagem econômica, faz crescer na mãe de Bentinho a vontade de enviá-lo ao seminário.

(64) A ambiguidade da personagem feminina funciona como motivo para que conflitos e desajustes se instalem no espaço que deveria ser de harmonia e de realização pessoal.

SOMA: 90

45.(UFAC) Com base na leitura de Dom Casmurro, examine as assertivas abaixo. Depois, marque a alternativa correta.

I. Evidencia-se no romance um rico painel social da época a que se refere a narrativa.

II. As características atribuídas às personagens estão muito aquém das que predominavam à época machadiana.

III. O perfil de Capitu, a partir da ótica do narrador, assemelha-se ao da mulher romântica.

IV. A dúvida instaurada a respeito da fidelidade de Capitu resulta da postura assumida pelo narrador.

a) Apenas I, III e IV estão corretas.

b) Apenas II, III e IV estão corretas.

c) I e III são incorretas.

d) Apenas I, II e III estão corretas.

e) Apenas I e IV estão corretas.

46. (UFSE)

( ) No romance D. Casmurro, com as frases “o fim evidente de atar as duas pontas da

vida” e “recompor o que foi”, Machado de Assis mostra, muito além dos fatos em si,

as intenções e ressonâncias que os envolvem e que surgem das descrições das personagens

e comentários, aparentemente insignificantes, ao longo da narrativa.

( ) Senhora, apesar de ser um romance que se enquadra na época romântica, desvia-se

deste ideário estético, ao mostrar o dinheiro como elemento que conspurca o amor, o

qual, portanto, não se realiza.

( ) É correto afirmar-se que Amâncio, do romance Casa de pensão, foi um dos tipos

mais marcantes criados por Aluísio Azevedo — uma personagem forte que sobressai

no romance, no meio de uma galeria de outros tipos.

( ) Em D. Casmurro observa-se, em síntese, uma visão otimista da sociedade, na figura

de José Dias, o agregado, que é o exemplo dos hábitos e padrões familiares do Rio de

Janeiro nos meados do século XIX.

( ) Um cientificismo de sabor popular tangencia a narrativa de Casa de pensão, em que

os episódios da infância, mesmo os aparentemente insignificantes — e mais tarde o

meio — modelam o caráter

V-V-F-F-V

47. (UFRJ) O tema do ciúme foi abordado por Machado de Assis em Dom Casmurro:

“Capítulo CXXXV

OTELO

Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. (…) O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

— E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo; — que faria o público, se ela deveras fosse

culpada, tão culpada como Capitu? (…)”

ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1982.

No fragmento acima, observa-se uma característica recorrente nos romances machadianos,

que é a:

a) crítica aos excessos sentimentais do personagem.

b) ausência de monólogos interiores.

c) preocupação com questões político-sociais.

d) abordagem de tema circunscrito à época realista.

e) análise do comportamento humano.

48. (FAAP)  Sobre o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, é incorreto afirmar que:

a) houve o adultério, pois sendo Bentinho, personagem e narrador, tem uma visão onisciente dos fatos, descartando qualquer dúvida que se tenha em relação à traição.

b) o romance tematiza o adultério: Bentinho, Capitu e Escobar que formam o triângulo amoroso.

c) o leitor conhece todos os fatos narrados somente pela visão de Bentinho, que ao mesmo tempo que os expõe, analisa-os, pois é narrador-personagem.

d) é pela visão de Bentinho que formamos o perfil psicológico de cada uma das personagens do romance.

e) Bentinho caracteriza os olhos de Capitu como “olhos de ressaca” por causa de seu poder de atração

49. (PUC-PR) Sobre o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, o ensaísta português Helder Macedo afirmou:

“Na destruição de Capitu, na neutralização do desafio ao modo de ser alternativo que ela representa, reside o propósito fundamental da restauração procurada por Bento Santiago através da escrita do seu memorial. […] Ela era uma estranha, uma intrusa, uma ameaça ao status quo, um indesejável traço de união com uma classe social mais baixa, representando assim também, implicitamente, a emergência potencial de uma nova ordem política que ameaçasse o poder estabelecido. Acresce que algumas das outras características da sua rebelde personalidade – curiosidade intelectual, gosto pela aritmética, talento financeiro, capacidade de abstração e de previsão – eram qualidades convencionalmente associadas à mente masculina, não qualidades aquiescentemente femininas”. O narrador deixa entrever de forma sistemática quanto poderia haver de suspeito e de perigoso, social e sexualmente, nas suas motivações. Classe e sexo são assim fundidos na mesma ameaça representada pela moralidade supostamente dúbia de Capitu”.    MACEDO, Helder. Machado de Assis: entre o lusco e o fusco.

Qual dos trechos de Dom Casmurro exemplifica as ideias críticas de Helder Macedo?

a) “Capitu não achava bonito o perfil de César, mas as ações citadas por José Dias davam-lhe gestos de admiração. Ficou muito tempo com a cara virada para ele. Um homem que podia tudo! Que fazia tudo!” (Capítulo XXXI – “As curiosidades de Capitu”)

b) “Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura.” (Capítulo XXXIII – “O penteado”).

c) “Capitu ia agora entrando na alma de minha mãe. Viviam o mais do tempo juntas, falando de mim, a propósito do sol e da chuva, ou de nada; Capitu ia lá coser, às manhãs; alguma vez ficava para jantar.” (Capítulo LXVI – “Intimidade”).

d) “Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nos primeiros tempos [de casados], quando íamos a passeios ou espetáculos, era como uma pássaro que saísse da gaiola. Arranjava-se com graça e modéstia.” (Capítulo CV – “Os braços”).

e) “Capitu e eu, involuntariamente, olhamos para a fotografia de Escobar, e depois um para o outro. Desta vez a confusão dela fez-se confissão pura. Este era aquele […].” (Capítulo CXXXIX – “A fotografia”)

50.(UFPB) No romance Dom Casmurro, ao lembrar o dia da revelação do amor de Capitu, o narrador escreve:

“Confissão de crianças, tu valias bem duas ou três páginas, mas quero ser poupado. Em verdade, não falamos nada; o muro falou por nós. Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se. Não marquei a hora exata daquele gesto. Devia tê-la marcado; sinto a falta de uma nota escrita naquela mesma noite, e que eu poria aqui com os erros de ortografia que trouxesse, mas não traria nenhum, tal era a diferença entre o estudante e o adolescente. Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; tinha ‘orgias de latim’ e era virgem de mulheres.”

Nesse trecho do romance verifica-se que:

a) a narrativa é construída a partir dos registros escritos do narrador.

b) a passagem nega o comportamento ingênuo de Bentinho.

c) a frase “sinto a falta de uma nota escrita naquela mesma noite” supõe que o narrador, agora velho, não confia inteiramente naquilo que narra.

d) o registro de detalhes é sinal inequívoco do desprezo do narrador pela personagem Capitu.

e) a passagem aponta para o desnível intelectual existente entre Bentinho e Capitu.

51. (UFMS)A respeito do romance Dom Casmurro, é correto afirmar que:

(01) como na obra de Shakespeare — Otelo —, consuma-se o desfecho trágico, motivado pelo ciúme: Bentinho suicida-se após matar Capitu e Escobar.

(02) há uma crítica explícita ao celibato, e as personagens são pintadas ao modo naturalista — bons tipos que a sociedade corrompeu ou mal encaminhados por fatalidades deterministas,

como a ascendência duvidosa.

(04) a narrativa é construída na primeira pessoa e tem Bentinho como narrador-personagem. Nessa condição, ele se propõe a reconstituir seu passado por meio da escrita, a fim de tentar revivê-lo e, quem sabe, reencontrar sua identidade.

(08) se insere no rol das produções da estética realista, que abarcou o que se produziu na

segunda metade do século XIX, uma época marcada pela crença no progresso propiciado

pela ciência e pela representação do mundo sem idealismo ou sentimentalismo.

(16) há alusões explícitas e implícitas a Otelo, obra do dramaturgo inglês William Shakespeare.

Do ponto de vista temático, Dom Casmurro é comparável à tragédia de Shakespeare,

posto que ambas as obras abordam o afloramento do ciúme obsessivo de um

homem em relação a sua mulher, ainda que haja evidências pouco consistentes quanto

a isso.

Dê, como resposta, a soma das alternativas corretas.

SOMA: 28

(UEL) As questões de 52 a 54 referem-se ao trecho do capítulo de Dom Casmurro (1900), de Machado de Assis (1839-1908.)

OLHOS DE RESSACA
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto, nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
Fonte: ASSIS, J. Maria Machado de. Obra Completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 927.

52. Com base no texto e seus conhecimentos sobre a obra, assinale a resposta correta nas questões de 22 a 24. A narração do momento em que Capitu fixa o olhar no cadáver de Escobar efetiva-se:

a) Muitos anos após a morte de Escobar, tendo por objetivo mostrar ao leitor a percepção do narrador da dissimulação de sua esposa, Capitu. b) Logo após o enterro de Escobar, mostrando-se o narrador solidário com a dor da viúva, Sancha, personagem caracterizada pela dissimulação. c) Através das palavras de Bento Santiago, melhor amigo de Escobar, tendo por objetivo registrar a dor dos amigos no momento do enterro. d) Logo após o enterro de Escobar, tendo por objetivo registrar o forte vínculo que unia sua família à do negociante e ex-seminarista.

e) Muitos anos após o enterro de Escobar, tendo por objetivo ressaltar o transtorno ocasionado pela imprudência do ex-seminarista.

53. De acordo com o texto, é correto afirmar: a) Diante do trecho acima transcrito, compete ao leitor acreditar ou não nas palavras do narrador uma vez que apenas suas palavras fazem-se presentes.

b) Capitu, embora seja vista apenas pelo narrador, apresenta um comportamento ambíguo, pois não quer que as pessoas notem seu amor por Escobar.

c) O comportamento dissimulado caracteriza Capitu, como deixam claras as palavras do narrador, seu marido, efetivadas logo após o enterro do amigo. d) Diante das palavras seguras do narrador, ex-seminarista e advogado, resta ao leitor a segurança de que Capitu era uma mulher adúltera.

e) As palavras do ex-seminarista e advogado competente são a garantia da veracidade da cena descrita na qual Capitu fixa apaixonadamente o cadáver do amigo.

54. A denominação do capítulo, “Olhos de ressaca”, é resultante da leitura que o narrador faz:
a) Do mal-estar de Sancha diante do corpo inerte do marido. b) Da agressividade incontida do olhar de Bentinho em direção a Capitu. c) Do desejo detectado no olhar de Capitu de apossar-se de Escobar. d) Da força e do ímpeto presentes nos olhos de Capitu dirigidos ao marido.

e) Do mal-estar de Capitu provocado pela noite passada em claro.

55. (U. F. RIO GRANDE-RS) “O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente.”

O fragmento de Dom Casmurro, de Machado de Assis, deixa entrever:

a) um narrador que não interfere na vida da protagonista, Capitu.

b) o tema da dúvida que permeia todo o romance.

c) as dores de amor que apenas no final encontram solução.

d) a jocosidade e a brincadeira do narrador ao tratar seus personagens.

e) a preocupação com a identidade brasileira peculiar da prosa modernista.

56. (UFAM) Leia as alternativas abaixo, que se referem ao romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

I. Não se tem certeza se Capitu de fato traiu Bentinho, principalmente se levarmos em conta que tudo é narrado do ponto de vista deste personagem, que é um ciumento extremado e possui uma natureza imaginativa ao extremo.

II. O autor-personagem é um cinquentão solitário que reproduz, no Engenho Novo, a casa em que se criara na antiga rua de Mata-Cavalos, com o intuito de restaurar a adolescência na velhice.

III. No estilo narrativo do romance observa-se a técnica dos capítulos quase sempre curtos e, dentro deles, as apóstrofes ao leitor e as digressões ora graves ora humorísticas.

IV. A humilde Capitu revela-se esperta e cativante, insinuando-se vitoriosamente no pequeno mundo de D. Glória, a mãe viúva de Bentinho, vindo a casar-se, posteriormente, com seu companheiro de meninice.

Estão corretas ou são admissíveis:

a) Somente II e III.

b) Somente I e III.

c) Somente I e IV.

d) Somente I, II e IV.

e) Todas as alternativas.

57. (.U. F. RIO GRANDE-RS) “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.” Este fragmento extraído de Dom Casmurro, de Machado de Assis, deixa entrever:

a) a recusa do narrador em lembrar-se do passado vivido com sua mãe, com a amiga vizinha e com José Dias, o agregado.

b) o objetivo do narrador em escrever suas memórias.

c) um tom melancólico, ainda que o romance narre as peripécias burlescas do protagonista, chamado Leonardo.

d) o tema do romance que é o sentido saudosista do romantismo brasileiro.

e) uma euforia incontida vivenciada pelo protagonista.

58. (UFLA) Todas as alternativas apresentam informações sobre D. Casmurro, de Machado de Assis, EXCETO: a) “A questão do adultério, tratada de forma ambígua pelo autor, permanece em aberto no fim da narrativa.” b) “O narrador, através do exercício da memória, busca ligar o presente ao passado, a velhice à adolescência.” c) “O narrador protagonista, ao assumir a primeira pessoa, apresenta uma visão parcial e tendenciosa dos acontecimentos.”

d) “O Autor, introduzindo-se na narrativa, fornece ao leitor informações que contradizem as opiniões do narrador.”


e) “A narrativa, marcada pela ironia, mantém uma relação intertextual com a tragédia Otelo, de Shakespeare.”

59. (UFLA) Todas as passagens de D. Casmurro, de Machado de Assis, são exemplos da dissimulação de Capitu, na visão de Bentinho, EXCETO: a) “A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira-lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…”

b) ” – E você, Capitu, interrompeu minha mãe voltando-se para a filha do Pádua que estava na sala, com ela, – você não acha que o nosso Bentinho dará um bom padre?” ” – Acho que sim, senhora, respondeu Capitu cheia de convicção.”

c) “Capitu estava melhor e até boa. Confessou-me que apenas tivera uma dor de cabeça de nada, mas agravara o padecimento para que eu fosse divertir-me. Não falava alegre, o que me fez desconfiar que mentia (…)” d) “Eu levantei-me depressa e não achei compostura: meti os olhos pelas cadeiras. Ao contrário, Capitu ergueu-se naturalmente e perguntou-lhe se a febre aumentara (…) Como era possível que Capitu se governasse tão facilmente e eu não?”

e) “Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento (…)”

60. (UFLA) De acordo com a leitura da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, julgue as proposições e, a seguir, marque a alternativa CORRETA. I. A narração é em primeira pessoa – Bentinho/Dom Casmurro é o personagem narrador que tenta “atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”. II. O título se deve ao temperamento calado, ensimesmado de Bentinho, que, recolhido à solidão de sua casa, conta a sua própria vida. III. A desconfiança de Bentinho da traição de Capitu com Escobar intensificase com a morte deste. IV. Capitu não consegue esconder a imensa tristeza e agonia com a morte de Escobar, sendo assassinada pelo marido, que foge para a Europa com o filho. a) Apenas as proposições II, III e IV são corretas. b) Apenas as proposições I, III e IV são corretas. c) Apenas as proposições I e III são corretas. d) Apenas as proposições II, IV são corretas.

e) Apenas as proposições I, II e III são corretas.

61. (UFLA) Considere as seguintes afirmativas sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis e, a seguir, marque a alternativa que apresenta a ordem CORRETA conforme seja verdadeiro (V) ou falso (F). I. O romance é narrado em terceira pessoa, e o narrador é um crítico mordaz dos acontecimentos. II. Tematiza a traição – decorrência do pessimismo do autor, de sua visão descrente das relações humanas. III. É um romance de visão sentimentalista do mundo, representando o exemplo máximo de prosa poética em nossa literatura. IV. O título se deve ao temperamento sisudo de Bentinho que, recolhido à sua casa, conta sua própria vida.

a) V, V, V, F

b) F, V, F, V

c) F, F, F, V

d) V, V, F, V

e) F, V, V, F

62. (FAPA) Considere as seguintes afirmações sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis: I – O narrador-protagonista rememora os acontecimentos do passado para tomar decisões que serão importantes para o seu futuro pessoal e profissional. II – Dom Casmurro, nas suas memórias, narra os acontecimentos de sua infância, as impressões do seminário, o retorno ao convívio familiar e o seu relacionamento com Capitu. III – Ao reproduzir, no Engenho Novo, a casa em que havia morado na antiga rua de Matacavalos e ao escrever um livro de memórias, o narrador quis recuperar a adolescência na velhice. Quais são as corretas ?

a) Apenas I

b) Apenas I e II

c) Apenas I e III

d) Apenas II e III

e) I, II e III

63. (UNIVALI-SC )Leia o texto e assinale o item que completa correta e respectivamente as lacunas:

“1998 marca o 90º aniversário da morte de Machado de Assis, escritor representativo do ……

brasileiro, introdutor …… em nossa Literatura. Criou personagens marcantes entre elas ……,

famosa pela polêmica em torno de sua traição. Também é lembrado por ser o fundador …… .”

a) Simbolismo – da sátira – Flora – da Imprensa Nacional

b) Naturalismo – da degradação – Conceição – da Academia Fluminense de Letras

c) Romantismo – do suspense – Marcela – da Academia dos Esquecidos

d) Realismo – da ironia – Capitu – da Academia Brasileira de Letras

e) 1ª fase do Modernismo – da irreverência – Virgília – do Teatro Municipal de São Paulo

64. (FUVEST ) O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui.
É o que diz o narrador no segundo capítulo do romance Dom Casmurro. Afinal por que não teria ele alcançado o seu intento? a) Pelas dificuldades inerentes à estrutura do romance, na recuperação de outros tempos. b) Pelo receio de confessar suas fraquezas e a traição sofrida.

c) Porque era impossível recuperar o sentido daquele período, pois ele já não era a mesma pessoa.

d) Pela falta de bom senso e de clareza na apreensão das lembranças.

e) Porque o tempo, impiedoso, apaga todos os acontecimentos e transforma as pessoas.

65. (UFL) Todas as alternativas apresentam informações sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis, exceto: a) A questão do adultério, tratada de forma ambígua pelo autor, permanece em aberto no fim da narrativa. b) O narrador, através do exercício da memória, busca ligar o presente ao passado, a velhice à adolescência. c) O narrador protagonista, ao assumir a primeira pessoa, apresenta uma visão tendenciosa dos acontecimentos.

d) O autor, introduzindo-se na narrativa, fornece ao leitor informações que contradizem as opiniões do narrador.


e) A narrativa, marcada pela ironia, mantém uma relação intersexual com a tragédia Otelo, de Shakespeare.

66. (UEL) O texto abaixo é o último capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é esse propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A Terra lhes seja leve! Vamos à História dos subúrbios. Pela leitura do texto, é correto afirmar que, depois de contar a história da sua vida e do seu amor por Capitu, Bentinho, o narrador: a) Conclui que Capitu não o traiu. b) Buscando conforto na Bíblia, chega à conclusão de que, apesar de Capitu o ter traído, ele deveria perdoar-lhe e não sentir ciúmes dela. c) Não tem certeza de que Capitu o traiu, embora acredite que ela tenha se transformado muito desde a adolescência, aparecendo quando adulta como uma cigana traiçoeira e dissimulada.

d) Chega à conclusão de que Capitu já possuía, quando menina, os traços psicológicos que a caracterizariam na fase adulta.


e) Constata que Capitu e seu amigo José Dias mantinham um romance desde a adolescência.

67. (PUC) A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a tinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

O trecho acima, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, autoriza o narrador a caracterizar os olhos da personagem, do ponto de vista metafórico, como

a) olhos de viúva oblíqua e dissimulada, apaixonados pelo nadador da manhã.

b) olhos de ressaca, pela força que arrasta para dentro.

c) olhos de bacante fria, pela irrecusável sensualidade e sedução que provocam.

d) olhos de primavera, pela cor que emanam e doçura que exalam.

e) olhos oceânicos, pelo fluido misterioso e enérgico que envolvem.

68. (PUC-RIO) A EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA
Já sabes que a minha alma, por mais lacerada que tenha sido, não ficou aí para um canto como uma flor lívida e solitária. Não lhe dei essa cor ou descor. Vivi o melhor que pude sem me faltarem amigas que me consolassem da primeira. Caprichos de pouca dura, é verdade. Elas é que me deixavam como pessoas que assistem a uma exposição retrospectiva, e, ou se fartam de vê-la, ou a luz da sala esmorece. Uma só dessas visitas tinha carro à porta e cocheiro de libré. As outras iam modestamente, calcante pede, e, se chovia, eu é que ia buscar um carro de praça, e as metia dentro, com grandes despedidas, e maiores recomendações.(…)

E BEM, E O RESTO?
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, ver. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.” Mas eu creio que não. E tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! (…) O trecho em questão pertence à antológica obra de Machado de Assis:

a) Memórias póstumas de Brás Cubas

b) Dom Casmurro

c) Memorial de Aires

d) Quincas Borba

e) Senhora

69. (PUC-RIO) A EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA
Já sabes que a minha alma, por mais lacerada que tenha sido, não ficou aí para um canto como uma flor lívida e solitária. Não lhe dei essa cor ou descor. Vivi o melhor que pude sem me faltarem amigas que me consolassem da primeira. Caprichos de pouca dura, é verdade. Elas é que me deixavam como pessoas que assistem a uma exposição retrospectiva, e, ou se fartam de vê-la, ou a luz da sala esmorece. Uma só dessas visitas tinha carro à porta e cocheiro de libré. As outras iam modestamente, calcante pede, e, se chovia, eu é que ia buscar um carro de praça, e as metia dentro, com grandes despedidas, e maiores recomendações.(…)

E BEM, E O RESTO?
Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, ver. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.” Mas eu creio que não. E tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! (…) No trecho, _________, o narrador-personagem, expressa sua _________ diante da impossibilidade de desvendar os mistérios que pautam as ações humanas, elemento característico do ___________, que busca entender objetivamente os sentimentos. a) Isaías – indignação – Romantismo b) Bentinho – discordância – Romantismo c) Escobar – insatisfação – Simbolismo

d) Bentinho – inconformidade – Realismo


e) Ezequiel – conformidade – Realismo

70. Leia as alternativas abaixo, que se referem ao romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. I. Prima Justina é uma personagem caracterizada como secarrona, malévola sem ser maléfica, enquanto tio Cosme, um agregado à casa de Bentinho, se apresenta servil, formal e fanático pelos superlativos. II. A obsessão pelo passado é uma característica do romance: Bentinho repete o apego da mãe pelas coisas velhas e o filho de Capitu, apesar de parecido com Escobar, tem por paixão a arqueologia. III. A morte de Escobar, vítima de uma queda, perturba intensamente Capitu, o que desperta em Bentinho suspeitas de traição, que, aliás, se reforçam quando seu filho Ezequiel vai adquirindo os traços fisionômicos do amigo de seminário. IV. Dom Casmurro não é outro senão o Bentinho de Mata-Cavalos, que uma promessa da mãe destinara ao seminário, mas que o amor pela vizinha Capitu, a morena dos olhos de ressaca, desviará da batina.

Estão corretas ou são admissíveis:

a) I, II e III

b) Somente II e IV

c) I, II e IV

d) II, III e IV

e) I, III e IV

71. (UNEAL ) Capítulo CXXIII / Olhos de Ressaca.
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã. Machado de Assis, Dom Casmurro

Sobre o texto e sobre a obra machadiana de onde ele foi retirado, analise as seguintes afirmações. 1) O capítulo CXXIII é de capital importância para o romance em questão, pois relata o momento em que, para Bento Santiago, Capitu deixou claros indícios de que o traía com Escobar. 2) “Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma”. Esse trecho indica que Capitu, ao contrário dos outros que estavam no velório, não sentia tristeza. 3) “Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala”. Ao se referir ao gesto furtivo de Capitu para enxugar as lágrimas, o narrador chama a atenção para a timidez e o recato da esposa, característica indicada em outros momentos do romance. Está(ão) correta(s):

a) 2 e 3 apenas

b) 3 apenas

c) 1 apenas

d) 1 e 2 apenas

e) 1, 2 e 3

72. Leia o fragmento abaixo, extraído de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. “Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver, tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas… As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.” Sobre esse fragmento, são feitas as seguintes afirmações. I – Capitu revela-se uma mulher forte e dissimulada, capaz de sair-se bem em situações difíceis, o que a torna uma personagem ainda mais ambígua. II – O jogo de contrastes e o uso de figuras de linguagem mostram que a história não se esclarece para Bento Santiago, embora provoque no leitor a certeza do adultério. III – O romance, como o fragmento, se constrói como um grande jogo de fatos, aparências, e de fantasias criadas em torno dessas aparências. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas I e II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

73. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre o livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.

I -O romance de Machado de Assis, narrado em terceira pessoa, expõe o triângulo amoroso entre Bentinho, Capitu e Escobar. O narrador, que ingressa na consciência de todas as personagens, revela ao leitor a traição de Capitu e a paternidade de seu filho Ezequiel.

II -O livro está estruturado em forma de diário, por isso guarda as lembranças mais íntimas de Dom Casmurro. A personagem registra que não quer ter suas memórias reveladas, pois isso macularia sua imagem ante a sociedade fluminense.

III -O agregado da família Santiago, José Dias, desempenha funções elevadas de conselheiro e rebaixadas de mandalete. Sua acomodação nessa família dá mostras dos arranjos sociais entre homens livres e classe dominante. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas III.

c) I, II e III.

d) Apenas II.

e) Apenas II e III.

74. O personagem-narrador do romance “Dom Casmurro” encontra-se, no capítulo transcrito, angustiado pela dúvida: o possível adultério de sua esposa, Capitu, com seu melhor amigo, cujo velório ora se narra. O título “Olhos de Ressaca” pode ser justificado pela seguinte passagem: a) “Capitu olhou alguns instantes para o cadáver” b) “olhando a furto para a gente que estava na sala.” c) “Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la;”

d) “como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

75. Para responder a questão a seguir, tome como referência a seguinte informação sobre a obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Segundo Roberto Schwarz, “o livro [Dom Casmurro] tem algo da armadilha, com aguda lição crítica – se a armadilha for percebida como tal. Desde o início há incongruências, passos obscuros, ênfases desconcertantes, que vão formando um enigma”. Assinale a alternativa que NÃO contém elemento constitutivo do enigma, considerando-se o elemento narrador. a) narrativa em 1 pessoa.

b) autodescrição romântica pelo narrador.

c) narrador com perfil casmurro.

d) voz narrativa em tom irônico.


76.(PUC-MG) Todas as alternativas são verdadeiras quanto à construção do enredo de “Dom Casmurro”, EXCETO: a) ausência de linearidade. b) composição através de alternâncias e digressões.

c) condução da narrativa por diálogos.


d) tentativa de dispersão do raciocínio do leitor.


77. (PUC – SP) No romance “Dom Casmurro”, o narrador declara: “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”. Entre as duas pontas, desenvolve-se o enredo da obra. Assim, indique a seguir a alternativa cujo conteúdo não condiz com o enredo machadiano. a) A história envolve três personagens, Bentinho, Capitu e Escobar, e três projetos, todos cortados quando pareciam atingir a realização. b) O enredo revela um romance da dúvida, da solidão e da incomunicabilidade, na busca do conhecimento da verdade interior de cada personagem. c) A narrativa estrutura-se ao redor do sentimento de ciúme, numa linha de ascensão de construção de felicidade e de dispersão, com a felicidade destruída. d) A narrativa se marca por digressões que chamam a atenção para a inevitabilidade do que vai narrar, como o que ocorre na analogia da vida com a ópera e em que o narrador afirma “cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois um quattuor…”

e) O enredo envolve um triângulo amoroso após o casamento e todas as ações levam a crer na existência clara de um adultério.

78. Considere as afirmativas a seguir sobre o romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. 1. A obediência de Bentinho às convicções religiosas maternas é um exemplo da importância dada pelo autor, na construção do enredo, à presença do catolicismo na sociedade brasileira, importância que se reflete também na construção de outras personagens da obra. 2. O fato de o narrador-personagem deter-se mais demoradamente no relato do período da infância, adolescência e namoro de Capitu e Bento, do que no relato do período adulto, quando casados, está relacionado, sobretudo, ao sentimento de plenitude e de felicidade que representaram aquelas fases para o protagonista. 3. O narrador protagonista, homem de cultura refinada, apresenta em longos trechos metalinguísticos a típica ironia machadiana em relação à tradição literária e aos autores estabelecidos. 4. No processo de enxergar no filho Ezequiel a imagem e semelhança do seu amigo morto Escobar, Bento Santiago procura convencer tanto a si mesmo como ao leitor da traição de Capitu. 5. O personagem José Dias reflete o caráter precário da autonomia social de certos indivíduos que não eram escravos nem proprietários na sociedade brasileira da época. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2, 3 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras.


79. A respeito de Capitu, personagem do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, é correto afirmar que a) é a figura central da trama narrativa porque se envolve em uma situação de adultério que leva à destruição de seu casamento com Bentinho. b) tem um papel secundário e insignificante na ordem do enredo, já que todas as ações da narrativa convergem para um desfecho do qual ela não participa.

c) é caracterizada pelo agregado José Dias como cigana oblíqua e dissimulada e sobre ela incide ainda a metáfora de “olhos de ressaca”, que lhe é atribuída por Bentinho.

d) deixa transparecer uma relação clandestina com Escobar, explicitada nas lágrimas dela no momento da encomendação e partida do corpo do nadador da manhã.

e) recaem sobre ela incriminações de ordem moral que a fazem merecedora das desconfianças dos amigos e do fim trágico a que chegou.

80. (UFRGS) Leia o segmento abaixo. No Brasil novecentista, uma sociedade escravocrata e patriarcal, o espaço de atuação das mulheres era restrito. Elas aparecem representadas em Dom Casmurro, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo. …….. escolhe ficar com o homem que desperta seu desejo, sem a necessidade de casar. Paira sobre …….. a desconfiança sobre sua motivação para casar com o vizinho. Por sua vez, …….. casa e descarta o marido, em busca de uma vida livre do domínio masculino. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do segmento acima, na ordem em que aparecem.

a) Rita Baiana – Capitu – Pombinha

b) Capitu – Rita Baiana – Pombinha

c) Pombinha – Capitu – Rita Baiana

d) Pombinha – Rita Baiana – Capitu

e) Rita Baiana – Pombinha – Capitu

81. Leia os fragmentos a seguir, selecionados de “Dom Casmurro”, e assinale a associação CORRETA: a) “José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias.” – Machado de Assis elogia a retórica vazia comum a certas estratégias culturais de seu tempo. b) “Tudo era matéria às curiosidades de Capitu” – traços da personalidade da Capitu menina, segundo o narrador, não permanecem na Capitu adulta. c) “Tudo isso vi e ouvi. Não, a imaginação de Ariosto não é mais fértil que a das crianças e dos namorados” – Dom Casmurro confessa ser imaginativo, mas isso não compromete a veracidade de sua narrativa. d) “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar, na velhice, a adolescência.” – o narrador anuncia seu objetivo: recuperar a vida vivida, o que é feito com sucesso.

e) “Não é claro isto, mas nem tudo é claro na vida e nos livros.” – o narrador machadiano costuma deixar no texto pistas para o leitor atento.

82. As afirmações a seguir referem-se à obra “Dom Casmurro”: I) Bento Santiago ora manifesta certa condescendência diante do espetáculo do mundo, apreciando certos prazeres da vida, ora demonstra seu desencanto em reflexões melancólicas sobre a realidade. II) Explica-se a obra a partir da vida do autor: o desencanto diante da vida que ele deixa transparecer é o resultado de sua recusa em assumir a condição de mulato. Apesar disso, Machado apresenta com pouca profundidade e com bastante dubiedade a sociedade carioca e brasileira do século XIX, visto que expõe superficialmente sua estrutura de classes e seus mecanismos de poder. III) O rompimento representado por esta obra em relação à narrativa brasileira anterior ao seu aparecimento é bastante claro no plano da linguagem, da temática e da estrutura narrativa. Est(á) (ão) correta(s):

a) Apenas I

b) Apenas II

c) Apenas I e III

d) Apenas II e III

e) Todas

83. Sobre DOM CASMURRO, é INCORRETO afirmar que:
a) o narrador em terceira pessoa, portanto onisciente, determina e esclarece os fatos mostrados no romance. b) Bentinho afirma ter sido traído pelas pessoas que mais amava: Capitu e Escobar. c) Ezequiel, na visão de Bentinho, tem aspectos físicos que o identificam com Escobar. d) O pai de Sancha teria notado uma possível semelhança entre Capitu e sua mulher.

e) Dona Glória havia prometido seu filho ao sacerdócio católico por uma questão íntima e religiosa.


84.O velho e melancólico narrador de “Dom Casmurro” faz ver, em meio à sua história de ciúmes e frustração que, em seu namoro com Capitu,
a) o desejo de ascensão social, desconsiderado pelo adolescente, fazia parte dos sentimentos de sua amada. b) não pesava o fato de D. Glória, além de ser uma mulher determinada e religiosa, ser também uma respeitada proprietária. c) não se manifestava ainda, por parte da adolescente, nenhum indício de desejo de escalada social. d) o romantismo da adolescência impedia que ambos soubessem lidar com os desafios reais que ameaçavam seus planos.

e) as diferentes condições sociais dos dois jovens ficavam à parte, naquela relação de adolescência.

85. Considere as seguintes referências a personagens do romance DOM CASMURRO, de Machado de Assis. I. “Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo.” II. “Aos quatorze anos, tinha já ideias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto não de salto, mas aos saltinhos.” III. “Faria, se pudesse, uma troca de promessas, dando parte de seus anos para conservar-me consigo, fora do clero, casado e pai.” Indique a alternativa em que as referências acima estão corretamente associadas às personagens. a) I – D. Glória; II – Sancha; III – José Dias; b) I – Capitu; II – Bentinho; III – D. Glória;

c) I – José Dias; II – Capitu; III – D. Glória;

d) I – Capitu; II – Sancha; III – José Dias;

e) I – José Dias; II – Bentinho; III – Capitu;


86. O narrador Bento Santiago constrói em DOM CASMURRO uma peça de acusação contra Capitu. A partir dessa afirmativa, podemos concluir:
a) A vida comportava, no entender de Bentinho, uma divisão clara entre os bons e os maus. E Capitu era má. Mas a narração deixa perceber que todas as personagens expressam os preconceitos sociais e culturais do narrador. b) É tão enfática a acusação contra Capitu que os leitores são imediatamente convencidos da culpa da esposa, embora desaprovem a crueldade da vingança contra o filho, vítima inocente. c) O narrador entende que a culpa de sua mulher nasceu da oportunidade que ela teve de traí-lo, de vez que Estácio Escobar frequentava sua casa como amigo. Ao final, Bentinho se lamenta por ter sido ingênuo ao permitir que o amigo entrasse em sua casa sem sua companhia. d) Ele nos apresenta Capitu como uma personagem mentirosa desde seu nascimento. Essa hipocrisia nata a teria levado à traição.

e) Perturbado por seu imenso amor e humilhado pela traição, Bentinho quer contar a todos como as pessoas que lhe eram mais queridas – a esposa e o amigo – são capazes de traições e mentiras.

87. Considere, as seguintes afirmações acerca do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis: I. A intenção declarada do narrador, ao escrever sua história, é atrair as duas pontas de sua vida. I. A ambiguidade central desta narrativa está no fato de Bentinho hesitar todo o tempo entre crer ou não crer que Capitu o tenha traído. II. O lugar de José Dias na ordem familiar é o de agregado, ou seja: bem considerado pela família, mas a ela vinculado pela dependência do favor. Está correto o que afirma em

a) III, apenas.

b) I e II, apenas.

c) I e III, apenas.

d) II e III, apenas

e) I, II e III.

88. “Dom Casmurro, obra de Machado de Assis publicada em 1899, tem como personagens principais Capitu e Bentinho e , como tema, uma polêmica questão de adultério, sobre a qual Carlos Heitor Cony se manifesta no texto acima. Após a leitura, conclui-se que a) a crônica de Carlos Heitor Cony confirma: não há dados autobiográficos na obra de Machado de Assis.

b) o cronista levanta a hipótese de que Machado de Assis viveu o papel de vértice de um triângulo amoroso, na vida real.

c) os argumentos apresentados por Cony para fundamentar sua hipótese foram extraídos de diários e crônicas publicados por ocasião do centenário de “Dom Casmurro”. d) M. de A. foi indicado para a recém-criada Academia de Letras por ser tratar de um jovem e promissor escritor.

e) na Academia, M. de A., autor de “Helena”, demonstrou ser tão discreto e competente quanto Machado de Assis.

89. Considerando a obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, é correto afirmar que a) o narrador em terceira pessoa permite a exploração psicológica de um adultério tanto por parte da adúltera, Capitu, quanto da vítima, Bentinho.

b) é uma narrativa ambígua porque mostra um retrato moral da esposa Capitu feito pelo próprio marido Bentinho, de forma a não permitir que se saiba se o adultério de fato ocorreu.

c) Bentinho é semelhante a Otelo, de Shakespeare, que não tem coragem de se matar e nem tem ódio e ciúme suficientes para assassinar a esposa.

d) a casa de Matacavalos refere-se à infância de Bentinho, enquanto a casa da Glória refere-se, à época de convivência com Capitu, que lhe trouxe felicidades.

90. D. Sancha, peço-lhe que não leia este livro; ou, se o houver lido até aqui, abandone o resto. Basta fechá-lo; melhor será queimá-lo, para lhe não dar tentação e abri-lo outra vez. Se, apesar do aviso, quiser ir até o fim, a culpa é sua; não respondo pelo mal que receber. O que já lhe tiver feito, contando os gestos daquele sábado, esse acabou, uma vez que os acontecimentos, e eu com eles, desmentimos a minha ilusão; mas o que agora a alcançar, esse é indelével. Vá envelhecendo, sem marido nem filha, que eu faço a mesma coisa, e é ainda o melhor que se pode fazer depois da mocidade. As afirmações que seguem referem-se ao excerto acima, do romance DOM CASMURRO, de Machado de Assis. I. Esse trecho praticamente constitui um capítulo inteiro do livro; é que o autor por vezes se preocupa mais com reflexões do escritor no presente do que com o ritmo de romance convencional. II. A invocação de Sancha é, aqui, uma variante das falas do autor a seu público, dirigindo-se agora a uma personagem de sua vida, suposta na mesma condição de viuvez e melancolia em que se acha o escritor. III. Bentinho envia carta a Sancha, apresentando-lhe seu livro, baseado num triângulo amoroso constituído por ele mesmo, por Sancha e por Capitu. Pode-se afirmar que

a) apenas I está correta.

b) apenas I e II estão corretas.

c) apenas I e III estão corretas.

d) apenas II e III estão corretas.

e) I, II e III estão corretas.


91. Em DOM CASMURRO, o narrador machadiano a) registra, de forma comovente, as memórias de sua adolescência, na qual veio a conhecer e a perder o grande amor de sua vida. b) rememora, de forma lírica, uma paixão antiga, que lhe valeu a ruptura definitiva com sua família conservadora.

c) rememora, com ressentimento, as origens, o desenvolvimento e o fim de uma paixão, destruída pelo ciúme.

d) recupera, em tom trágico, a história de seu grande amigo, traído pela mulher fútil e aventurosa.

e) registra, com ironia, a impiedade de seus injustificáveis ciúmes pela mulher cuja inocência tardiamente reconhece.


92. Os dois primeiros capítulos de DOM CASMURRO – “Do título” e “Do livro” – não tratam da história propriamente dita, mas da linguagem. Logo são metalinguísticos. Enquanto o primeiro esclarece o porquê do título do romance, o segundo apresenta o motivo das memórias do personagem-narrador. Considerando a importância destes capítulos, e sem perder de vista o romance, é correto declarar que o personagem-narrador: a) propõe-se a restaurar na velhice a adolescência, discutindo o que é indiscutível: o adultério de Capitu. b) indicia, no primeiro capítulo, que o romance será autobiográfico e que, nesse ato, tornará Capitu plana.

c) ilude-se (ou quer iludir-se) e ilude o leitor sagaz de que se autobiografou para quebrar a monotonia da sua vida.

d) tem como finalidade atar as duas pontas da vida e, nesse fazer, reconcilia-se consigo mesmo e harmoniza-se com as lembranças de Capitu e Ezequiel.

e) centra em si esses dois capítulos iniciais, porém, o seu caráter é recuperado nos demais capítulos quando revê Capitu em suas lembranças.

93. Com essa história enjoada de traiu ou não traiu, de Capitu ser anjo ou demônio, o leitor de Dom Casmurro acaba se esquecendo do fundamental: as memórias são do velho narrador, não da mulher, e o autor é Machado de Assis, e não um escritor romântico dividido entre mistérios. Aceitas as observações anteriores, o leitor de Dom Casmurro deverá a) identificar o ponto de vista de Capitu, considerando ainda o universo próprio da ficção naturalista.

b) reconhecer os limites do tipo de narrador adotado, subordinando-o ao peculiar universo de valores do autor.

c) aceitar os juízos do velho narrador, por meio de quem se representa a índole confessional de Machado de Assis. d) rejeitar as acusações do jovem Bentinho, preferindo-lhes a relativização promovida pelo velho narrador.

e) relativizar o ponto de vista da narração, cuja ambiguidade se deve à personalidade oblíqua de Capitu.

94. (PUC-RS) Para responder à questão, assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as afirmativas sobre a obra literária de Machado de Assis.

(__) Episódios de adultério e usurpação são construídos com clareza e objetividade.

(__) A visão de mundo de Machado de Assis constitui-se como uma reação ao determinismo histórico.

(__) O equilíbrio formal do autor rompe com a tradição de lugares-comuns e preciosismos linguísticos.

(__) O humor escrachado evidencia-se, principalmente, em Dom Casmurro.

(__) A quebra da estrutura linear traz a instância do leitor como inovação técnica.

A sequência correta, resultante do preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é.

a) V – V – F – F – V.

b) V – F – V – F – F.

c) V – F – V – V – V.

d) F – V – F – V – F.

e) F – F – V – F – V .

95. (UDESC) Analise os enunciados em relação à obra Dom Casmurro.

I – O romance Dom Casmurro é narrado em terceira pessoa; o narrador tem um distanciamento crítico em relação aos fatos narrados.

II – Algumas passagens da obra associam problemas individuais de Bentinho com elementos importantes do contexto histórico da época.

III – José Dias surge na família Albuquerque apresentando-se ao pai de Bentinho como médico homeopata e promove cura, sem remuneração. Convidado a permanecer com a família, aceita; entretanto, quando surgem outras doenças mais sérias, confessa-se charlatão.

IV – O protagonista da obra torna-se um homem muito rico, com a herança herdada de seu pai, que a acumulou durante o período que defendia as causas em seu escritório de advocacia. Depois da morte de Capitu, Bentinho vai para o Rio de Janeiro, para desfrutar sua fortuna na Corte.

V – Um aspecto da estrutura da obra é que há uma irregularidade em relação ao tamanho dos capítulos, o que contribui para a quebra da linearidade do enredo.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e V são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas IV e V são verdadeiras.

96. Capitu deu-me as costas, ¦voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse”. […] “Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? […] E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… ¨A terra lhes seja leve!” ASSIS, Machado de. “Dom Casmurro”. São Paulo: FTD, 1991, p. 65, 208 e 209. A respeito do TEXTO e da obra “Dom Casmurro”, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). (01) Em “Peguei-LHE dos cabelos…” (ref. 1), “…que LHE desciam” (ref. 2) e “Pedi-LHE que se sentasse” (ref. 3), a palavra destacada, embora sendo um pronome pessoal oblíquo, tem valor possessivo. (02) Os pronomes destacados em “Capitu deu-ME as costas” (ref. 4), “voltando-SE para o espelhinho” (ref. 5) e “… que SE sentasse” (ref. 3) são todos reflexivos, pois o mesmo indivíduo ao mesmo tempo que exerce a ação expressa pelo verbo, recebe os efeitos dessa ação. (04) Em “Em pé não dava jeito” (ref. 6), a elipse do sujeito nos remete a Capitu, que não conseguia pentear seus cabelos sem o auxílio do narrador. (08) “Dom Casmurro” é um romance com fortes tendências realistas, em que Machado exercita com maestria os longos textos descritivos e explicativos, prolongando a história e protelando o desfecho. (16) A narrativa gira em torno do triângulo Bentinho, Capitu e Escobar. Bentinho é o narrador que está vivo e relatando o triste desfecho da história de sua vida, cujos pilares foram Capitu e Escobar, que já estão mortos. (32) Bentinho tem certeza de que foi traído, e o romance oferece pistas para sua comprovação, como, por exemplo, a semelhança de Ezequiel com Escobar e uma carta reveladora deixada por Capitu. (64) Com a frase “A terra lhes seja leve!” (ref. 7), Bentinho revela acreditar que os dois possíveis amantes não merecem punição.

RESPOSTA: 08 + 16 = 24

97. (PUC-SP) No romance “Dom Casmurro”, Machado de Assis revela, no uso de uma metáfora teatral proferida pelo narrador Bento Santiago, o inevitável de um destino já traçado e as etapas da trajetória vivida pelo próprio narrador. Trata-se do seguinte trecho: a) “Ora, há só um modo de escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal. Tal faço eu, à medida que me vai lembrando e convindo à construção ou reconstrução de mim mesmo.”

b) “Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um ‘duo’ terníssimo, depois um ‘trio’, depois um ‘quattuor’.”

c) “O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum incidente.” d) “… a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve!”

e) “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência.”

98. (MACKENZIE) Capítulo XXXII –  Olhos de ressaca

      Tudo era matéria de curiosidade de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas as cousas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

– Está na sala penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.
No fragmento acima, de Dom Casmurro:

a)o narrador antecipa o que contaria depois sobre Capitu  e se põe a contar a visita que fora fazer à sua amiga, a terceira personagem do triângulo composto também por ele e Capitu.

b) tem-se a evidência de que o relato é feito por um narrador onisciente, que, pleno conhecedor dos fatos, conta-os respeitando a ordem em que efetivamente ocorreram.

c) tem-se a evidência de que o narrador, evitando qualquer referência à metalinguagem, procura envolver o leitor na ilusão de que está diante dos fatos vividos pelas personagens.

d) o narrador brinca com quem lê ao deixar transparecer que, em terceira pessoa, conta livremente, sem nenhuma preocupação em sintetizar para o leitor os caminhos do relato.

e) o narrador deixa transparecer a relatividade do seu conhecimento sobre os fatos que relata, dado fundamental para a compreensão total do romance.

99. ( FUVEST-SP) A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, faz-se em primeira pessoa, portanto do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria, pois, correto dizer que ela se apresenta:

a)fiel aos fatos e perfeitamente adequada à realidade.

b)viciada pela perspectiva unilateral assumida pelo narrador.

c) perturbada pela interferência de Capitu que acaba por guiar o narrador.

d) isenta de quaisquer formas de interferência, pois visa à verdade.

e) indecisa entre o relato dos fatos e a impossibilidade de ordená-los.

100. ( FUVEST-SP) Um tipo social que recebe destaque tanto nas Memórias de um Sargento de Milícias quanto em Dom Casmurro, merecendo, inclusive, em cada uma dessas obras, um capítulo cujo título o designa, é o:

a)traficante de escravos

b) malandro

c) capoeira

d) agregado

e) meirinho

101. (FATEC-SP) Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética pra dizer o que foram aqueles olhos de Capitu, Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade de estilo, o que eles foram e Me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova.

O fragmento permite afirmar corretamente que o narrador machadiano:

a)procura enriquecer a língua com vocábulos tão raros e construções tão artificiais, que acaba por dificultar o entendimento da frase ou distorcer o pensamento.

b) tenta alcançar a simplicidade da linguagem, abandonando qualquer preocupação com o rigor no emprego das palavras ou com a utilização de figuras de estilo.

c) põe a linguagem a serviço da expressão das emoções das personagens, carregando-a de imagens e comparações, tornando a palavra em si pouco significativa.

d) debruça-se sobre o próprio texto, à medida que o elabora, questionando se a linguagem e os estilos convencionais são capazes de traduzir a experiência.

e) busca a elegância e o requinte formal, valorizando o pormenor, perdendo-se na minúcia descritiva dos objetos e das personagens em busca da “ arte pela arte”.

102. (UNEMAT)  A propósito dos fragmentos transcritos da obra Dom Casmurro, assinale a alternativa em que não se identifica uma atitude típica e caracterizadora da personagem Capitu.

1. “Quando me perguntava se sonhara com ela na véspera, e eu dizia que não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e eram aventuras extraordinárias, que subíamos ao Corcovado pelo ar, que dançávamos na lua, ou então que os anjos vinham perguntar-nos pelos nomes, a fim de os dar a outros anjos que acabavam de nascer” (p. 13).

2. “Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas” (p. 15).

3. “As curiosidades […] eram de vária espécie, explicáveis e inexplicáveis, assim úteis como inúteis, umas graves, outras frívolas; gostava de saber tudo. No colégio onde, desde os sete anos, aprendera a ler, escrever e contar, Francês, Doutrina e obras de agulha, não aprendera, por exemplo, a fazer renda; por isso mesmo, quis que a prima Justina lho ensinasse” (p. 34).

4. “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim” (p. 36).

5. “Os olhos […] claros como já disse, eram dulcíssimos; assim os definiu José Dias, depois que ele saiu, e mantenho esta palavra, apesar dos quarenta anos que traz em cima de si” (p. 79).

103. (FAAP) Leia as descrições dos olhos de Capitu feitas por Bento Santiago, protagonista do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. …olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.

Pelas descrições apresentadas, está incorreto afirmar que:

a) Capitu tinha olhos que queriam tragá-lo para dentro daquele mar, que era o olhar sedutor dela.

b) o olhar dissimulado de Capitu revela indícios de uma mulher forte e independente, dona de si, tão aos moldes da figura feminina do século dezenove.

c) importa em Capitu o olhar e não os olhos propriamente ditos.

d) o olhar compara-se ao movimento das ondas em ressaca, que tudo arrastava para dentro de si.

e) a irreverência de Capitu é julgada pelo narrador o tempo todo por ter muita dúvida sobre ela, como bem disse: “ um fluido misterioso e energético”.

104. (MACKENZIE) Leia as afirmações a seguir: I – DOM CASMURRO, MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS e QUINCAS BORBA são romances narrados em primeira pessoa. II – “Helena” e “Iaiá Garcia” encaixam-se na primeira fase dos romances machadianos, apresentando ainda alguns aspectos ligados ao Romantismo. III – Há exemplos do pessimismo e da ironia de Machado de Assis tanto em seus romances como em seus contos. Assinale: a) se todas estiverem corretas.

b) se apenas II e III estiverem corretas.

c) se apenas II estiver correta. d) se apenas III estiver correta.

e) se todas estiverem incorretas.

105. (UFRGS) Leia o capítulo abaixo, retirado de Dom Casmurro, de Machado de Assis.

CAPÍTULO VIII – É TEMPO Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia… Agora é que eu ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu… E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo. Considere as afirmações abaixo, sobre o capítulo.

I – O narrador refere-se ao momento em que descobriu sua vocação para a vida religiosa.

II – O narrador recorda saudosamente as tardes familiares e a fala de José Dias saudando seus amores com a vizinha, Capitu.

III- O narrador diz que sua vida começou, quando ouviu José Dias denunciar seus amores com Capitu. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e II.

e) I, II e III.

106. (PUC-SP)  Os dois capítulos iniciais do romance Dom Casmurro,

de Machado de Assis, merecem considerações  especiais, porque

a) aparecem apenas para homenagear o poeta que se envolve em incidente, com o narrador, durante a viagem de trem.

b) prestam-se para justificar o estranhamento do título e a finalidade de elaboração da obra.

c) são desnecessários, visto que a simples leitura do livro é autoexplicativa.

d) não cumprem nenhuma função, pois não há relação entre eles e o resto da obra.

e) servem para justificar o comportamento antissocial, agressivo e ciumento do narrador.

107. (UECE) Assim como a obra D. Casmurro, são também obras pertencentes ao Realismo. a) Grande Sertão: Veredas e Os Sertões b) Luzia-Homem e Iracema c) Aves de Arribação e Iaiá Garcia

d) O Mulato e Memórias Póstumas de Brás Cubas

108. (PUC-PR) Leia o trecho de Dom Casmurro para marcar o item

correto sobre essa obra, entre os listados abaixo.

Capítulo CXXXV- OTELO

“Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. (…)O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

– E era inocente(…) que faria o público se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu?” Fonte: Assis, Machado. Dom Casmurro. São Paulo: Catania Editora, s/d.

I. O trecho mostra por que é um romance tipicamente Realista, pois fala de traição.

II. O trecho nos mostra como o autor constrói a ambiguidade em torno da personagem, ao afirmar sua culpa, mas apresentar como referência uma personagem inocente.

III. A intertextualidade com a obra de Shakespeare é presença constante no texto machadiano. Neste romance, ela aparece como um recurso narrativo, dirigindo a leitura do texto.

IV. O trecho selecionado aponta para o leitor machadiano, crítico suficiente para entender a referência a Desdêmona como uma possibilidade para a personagem brasileira.

V. O importante não é se houve traição, mas como a dúvida se constrói.

a) Somente a alternativa I está correta.

b) A alternativa V está incorreta.

c) As alternativas I, II e IV estão corretas.

d) Somente a alternativa I está incorreta.

e) Todas alternativas estão todas corretas.

109. (UEMG) Sobre o conteúdo e a estrutura do romance Dom Casmurro, todos os comentários das alternativas abaixo são coerentes e adequados, EXCETO:

a) Pela leitura da trama que orienta o enredo, o leitor é levado à conclusão de que o narrador-protagonista foi, de fato, traído pela sua amada, Capitu.

b)A reconstrução da casa no Engenho Novo para recuperação do espaço perdido em Mata- Cavalos não permite ao narrador a recuperação do seu passado.

c)O título do romance constitui uma referência irônica ao narrador e aponta o seu estado de conflito em relação ao passado.

d)A força da narrativa não se concentra no enredo, mas nas reflexões, digressões e na maneira ambivalente com que o narrador tenta reconstituir os fatos

110. (UFVJM) Texto I

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto. Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.

Texto II

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. FONTE: ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fixação de texto e notas de Manoel M. S. Almeida; prefácio de John Gledson. São Paulo: Globo, 2008.

Com base nos textos III e IV de Dom Casmurro, da obra de Machado de Assis, é correto afirmar que:

a) o narrador é Bentinho, protagonista do romance, que se propõe a contar o passado vivido com Capitu.

b) a narradora é Capitu, antagonista do romance e esposa de Ezequiel, cuja traição é exposta no romance.

c) o narrador é Ezequiel, herói do romance e personagem secundário, cujo objetivo é juntar as pontas do passado com o presente por meio da narrativa.

d) o narrador é José Dias, agregado da família de Bentinho e personagem principal, que se dispõe, prontamente, a contar as peripécias de Bento Santiago.

111. (PUC-SP) Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto e estimei a coincidência. (…) O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

O trecho acima é do romance Dom Casmurro de Machado de Assis. A personagem, na trama de Otelo, Desdêmona, leva o narrador do romance a estabelecer comparações com Capitu. Assim, indique nas alternativas abaixo, a que contém afirmação que as aproxima e as identifica.

a) Tanto Desdêmona quanto Capitu eram inocentes mas acabaram tendo o mesmo destino trágico.

b) Capitu era inocente, enquanto Desdêmona era culpada por ter traído Otelo e mereceu a morte que teve.

c) Desdêmona era inocente e foi alvo de calúnia, enquanto Capitu era sabidamente culpada por delito reconhecido.

d) Bentinho e Otelo tinham motivos claros e suficientes para vingarem-se do ultraje sofrido.

e) Tanto Desdêmona quanto Capitu foram alvos de ciúmes e tiveram seus destinos traçados pelos maridos.

112. (UFRGS) Leia as seguintes afirmações sobre os romances Dom Casmurro, de Machado de Assis, e Diário da queda, de Michel Laub.

I – Os dois romances são narrados em primeira pessoa, como processo de compreensão do vivido.

II – Os dois narradores apresentam uma relação amorosa com esposa e filhos, reproduzindo a tradição familiar.

III – O balanço final dos narradores de cada romance demonstra grande aprendizado, a partir das experiências vividas, repleto de esperança e de otimismo. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

113. (UFRGS) Considerando os estudos sobre o romance Dom Casmurro, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) No final do século XIX e início do XX, a interpretação do romance tende à aderência ao ponto de vista do narrador. Assim, em geral, os leitores aceitam os fatos narrados por Bentinho sem muita desconfiança da sua narração comprometida.

( ) Em torno de 1960, talvez por influência de leituras feministas, críticos problematizam a visão unilateral de Bentinho e passam a ponderar que o ponto de vista de Capitu não vinha sendo considerado e que a sua traição deveria ser ao menos discutida.

( ) Perto de 1980, são comuns as leituras que desviam o foco do debate sentimental para o social, e a diferença de classe entre o filho do deputado (Bentinho) e a filha do vizinho pobre (Capitu) passa a figurar como um dos tópicos do romance.

( ) Atualmente, e por obra das muitas adaptações do romance para o cinema e para a televisão, que revelaram conteúdos da narrativa antes ocultos, é consenso que a traição de Capitu é o centro do enredo e que esta pode ser comprovada pelas pistas deixadas no texto por Machado de Assis. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) F – F – V – F.

b) V – F – F – V.

c) V – V – V – F.

d) V – F – V – V.

e) F – V – F – F.

114. (UFRGS) ) O cortiço (1890) e Dom casmurro (1899) foram publicados na mesma década, porém apresentam registros de linguagem diferentes, como se pode ver nos trechos abaixo. No bloco superior, estão listados nomes de personagens de O cortiço e de Dom casmurro; no inferior, os trechos dos romances em que essas personagens são descritas. Associe adequadamente o bloco inferior ao bloco superior.

1 -Firmo (O cortiço)

2 -Escobar (Dom casmurro)

3 -Jerônimo (O cortiço)

4 -José Dias (Dom casmurro)

( ) [ … ] viera da terra, com a mulher e uma filhinha ainda pequena, tentar a vida no Brasil, na qualidade de colono de um fazendeiro, em cuja fazenda mourejou durante dois anos, sem nunca levantar a cabeça, e de onde afinal se retirou de mãos vazias e uma grande birra pela lavoura brasileira. Para continuar a servir na roça tinha que sujeitar- -se a emparelhar com os negros escravos e viver com eles no mesmo meio degradante, encurralado como uma besta, sem aspirações, nem futuro, trabalhando eternamente para outro.

( ) [ … ] era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.

( ) Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo. Quem não estivesse acostumado com ele podia acaso sentir-se mal, não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar delas, porque os dedos, sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha nada.

( ) [ … ]apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; [ … ] curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. [ … ] recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 3 – 4.

b) 2 – 3 – 4 – 1.

c) 3 – 2 – 4 – 1.

d) 1 – 3 – 2 – 4.

e) 3 – 1 – 2 – 4.

115. (UFPE)  A construção das personagens em Eça de Queirós e em Machado de Assis apresenta particularidades que distinguem os dois escritores. Partindo da leitura crítica dos dois textos que se seguem, analise as proposições seguintes.

Tinha dado onze horas no cuco da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luís Figuier que estivera folheando devagar, estirado na velha Voltaire marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse:

_ Tu não te vais vestir, Luísa?

_ Logo.

Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão da manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações escarlates. […] (Eça de Queirós – O primo Basílio)

Capitu

 Que é que você tem?

 Eu? Nada.

 Nada, não; você tem alguma coisa.

Quis insistir que nada, mas não achei língua. Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.         (Machado de Assis – Dom Casmurro)

0-0) Os dois autores, do século XIX, revelam concepções díspares ao construir suas personagens, pois, enquanto Machado de Assis cria tipos femininos frágeis e sem vida, Eça de Queirós dá-lhes alma.

1-1) Os dois textos explicitam as diferenças sociais existentes entre as duas personagens. A primeira, Luísa, é descrita como uma autêntica burguesa, enquanto a segunda, Capitu, como uma adolescente pobre, cujo único objetivo é alcançar a ascensão social, ainda que para isso precise agir de modo a contrariar a moral vigente.

2-2) O discurso dos narradores revela emoções resultantes das experiências por eles próprios vivenciadas, o que torna ambas as narrativas comprometidas, de tal modo, que o adultério não se confirma, contribuindo para que as histórias não se concluam com a comprovação do triângulo amoroso, pois ambas terminam em aberto.

3-3) Capitu é uma personagem acerca da qual, “embora não possamos ter a imagem nítida da sua fisionomia, temos uma intuição profunda de seu modo de ser”. Por sua vez, Luísa, de acordo com Machado de Assis, “resvala no lodo, sem vontade, sem repulsa, sem consciência”.

4-4) O Primo Basílio e Dom Casmurro possuem personagens femininas, que, apesar de se integrarem plenamente à classe burguesa, nutrem um profundo respeito à instituição familiar e se caracterizam por serem simplesmente criadas para vivenciarem circunstâncias e acontecimentos, sem que tenham o menor poder de decisão sobre os mesmos.

RESPOSTA: FFFVF

(UFSCAR) Leia o texto para responder às questões de números 116 e 117.

Pádua era empregado em repartição dependente do Ministério da Guerra. Não ganhava muito, mas a mulher gastava pouco, e a vida era barata. Demais, a casa em que morava,

Assobradada como a nossa, posto que menor, era propriedade dele. Comprou-a com a sorte grande que lhe saiu num meio bilhete de loteria, dez contos de réis. A primeira ideia do Pádua, quando lhe saiu o prêmio, foi comprar um cavalo do Cabo, um adereço de brilhantes para a mulher, uma sepultura perpétua de família, mandar vir da Europa alguns pássaros, etc.; mas a mulher, esta D. Fortunata que ali está à porta dos fundos da casa, em pé, falando à filha, alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça, os mesmos olhos claros, a mulher é que lhe disse que o melhor era comprar a casa, e guardar o que sobrasse para acudir às moléstias grandes. Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu auxílio. (Machado de Assis. Dom Casmurro, 1997.)

116. O narrador descreve D. Fortunata como uma mulher

a) esbanjadora, de gostos refinados e preocupada com a aparência, ao que se percebe pelo interesse em adquirir um adereço de brilhantes.

b) submissa, dedicada à família, o que se percebe pela disposição em cuidar da casa e da filha, sem questionar as decisões do marido.

c) ambiciosa, disposta a melhorar de vida a qualquer custo, o que se percebe pelo casamento arranjado com Pádua, um funcionário de alta patente do Exército.

d) sonhadora, sempre pensando em melhorar de vida, o que se percebe pela sua obstinação em investir o pouco dinheiro da família em bilhetes de loteria.

e) prudente, com espírito prático, o que se percebe pela preocupação em usar o dinheiro do marido para comprar uma casa e economizar para as enfermidades.

117. A frase – Pádua hesitou muito; afinal, teve de ceder aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata pediu auxílio. – está corretamente reescrita, sem alteração de sentido e de acordo com a norma-padrão da língua em seu registro formal, em:

a) Pádua hesitou muito; se deixou levar, afinal, pelos conselhos de minha mãe, que D. Fortunata solicitou apoio.

b) Pádua hesitou muito; afinal, deu o braço a torcer para os conselhos de minha mãe, que D. Fortunata pediu amparo.

c) Pádua hesitou muito; convenceu-o, afinal, os conselhos de minha mãe, de quem D. Fortunata chamou para ajudar.

d) Pádua hesitou muito; afinal, precisou acatar os conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata recorreu.

e) Pádua hesitou muito; teve que dobrar-se, afinal, aos conselhos de minha mãe, a quem D. Fortunata encontrou suporte.

118. (UEMG) Leia o fragmento da obra de Dom Casmurro, abaixo.

“Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas.”

A partir do trecho acima, e tendo em vista o enredo da obra, SÓ É CORRETO afirmar que

a)a cena descrita é tipicamente romântica, de acordo com o estilo da obra, que tematiza a felicidade amorosa de Bentinho e Capitu.

b)o instante focalizado enfatiza a extrema sensibilidade de Bento Santiago, diante do cadáver do amigo Escobar.

c)o momento descrito é crucial para o relacionamento de Bentinho e Capitu, pois, uma vez instaurada a dúvida na mente do marido, o casamento se deteriorará, encaminhando-se para a separação.

d)o trecho comprova que Sancha é uma personagem trágica, pois, após a morte dos filhos, ela perde o marido num naufrágio.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (FUVEST) Epitáfio de Bartolomeu Dias

Jaz aqui, na pequena praia extrema, O Capitão do Fim, Dobrado o Assombro, O mar é o mesmo: já ninguém o tema!

Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

“Mensagem”, de Fernando Pessoa, é uma obra dividida em três partes: Brasão, Mar Português e O Encoberto. a) A que parte da obra pertence o poema transcrito?

b) Que dados do poema permitem enquadrá-lo nessa parte?
RESPOSTAS:

a) “Mar Português”.
b) Nesta parte, Pessoa trata da história de grandes navegações.

2. (UFSCAR) Uma frase famosa de Fernando Pessoa (“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”) encontra-se no trecho a seguir, retirado do poema “Mar Português”, pertencente ao livro Mensagem:

Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.      (Fernando Pessoa, Obra poética, p. 82.)

a) De que trata essa obra de Fernando Pessoa?

b) Explique o sentido de pequena, no segundo verso.

RESPOSTAS:

a) Mensagem poetiza momentos da história de Portugal, entre os quais as grandes navegações. Nela, Fernando Pessoa busca reafirmar o destino e a grandiosidade da terra e do povo português.

b) “pequena”: mesquinha, pouco ambiciosa, sem determinação.

3. (FUVEST) “Eis aqui se descobre a nobre Espanha, Como cabeça ali de Europa toda” II. “Eis aqui quase cume da cabeça De Europa toda, o reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o mar começa” III. “A Europa jaz, posta nos cotovelos: De Oriente a Ocidente jaz fitando, E toldam-lhe românticos cabelos

Olhos gregos lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado, O direito é em ângulo disposto Aquele diz Itália onde é pousado; Este diz Inglaterra, onde afastado,

A mão sustenta, em que se apóia o rosto.

Fita com olhar sphyngico e fatal. O Ocidente futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.”

Os textos I e II iniciam respectivamente as estâncias 17 e 20 do canto III d’ “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, e o texto III é um poema do livro Mensagem, de Fernando Pessoa. a) A que movimento literário pertence cada um dos autores? b) De que recurso comum aos dois textos se valem os autores para elaborar a descrição da Europa?

REPOSTAS:

a) Camões: Classicismo Pessoa: Modernismo

b) Prosopopeia ou personificação.

4. (UNESP) A vocação náutica dos portugueses e os grandes descobrimentos do passado tornaram o tema do mar bastante frequente na Literatura Portuguesa de todos os tempos. Fernando Pessoa, em MAR PORTUGUEZ, focaliza o custo que a aventura marítima representou em termos de vidas humanas e sofrimentos ao povo de seu país. Releia com atenção o poema pautado e, a seguir, a) identifique o recurso estilístico por meio do qual, ao operar escolhas nos planos gráfico e morfológico do discurso, o escritor sugere que a aventura náutica portuguesa refere-se ao passado longínquo; b) justifique sua resposta, apresentando dois exemplos dessa mudança empreendida na forma escrita.

RESPOSTA:

a) No plano gráfico: portuguez, lagrimas, resaram, abysmo, nelle. Morfologicamente percebemos o emprego de verbos no pretérito perfeito. b) “choraram”, “resaram”, “valeu”: verbos no pretérito perfeito.

“abysmo”, “nelle”: formas gráficas em desacordo com o sistema atual.

5. (PUC-SP) “Quem quer passar além do Bojador, Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

“Fernando Pessoa, “Mar Português” in Obra poética. Ria de Janeiro, Editora José Aguilar, 1960, p 19

O trecho de Fernando Pessoa fala da expansão marítima portuguesa. Para entendê-lo, devemos saber que:

a)”Bojador” é o ponto ao extremo sul da África e que atravessá-lo significava encontrar o caminho para o Oriente.

b)a “dor” representa as doenças, desconhecidas dos europeus, mas existentes nas terras a serem conquistadas pelas expedições.

c)o “abismo” refere-se à crença, então generalizada. de que a Terra era plana e que, num determinado ponto, acabaria, fazendo caírem os navios.

d)menção a “Deus” indica a suposição, à época, e que o Criador era contrário ao desbravamento dos mares e que puniria os navegadores.

e)o “mar” citado é o Oceano Índico, onde estão localizadas as Índias, objetivo principal dos navegadores.

6.(FUVEST) “Louco, sim porque quis grandeza Qual a sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está

Ficou meu ser que houve, não o que há.”

“Sperai! Caí no areal e na hora adversa Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma imersa

Em sonhos que são Deus”.

“Mestre de Paz, ergue teu gládio ungido; Excalibur do Fim em jeito tal Que sua luz ao mundo dividido

Revele o Santo Gral ”

Estas três citações de Fernando Pessoa pertencem à mesma obra e referem-se à mesma personagem histórica de Portugal cujo mito, como se vê, o poeta associa à figura lendária do rei Artur. Assinalar a alternativa em que, ao título da obra, segue-se o da personagem histórica que virou mito e alimentou o sonho do quinto império: a) “Cancioneiro” – D. Dinis;

b) “Mensagem” – D. Sebastião;

c) “O guardador de rebanhos” – Pe. Vieira; d) “Cancioneiro” – D. João I, o mestre de Avis;

e) “Mensagem” – D. Dinis.

7. (MACKENZIE) “Deus quere, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo, E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou creou-te portuguez. Do mar e nós em ti nos deu signal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!”

O texto anterior faz parte: a) do “Cancioneiro Geral”, de Garcia de Resende, onde se encontra boa parte da produção poética medieval portuguesa. b) de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, obra que enaltece o povo português e seus extraordinários feitos marítimos.

c) de “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que, com tom visionário e nacionalista, refere-se às grandes navegações e à recuperação do passado português.

d) de um auto vicentino, o qual critica a sociedade portuguesa de sua época, em tom pessimista e desiludido.

e) de um poema de Bocage, pois evidencia os aspectos pré-românticos, que são a principal característica de sua obra poética.

8. (UNESP)Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa INCORRETA: “Mas um velho, de aspecto venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, Com saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do esperto peito: “Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça Com a aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles exprimentas!” (Camões)

“Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão resaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!” (Fernando Pessoa) a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, podemos dizer que as mesmas pertencem a dois grandes poemas épicos da Literatura Portuguesa: OS LUSÍADAS e MENSAGEM. b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao mencionarem aspectos negativos das expedições portuguesas. c) No poema de Camões todas as estrofes apresentam oito versos em decassílabos heroicos; no poema de Pessoa não há a mesma regularidade. d) Uma das estrofes d’OS LUSÍADAS revela a fala do Velho do Restelo criticando os sentimentos de glória e cobiça na empresa portuguesa.

e) Os dois poemas não podem ser relacionados porque, além de um ser épico e o outro lírico, um pertence ao Renascimento e o outro ao Modernismo.


9. (UFPE) Mensagem, de Fernando Pessoa, foi o único livro em língua portuguesa publicado quando o autor era vivo. Os dois poemas abaixo fazem parte dessa obra. Analise as proposições seguintes.

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.            (Fernando Pessoa, Mensagem).

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer –

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a Hora!            (Fernando Pessoa, Mensagem).

0-0) Tanto um poema quanto outro expressam uma visão ufanista de Portugal. Ambos retratam, com euforia, o período áureo da história de Portugal, quando o mundo ainda era desconhecido dos entusiastas marinheiros da frota portuguesa.

1-1) Mar Português é um poema em diálogo com o épico camoniano, embora, na segunda estrofe, chegue a um grau de universalidade que nos faz refletir sobre o percurso do homem ao longo da vida.

2-2) No Mar Português, os dois primeiros versos encerram uma metáfora significativa que guia a leitura de toda a estrofe. O sabor do sal é tão desagradável quanto o sofrimento que o mar provoca, representado pelas lágrimas do povo português, também salgadas.

3-3) Nevoeiro canta o estado inglório em que se encontra Portugal no presente da enunciação; mas seu último verso acena para um momento de mudança, na esperança de se reconstruir a glória de Portugal outrora perdida.

4-4) Se as grandes navegações proporcionaram à nação portuguesa um surto de crescimento

econômico, é verdade afirmar que o contexto atual de Portugal ainda colhe os frutos desse período de abundâncias, como preveem explicitamente os dois poemas.

RESPOSTA: FVVVF

10. (UFMA)

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa in, Fernando Pessoa:

No poema acima citado, Fernando Pessoa refere-se à expansão do Império Português, no início da Era Moderna. Se os resultados finais mais conhecidos dessas “Navegações Ultramarinas” foram a abertura de novas rotas comerciais em direção à Índia; a conquista de novas terras e a difusão da cultura europeia, outros elementos também compõem o panorama daquele contexto, como:

a) os relatos de viajantes medievais; a reconquista árabe em Portugal; o anseio de crescimento mercantil.

b) a ânsia de expandir o cristianismo; a demanda de especiarias; a aliança com as cidades italianas.

c) a busca do enriquecimento rápido; o mito do abismo do mar; a desmonetarização da economia.

d) o desenvolvimento da matemática; a busca do ouro para as cruzadas; a descentralização monárquica.

e) o avanço das técnicas de navegação; a busca do mítico paraíso terrestre; a percepção do universo, segundo uma ordem racional.

11. (UEL) A questão refere-se a uma estrofe, transcrita abaixo, do poema de Fernando Pessoa.

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.


Fonte: PESSOA, F. Mensagem. In: Mensagem e outros poemas afins seguidos de Fernando Pessoa e ideia de Portugal. Mem Martins: Europa-América [19-].

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, a frase Tudo vale a pena quando a alma não é pequena remete a:

a) Se o objetivo é a grandeza da pátria, não importam os sacrifícios impostos a todos. b) Quando o resultado leva à paz, os meios justificam a finalidade almejada. c) Todas as pessoas têm valores próprios, por isso a guerra é defendida pelos governantes. d) O sacrifício é compensador mesmo que fiquemos insensíveis diante do bem comum.

e) Tudo vale a pena quando temos o que almejamos e isso não implique enfrentamento de perigos.

12. (MACKENZIE) O poeta ligado ao sentimento nacionalista que tomou conta de Portugal em meio às crises do primeiro período republicano, responsável por MENSAGEM, obra que retomou a formação de sua pátria, a identificação com o mar, o sonho de um império grande e forte foi: a) Alberto Caeiro. b) Ricardo Reis. c) Mário de Sá-Carneiro.

d) Fernando Pessoa ele-mesmo.


e) Álvaro de Campos.

13. Leia:

Ó mar salgado, quanto de teu sal

São lágrimas de Portugal!

(…)

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

 Modernismo Hoje: Com relação ao poema, marque a correta.

a) Pertence ao Cancioneiro geral de Garcia de Resende, onde se encontra a produção poética do Humanismo português.

b) É uma oitava-rima de Os lusíadas, de Luís de Camões, obra que glorifica o povo português e seus extraordinários feitos marítimos.

c) Faz parte do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que, com tom sebastianista, refere-se às grandes navegações e à recuperação do passado mítico português.

d) É um trecho de Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, narrativa romântica que registra fatos históricos da guerra civil portuguesa.

e) De um quarteto de um soneto de Barbosa du Bocage, pois evidencia os aspectos pré-românticos, como o individualismo e o exagero.

14. (UNIFOR- CE) Considere o trecho do famoso poema que segue.

“Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.”      (Fernando Pessoa)

A construção das caravelas pelos portugueses no século XV impulsionou consideravelmente as grandes viagens marítimas para além do Cabo Bojador, localizado na costa da África e considerado durante muitos anos o limite para as navegações. Essas embarcações estiveram presentes em quase todas as grandes expedições empreendidas nessa época, como a realizada por Cristóvão Colombo que, em 1492, conduziu duas caravelas e uma nau rumo às Índias, chegando a um continente até então desconhecido pelos europeus. Aliada à construção das caravelas, as inovações que contribuíram especialmente para o êxito marítimo dos europeus nos séculos XV e XVI foram a:

a)bússola, o astrolábio e a cartografia.

b)máquina a vapor, o quadrante e o telégrafo.

c)vela triangular, as cartas de navegação e o termômetro de mercúrio.

d)luneta, o cilindro a ar e a hélice metálica.

e)navegação de cabotagem, o binóculo e o leme.

15. (PUC- MG) A História e Literatura têm trazido contribuições importantes para compreensão do desenvolvimento das civilizações.

Leia o poema Mar Português, de Fernando Pessoa, e assinale a afirmativa CORRETA de acordo com o texto.

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lagrimas de Portugal!

Por te cruzarmos quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

a) Refere-se à expansão marítima portuguesa durante os séculos XV e XVI, ampliando a esfera política e geográfica do mundo conhecido.

b) Explica o mito fundador da colonização do novo mundo a partir da imposição da Coroa Portuguesa e de seus aliados espanhóis.

c) Trata-se de uma interpretação idealista da expansão marítima portuguesa, criada a partir das ideias mercantilistas inglesas e francesas do século XIX.

d)Critica o modelo histórico que explica o processo de colonização portuguesa em função da mudança do eixo Atlântico para o Mediterrâneo.

16. (UNICAMP) Referindo-se à expansão marítima dos séculos XV e XVI, o poeta português Fernando Pessoa escreveu, em 1922, no poema “Padrão”:

“E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.”

(Fernando Pessoa, Mensagem – poemas esotéricos. Madri: ALLCA XX, 1997, p. 49.)

Nestes versos identificamos uma comparação entre dois processos históricos. É válido afirmar que o poema compara

a)o sistema de colonização da Idade Moderna aos sistemas de colonização da Antiguidade Clássica: a navegação oceânica tornou possível aos portugueses o tráfico de escravos para suas colônias, enquanto gregos e romanos utilizavam servos presos à terra.

b)o alcance da expansão marítima portuguesa da Idade Moderna aos processos de colonização da Antiguidade Clássica: enquanto o domínio grego e romano se limitava ao mar Mediterrâneo, o domínio português expandiu-se pelos oceanos Atlântico e Índico.

c)a localização geográfica das possessões coloniais dos impérios antigos e modernos: as cidades-estado gregas e depois o Império Romano se limitaram a expandir seus domínios pela Europa, ao passo que Portugal fundou colônias na costa do norte da África.

d)a duração dos impérios antigos e modernos: enquanto o domínio de gregos e romanos sobre os mares teve um fim com as guerras do Peloponeso e Púnicas, respectivamente, Portugal figurou como a maior potência marítima até a independência de suas colônias.

17. (UEA- AM)

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

(Fernando Pessoa. Mar português. Mensagem, 1970.)

Mensagem foi o único livro que o poeta português Fernando Pessoa publicou em vida. Ele pensou, a princípio, dar-lhe o título de Portugal, considerando que os poemas tratavam da história do esplendor e da decadência do antigo reino. A estrofe transcrita exprime com lirismo e tristeza

a) o orgulho do poeta em ser descendente de ilustres navegadores e a consciência portuguesa de ter criado o mundo moderno.

b) os motivos da decadência abrupta de Portugal, devido aos gastos com a fabricação de caravelas e à perda de homens nos naufrágios.

c) a resignação cristã que caracterizou a expansão marítima portuguesa, carente de qualquer interesse comercial ou político.

d) as dificuldades inerentes às navegações marítimas da Idade Moderna e as suas consequências para a população portuguesa.

e) a perda do domínio dos mares pelo governo português e a redução do número de habitantes do reino com as conquistas no além-mar.

18. (UNESP)

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

(Fernando Pessoa. Mar Português. Obra poética, 1960. Adaptado.)

Entre outros aspectos da expansão marítima portuguesa a partir do século XV, o poema menciona

a) o sucesso da empreitada, que transformou Portugal na principal potência europeia por quatro séculos.

b) o reconhecimento do papel determinante da Coroa no estímulo às navegações e no apoio financeiro aos familiares dos navegadores.

c) a crença religiosa como principal motor das navegações, o que justifica o reconhecimento da grandeza da alma dos portugueses.

d) a percepção das perdas e dos ganhos individuais e coletivos provocados pelas navegações e pelos riscos que elas comportavam.

e) a dificuldade dos navegadores de reconhecer as diferenças entre os oceanos, que os levou a confundir a América com as Índias.

19. (FUVEST) A leitura de “Mensagem”, de Fernando Pessoa, permite a identificação de certas linhas de força que guiam e, até certo ponto, singularizam o espírito do homem português, dando-lhe marca muito especial. Dentre as alternativas a seguir, em qual se enquadraria melhor essa ideia? a) Preocupação com os destinos de Portugal do século vinte. b) Preocupação com a história político-social de Portugal.

c) Recorrência de certas constantes culturais portuguesas, como o messianismo.

d) Reordenação da história portuguesa desde Dom Sebastião.

e) A marca da religião católica na alma portuguesa como força determinante.

20. (UFRGS)Assinale a alternativa correta sobre Mensagem, de Fernando Pessoa.

a) Mensagem traz as marcas da vanguarda sensacionista, na medida em que busca articular a história de Portugal ao mito, em um mesmo poema.

b) A imagem do mar expressa simbolicamente a busca do infinito, que poderia apaziguar as almas atormentadas de Fernando Pessoa e de seus heterônimos.

c) Fernando Pessoa, nessa obra publicada em vida, deu voz a seus heterônimos para expor uma visão poética e múltipla sobre a história portuguesa.

d) Dom Sebastião é uma figura central para compreender Mensagem e a expectativa de uma possível redenção de Portugal.

e) Os heróis da navegação portuguesa, símbolos do processo civilizacional, cristão, levado aos povos colonizados, são euforicamente celebrados em Mensagem.

21. (UFPE) Mensagem foi o único livro que Fernando Pessoa publicou em vida. Nele, estão reunidos poemas de caráter nacionalista, que compõem uma unidade significativa. Sobre essa obra e seu autor, analise as afirmações abaixo.

0-0) Mensagem é uma obra que trata do caráter heroico do povo português e está composta em versos regulares. Dessa forma, é possível classificá-la como uma epopeia.

1-1) Fernando Pessoa era adepto do sebastianismo e evocou o rei D. Sebastião em seu livro, no afã de transformar Portugal no Quinto Império, o que revela o sentimento monárquico do poeta português.

2-2) Em Mensagem, Fernando Pessoa deixa claro seu nacionalismo fervoroso, pois acreditava que Portugal pudesse voltar a ser o grande império de outrora, exercendo seu poder político-econômico sobre o mundo.

3-3) Mar Português é um dos poemas presentes na obra em análise. Nele, o poeta personifica o mar, que há de reconhecer a disposição dos portugueses para enfrentar todos os tipos de revezes, no ideal de conquistar as terras do além-mar.

4-4) Nos versos de Mensagem, pode-se perceber que a Pátria é de natureza espiritual. Pessoa procura fazer renascer Portugal através dos mitos nacionais, particularmente o da Saudade, “sangue espiritual da Raça”.

RESPOSTA: FFFVV

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (UFVJM) 25 de junho. Fiz o café e vesti eles para ir na escola. Puis feijão no fogo. Vestia a Vera e saímos. O João estava brincando. Quando me viu correu. E o José Carlos assustou-se quando ouviu a minha voz. Vi uma pirua do Governo do Estado. Serviço de Saúde que vinha recolher as fezes. O jornal disse que há 160 casos positivos aqui na favela. Será que eles vão dar remédios? A maioria dos favelados não há de poder

comprar. Eu não fiz o exame. Fui catar papel. (…) Ganhei só 25 cruzeiros. É que agora tem um homem que

cata na minha zona. Mas eu não brigo por isso. Porque daqui uns dias ele desiste. O homem já está dizendo

que o que ele ganha não dá nem para a pinga. Que é melhor pedir esmola.

Fonte: JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2012.

O uso de formas linguísticas características da variante não padrão da língua portuguesa nesse texto, justifica-se

a) pelas características composicionais do gênero textual.

b) pelo objetivo do autor em demonstrar sua condição de vida.

c) pela relação entre gênero textual e o papel social do seu produtor.

d) pela relação entre a informalidade da situação comunicativa e a intertextualidade.

2.Escritor é acusado de racismo por trecho em biografia de Clarice Lispector

          O escritor e historiador Benjamin Moser, autor da mais recente biografia de Clarice Lispector, vem sendo acusado de racismo desde que um trecho do livro, publicado no Brasil em 2011, foi resgatado nas redes sociais.

         A lembrança veio da autora mineira Ana Maria Gonçalves. No último sábado (14), ela republicou uma passagem de Clarice em que Moser descreve uma imagem na qual Lispector aparece conversando com Carolina Maria de Jesus durante o lançamento de um livro.

        “Numa foto, ela aparece em pé, ao lado de Carolina Maria de Jesus, negra que escreveu um angustiante livro de memórias da pobreza brasileira, Quarto de despejo, uma das revelações literárias de 1960. Ao lado da proverbialmente linda Clarice, com a roupa sob medida e os grandes óculos escuros que a faziam parecer uma estrela de cinema, Carolina parece tensa e fora do lugar, como se alguém tivesse arrastado a empregada doméstica de Clarice para dentro do quadro”, escreve o biógrafo na página 25. […] Procurado pela CULT, Benjamin Moser não quis dar entrevista. Ele afirmou que fez as modificações necessárias no texto para que, nas próximas edições da biografia, “suas intenções fiquem mais claras”. Ele não concorda que a descrição tenha sido, de fato, preconceituosa, e afirmou que considera o assunto “fechado”. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/escritor-e-acusado-de-racismo-por-trecho-em-biografia-de-clarice-lispector. [Adaptado]. Acesso em: 30 mar. 2019

Com base no Texto  e na leitura integral da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, no contexto sócio histórico e literário e, ainda, de acordo com a variedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:

01.as locuções “proverbialmente linda” (linha 09) e “uma estrela de cinema” (linha 10) estabelecem uma relação de forte contraste com o “tensa e fora do lugar” (linha 10) e “empregada doméstica de Clarice” (linha 11), sugerindo a superioridade de Clarice sobre Carolina.

02. após ser procurado pela revista, Moser reconheceu seus equívocos, mas não fez modificações na biografia de Clarice Lispector, pois o original da obra já estava “fechado”.

04. de acordo com o texto, a acusação de racismo partiu da autora mineira Ana Maria Gonçalves, que se lembrava do evento do qual participou com Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus.

08. o escritor e historiador Benjamin Moser não reconhece a importância literária da obra Quarto de despejo.

16 o Texto  noticia o lançamento de um livro da escritora Clarice Lispector ao qual compareceu Carolina Maria de Jesus.

32. a expressão “tenha sido” (linha 15) marca uma ação de passado anterior a outra ação, equivalente à forma verbal “fora” do pretérito mais-que-perfeito.

64. a sentença “Ele afirmou que fez as modificações necessárias no texto” (linhas 13-14) está na voz passiva por se tratar de uma citação do biógrafo feita pela revista CULT.

RESPOSTA: 01

3. (UFVJM) Leia o trecho a seguir:

A partir da sua condição social de mulher, negra, favelada, catadora de lixo e mãe solteira, Carolina Maria de Jesus, em Quarto de despejo, compôs um angustiante retrato do Brasil em meados do século XX. Para isso, utilizou de figuras de linguagem como metáforas, metonímias, comparações, analogias e ironias, que, somadas à sua coloquialidade, consolidaram uma das manifestações mais representativas do lirismo presente na fala do povo brasileiro.

Entre as citações abaixo, retiradas de Quarto de despejo, ASSINALE aquela que NÃO apresenta linguagem figurada.

a) “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora”.

b) “Quem governa o nosso país é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é fome, dor, e a aflição do pobre. […] Eu estou ao lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido”.

c) “Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a Historia do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes masculinos como defensores da pátria”.

d) “Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludo, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo”.

Texto

13 de maio […]

    – “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.

     ” … Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetáculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.

        E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome! JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2018, p. 30-32

4. Com base na leitura do Texto  e na leitura integral da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, publicada pela primeira vez em livro em 1960, no contexto sócio histórico e literário e, ainda, de acordo com a variedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:

01. Quarto de despejo é uma coletânea de relatos pessoais dedicados a narrar o dia a dia do ano de 1958 na vida de Carolina Maria de Jesus, de sua família e da comunidade.

02. reforçando o mito do “homem cordial” na tradição literária brasileira, a obra revela como os moradores da favela do Canindé e arredores são acolhedores, solidários e solícitos com Carolina e com seus filhos.

04. há remissão ao dia em que se comemora oficialmente a Abolição da Escravidão no Brasil, numa crítica ao controle social exercido pela fome, que marca a existência de outro modo de escravidão.

08. a autora emprega frases e orações curtas, o que confere maior ênfase e ritmo ao texto, recurso linguístico utilizado com frequência por autores da literatura brasileira contemporânea.

16. o emprego de metáforas e comparações auxilia na recriação ficcional do cotidiano da favela, como é o caso do adjetivo “acinzentado”, tomado como a cor da fome, numa clara alusão às casas sem reboco do entorno, e do substantivo “corvos”, num comparativo com os favelados, homens e mulheres sempre à procura de comida.

32. em “Dona Ida peço-te” (linha 02), os termos em destaque servem como vocativo, apesar da ausência de vírgula.

64. a obra tem sido revisitada por críticos contemporâneos em nova abordagem que confere ao texto valor literário, superando uma leitura sociológica, pois reconhece nele a existência de um projeto estético próprio da autora.

RESPOSTA: 04+08+64 = 76

5. (UNIMONTES)

Sobre o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, todas as afirmativas abaixo estão corretas, EXCETO:

a)A autora – mulher, negra, mãe solteira – assinala a sua escrita com a consciência do que é estar no “quarto de despejo” da grande cidade de São Paulo.

b) O ato cotidiano de recolher resíduos da sociedade paulistana é uma evasão de uma mulher que se sente marginalizada.

c)  O diário Quarto de despejo é constituído de fragmentos de vida reunidos em cadernos encontrados nas ruas.

d) Os relatos diários são marcados por um olhar de denúncias e pela descrição da rotina marginal de sua autor

6. (UFMG) Com base na leitura “Shenipabu Miyui” e “Quarto de despejo”, é INCORRETO afirmar que ambos os livros a) constituem expressões da cultura brasileira.

b) constituem transcrições de relatos orais colhidos por seus autores.

c) registram, na escrita, traços da linguagem cotidiana.

d) veiculam a voz de grupos tradicionalmente excluídos da literatura.

7. (UFSC) Texto

12 de junho

    Eu deixei o leito as 3 da manhã porque quando a gente perde o sono começa pensar

nas misérias que nos rodeia. […] Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou

pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores

de todas as qualidades. […] É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que

estou na favela.

Fiz o café e fui carregar água. Olhei o céu, a estrela Dalva já estava no céu. Como é

horrível pisar na lama. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2018, p

Com base no Texto  e na leitura integral da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, publicada pela primeira vez em livro em 1960, no contexto sócio histórico e literário e, ainda, de acordo com a variedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:

01. o vocábulo “leito” (linha 02) sugere que a narradora deixou o hospital durante a madrugada, após mais uma de suas internações hospitalares, situação corriqueira agravada pela alimentação inadequada e pela falta de água tratada na região onde morava.

02. no Texto , a narradora reitera a importância da escrita em sua vida, pois a literatura era uma das únicas possibilidades de esquecer seu entorno.

04. o projeto estético, marcado por uma visão fantasiosa da vida, permite que a narradora ignore as dificuldades cotidianas, razão pela qual se atém apenas à beleza do despontar de uma estrela.

08. o cotidiano da favela evidencia a brutalidade e a violência sistêmica a que todos os moradores estão submetidos, fazendo com que brigas, episódios de violência doméstica e surras sejam vistos como entretenimento pela vizinhança.

16. em suas peregrinações como catadora, a protagonista revela seu desprezo pela cidade de São Paulo, de luxo e opulência para poucos, razão pela qual prefere manter distância desse espaço, habitando na favela.

32. Vera, João e José Carlos, filhos da narradora, adaptam-se com mais facilidade do que a mãe à vida na favela, sendo caracterizados como bajuladores, que pedem esmolas e obedecem à mãe.
RESPPOSTA: 02 + 08 = 10

8. (UEMA) Na obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus retrata, em uma dimensão sociológica e literária, suas impressões sobre o cotidiano dos moradores de uma favela. Para responder à questão, leia a seguir dois excertos, transcritos integralmente, da referida obra.

Texto I

20 DE MAIO

(…)

Quando cheguei do palácio que é a cidade os meus filhos vieram dizer-me que havia encontrado macarrão no lixo. E a comida era pouca, eu fiz um pouco do macarrão com feijão. E o meu filho João José disse-me:

– Pois é. A senhora disse-me que não ia mais comer as coisas do lixo.

Foi a primeira vez que vi a minha palavra falhar.

(…)

Texto II

30 DE MAIO

(…)

Chegaram novas pessoas para a favela. Estão esfarrapadas, andar curvado e os olhos fitos no solo como se pensasse na sua desdita por residir num lugar sem atração. Um lugar que não se pode plantar uma flor para aspirar o seu perfume, para ouvir o zumbido das abelhas ou o colibri acariciando-a com seu frágil biquinho. O único perfume que exala na favela é a lama podre, os excrementos e a pinga.

(…) Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.

A noção de contexto e de repertório social sugerida pela narradora-personagem revela o(a)

a) resistência de moradores ao novo ambiente.

b) visão de contraste entre o lugar ideal e o real.

c) impacto dos novos moradores a ambiente infértil.

d) embate entre pessoas que residem em ambientes distintos.

e) ambição de pessoas que residem em lugares insalubres.

9. (UEMA) O texto a seguir foi transcrito integralmente da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Leia-o com atenção e observe o mecanismo de coesão entre as frases no último parágrafo.

30 DE OUTUBRO

(…)

Eu comecei a fazer as contas quando levar os filhos na cidade quanto eu vou gastar de bonde. 3 filhos e eu, 24 cruzeiros ida e volta. Pensei no arroz a 30 o quilo.

Uma senhora chamou-me para dar-me papeis. Disse-lhe que devido ao aumento da condução a policia estava nas ruas. Ela ficou triste. Percebi que a noticia do aumento entristece todos. Ela disse-me:

– Eles gastam nas eleições e depois aumentam qualquer coisa. O Auro perdeu, aumentou a carne. O Adhemar perdeu, aumentou as passagens. Um pouquinho de cada um, eles vão recuperando o que gastam. Quem paga as despesas das eleições é o povo!

Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.

O discurso direto, reproduzido no fragmento em destaque, é marcado por um encadeamento semântico-discursivo que resulta na sequência narrativa. A expressão coesiva responsável por essa sequência é

a) ―qualquer coisa.

b) ―das eleições.

c) ―de cada um.

d) ―e depois.

e) ―o que.

10. (UNIMONTES)

O fragmento abaixo foi extraído do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Leia-o com atenção.

1 DE JULHO…

Eu percebo que se este Diário for publicado vai maguar muita gente. Tem pessoa que quando me ver passar saem da janela ou fecham as portas. Estes gestos não me ofendem. Eu até gosto porque não preciso parar para conversar. (…) Quando passei perto da fabrica vi vários tomates. Ia pegar quando vi o gerente. Não aproximei porque ele não gosta que pega. Quando carregam os caminhões os tomates caem no solo e quando os caminhões saem esmaga-os. Mas a humanidade é assim. Prefere vê estragar do que deixar seus semelhantes aproveitar. (JESUS, 1997, p. 69.)

Sobre o excerto acima e sobre o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, a única afirmativa INCORRETA é:

a)Para a autora, os papéis colhidos nas ruas são sua fonte de sobrevivência e, mais tarde, a matéria-prima para a escrita dos seus diários.

b) Os diários, além de uma forma de extravasamento da raiva e de fazer-se conhecer, eram, para a autora, um registro da memória.

c) A dimensão social e humanística do romance é perceptível por meio da confissão diarística da narradora.

d) A linguagem de norma culta e singular da escritora do povo legitima o lugar social de sua autora.

11. (UNICAMP) “…Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indicando os nomes dos futuros deputados. Alguns nomes já são conhecidos. São reincidentes que já foram preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de Troia que aparece de quatro em quatro anos.” (Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014, p. 43.)

O trecho anterior faz parte das considerações políticas que aparecem repetidamente em Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Considerando o conjunto dessas observações, indique a alternativa que resume de modo adequado a posição da autora sobre a lógica política das eleições.

a) Por meio das eleições, políticos de determinados partidos acabam se perpetuando no exercício do poder.

b) Os políticos se aproximam do povo e, depois das eleições, se esquecem dos compromissos assumidos.

c) Os políticos preteridos são aqueles que acabam vencendo as eleições, por força de sua persistência. d) Graças ao desinteresse do povo, os políticos se apropriam do Estado, contrariando a própria democracia.

12. As questões a seguir são referentes ao Quarto de Despejo

Assinale com V ou F as seguintes afirmações abaixo

( ) Carolina mora na favela, é pobre, catadora de lixo e alcoólatra. As segundas-feiras são o melhor dia para catar papéis.

( ) Carolina, apesar de se dar muito bem com seus vizinhos, almeja um dia poder sair da favela e publicar seu livro.

( ) Os filhos de Carolina são muito bem tratados pela comunidade da favela. A solidariedade é muito presente.

( ) Carolina tem 3 filhos, Vera Eunice, José Carlos e João José. Carolina sempre teve boas experiências com os homens.

a) F, F, F, F

b) V, F, V, F

c) V, V, V, V

d) V, F, F, V

e) V, F, F, F

13. Julgue os itens abaixo

I. A narrativa ocorre em São Paulo. Carolina Maria de Jesus é a autora do livro do qual é narrado pela própria protagonista, em primeira pessoa.

II. A política é bastante presente no livro, com a narradora fazendo críticas aos políticos que só apareciam na favela em épocas de eleições. O presidente do Brasil da época era Juscelino Kubitschek.

III. No processo de publicação do livro, acabou-se por adaptar a obra para uma linguagem culta e formal, para encaixar-se na escola literária da época, o Parnasianismo.

Estão corretas

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

14. Leia o excerto a seguir

“É o homem mais distinto da favela. Ele está aqui já faz 9 anos. Sai de casa e vai para o trabalho. Não falta ao serviço. Nunca brigou com ninguém. Nunca foi preso. Ele é o homem mais bem remunerado da favela. Trabalha para o Conde Francisco Matarazzo.”

O texto refere-se ao seguinte personagem

a) Senhor Manoel, amigo que ajuda Carolina e que também se envolve sexualmente.

b) Orlando Lopes, que cobra a energia elétrica.

c) Audálio Dantas, repórter que publica seu livro.

d) Dário, cigano que se envolve amorosamente com Carolina.

e) Raimundo, cigano por quem Carolina se apaixona e depois se desilude.

15. Assinale a alternativa incorreta

a) O pai de Vera Eunice ajuda Carolina com o dinheiro da pensão, que em momento algum tem seu nome revelado no diário.

b) Carolina consegue publicar seu diário na revista Cruzeiro.

c) A fome, as brigas e o ódio na favela são temas recorrentes na narrativa.

d) Às segundas Carolina consegue coletar mais materiais para vender, enquanto nos sábados é o dia de maior preocupação, uma vez que ela precisa trabalhar dobrado para o domingo.

e) No livro é possível acompanhar a ascensão social de Carolina até o momento que seu livro, Diário de Despejo, é publicado.

16. (UFRGS) Sobre o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) A história, estruturada em forma de diário, abarca cinco anos da vida de Carolina, que, segundo a narradora, suporta sua rotina de fome e violência através da escrita.

( ) A autora produz uma narrativa de grande potência, apesar dos desvios gramaticais presentes no texto.

( ) A narradora reflete sobre desigualdade social e racismo. A força do texto está no depoimento de quem sente essas mazelas no corpo e ainda assim se apresenta como voz vigorosa e propositiva.

( ) O livro, relato atípico na tradição literária brasileira, nunca obteve sucesso editorial, permanecendo esquecido até os dias de hoje. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) F – V – F – F.

b) V – F – V – V.

c) V – F – F – V.

d) V – V – V – F.

e) F – V – V – V

Leia o texto para responder às questões de números 17 a 19.

(FATEC) 13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpático para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos. …Nas prisões os negros eram os bodes expiatórios. [….] Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. …Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada: – Viva a mamãe! A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim: – “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.” …Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetáculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome! 29 de maio [….] …Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá…isto é mentira! Mas, as misérias são reais. MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.

17. O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais. Analisando a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que

a) a autora não apresenta reflexão crítica sobre suas experiências por desconhecer a variedade culta do português.

b) o fato de a autora não utilizar a variedade culta se deve ao gênero do texto, uma vez que diários não são escritos visando à publicação.

c) os problemas de ortografia, como em “expiatório”, e de concordância, como em “quando eles vê”, ocorrem por predominar no texto o sentido denotativo.

d) o texto é predominantemente conotativo, o que se nota por expressões como “hoje amanheceu chovendo” e “a chuva passou”.

e) o texto aborda, de forma crítica e empregando linguagem informal, temas relevantes à sociedade, como fome e pobreza.

18. Assinale a alternativa que, de acordo com o contexto, apresenta a figura de linguagem metáfora.

a) Dona Ida peço-te se pode arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos.

b) E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!

c) Mesmo assim, mandei os meninos para a escola.

d) Dez minutos depois eles querem mais comida.

e) Hoje choveu e eu não pude ir catar papel.

19. Assinale a alternativa em que o trecho do diário foi reescrito, mantendo-se as correlações semânticas originais e respeitando-se a variedade culta da língua portuguesa.

a) Hoje amanheceu chovendo por ser um dia simpático para mim, posto que é o dia da Abolição quando comemoramos a libertação dos escravos.

b) Eu tenho tanto dó dos meus filhos, pois, quando eles veem as coisas para comer, eles bradam: “Viva a mamãe”.

c) Como continua chovendo, eu só tenho feijão e sal. A chuva está forte, logo, mandei os meninos para a escola.

d) Estou escrevendo mesmo que passe a chuva, depois disso eu irei ao senhor Manuel vender ferros.

e) A manifestação me agrada, desde que eu já perdera o hábito de sorrir.

20. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre as escritoras Carolina Maria de Jesus e Clarice Lispector e sobre suas obras.

I – Carolina Maria de Jesus (1914 -1977) e Clarice Lispector (1920 -1977) pertencem à mesma geração cronológica, mas não tiveram a mesma trajetória no campo literário, dada a diferença de dasse e raça.

II – Quarto de despejo, publicado em 1960, é o testemunho, em primeira pessoa, de Carolina Maria de Jesus sobre sua vida de miséria em uma favela paulista. Editado por Audalio Dantas, está presente no livro a tensão entre a linguagem dominada por Carolina e aquela que, para ela, seria a linguagem literária.

III – Clarice Lispector, em A hora da estrela (1977), cria uma personagem, Macabéa, que narra, em primeira pessoa, as dificuldades de sua vida de empregada doméstica e moradora de uma favela carioca. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

21. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listados os títulos dos romances de Carolina Maria de Jesus e de Clarice Lispector; no inferior, trechos desses romances. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 – Quarto de despejo

2 – A hora da estrela

( ) Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos reclama. […] Como me vingar? Ou melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente.

( ) Achei um saco de fubá no lixo e trouxe para dar ao porco. Eu já estou tão habituada com as latas de lixo, que não sei passar por elas sem ver o que há dentro. [ …] Ontem eu li aquela fábula da rã e a vaca. Tenho a impressão que sou rã. Queria crescer até ficar do tamanho da vaca.

( ) A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.

( ) “Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa belíssima na sua vida. [ … ] Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos. [ … ] Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era “assim”. Mas também creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 2 – 1.

b) 2 – 1 – 1 – 2.

c) 2 – 1 – 2 – 1.

d) 1 – 2 – 1 – 2.

e) 1 – 1 – 2 – 2.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (FUVEST) Considere este trecho de um diálogo entre pai e filho (do romance “Lavoura arcaica”, de Raduan Nassar):

– Quero te entender, meu filho, mas já não entendo nada.
– Misturo coisas quando falo, não desconheço, são as palavras que me empurram, mas estou lúcido, pai, sei onde me contradigo, piso quem sabe em falso, pode até parecer que exorbito, e se há farelo nisso tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão inteiro. Mesmo confundindo, nunca me perco, distingo para o meu uso os fios do que estou dizendo.

No trecho, ao qualificar o seu próprio discurso, o filho se vale tanto de linguagem denotativa quanto de linguagem conotativa.
a) A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo” é um exemplo de linguagem de sentido denotativo ou conotativo? Justifique sua resposta.

b) Traduza em linguagem de sentido denotativo o que está dito de forma figurada na frase: “se há farelo nisso tudo, posso assegurar, pai, que tem muito grão inteiro.”
RESPOSTAS:

a) A frase “estou lúcido, pai, sei onde me contradigo” é de sentido denotativo, pois expressa de forma inequívoca um significado de base: a consciência do filho da lucidez diante de seu discurso desconexo.

b) Uma tradução possível é: se no que eu digo pode haver alguma obscuridade ou desconexão, tenha certeza, meu pai, de que muita coisa aí contida também é coerente e muito bem pensada.

2. (UFPR) Leia o capítulo 6 de Lavoura arcaica, reproduzido abaixo.

Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse “para onde estamos indo?” – não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: “estamos indo sempre para casa”. NASSAR, Raduan. Lavoura arcaica. 3a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. pp.35/36. Considere as seguintes afirmativas sobre a narrativa de Raduan Nassar, publicada pela primeira vez em 1975:

1. Em Lavoura arcaica, não há marcação temporal do narrado e a narração não segue uma cronologia linear. Mesmo assim, o tempo é uma das questões centrais na tensão entre pai e filho, entre a pregação da contenção, da paciência e da obediência ao curso natural e soberano do tempo pelo patriarca e a reivindicação do direito à impaciência e à urgência pelo jovem filho.

2. As duas epígrafes – “Que culpa temos nós dessa planta da infância, de sua sedução, de seu viço e constância?”; “Vos são interditadas: vossas mães, vossas filhas, vossas irmãs,…” – estabelecem uma relação com as duas linhagens da família: de um lado, o excesso de afeto materno; de outro, a imposição da ordem paterna.

3. A relação incestuosa com a irmã Ana e a tentativa de levá-la consigo no abandono da casa paterna representam a rejeição de todos os laços familiares por parte de André e o desejo, sempre presente, de se distanciar da repressão paterna e abandonar a lavoura arcaica em busca do diferente na cidade moderna.

4. Estamos indo sempre para casa, mas o retorno é sempre diferente. A cena habitual da festa familiar da primeira parte reaparece no final, com mudança apenas do tempo verbal. Dessa vez, no entanto, o fecho é diferente e trágico: o pai, símbolo da razão e do equilíbrio, cede à paixão e à loucura ao matar a própria filha.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

3. Assinale a alternativa correta sobre Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.

a) André vai morar na capital e produz de lá seu relato saudoso da vida no campo e da relação amigável que tinha com seu pai.

b) O romance reconstrói a trajetória de uma família, que serve de pano de fundo para as críticas diretas do autor aos governos militares.

c) O narrador em primeira pessoa concentra sua narrativa no esforço de entender a relação amorosa que manteve com uma prima distante.

d) André descreve com detalhes o espaço de uma fazenda, onde viveu com sua família durante a infância no interior de São Paulo.

e) O discurso do pai do personagem central representa a ordem moral ditada pelos códigos religiosos e se contrapõe ao do narrador.

4. (UFU ) Coloque V (verdadeiro) e F (falso) nas afirmativas que se seguem, considerando a leitura de “Lavoura arcaica”, de Raduan Nassar. ( ) André, personagem de “Lavoura arcaica”, imprudentemente retorna à casa paterna, conservando seu desejo incestuoso que mais tarde será punido com a morte. ( ) A personagem André arrepende-se de seu desejo incestuoso em relação a Ana e passa a não questionar os paradigmas culturais familiares. ( ) André sente-se sufocado por dois limites: a ternura desmedida da mãe e a forte imposição do pai. ( ) Por meio da mesa de refeições, isto é, pela posição em que se senta cada membro da família, a hierarquia familiar é assinalada. ( ) A narrativa apresenta André como o filho torto, a “ovelha negra” que fala desenfreadamente, na tentativa de destruir os sermões do pai. A sequência obtida é a) V, F, F, F, V b) F, F, V, V, F c) F, V, F, V, F

d) V, F, V, V, V

5. Considere o trecho abaixo, que integra o livro Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar:

“[…] aprenderei ainda muitas outras tarefas, e serei sempre zeloso no cumprimento de todas elas, sou dedicado e caprichoso no que faço, e farei tudo com alegria, mas pra isso devo ter um bom motivo, quero uma recompensa para o meu trabalho, preciso estar certo de poder apaziguar a minha fome neste pasto exótico, preciso do teu amor, querida irmã, e sei que não exorbito, é justo o que te peço, é a parte que me compete, o quinhão que me cabe, a ração a que tenho direito”, e, fazendo uma pausa no fluxo da minha prece, aguardei perdido em confusos sonhos, meus olhos caídos no dorso dela, meu pensamento caído numa paragem inquieta, mas tinha sido tudo inútil, Ana não se mexia, continuava de joelhos, tinha o corpo de madeira, nem sei se respirava […] (p. 124)

Sobre esse trecho, assinale a alternativa correta.

a)Ana se mantém imóvel diante do irmão, o que faz desse trecho um contraponto com outra cena central do romance, em que a sensualidade e exuberância da personagem serão expostas numa dança.

b) Esse trecho apresenta a figuração da linguagem característica das demais falas de André, exemplificando um discurso que cruza a linguagem enigmática das preces religiosas associado com metáforas ligadas à agricultura.

c) As falas de Ana só estão omitidas nesse trecho; em todo o restante do romance, no entanto, a irmã é a principal propagadora da ordem instituída pelo pai, enquanto o discurso de André se contrapõe ao deles.

d) O livro de Raduan Nassar faz referências explícitas ao texto bíblico, procurando demonstrar, como nesse trecho, que o instinto e as leis da natureza estão de acordo com a moralidade cristã.

e) A linguagem enigmática do texto religioso é típica do pai de André, e isso reforça o seu desacordo com o filho, cujas falas são sempre explícitas e concisas, sem referências aos textos religiosos.

6. A obra Lavoura arcaica, e seu autor, Raduan Nassar, inserem-se no período da literatura chamado:

a) realismo fantástico;

b) pós-modernismo;

c) surrealismo;

d) literatura contemporânea;

e) neossimbolismo.

7. A narrativa de Lavoura arcaica é feita:

a) por um narrador personagem, num longo processo de fluxo de consciência;

b) por um narrador observador, onisciente, em terceira pessoa;

c) pela irmã do personagem central, objeto da paixão secreta do pai;

d) por diversos personagens com diferentes focos narrativos;

e) em retrospectiva seguindo uma ordem cronológica do presente para o passado.

8. Assinale as seguintes afirmações sobre a obra Lavoura arcaica, de Raduan Nassar.

1. A obra é constituída de um texto que coloca o leitor diante da poesia e da intensidade escondida nos fatos mais corriqueiros da vida.

2. Esta narrativa não tem um espaço específico: é uma obra de todos os lugares que acaba por se fixar naquele que cada um particularmente busca.

3. Raduan Nassar apresenta um enredo que fala de tradição remetendo, simultaneamente, o leitor a um tempo imensurável e individual, misturando o hoje, o ontem e o sempre.

4. O personagem narrador não se restringe à defesa de suas ideias: desdobra-se em ação quando passa a proteger Ana, sua irmã, expulsa pelos pais os saberem-na grávida do próprio irmão. Estão corretas apenas as afirmações:

a) 1 e 2;

b) 1,2 e 3;

c) 2 e 3;

d) 2,3 e 4;

e) 1, 3 e 4.

9. Assinale a afirmação que não se confirma pela análise da obra Lavoura arcaica, de Raduan Nassar.

a) Na obra, a fala é de André, a ambiguidade do texto é a do André, da mesma forma que a indefinição do contexto é reflexo do não-enquadramento de André em um padrão.

b) Misturando repulsa e paixão, perene e descoberta, o protagonista de Lavoura arcaica se desvencilha do pré-estabelecido como forma de se fazer pertencer.

c) Um dos aspectos essenciais da narrativa é a atitude de André que sai de casa, afastando-se da tradição para seguir em busca de seu próprio caminho.

d) A imagem do protagonista pode ser vinculada à do personagem da parábola do filho pródigo do Evangelho que escapa da vigilância do seu senhor, mas que volta ao lar, convicto de que nada pode encontrar fora dos limites da sua própria história.

e) Fugindo com a amada em direção de outros horizontes, André julga buscar a terra prometida, onde a vida não seja uma competição de ódios, mas uma conquista de amor.

10. Assinale a alternativa correta quanto à classificação do gênero literário de Lavoura arcaica.

a) O texto de Raduan Nassar pertence exclusivamente ao gênero épico ou narrativo: é um romance, por basear sua linha mestra no encadeamento de episódios e não ir além do que se espera desse gênero, em sua formulação tradicional.

b) Por sua carga de dramaticidade ao dirigir todo o vigor para os personagens, podemos classificar Lavoura arcaica como uma obra essencialmente teatral, lídimo3 representante, portanto, do gênero dramático.

c) Chama a atenção o caráter desnorteador de Lavoura arcaica, que ultrapassa os limites das classificações. E como André está em todos da sua casa e ao mesmo tempo não está em nenhum, o texto não se fecha em um só gênero já que passeia por muitos.

d) À primeira vista a obra pode ser chamada de tragédia surrealista e fantástica, por sua estrutura circular, pela ambiguidade e frequente ilogicidade no encadeamento das ações.

e) Por causa de sua linguagem poética e sua carga de subjetividade, o texto deve ser classificado unicamente como do gênero lírico, exemplo de prosa poética, por suas ricas metáforas, uso de aliterações, repetições e sinestesias.

11. Tendo em vista os conceitos rígidos apresentados na obra sobre a família, o trabalho, a autoridade paterna, o amor, a sexualidade, a moral e as relações pessoais, percebe-se que na criação de Lavoura arcaica o autor foi fortemente influenciado:

a) pela visão de mundo e pelos princípios morais apreendidos na leitura do Alcorão e da Bíblia;

b) pelos estudos da filosofia clássica greco-romana e pelo contato com as obras dos autores da época;

c) pela literatura oriental, apresentada principalmente nos textos de Confúcio e de Buda;

d) pela experiência vivida em comunidades fundamentalistas da religião “amish” dos EUA.

e) pelo sincretismo religioso representado pela miscigenação de cultos africanos com o catolicismo no Brasil.

12. Leia o trecho inicial da obra Lavoura arcaica: “Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul, violáceo, o quarto inviolável; o quarto individual, um mundo, o quarto catedral, onde nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo….” Esse texto exemplifica um tipo de linguagem empregada reiteradamente na obra com características típicas:

a) Dos contos psicológicos de Machado de Assis;

b) da linguagem utilizada por José Lins do Rego em Fogo morto;

c) do estilo rebuscado da poesia de Gregório de Matos;

d) da expressão coloquial observada na peça Eles não usam black-te;

e) da linguagem poética empregada por Drummond em Claro enigma.

13. No capítulo 24 de Lavoura Arcaica, o protagonista/narrador fala sobre os lugares que cada membro da família ocupava à mesa: “Eram estes nossos lugares à mesa na hora das refeições, ou na hora dos sermões: o pai à cabeceira; à sua direita, por ordem de idade, vinha primeiro Pedro, seguido de Rosa, Zuleika e Huda; à sua esquerda vinha a mãe, em seguida eu, Ana e Lula, o caçula”. O galho da direita era um desenvolvimento espontâneo do tronco, desde as raízes; já o da esquerda trazia o estigma de uma cicatriz, como se a mãe, que era por onde começava o segundo galho, fosse uma protuberância mórbida, em enxerto junto ao tronco talvez funesto, pela carga de afeto; podia-se quem sabe dizer que a distribuição dos lugares na mesa (eram caprichos do tempo) definia as duas linhas da família. (L.A. p.157). Da leitura desse texto podemos inferir que:

a) Ao lado do pai colocam-se os filhos perdidos, os que continuarão a manter em vigor as tradições repressoras, geradoras da hipocrisia, dos desvios de personalidade, do moralismo que esmaga a liberdade e faz nascer sentimentos espúrios.

b) Ao lado da mãe postam-se os filhos exemplares, de alma sincera e sentimentos verdadeiros que se traduzem em personalidades equilibradas, livres para dizer e fazer o que sentem e pensam.

c) A mãe se caracteriza pelo sentimento incestuoso por André, que por sua vez ama a irmã Ana e é amado por Lula, o caçula, configurando o mapa de transgressão do ramo esquerdo.

d) Lavoura Arcaica é em seu contexto um arquétipo das histórias de famílias patriarcais recentes que nasceram junto com os atuais conflitos religiosos em todo mundo, principalmente no Oriente Médio.

e) A figura da “família” como uma instituição decadente; a imagem do “pai” como alguém de extrema ignorância; da “mãe” como uma figura essencial, e do primogênito, no caso Pedro, como alguém que deverá perpetuar a sabedoria patriarcal são elementos que ilustram o texto.

14. Ainda sobre o texto da questão anterior, são feitas várias observações e acrescentadas várias interpretações. Analise-as com cuidado.

1. Podemos traçar um paralelo da situação exposta no texto com Adão e Eva e sua expulsão do Paraíso. É Eva quem infringe a regra e por isso é condenada, junto com todas as mulheres, a pagar por seu pecado original.

2. A divisão da família como ramo direito e esquerdo também remete a outro episódio bíblico; a separação de Abraão e seu primo Ló. O primeiro vai em direção à Canaã, a terra prometida, enquanto o outro vai para Sodoma, que ficaria à esquerda, no Oriente.

3. Se, conforme Carl Jung, todos nascemos com um inconsciente coletivo dotado de todos os arquétipos já existentes desde os tempos mais remotos, poderíamos dizer que o autor toma como base as narrativas do Velho Testamento para compor sua obra.

4. André, o protagonista e narrador de Lavoura arcaica, se encaixa no arquétipo do “Filho Pródigo”, que na Bíblia é a personagem que sai de casa à procura de suas verdades e retorna, humilde, ao seio da família. Mas ele também se coloca como um arquétipo do mundo divino demoníaco, personificando as forças da natureza, especialmente no que diz respeito aos impulsos sexuais. Considerando a abrangência da obra, podem ser consideradas corretas:

a) apenas as afirmações 1, 2 e 3;

b) apenas as afirmações 1, 3 e 4;

c) apenas as afirmações 2, 3 e 4;

d) apenas as afirmações 1, 2 e 4;

e) Todas as afirmações.

15. A respeito da obra Lavoura arcaica, de Raduan Nassar, é correto afirmar que:

a) a palavra do pai, oriunda da tradição dos dez mandamentos, das parábolas bíblicas, dos profetas e dos grandes pregadores cristãos, torna-se ineficaz, configurando a simbólica lavoura arcaica, e o resultado não poderia ser outro senão a tragédia: o pai mata a filha Ana, ao perceber que ela ama André, e depois, de modo não explícito no livro, também acaba por perder a vida.

b) O núcleo familiar em que se desencadeia a trama de Lavoura arcaica é constituído de imigrantes árabes a Síria para o Brasil. O livro é dividido em três partes: a primeira “A partida”; a segunda “O retorno”; a terceira “A tragédia”.

c) A estrutura da obra corresponde tematicamente a uma sátira que Nassar faz da parábola do filho pródigo, a história bíblica do filho que deixa a casa e retorna arrependido e transformado em filho exemplar.

d) André acredita no homem e na moral, mas nega a existência de Deus e o seu poder de transcendência, em nome do instinto sexual, que consiste na posse integral dos seres em troca da destruição da fé.

e) O conflito entre indivíduo, leis e sociedade é o componente básico dos conflitos do próprio personagem narrador. A obra trata justamente da luta pela integração entre o indivíduo e a sociedade, culminando com a conquista da coexistência das vontades e das dores de André com o mundo em que ele vive.

16. Leia o texto a seguir, que é um excerto de um dos sermões do pai, em Lavoura arcaica: “Ai daquele que queima a garganta com tanto grito: será escutado por seus gemidos; ai daquele que se antecipa no processo das mudanças: terá as mãos cheias de sangue; ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de um modo intenso: terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio, ou quem sabe sepulcral” Da leitura do texto, podemos concluir que o ensinamento fundamental desse sermão resume-se na expressão:

a) “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

b) “É preciso dar tempo ao tempo”.

c) “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

d) “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

e) “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.

17. Assinale a alternativa incorreta a respeito de Lavoura Arcaica:

a) O personagem central busca a integração, o seu lugar na mesa da família, justamente por meio do que o destruiria, o amor incestuoso entre ele e Ana, sua irmã.

b) Quando André resolve conduzir a sua história, o seu tempo é o da aventura; mas quando o mundo lhe diz não, o tempo se torna aquele já marcado pelo destino das coisas, que retorna como uma maldição, num ciclo repetitivo.

c) Para André, àqueles que não ganham do mundo o seu quinhão restam duas alternativas: dar as costas a tudo ou alimentar uma expectativa de destruição deste mundo.

d) A obra trata da condição do homem, em que o conflito das diferenças, a violência, a imposição de uma tradição e, do outro lado da moeda, o individualismo, põe em xeque a existência da própria humanidade, as suas instituições e a viabilidade da sua reprodução.

e) Insaciável, saudoso e faminto do amor que experimentou nos leitos das meretrizes que assiduamente frequentava, André, adolescente instável e presa de uma psique tumultuada, acaba encontrando em Ana, sua irmã mais nova, o combustível do seu desejo sexual e de suas afeições puramente físicas.

18. Avalie as seguintes afirmativas a respeito de Lavoura Arcaica:

1. O pai determina que o filho mais velho, Pedro, vá em busca do filho pródigo na cidade. Pedro encontra o irmão em um quarto de pensão marcado pela sordidez.

2 O retorno de André ao lar, depois dos muitos apelos do irmão mais velho, traz finalmente a paz, pondo fim aos aspectos doentios e perturbações do relacionamento entre os membros da família.

3. O caçula, Lula, também pretende, a exemplo de André, abandonar a fazenda em busca de um mundo que promete inúmeras possibilidades de prazeres e de um vida mais livre (o drama do êxodo rural).

4. A figura cigana, sensual e mediterrânea da irmã Ana, posteriormente será o pivô da ruína do clã .

Estão corretas apenas as afirmações:

a) 1,2 e 3.

b) 2,3 e 4.

c) 1,3 e 4.

d) 1,2 e 4.

e) 3 e 4. 11.

19. A imagem da família sentada à mesa repartindo o pão em Lavoura Arcaica, remete a um dos mais fortes símbolos do Cristianismo que é:

a) a união e a solidariedade;

b) a instituição do sacramento da Eucaristia;

c) o combate à fome através das obras de caridade;

d) o programa “fome zero” do governo Lula;

e) a unidade da Igreja Católica Apostólica Romana;

20. Texto extraído de Lavoura arcaica, de Raduan Nassar: “Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sítio lá no bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho”. A imagem dos pés refrescando-se na terra úmida, presente no texto, remetem à ideia de que:

a) O personagem busca uma forma de representar seu apego à terra e às tradições rurais da família.

b) O personagem procura um meio de conter e extravasar os impulsos da adolescência e seus desejos pela irmã.

c) Há uma simbologia no comportamento de Ana que representa sua transgressão aos bons costumes.

d) Como no banho, o mergulho na natureza, tem a função de purificar e regenerar.

e) O ato de descarregar a energia na terra, como o banho frio para os antigos cristãos, tem a função de espantar as tentações da carne.

21. Avalie as afirmações a seguir sobre a obra Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.

1. A narrativa de Nassar ao fazer referência ao Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos com a citação: “Vos serão interditadas: vossas mães, vossas filhas, vossas irmãs…” define o tempo cronológico da ação, indica com exatidão o espaço onde se localiza a família, sua descendência hebraica e sua religião.

2. As citações bíblicas feitas durante os sermões impostos pelo pai, colocam em dúvida a crença da família, na verdade, além das referências ao Alcorão, Lavoura arcaica apresenta uma grande intertextualidade com temas e arquétipos do velho testamento.

3. A figura do pai, os lugares em que cada membro da família se senta à mesa, o trabalho na fazenda, a divisão do pão e os sermões dados aos filhos como forma moralizadora são alguns pontos de ligação com os textos judaico e islâmico.

4. A transgressão às regras sociais e às convenções, a paixão de André pela irmã Ana e a busca de respostas fora da família, o retorno do “filho pródigo” são temas de destaque na obra repleta de simbologia e arquétipos, o que provoca uma ruptura com a narrativa tradicional. Estão corretas apenas as afirmações

a) 1, 2 e 3.

b) 1, 3 e 4.

c) 2, 3 e 4.

d) 1, 2 e 4.

e) 3 e 4.

(PUC-SP) As questões 22 e 23 referem-se ao capítulo 23 da obra Lavoura arcaica de Raduan Nassar. Pedro cumprira sua missão me devolvendo ao seio da família; foi um longo percurso marcado por um duro recolhimento, os dois permanecemos trancados durante toda a viagem que realizamos juntos, e na qual, feito menino, me deixei conduzir por ele o tempo inteiro; era já noite quando chegamos, a fazenda dormia num silêncio recluso, a casa estava de luto, as luzes apagadas, salvo a clareira pálida no pátio dos fundos que se devia à expansão da luz da copa, pois a família se encontrava ainda em volta da mesa; entramos pela varanda da frente, e assim que meu irmão abriu a porta, o ruído de um garfo repousando no prato, seguido, embora abafado, de um murmúrio intenso, precedeu a expectativa angustiante que se instalou na casa inteira; me separei de Pedro ali mesmo na sala, entrando para o meu antigo quarto, enquanto ele, fazendo vibrar a cristaleira sob os passos, afundava no corredor em direção à copa, onde a família o aguardava; largado na beira de minha velha cama, a bagagem jogada entre meus pés, fui envolvido pelos cheiros caseiros que eu respirava, me despertando imagens torpes, mutiladas, me fazendo cair logo em confusos pensamentos; na sucessão de tantas ideias, me passava também pela cabeça o esforço de Pedro para esconder de todos a sua dor, disfarçada quem sabe pelo cansaço da viagem; ele não poderia deixar transparecer, ao anunciar a minha volta, que era um possuído que retornava com ele a casa; ele precisaria dissimular muito para não estragar a alegria e o júbilo nos olhos de meu pai, que dali a pouco haveria de proclamar para os que o cercavam que “aquele que tinha se perdido tornou ao lar, aquele pelo qual chorávamos nos foi devolvido”. NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

22. Diante dos fatos que narra e dos personagens envolvidos neste episódio, o narrador

a) procura ser imparcial, apenas observando o que se passa com os dois irmãos.

b) apesar de se preocupar com o que se passa com os dois irmãos, permanece imparcial diante dos fatos

c) participa da narrativa, uma vez que é o personagem que traz de volta para casa o irmão que tinha se perdido.

d) participa da narrativa, uma vez que é o próprio protagonista que regressa ao lar pelas mãos do irmão.

e) apesar de ser o próprio protagonista que regressa ao lar pelas mãos do irmão, permanece impassível diante dos fatos que narra.

23. O trecho “… os dois permanecemos trancados durante toda a viagem que realizamos juntos,…” apresenta, quanto à concordância verbal,

a) respectivamente, silepse ou concordância ideológica e indicação do sujeito pela flexão verbal.

b) em ambos os casos, indicação do sujeito apenas pela flexão verbal.

c) em ambos os casos, concordância ideológica ou silepse.

d) respectivamente, concordância ideológica e silepse.

e) respectivamente, indicação do sujeito pela flexão verbal e silepse ou concordância ideológica

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (UNICAMP) “Conversa de Bois”, de Guimarães Rosa, narra acontecimentos de uma viagem no carro-de-bois, em que estão o carreador Agenor Soronho, Tiãozinho e o corpo de seu pai morto. O trecho abaixo reproduz um dos diálogos entre os bois:

– Que é que está fazendo o carro?

– O carro vem andando, sempre atrás de nós.

– Onde está o homem-do-pau-comprido?

– O homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta está trepado no chifre do carro…

– E o bezerro-de-homem-que-caminha-sempre-na-frente-dos-bois?

– O bezerro-de-homem-que-caminha-adiante vai caminhando devagar… Ele está babando água dos olhos… (“Conversa de Bois”, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, p. 317.)

a) Explique o sentido das expressões “bezerro-de-homem” e “babando água dos olhos”. Relacione-as com o enredo.

b) Explique a expressão “homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta”. Que característica do carreador Agenor Soronho ela busca evidenciar?

RESPOSTAS:

a)Em “Conversa de bois” de Guimarães Rosa, a expressão “bezerro-de-homem” refere-se a Tiãozinho, que é ainda uma criança com quem os bois se solidarizam. A expressão “babando-água-nos-olhos” remete ao choro

do menino. Tiãozinho chora devido à tristeza causada pela morte recente do pai. Sofre ainda pela vergonha que sente diante do comportamento da mãe, que mantinha um relacionamento amoroso com Agenor Soronho

enquanto o marido estava acamado, e pelos maus-tratos a que é submetido por Agenor.

b)A expressão “homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta” utilizada na conversa dos bois remete a Agenor, que leva consigo um pedaço de madeira com que os fustiga e cuja pontada dolorosa faz lembrar a picada de um marimbondo. Essa imagem evidencia a violência e a exploração cruel do carreador Agenor, tanto em relação ao menino Tiãozinho, quanto em relação aos bois, que assumem a voz direta no trecho citado.

2. (UEL) Considere a citação retirada do conto A hora e vez de Augusto Matraga a seguir.

Sou um desgraçado, mãe Quitéria, mas o meu dia há-de chegar! (ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.387.)

Considere, agora, que esse enunciado fosse redigido da seguinte maneira:

O meu dia há-de chegar, mas sou um desgraçado, mãe Quitéria!

Explique como os sentidos são diferentes em cada um dos enunciados e qual é o papel desempenhado ela conjunção “mas” na construção desses sentidos.

RESPOSTA:

A conjunção adversativa “mas” desempenha papel fundamental na construção dos sentidos dos dois enunciados.Como se sabe, essa conjunção une proposições de sentidos contrários, adversos. Assim, se a primeira proposição tem sentido positivo, a segunda terá sentido negativo e vice-versa. Com isso, a utilização do “mas” nos enunciados cria sentidos muito distintos. Na primeira proposição (“Sou um desgraçado, mãe Quitéria, mas o meu dia há-de chegar!”), a primeira ideia tem valor negativo, e a segunda, positivo. Com isso, cria-se no enunciado o sentido de um futuro melhor do que o presente; uma expectativa positiva em relação à vida. Na segunda proposição (“O meu dia há-de chegar, mas sou um desgraçado, mãe Quitéria!”), o sentido é inverso: a primeira ideia tem valor positivo, e a segunda, negativo. Dessa forma, mesmo com um futuro possivelmente melhor do que o presente, a situação negativa presente é reiterada e prevalece. Toda essa criação discursiva só foi possível pela utilização da conjunção adversativa e pela inversão das proposições. Como se percebe, o uso do “mas” foi essencial para a criação dos efeitos de sentidos nos enunciados.

3. (FUVEST) Em “São Marcos”, conto de Sagarana há um personagem vítima do feitiço executado por João Mangolô: a) Qual foi o ato feito por Mangolô para atingir o personagem? b) Que consequência provocou o ato?

RESPOSTAS:

a) Mangolô vendou os olhos de Izé num retrato e isso cegou o médico momentaneamente.
b) A potencialização dos demais sentidos e a crença no poder das palavras (a oração de São Marcos).

4. (UNICAMP/SP) Leia a seguinte passagem de “A hora e a vez de Augusto Matraga”:

“O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, não trabalhando um nada e vivendo no estadão. Mas, ele, tinham-no visto mourejar até dentro da noite de Deus, quando havia luar claro.
Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda nenhuma e nem nenhuma arma para caçar; e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o terço ou os meses dos santos. Mas fugia às léguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de música que escuma tristezas no coração.”

João Guimarães Rosa, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, em Sagarana. Rio de Janeiro:
Ed. Nova Fronteira, 1984, p.359.

a) Identifique o casal que vive junto com o protagonista da narrativa.

b) Explique o comportamento do protagonista no trecho acima, confrontando-o com sua trajetória de vida.

c) O que há de contraditório no descanso dominical a que o narrador se refere?

RESPOSTAS: a) Os negros mencionados na cena transcrita são: a mãe Quitéria e o pai Serapião. Ambos cuidam de Nhô Augusto depois de tê-lo recolhido no despenhadeiro em que se lançou para não ser morto de vez por seus ex-capangas, que passaram a trabalhar para o Major Consilva, em troca de melhor paga. Em reconhecimento pelos cuidados e pela dedicação de seus protetores (reconhecidos como “pais” do protagonista), Nhô Augusto leva-os para morar com ele no povoado do Tombador, onde se situa a única propriedade (bastante pobre) que lhe restou. Nota-se uma ironia no fato de a personagem, racista e preconceituosa durante toda a vida, ter sido salva por um casal de negros ex-escravos. b) O comportamento presente corresponde a uma segunda etapa na trajetória de vida de Nhô Augusto, em que ele busca purgar os excessos e culpas da vida devassa, marcada de abusos e injustiças para com os outros. Depois de salvo por mãe Quitéria, Matraga decide abandonar a vida boêmia do passado e dedicar-se ao trabalho, penitenciando-se pelos erros e vícios anteriores. O comportamento atual contrapõe-se às ações anteriores, marcadas pela violência, pela maldade e pelos preconceitos.

c) A contradição se expressa no fato de que a forma de descanso do protagonista se faz por meio da ação contínua de trabalhos pesados e de orações. O descanso dominical, que deveria marcar uma diferença em relação aos dias da semana pela meditação, pelo tempo dedicado ao espírito e às orações, nesse caso, não difere das atividades diárias, já que é exercido pela ação física constante. Em outras palavras, o descanso não é usufruído enquanto paz espiritual, mas sim enquanto ação e esforço físico.


5. (UEL) Considere o trecho do conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa.

– Desonrado, desmerecido, marcado a ferro feito rês, mãe Quitéria, e assim tão mole, tão sem homência, será que eu posso mesmo entrar no céu?!… (ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.385.)

a) Explique o processo de criação da palavra “homência” e os sentidos que derivam da criação do termo, considerando a situação criada no conto.

b) Discorra sobre como esse uso particular da língua constitui uma estética da criação em Guimarães Rosa.

RESPOSTAS:

a) O lexema “homência” é criado por neologismo, um processo de derivação. Segundo o Houaiss, o neologismo é “1. o emprego de palavras novas, derivadas ou formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não; 2. aatribuição de novos sentidos a palavras já existentes na língua”. A palavra em questão não está dicionarizada e é derivada a partir do lexema “homem”. Contudo, seu sentido vai muito além daquele expresso pela palavra homem. Como não existe sinonímia perfeita, a criação do novo termofaz aparecer novos sentidos para o termo derivado. Para se apreender esses novos sentidos, faz-se necessário analisar a ambiência discursiva na qual surge o neologismo. Em outras palavras, é preciso considerar que ossentidos nascem a partir das relações ou associações entre os signos que constituem o texto. Dessa forma, os sentidos da palavra “homência” opõem-se a “desonrado”, “desmerecido”, “marcado a ferro feito rês”. Assim, o lexema “homência”, no âmbito do fragmento apontado, aproxima-se semanticamente de “pessoa honrada, que se destaca pelo mérito de suas ações e que não se deixa submeter ao outro”.

b) Uma das características mais marcantes em Guimarães Rosa é a utilização da linguagem. Rosa não se submete à padronização linguística estabelecida pela Gramática Normativa. Em relação ao léxico, ele incorpora em seus contos marcas da linguagem regional, cria novos termos e recria novos sentidos para palavras já existentes naLíngua Portuguesa. Ao criar o termo “homência”, no fragmento anterior, Rosa coloca o leitor em uma postura ativa diante do texto, já que exige dele a reconstrução dos sentidos do neologismo. Com isso, para aferir o sentido de “homência”, será preciso resgatar, ao longo da narrativa, a imagem do homem sertanejo, que está profundamente ligado ao sertão. Assim, Rosa, ao criar a palavra “homência”, nesse fragmento, faz surgir um homem em conflito consigo mesmo, um homem cindido, caracterizado por dois mundos: o divino e o mundano. Dessa antítese, surge  um homem fortemente marcado pela religiosidade, pela conduta moral, um homem modalizado por perturbações interiores (em relação à religião – no âmbito do fragmento). Rosa mostra, pois, um homem angustiado, marcado por preocupações metafísicas. Com isso, as questões regionais assumem proporções universais. Como diria Rosa, “o sertão é dentro da gente”. Rosa, opondo-se àquela literatura que via o sertanejo de maneira preconceituosa, valoriza a imagem do homem sertanejo.

6. (FUVEST) Visto em seu conjunto, o universo de Sagarana deixa a impressão de se organizar em suas relações de modo racional a ponto de se poder prever causas e consequências dos acontecimentos; ou, pelo contrário, se organiza segundo leis imprevisíveis e surpreendentes, deixando a impressão de ser regido por elementos providenciais que interferem nos acontecimentos. a) Afinal são leis previsíveis ou imprevisíveis que regem esse universo? b) Seja qual for sua resposta, cite um exemplo para mostrar a procedência de sua resposta.

RESPOSTAS:

a) Ambas as leis aparecem no contexto de “Sagarana”; físicas e previsíveis no regionalismo da obra de G. Rosa. Imponderáveis e imprevisíveis na magia e ficção da literatura.

b) Previsível é a violência observada em “A hora e a vez de Augusto Matraga” e o imprevisível ocorre na forma como este personagem busca redimir-se de seus crimes.

7. (UNICAMP) Leia a seguinte passagem de A hora e a vez de Augusto Matraga:

O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, não trabalhando um nada e vivendo no estadão. Mas, ele, tinham-no visto mourejar até dentro da noite de Deus, quando havia luar claro.
Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda nenhuma e nem nenhuma arma para caçar; e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o terço ou os meses dos santos. Mas fugia às léguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de música que escuma tristezas no coração.
(João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1984, p.359.)

a) Identifique o casal que vive junto com o protagonista da narrativa.

b) Explique o comportamento do protagonista no trecho acima, confrontando-o com sua trajetória de vida.

c) O que há de contraditório no descanso dominical a que o narrador se refere?

RESPOSTAS:

a) O casal é formado por Quitéria e Serapião.

b) Matraga assume uma posição de penitente, como que buscando, no trabalho e na privação, uma forma de remissão de seus atos passados e, assim, alcançar sua almejada salvação. Nesse fato, está contida a ideia de punir-se o corpo para salvar-se a alma.

c) A contradição está no fato de, no descanso dominical, Matraga passá-lo “batendo mato, o dia inteiro, sem sossego”, isto é, sem efetivamente descansar.

8. (PUC-SP) Em cima das rapaduras, o defunto. Com os balanços, ele havia rolado para fora do esquife, e estava espichado, horrendo. O lenço de amarrar o queixo, atado no alto da cabeça, não tinha valido de nada: da boca, dessorava um mingau pardo, que ia babujando e empestando tudo. E um ror de moscas, encantadas com o carregamento duplamente precioso, tinham vindo também.

O trecho acima integra um dos contos de Sagarana, obra de João Guimarães Rosa, publicada em 1946.

Considerando o trecho indicado podemos afirmar que se trata de

a) “Conversa de Bois”, que relata a viagem de uma comitiva em que os bois falam entre si, tramam o destino dos humanos, e e acompanhada por uma irara, curiosa dos acontecimentos da jornada.

b) “O Burrinho Pedrez” que conta um episodio de catástrofes em que, em sua maioria, boiada e vaqueiros se afogam nas aguas tempestuosas de um rio, ao tentarem fazer a sua travessia.

c) “A Hora e a vez de Augusto Matraga”, que narra as vicissitudes de um fazendeiro valentão, vitima de um atentado que, apos, marcado com ferro em brasa, e lançado num despenhadeiro.

d) “Duelo”, cuja narrativa revela a perseguição mutua de dois homens com intenção assassina para a vingança de um crime passional.

9. (UFPR) Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa:

Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.

– Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!… É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)

O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada.

a) A religiosidade cristã católica rege as decisões humanas e transforma os homens e a natureza a partir da ação direta de Deus.

b) A ausência de aliterações e a economia de adjetivos são recursos utilizados para representar a aridez da natureza.

c) A descrição pormenorizada do espaço físico visa a excluir a dimensão psicológica e mística da narrativa, para fortalecer a feição pitoresca da região.

d) A descrição do meio físico é mediada pela visão do narrador, que apresenta a natureza como elemento tão reversível quanto a condição humana.

e) São narrados duelos que se travam entre o meio e o homem e que são vencidos apenas pelo uso da força física e da valentia.

10. (PUC-PR) Na visão de mundo de Guimarães Rosa, o bem e o mal aparecem relativizados, e o maniqueísmo não prevalece na constituição de suas personagens. Identifique, nos exemplos fornecidos, aquele que é FALSO em relação à constituição das personagens de “Sagarana”: a) Em “Duelo”, o enfoque dos encontros e desencontros entre Cassiano Gomes e Turíbio Todo faz questionar a possibilidade de identificar vítimas ou culpados, heróis ou vilões. b) Em “A hora e vez de Augusto Matraga”, as transformações sucessivas do protagonista, de facínora a devoto, resultam no equilíbrio final, revelado plenamente na hora de sua morte. c) Em “São Marcos”, a cegueira do narrador pode ser interpretada como reação do feiticeiro Mangolô a suas provocações atrevidas e preconceituosas.

d) Em “Conversa de bois”, há consenso entre os bois, que consideram os seres humanos como seres superiores a eles, por reunirem em suas personalidades características contraditórias.


e) Em “Sarapalha”, a desavença final entre os primos Argemiro e Ribeiro resulta de um desejo reprimido por um deles durante muitos anos; Primo Argemiro acreditava merecer o perdão, mas Primo Ribeiro não o perdoou.

11. (UNEMAT)  Considerando o enredo do conto “Conversa de bois” do livro Sagarana, é pode-se afirmar.

a) Tiãozinho, o guia mirim dos animais, é o único que compreende a conversa entre

os bois.

b) Não há poesia, a linguagem narrativa é objetiva e direta e o trabalho de construção das personagens é feito dentro da concepção do Realismo.

c) Os bois fazem justiça, puxando um carro numa viagem que começa com o transporte de uma carga de rapadura e termina com três defuntos.

d) Ao longo da viagem, nada de interessante acontece que mude a trajetória da narrativa.

e) O defunto é tio da mãe de Tiãozinho e não seu pai como se acreditava.

 12. (PUC-SP) Do conto “A Volta do Marido Pródigo”, que integra a obra Sagarana, de João Guimarães Rosa, não é correto afirmar que

a) há, no protagonista, uma espécie de heroísmo gaiato, correlacionado às espertezas das histórias de sapos utilizadas na narrativa.

b) a personagem principal é Lalino Salãtiel, mulatinho descarado, malandro, enganador, mas simpático. Sabe como poucos contar uma boa história e age na vida como se estivesse em contínua representação.

c) traz no nome uma alusão bíblica que se concretiza nas ações de abandonar a família, gastar o pouco que tem com bandalheiras, retornar para casa fragilizado e ser de novo aceito.

d) mostra total alheamento quanto a situações políticas e de disputas de poder, uma vez que os personagens, que atuam na história, são gente do povo e operários da construção de estradas.

13. (CPS) Leia os primeiros parágrafos do conto “Sarapalha”, de Guimarães Rosa. Tapera do Arraial. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e o cemitério; e a rua, sozinha e comprida, que agora não é mais uma estrada, de tanto que o mato entupiu. Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para o arroz. E o lugar já esteve nos mapas, muito antes da malária chegar. Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou caminho, entrou pela boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão [febre] da brava – da “tremedeira que não desamontava” – matando muita gente. – Talvez que até aqui ela não chegue… Deus há-de… Mas chegou; nem dilatou para vir. E foi um ano de tristezas. O escritor serviu-se da descrição com o objetivo de a) apresentar as personagens do povoado sobre as quais a narrativa irá se desenrolar. b) indicar geograficamente os rios que levam tanto riquezas quanto doenças a algumas regiões. c) denunciar o descaso e o despreparo das autoridades para lidar com epidemias.

d) transportar o leitor para o cenário da história, alterado pela chegada da malária.


e) demonstrar a religiosidade do povo, última saída diante das adversidades.

14. (PUC-PR) Em relação a SAGARANA, de João Guimarães Rosa, é correto afirmar: I – O título foi escolhido para definir o caráter épico de algumas histórias (O BURRINHO PEDRÊS, A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO, DUELO E A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA), bem como o caráter de narrativas que descrevem aventuras interiores (SÃO MARCOS E SARAPALHA). II – O principal obstáculo e, ao mesmo tempo, a maior riqueza dessa obra é a linguagem, porque adota a oralidade do sertanejo e a literariedade do Romance de 30, regionalizando o vocabulário. III – As descrições são numerosas nos contos de SAGARANA e demonstram o conhecimento e a segurança do escritor ao falar da região sertaneja de Minas Gerais. IV – Quanto ao tempo das narrativas, há dois grupos predominantes no livro: as histórias que transcorrem no espaço máximo de um dia ( BURRINHO PEDRÊS, SARAPALHA, CONVERSA DE BOIS) e as que apresentam um tempo distendido (A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO, MINHA GENTE E DUELO). A alternativa correta é: a) apenas III e IV. b) apenas I, II e III. c) I, II, III e IV.

d) apenas I, III e IV.


e) apenas II, III e IV.

15. (UFPR) “E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem. E que o capiauzinho analfabeto Matutino Solferino Roberto da Silva existe, e, quando chega na bitácula, impõe: – ‘Me dá dez ‘tões de biscoito de talxóts!’ – porque deseja mercadoria fina e pensa que ‘caixote’ pelo jeitão plebeu deve ser termo deturpado. E que a gíria pede sempre roupa nova e escova. E que o meu parceiro Josué Cornetas conseguiu ampliar um tanto os limites mentais de um sujeito só bi-dimensional, por meio de ensinar-lhe estes nomes: intimismo, paralaxe, palimpsesto, sinclinal, palingenesia, prosopopese, amnemosínia, subliminal…” (João Guimarães Rosa, fragmento do conto “São Marcos”, de SAGARANA.) Considerando a visão de mundo e a linguagem de autores representativos da ficção brasileira do século XX, escolha as alternativas corretas: (01) A obra de Guimarães Rosa enfatiza a separação entre a cultura popular, que tende a conservar a língua, e a cultura erudita, entendida como principal fonte da renovação constante do vocabulário. (02) Os enredos secundários e a citação de versos populares, que aparecem com frequência nos contos de SAGARANA, têm função ilustrativa, criando apenas uma espécie de pano de fundo para a estória narrada, e poderiam ser suprimidos sem qualquer prejuízo para a compreensão. (04) A ênfase na experimentação linguística e na metalinguagem leva Guimarães Rosa a dispensar pouca atenção ao enredo, especialmente nos contos de SAGARANA, que praticamente não narram história alguma. (08) A obra de Guimarães Rosa realiza em grande medida algumas reivindicações de autores significativos do Movimento Modernista, que propuseram o direito permanente à pesquisa estética e a estabilização de uma consciência criadora nacional. (16) Como acontece em SAGARANA, outras obras da primeira metade do século realizaram a aproximação entre linguagem oral e linguagem escrita. São exemplos SÃO BERNARDO, ANGÚSTIA e VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos.

SOMA ( ) 08 + 16 = 24

16. (UNEMAT)  Nos nove contos que compõem o livro Sagarana, Guimarães Rosa realiza um inventário linguístico do sertão e da língua portuguesa, recriando a linguagem, modificando e inventando palavras. Os elementos da natureza e o tratamento da linguagem são recursos estéticos importantes por contribuírem para a formulação das personagens, de modo a adequá-las aos ambientes onde vivem. Considerando o conto “Sarapalha”, assinale a alternativa correta a respeito da coincidência entre a descrição da natureza e a crise de febre de Primo Argemiro.

a) “… A primeira vez que Argemiro dos Anjos viu Luisinha, foi numa manhã de dia-defesta-de-santo, quando o arraial se adornava com arcos de bambú e bandeirolas …”(p.137).

b) “Primo Argemiro olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Do colmado dos juncos, se estira o voo de uma garça, em direção à mata. Também, Primo Argemiro não pode olhar muito: ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos, que doem e choram, por si sós, longo tempo “(p.120).

c) “Primo Argemiro reúne suas forças. E anda. Transpõe o curral, por entre os pés de milho. Os passopretos, ao verem um espantalho caminhando, debandam, bulhentos” (p.135).

d) “Olha, Primo, se a gente um dia puder sarar, eu ainda hei de plantar uma roça, no lançante que trepa para o espigão” (p.122).

e) “As palmas do coqueiro estão agora paradas de todo. As galinhas foram pastar as folhas baixas do melão-de-são-caetano. Nem resto de brumas na baixada. O sol caminhou muito” (p.130).

17. (PUC-SP) O sol cresce, amadurece. Mas eles estão esperando é a febre, mais o tremor. Primo Ribeiro parece um defunto – sarro de amarelo na cara chupada, olhos sujos, desbrilhados, e as mãos pendulando, compondo o equilíbrio, sempre a escorar dos lados a bambeza do corpo. Mãos moles, sem firmeza, que deixam cair tudo quanto ele queira pegar. Baba, baba, cospe, cospe, vai fincando o queixo no peito; e trouxe cá para fora a caixinha de remédio, a cornicha de pó e mais o cobertor.

O trecho acima integra o conto Sarapalha e faz parte da obra Sagarana de João Guimarães Rosa. Dessa narrativa como um todo, é errado afirmar que

a) apresenta duas narrativas, uma em tempo presente e outra, em tempo passado, a qual assume dimensão mítica na cabeça delirante de Primo Ribeiro.

b) enfoca a solidão, o abandono e a decadência de duas personagens acometidas de maleita e que passam os dias em diálogo sobre suas condições físicas e sentimentais.

c) gera um conflito entre dois primos, quando um deles revela ter gostado muito de Luísa, mulher do outro, que o abandonara por um boiadeiro.

d) usa predominantemente discurso indireto livre, que faz aflorar o pensamento íntimo da personagem e despreza o diálogo objetivo e direto por sua incapacidade de interlocução.

18. (FAC. ALBERT EINSTEIN ) MAS… Houve um pequeno engano, um

contratempo de última hora, que veio

pôr dois bons sujeitos, pacatíssimos e

pacíficos, num jogo dos demônios, numa

comprida complicação.

O trecho acima faz parte do conto “Duelo”, uma das narrativas de Sagarana, de João Guimarães Rosa. Essa narrativa, como um todo, apresenta

a) duas histórias de vingança que se entrelaçam, ou seja, um marido buscando o amante da esposa e um homem buscando o assassino do irmão.   

b) uma trama protagonizada por uma mulher de olhos bonitos, sempre grandes, de cabra tonta, que se envolve com um pistoleiro que acaba sendo morto por ela.

c) as peripécias vividas por um capiau que se torna o agente de um crime contra seu compadre e amigo, Cassiano Gomes, por desavenças de traição amorosa.

d) cenas de adultério praticadas por dona Silivânia, no mais doce, dado e descuidoso dos idílios fraudulentos, com o amante Turíbio Todo, o que provoca tragédia entre seus pretendentes.

19. (PUCCAMP) Reflita sobre as seguintes afirmações: I. Tal como ocorre nos demais contos de SAGARANA, João Guimarães Rosa centraliza neste a prática popular da fé cristã, encarnada aqui num Augusto Matraga renascido, que viverá o resto de sua vida no trabalho humilde e penitente, para além do heroísmo e da violência. II. Neste conto, como em todos de SAGARANA, a linguagem do autor promove uma autêntica fusão entre o que é abstrato e o que é concreto, tal como aqui ocorre na fala do padre, em que os valores religiosos se enraízam no cotidiano sertanejo. III. A “hora e vez” de que fala o padre vai-se concretizar, neste conto, num ato de fé e de bravura do protagonista contra um inimigo poderoso, o que lembra o clímax de dois outros contos do livro: “São Marcos” e “Corpo fechado”. É correto afirmar que a) apenas II é verdadeira. b) apenas III é verdadeira. c) apenas I e III são verdadeiras.

d) apenas II e III são verdadeiras.


e) I, II e III são verdadeiras.

20. (FUVEST) João Guimarães Rosa, em Sagarana, permite ao leitor observar que: a) explora o folclórico do sertão.

b) em episódios muitas vezes palpitantes surpreende a realidade nos mais leves pormenores e trabalha a linguagem com esmero.

c) limita-se ao quadro do regionalismo brasileiro. d) é muito sutil na apresentação do cotidiano banal do jagunço.

e) é intimista hermético.

21. (PUC) Além do coloquialismo, comum ao diálogo, a linguagem de Quim e de Nhô Augusto caracteriza também os habitantes da região onde transcorre a história, conferindo-lhe veracidade. Suponha que a situação do Recadeiro seja outra: ele vive na cidade e é um homem letrado. Aponte a alternativa caracterizadora da modalidade de língua que seria utilizada pela personagem nas condições acima propostas: a) Levanta e veste a roupa, meu patrão senhor Augusto, que eu tenho um novidade meia ruim, para lhe contar. b) Levante e veste a roupa, meu patrão senhor Augusto, que eu tenho uma novidade meia ruim, para  lhe contar. c) Levante e vista a roupa, meu patrão senhor Augusto, que eu tenho uma novidade meia ruim, para lhe contar.

d) Levante e vista a roupa, meu patrão senhor Augusto, que eu tenho uma novidade meio ruim, para lhe contar.


e) Levanta e veste a roupa, meu patrão Senhor Augusto, que eu tenho uma novidade meio ruim, para lhe contar.

22. (FAAP) A autora do texto nasceu na Ucrânia. Vem para o Brasil no mesmo ano de nascimento, fixando residência no Rio de Janeiro. Escreveu todos os romances das alternativas a seguir, exceto: a) “Perto do Coração Selvagem” b) “O Lustre” c) “A Maçã no Escuro” d) “Laços de Família”

e) “Sagarana”

23. (PUC-SP) A obra Sagarana, de João Guimarães Rosa, foi publicada em 1946. Dela é correto afirmar que

a) se intitula Sagarana porque reúne novelas que se desenvolvem à maneira de gestas guerreiras e lendas e apresentam um tema comum que abarca a vida simples dos sertanejos da região baiana do São Francisco.

b) compõe-se de nove novelas, entre as quais se sobressai “Corpo Fechado”, história de valentões e espertos, de violência e de mágica, protagonizada por Manuel Fulô.

c) estrutura-se em doze narrativas, de sentido moral e embasadas na tradição mineira, entre as quais se destacam “Questões de família”, história meio autobiográfica, e “Uma história de amor”, expressivo drama passional.

d) apresenta narrativas apenas de teor místico religioso como a que se engendra em “A hora e a vez de Augusto Matraga”, cujo estilo destoa do conjunto das outras que compõem o livro.

24. (CEFET-PR) Sobre os contos de Sagarana é INCORRETO afirmar:

a) A volta do marido pródigo demonstra, no comportamento do protagonista, o poder criador da palavra, dimensão da linguagem tão apreciada por Guimarães Rosa.
b) Tanto em Corpo fechadoquanto em Minha genteo espaço é variado, deslocando-se a ação de um lugar para outro.
c) Em Duelo e Sarapalha figuram personagens femininas cujos traços não aparecem nas mulheres de outros contos.
d) O burrinho pedrês, Conversa de bois e São Marcos trabalham com a mudança de narradores.
e) A hora e a vez de Augusto Matraga não apresenta a inserção de casos ou narrativas secundárias.

25. (PUC-SP) O conto “São Marcos”, que integra a obra “Sagarana”, de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da realidade, em suas diferentes situações narrativas. No ponto culminante da narrativa, o narrador é afetado em sua capacidade sensorial, particularmente ligada a) ao olfato, que lhe permite perceber o “cheiro de musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre”, bem como o “odor maciço, doce ardido, do pau d’alho”.

b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza, como em “debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca”.

c) ao tato, que se ativa “com o vento soprando do sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha, sem explicar a razão”, além de lhe permitir sentir o “horror estranho que riçava-me a pele e os pelos”. d) ao paladar, ativado na mastigação “de uma folha cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira da estrada”, e usada, segundo a personagem, para “desinfetar”.

e) à audição, que lhe faculta “distinguir o guincho do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as corridas das preás dos pulos das cotias, todas brincando nas folhas secas”.

26. (FUVEST ) Sarapalha

– Ô calorão, Primo!… E que dor de cabeça excomungada!

– É um instantinho e passa… É só ter paciência….

– É… passa… passa… passa… Passam umas mulheres vestidas de cor de água, sem olhos na cara, para não terem de olhar a gente… Só ela é que não passa, Primo Argemiro!… E eu já estou cansado de procurar, no meio das outras… Não vem!… Foi, rio abaixo, com o outro… Foram p’r’os infernos!…

– Não foi, Primo Ribeiro. Não foram pelo rio… Foi trem-de-ferro que levou…

– Não foi no rio, eu sei… 1No rio ninguém não anda… 2Só a maleita é quem sobe e desce, olhando seus mosquitinhos e pondo neles a benção… Mas, na estória… Como é mesmo a estória, Primo? Como é?…

– O senhor bem que sabe, Primo… Tem paciência, que não é bom variar…

– Mas, a estória, Primo!… Como é?… Conta outra vez…

– 3O senhor já sabe as palavras todas de cabeça… “Foi o moço-bonito que apareceu, vestido com roupa de dia-de-domingo 4e com a viola enfeitada de fitas… E chamou a moça p’ra ir se fugir com ele”…

– Espera, Primo, elas estão passando… Vão umas atrás das outras… Cada qual mais bonita… Mas eu não quero, nenhuma!… Quero só ela… Luísa…

– Prima Luísa…

– Espera um pouco, deixa ver se eu vejo… Me ajuda, Primo! Me ajuda a ver…

– Não é nada, Primo Ribeiro… Deixa disso!

– Não é mesmo não…

– Pois então?!

– Conta o resto da estória!…

– …“Então, a moça, que não sabia que o moço-bonito era o capeta, 5ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa, e foi com ele na canoa, descendo o rio…” Guimarães Rosa, Sarapalha.

No texto de Sarapalha, constitui exemplo de personificação o seguinte trecho:

a) “No rio ninguém não anda” (ref. 1).

b) “só a maleita é quem sobe e desce” (ref. 2).   

c) “O senhor já sabe as palavras todas de cabeça” (ref. 3).

d) “e com a viola enfeitada de fitas” (ref. 4).

e) “ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa” (ref. 5).

27. (FUVEST) “Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo — Ó colossalidade! — na direção da altura?” João Guimarães Rosa, “São Marcos”, in Sagarana.

Neste excerto, o narrador do conto “São Marcos” expõe alguns traços de estilo que correspondem a características mais gerais dos textos do próprio autor, Guimarães Rosa. Entre tais características só NÃO se encontra

a) O gosto pela palavra rara.

b) O emprego de neologismos.

c) A conjugação de referências eruditas e populares.

d) A liberdade na exploração das potencialidades da língua portuguesa.

e) A busca da concisão e da previsibilidade da linguagem.

28. (PUC-SP)Assinale, nas alternativas a seguir, todas extraídas do conto “Sagarana”, o trecho que indica a presença de uma gradação.
a) “E as flores rubras, vermelhíssimas, ofuscantes, queimando os olhos, escaldantes de vermelhas, cor de guelras de traíra, de sangue de ave, de boca e bâton.”
b) “E, nas ilhas, penínsulas, istmos e cabos, multicrescem taboqueiras, tabuas, taquaris, taquaras, taquariúbas, taquaratingas e taquarassus.” c) “E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente, […] um ponto, um grão, um besouro, um anu, um urubu, um golpe de noite… E escureceu tudo.” d) “Vou. Pé por pé, pé por si… Peporpé, peporsi… Pepp or pepp, epp or see … Pêpe orpepe, heppe Orcy…”

e) “Debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca. E, ao longe, nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três qualidades de azul.”

29. (UEL/PR) O trabalho com a linguagem por meio da recriação de palavras e a descrição minuciosa da natureza, em especial da fauna e da flora, são uma constante na obra de João Guimarães Rosa. Esses elementos são recursos estéticos importantes que contribuem para integrar as personagens aos ambientes onde vivem, estabelecendo relações entre natureza e cultura. Em Sarapalha, conto inserido no livro Sagarana, de 1946, referências do mundo natural são usadas para representar o estado febril de Primo Argemiro.

Com base nessa afirmação, assinale a alternativa em que a descrição da natureza mostra o efeito da maleita sobre a personagem Argemiro.

a) “É aqui, perto do vau da Sarapalha: tem uma fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca de pedra seca, do tempo de escravos; um rego murcho, um moinho parado; um cedro alto, na frente da casa; e, lá dentro uma negra, já velha, que capina e cozinha o feijão.”

b) “Olha o rio, vendo a cerração se desmanchar. Do colmado dos juncos, se estira o voo de uma garça, em direção à mata. Também, não pode olhar muito: ficam-lhe muitas garças pulando, diante dos olhos, que doem e choram, por si sós, longo tempo.”

c) “É de-tardinha, quando as mutucas convidam as muriçocas de volta para casa, e quando o carapana mais o mossorongo cinzento se recolhem, que ele aparece, o pernilongo pampa, de pés de prata e asas de xadrez.”

d) “Estava olhando assim esquecido, para os olhos… olhos grandes escuros e meio de-quina, como os de uma suaçuapara… para a boquinha vermelha, como flor de suinã….”

e) “O cachorro está desatinado. Para. Vai, volta, olha, desolha… Não entende. Mas sabe que está acontecendo alguma coisa. Latindo, choramingando, chorando, quase uivando.”

30. (FUVEST) Considere as seguintes afirmações: I. Assim como Jacinto, de “A cidade e as serras”, passa por uma verdadeira “ressurreição” ao mergulhar na vida rural, também Augusto Matraga, de “Sagarana”, experimenta um “ressurgimento” associado a uma renovação da natureza. II. Também Fabiano, de “Vidas secas”, em geral pouco falante, experimenta uma transformação ligada à natureza: a chegada das chuvas e a possibilidade de renovação da vida tornam-no loquaz e desejoso de expressar-se. III. Já Iracema, quando debilitada pelo afastamento de Martim, não encontra na natureza forças capazes de salvar-lhe a vida. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e III, somente. d) II e III, somente.

e) I, II e III.

31. (UFMS) Sagarana, de João Guimarães Rosa, é uma coletânea composta por nove narrativas. Dentre as considerações abaixo a propósito dessa obra, assinale a(s) correta(s).

(001) É um livro com um sopro de renovação, que reinventa a linguagem usada na região da caatinga mineira por vaqueiros e sertanejos.

(002) Lalino Salãthiel, do conto “O burrinho pedrês”, é um personagem ladino, conhecido por ser mulherengo.

(004) O conto “Duelo” transpõe para o interior de Minas os confrontos entre pistoleiros que caracterizam os filmes de faroeste da indústria cultural hollywoodiana.

(008) A expressão “ileso gume das palavras”, do conto “São Marcos”, indica que o narrador defende uma literatura que procure a força expressiva original da linguagem.

(016) Riobaldo e Diadorim, personagens de um dos contos mais conhecidos do livro, mantêm um romance em meio a conflitos de jagunços com as forças policiais.

SOMA:  009 = 001+008

32. (FUVEST) E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:

– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida‐e‐volta resolvo a questão!…

– Exagero… – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.

– Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos, bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão mortas…

*peixe elétrico.

Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,

a) antecipa o destino funesto do exmilitar Cassiano Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.    

b) assemelha‐se ao caráter existencial da disputa entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela “Conversa de Bois”.

c) reúne as três figurações do protagonista da novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e Augusto Matraga.

d) representa o misticismo e a atmosfera de feitiçaria que envolve o preto velho João Mangalô e sua desavença com o narrador‐personagem José, em “São Marcos”.

e) constitui uma das cantigas de “O burrinho Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se sobressai à ignorância do burrinho.

33. (MACKENZIE) O esquema a seguir, retirado de “A Criação Literária”, do Prof. Massaud Moisés, refere-se a determinado gênero literário. Assinale a alternativa em que aparecem os nomes de duas obras que não podem ser encaixadas no gênero demonstrado.

a) SAGARANA e NOITE NA TAVERNA

b) GRANDE SERTÃO, VEREDAS e MEMÓRIAS DO CÁRCERE c) O QUINZE e FOGO MORTO d) CONTOS FLUMINENSES e A MORENINHA

e) BRÁS, BEXIGA E BARRA FUNDA e O CORTIÇO

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

34. (UEL) Em 1937, João Guimarães Rosa participou de concurso de contos promovido pela Editora José Olympio. A obra entregue intitulava-se “Contos”. Coube-lhe o segundo lugar. Em dezembro do mesmo ano, o autor cuidou de encaderná-la, intitulando-a “Sezão”, conforme originais presentes no Arquivo Guimarães Rosa, do Instituto de Estudos Brasileiros. Em 1945, reviu-a e atribuiu-lhe o nome definitivo: “Sagarana”. Sabendo-se que “sezão” significa “febre intermitente ou cíclica”, conclui-se que, em 1937, o nome da obra esteve diretamente vinculado ao seguinte conto: a) “A hora e a vez de Augusto Matraga”, pois o protagonista, depois da surra que leva dos empregados do Major Consilva, é acometido pela malária. b) “O burrinho pedrês”, posto que Sete-de-Ouros, depois da travessia do Córrego da Fome, foi acometido pela malária.

c) “Sarapalha”, visto que aí se depara o leitor com dois primos acometidos pela malária a ajustarem velhas contas.

d) “O burrinho pedrês”, porque Sete-de-Ouros vive numa fazenda na qual a malária acometeu os moradores.

e) “Sarapalha”, uma vez que aí se estabelece o diálogo de dois primos a rememorarem Luísa, morta em decorrência da malária.

35. (FUVEST) Ao dizer: “(…) promessa é questão de grande dívida de honra”, Olímpico junta, em uma só afirmação, a obrigação religiosa e o dever de honra. A personagem de “Sagarana” que, em suas ações finais, opera uma junção semelhante é a) Major Saulo, de “O burrinho pedrês”. b) Lalino, de “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”. c) Primo Ribeiro, de “Sarapalha”. d) João Mangolô, de “São Marcos”.

e) Augusto Matraga, de “A hora e vez de Augusto Matraga”.

36. (ITA) Indique a alternativa em que há erro quanto ao proposto: ‘A literatura brasileira tem assunto que se repete em obras diversas’: a) Vida na cidade: ‘Casa de Pensão’ e ‘Senhora’. b) Ciclo da cana-de-açúcar: ‘Usina’ e ‘Bangüê’.

c) Vida ligada ao cacau: ‘Sagarana’ e ‘A Bagaceira’.

d) Problemática social: ‘Os Sertões’ e ‘Canaã’.

e) O herói picaresco: ‘Memórias de um Sargento de Milícias’ e ‘O Grande Mentecapto’.

37. (FUVEST) Dentre os contos de “Sagarana” existe um em que o narrador sustenta um duelo literário com outro poeta, chamado Quem Será, e no qual se fazem várias considerações sobre a natureza da poesia. Numa metáfora do condicionamento do homem, resistente à aceitação do novo e diferente, o autor leva a personagem a passar por um período de cegueira. A partir daí a personagem descobre a mutilação dos sentidos, que agora se abrem a outras vertentes da realidade. Em qual dos contos a seguir se discute essa questão? a) “A hora e a vez de Augusto Matraga” b) “Duelo” c) “Conversa de Bois”

d) “São Marcos”


e) “Corpo fechado”

38. (UFPR) A respeito do livro “Sagarana”, de Guimarães Rosa, é correto afirmar: (01) Nos contos “Conversa de Bois” e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, a violência eclode como elemento que põe fim às situações de tensão narradas. (02) A obra de Guimarães Rosa partilha com o regionalismo romântico do século XIX a intenção programática de construir uma identidade nacional a partir da literatura. (04) Em vários dos contos de “Sagarana”, o autor denuncia a ignorância e a superstição do povo, males a que ele atribui a culpa pelo atraso em que vive o sertanejo no interior do país. (08) A fala dos personagens é escrita num registro linguístico que se mantém nos limites da norma culta, o que aproxima “Sagarana” a “Contos Novos”, de Mário de Andrade. (16) Neste livro de estreia de Guimarães Rosa, a viagem deixa de ser apenas um acontecimento a mais do enredo para representar um rito de iniciação, um estágio vital cumprido, simbologia também presente em obras posteriores do autor.

SOMA ( )  01 + 16 = 17

39. (PUC-PR) Considere a maneira como alguns autores brasileiros abordam em suas obras assuntos relacionados à religiosidade, à fé e às crenças populares e assinale a alternativa verdadeira: a) Machado de Assis, em “Dom Casmurro”, relata a súbita mudança de opinião religiosa da mãe de Bentinho, que a fez abrir mão da promessa de encaminhar o menino à vida religiosa. b) Em “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, as personagens que se apresentam como ciganas do Egito preveem um futuro tranquilo para o recém-nascido.

c) Em “Sagarana”, de Guimarães Rosa, várias personagens acreditam na força de entidades mágicas; são exemplos as experiências dos protagonistas de “São Marcos” e de “Corpo fechado”.

d) A maneira distante com que Adélia Prado observa a tradição católica resulta em uma visão impessoal em relação aos personagens e assuntos religiosos.

e) Em “Quase memória”, de Carlos Heitor Cony, o narrador guarda somente más lembranças dos padres com quem conviveu quando estudava no Seminário.

40. (UEL) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do período apresentado. O ………. da prosa torturada de ………. pode ser contrastado com a poesia ora lírica, ora épica, da ficção mágica desse mineiro que estreou com …………….. a) coloquialismo – Clarice Lispector – TUTAMÉIA

b) intimismo – Clarice Lispector – SAGARANA

c) intimismo – Graciliano Ramos – CLARISSA d) coloquialismo – Érico Veríssimo – O TEMPO E O VENTO

e) Romantismo – Graciliano Ramos – A CINZA DAS HORAS

41. (UFOP) Sobre a A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, assinale a alternativa incorreta:

a) Em A hora e a vez de Augusto Matraga, a natureza funciona como simples cenário onde se desenrolam as ações ou como instrumento da celebração ufanista das grandezas do Brasil. b) O conto narra a trajetória de um homem que trilha o penoso caminho da santidade, só atingida, de forma surpreendente, na hora de sua morte. c) Os sofrimentos por que passa Nhô Augusto após a surra dos capangas do Major Consilva, são considerados pelo protagonista uma amostra do inferno e uma oportunidade dada por Deus para que ele se dedique à salvação de sua alma. d) A alegria do protagonista no duelo final com Seu Joãozinho Bem-Bem resulta da realização do “martírio segundo sua índole”, ou seja, do auto sacrifício na forma de luta armada.

e) NDA

42. (PUC-SP)A respeito do conto “Sagarana” de João Guimarães Rosa, é INCORRETO afirmar que a) é um conto de linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da realidade, em suas diferentes situações narrativas.

b) refere as ações domingueiras do personagem narrador Izé, que se embrenha no mato, carregando uma espingarda a tiracolo com o firme propósito de caçar irerês, narcejas, jaburus e frangos-d’água.

c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatural, por obra de um feiticeiro, que produz cegueira temporária no protagonista e da qual ele se safa por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa e proibida. d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da cultura popular, das cantigas do sertão e que condensa e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.

e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se encontram gravados os nomes dos reis leoninos e onde se trava floral desafio entre o narrador e Quem será.

43. (UEPG) “A hora e vez de Augusto Matraga” é o texto que encerra “Sagarana” de Guimarães Rosa. Em sua estrutura narrativa destaca-se a insistência com que aparece o número três – símbolo que remete à plenitude, à mediação e à evolução. Fazem parte das várias situações que configuram a presença deste elemento: 01) Matraga vive três momentos distintos: em arraial do Murici, Tombador e arraial do Rala-Coco. 02) Matraga recebe em seu corpo a marca de gado do Major Consilva: um triângulo inscrito em uma circunferência. 04) No duelo entre Matraga e Joãozinho Bem-Bem, três jagunços morrem, ou quase, ou fingem, e outros três correm. 08) Dionóra ama Nhô Augusto por três anos.

16) na primeira parte da trama, nhô augusto vive com dionóra e a filha. na segunda, com um casal de negros (quitéria e serapião).
SOMA: 31

44. (PUC-SP) Segundo Antonio Candido, referindo-se à obra de Guimarães Rosa, ser jagunço, torna-se, além de uma condição normal no mundo-sertão, uma opção de comportamento, definindo um certo modo de ser naquele espaço. Daí a violência produzir resultados diferentes dos que esperamos na dimensão documentária e sociológica, — tornando-se, por exemplo, instrumento de redenção. — Assim sendo, o ato de violência que em A hora e vez de Augusto Matraga justifica tal afirmação é:

a) seguir a personagem uma trajetória de vida desregrada, junto às mulheres, ao jogo de truque e às caçadas. b) ser ferido e marcado a ferro, após ter sido abandonado pela mulher e por seus capangas. c) cumprir penitência através da reza, do trabalho e do auxílio aos outros para redenção de seus pecados. d) integrar o bando de Joãozinho-Bem-Bem e vingar-se dos inimigos, principalmente do Major Consilva.

e) reencontrar-se, em suas andanças, com Joãozinho-Bem-Bem, matá-lo e ser morto por ele.

45. (PUC-SP) O conto “Conversa de bois” integra a obra SAGARANA, de João Guimarães Rosa. De seu enredo como um todo, pode afirmar-se que
a) os animais justiceiros, puxando um carro, fazem uma viagem que começa com o transporte de uma carga de rapadura e um defunto e termina com dois. b) a viagem é tranquila e nenhum incidente ocorre ao longo da jornada, nem com os bois nem com os carreiros. c) os bois conversam entre si e são compreendidos apenas por Tiãozinho, guia mirim dos animais e que se torna cúmplice do episódio final da narrativa. d) a presença do mítico-lendário se dá na figura da irara, “tão séria e moça e graciosa, que se fosse mulher só se chamaria Risoleta” e que acompanha a viagem, escondida, até à cidade.

e) a linguagem narrativa é objetiva e direta e, no limite, desprovida de poesia e de sensações sonoras e coloridas.

46.(UNEMAT) Leia os excertos do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, da obra Sagarana, de Guimarães Rosa.

I. “E também no setor sul estalara, pouco antes, um mal entendido, de um sujeito com a correia desafivelada – lept!… lept!… -, com um outro pedindo espaço, para poder fazer sarilho com o pau.” (p.321)

II. “– Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!… – E a minha vez há de chegar… P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!…”(p.337)

III. “Um vento frio, no fim do calor do dia… Na orilha do atoleiro, a saracura fêmea gritou, pedindo três potes, três potes, três potes para apanhar água” (p.343)

IV. “Todos tinham muita pressa: os únicos que interromperam, por momentos, a viagem, foram os alegres tuins, os minúsculos tuins de cabeçinhas amarelas, que não levam nada a sério, e que choveram nos pés de mamão e fizeram recreio, aos pares, sem sustar o alarido – rrrl-rrril! Rrrl-rrril!…” (p.352-3)

V. “Uma tarde cruzou, em pleno chapadão, com um bode amarelo e preto, preso por uma corda e puxando, na ponta da corda, um cego, esguio e meio maluco.” (p.356)

Assinale a alternativa correta que contempla os fragmentos em que o autor faz uso da figura de linguagem denominada onomatopeia.

a) Apenas II, III e V

b) Apenas III, IV e V

c) Apenas I, III e IV

d) Apenas I, II e IV

e) Todas estão corretas.

47. (PUC-SP) João Guimarães Rosa escreveu “Sagarana” em 1946, obra composta de nove contos, entre os quais se destaca “O Burrinho Pedrês”. Leia o trecho que segue. Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros, churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chitados, vareiros, silveiros… E os tocos da testa do mocho macheado, e as armas antigas do boi cornalão… Deste trecho é correto afirmar que é marcadamente ritmado e sonoro. Esses efeitos se alcançam por causa

a) de uma possível métrica presente no trecho, caracterizada como redondilha menor, e da presença de aliterações.

b) da diversidade de tipos de bois e do jogo contrastivo de termos que designam essa diversidade. c) das medidas dos diferentes segmentos frásicos e pela dominante presença da redondilha maior. d) da enumeração caótica estabelecida no jogo adjetivo dos termos e pela rima interna na constituição dos pares vocabulares.

e) do jogo sonoro provocado pela dominância de vogais fechadas e pela presença de cadência de sons apenas longos e átonos.

48. (UFU) Marque a alternativa a seguir que NÃO se relaciona com o conto “Conversa de bois”, de Guimarães Rosa.
a) “Esta ausência de evolução individual é mais uma das causas da desorganicidade do romance […]. Coleção de figuras inexpressivas, todas elas passivas e acomodadas em face da inércia do meio em que vivem”. (Carlos Nelson Coutinho) b) “A parte documental encontra-se nas descrições, no registro dos costumes, na fidelidade à linguagem popular fixada através dos diálogos; a imaginação, na capacidade poética de animar artisticamente o real […]”. (Álvaro Lins) c) “[…] são gente simples – rústicos mas não folclóricos […]. Situados mágica, mística e misteriosamente entre o lógico e o alógico, em ambientes rústicos geográfica e historicamente localizados […]”. (Nascimento & Covizzi)

d) “A língua parece finalmente ter atingido o ideal da expressão literária regionalista. Densa, vigorosa, foi talhada no veio da linguagem popular e disciplinada dentro das tradições clássicas”. (Antonio Candido)

49. (FUVEST) Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa… — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego… Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim. João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana. Como exemplos da expressividade sonora presente neste excerto, podemos citar a onomatopeia, em “Chu-áa! Chu-áa…”, e a fusão de onomatopeia com aliteração, em:

a) “vestindo água”.

b)  “ruge o rio”.

c)  “poço doido”.

d)  “filho do fundo”.

 e)  “fora de hora”.

50. (UFU) Sobre o conto “Duelo”, de Guimarães Rosa, é correto afirmar que: a) O autor mescla em sua narrativa a narração de 3 pessoa, o discurso direto e o indireto. No discurso direto, o autor emprega a linguagem da gente sertaneja, como nesse exemplo: “Não é à toa, porém, que um cavalheiro, excluído das armas por causa de más válvulas e maus orifícios cardíacos, se extenua em ‘raids’ tão penosos, na trilha da guerra sem perdão”. b) o autor é portador de um grande poder de fabulação, um contador de casos que prende a atenção do leitor, sobretudo pelo recurso da oralidade de que lança mão em suas narrativas. Em “Duelo”, paralelamente à estória narrada, ele insere o caso do homem que fez pacto com o diabo para vencer o inimigo.

c) o autor, ao nomear lugares e personagens, vale-se de apelidos, corruptelas, distorções, cuja intenção é a de acompanhar a linguagem regionalista e/ou de alargar a caracterização dessas referências no imaginário do leitor, como se pode verificar nos nomes “Mosquito”, “Timpim”, “Turíbio Todo”, “Silivana”.


d) o autor conserva em seu estilo boas doses de ironia, conduzindo a narrativa para desfechos inesperados, como é o caso de Dona Silivana que, apesar de ter “grandes olhos bonitos, de cabra tonta”, arrependida da traição, salva o marido Turíbio Todo da tocaia de Cassiano Gomes.

51. (FUVEST) Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe: — E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear? — Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de idéia. — E, se me permite, qual é mesmo a sua graça? — Macabéa. — Maca — o quê? — Bea, foi ela obrigada a completar. — Me desculpe mas até parece doença, doença de pele. Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome ue nin uém tem mas arece ue deu certo — arou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor — pois como o senhor vê eu vinguei… pois é… — Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande divida de honra. Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado: — Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?

Da segunda vez em que se encontraram caia uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo.

(Clarice Lispector, A hora da estrela)

Ao dizer: “(..) promessa é questão de grande dívida de honra”, Olímpico junta, em urna só afirmação, a obrigação religiosa e o dever de honra. A personagem de Sagarana que, em suas ações finais, opera uma junção semelhante é:
A) Major Saulo, de O burrinho pedrês.
B) Lalino, de Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo.
C) Primo Ribeiro, de Sarapalha.
D) João Mangolô, de São Marcos.
E) Augusto Matraga, de A hora e vez de Augusto Matraga.

As questões 52 e 53 referem-se às obras A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa (19.4.6.), e A hora da estrela, de Clarice Lispector (19.7.7.).

52. (UFRN) Pode-se afirmar que o final das duas narrativas revela o que é sugerido em seus títulos. Nesse sentido, a morte das personagens aparece como

a) O acontecimento que resolve, pela ação de um indivíduo, o problema de uma coletividade em apuros.

b) O instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, reconhecem-se como fracassados.

c) O instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, vislumbram a felicidade.

d) O acontecimento que resolve o destino individual, sem maiores implicações na coletividade.

53. (UFRN) As duas obras representam a narrativa brasileira posterior ao Modernismo, no sentido de que já não se relacionam diretamente ao chamado “romance social” ou “romance do Nordeste”. Sobre essas obras, é correto afirmar que

a) O vocabulário sertanejo figura como modo de resistência das personagens aos valores urbanos.

b) Articulam, em universos distintos, elementos que tradicionalmente eram material do regionalismo.

c) O pitoresco regional surge principalmente como forma de resistência à vida moderna.

d) Produzem um novo regionalismo, mas as personagens ainda se caracterizam como tipos rurais.

54. (UFES – ES) “Alguém que ainda pelejava, já na penúltima ânsia e farto de beber água sem copo, pôde alcançar um objeto encordoado que se movia. E aquele um aconteceu ser Francolim Ferreira, e a coisa movente era o rabo do burrinho pedrês. E Sete-de-Ouros, sem susto a mais, sem hora marcada, soube que ali era o ponto de se entregar, confiado, ao querer da correnteza. Pouco fazia que esta o levasse de viagem, muito para baixo do lugar da travessia. Deixou-se, tomando tragos de ar. Não resistia.”

Guimarães Rosa – O burrinho pedrês

A característica regionalista presente no fragmento literário acima é

a) a exploração dos homens e dos animais pelos proprietários no meio rural.

b) o mal-estar gerado pela decadência social.

c) a observação minuciosa da fauna e da flora de uma região.

d) a integração dos homens e dos bichos a seu meio ambiente.

e) o respeito pelas superstições e sentimentos populares.

55. (UPF) Nos contos de Sagarana, Guimarães Rosa resgata, principalmente, o imaginário e a cultura: a) da elite nacional b) dos proletários urbanos c) dos povos indígenas d) dos malandros de subúrbio

e) da gente rústica do interior

56.(UFU/MG) Considere o fragmento abaixo e a obra “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa. Assinale a alternativa INCORRETA.

“E assim passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho desse jeito, sem tirar e nem por, sem mentira nenhuma, porque esta aqui é uma história inventada, e não é um caso acontecido, não senhor.”

a) Neste fragmento, há um diálogo do narrador com o leitor e também uma reflexão sobre a relação entre a literatura e o compromisso com a verdade.

b) Após o tempo mencionado no fragmento, Nhô Augusto encontra com a esposa Dinorá que contribuirá para que ele abandone o individualismo e o desejo de vingança.

c) A obra é uma narrativa em terceira pessoa, com narrador onisciente que penetra nos pensamentos de Augusto Matraga como se fosse sua consciência.

d) Na obra, a história desenvolve-se em vários espaços: Murici, onde Matraga vive como bandoleiro, Tombador, onde faz penitência e se arrepende da vida de perversidade; Rala Coco, onde encontra sua hora e vez, duelando com Joãozinho Bem-Bem.

57 .(UFMS) Em João Guimarães Rosa, a luta entre o bem e o mal surge em diversas narrativas. Em Sagarana, esse tema se entrelaça a outros temas em diversos contos. Com relação às narrativas dessa obra, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(001) Em “A hora e vez de Augusto Matraga”, o bem e o mal se enfrentam, e as personagens que os representam morrem juntas, numa representação de sua indissolúvel proximidade.

(002) Em “Sarapalha”, o tema da luta entre o bem e o mal entremeia o triângulo amoroso familiar.

(004) Em “Duelo” e em “Corpo fechado”, o tema da luta entre o bem e o mal não está configurado.

(008) Em “Conversa de bois”, Agenor Soronho é identificado com o demônio, representando o mal diante de Tiãozinho, apresentado como o melhor menino “candieiro”.

(016) Em “Minha gente”, sob a evocação, em epígrafe, de uma Maria feiticeira, e, no correr da narrativa, de Circe, feiticeira da mitologia clássica, temos uma história que se fecha, eufórica, com uma afirmação de que todo fim é bom

SOMA: 01+02+08+16

58. (UNEMAT) Relacione os excertos da primeira coluna aos títulos dos contos da segunda, do livro

Sagarana, de Guimarães Rosa.

Coluna I

1. José Boi caiu de um barranco de vinte metros; ficou com a cabeleira enterrada no chão e quebrou o pescoço. Mas, meio minuto antes, estava completamente bêbado e também no apogeu da carreira: era o ‘espanta-praças’, porque tinha escaramuçado, uma vez, um cabo e dois soldados, que não puderam reagir, por serem apenas três. (p. 253)

2. Que já houve um tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo e indiscutível, pois que bem comprovado nos livros das fadas carochas. (p. 283)

3. Naquele tempo, eu morava no Calango- Frito e não acreditava em feiticeiros. (p.221)

4. Turíbio Todo, nascido à beira do Borrachudo, era seleiro de profissão, tinha pelos compridos nas narinas, e chorava sem fazer caretas; palavra por palavra: papudo, vagabundo, vingativo e mau. Mas no começo dessa história ele estava com arazão. (p. 139)

5. Tapera de arraial. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e o cemitério; e a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu. (p.117)

Coluna II

( ) São Marcos

( ) Duelo

( ) Conversa de bois

( ) Sarapalha

( ) Corpo fechado

Assinale a alternativa correta.

  1. 1, 3, 4, 5, 2.
  2. 3, 4, 2, 5, 1.
  3. 4, 5, 1, 3, 2.
  4. 3, 5, 4, 2, 1.
  5. 1, 2, 3, 4, 5.

59. (PUC-SP) Em carta escrita a João Condé, revelando os segredos de “Sagarana”, João Guimarães Rosa elenca as doze histórias que comporiam a obra. De uma delas afirma: “Peça não-profana, mas sugerida por um acontecimento real, passado em minha terra, há muitos anos: o afogamento de um grupo de vaqueiros, num córrego cheio”. Tal afirmação refere-se ao conto
a) “O burrinho pedrês”, cujo personagem Francolim desempenha um papel relativamente importante na história. b) “Conversa de bois”, cujo enredo envolve, também, a morte de um carreiro, provocada pelos bois e pelo menino-guia. c) “A hora e vez de Augusto Matraga”, cujo personagem principal é marcado a ferro com um triângulo inscrito numa circunferência, como se fosse gado do Major. c) “Sarapalha”, que também narra a partida da esposa de Ribeiro que o abandonou por um vaqueiro ou foi raptada pelo diabo.

e) “Minha gente”, cuja ação e trama ocorrem no local chamado Todo-Fim-É-Bom.

60. (UNEMAT)  Uma das atitudes na criação literária de Guimarães Rosa era incluir em seus contos peças da cultura popular ou criar ao seu molde.

Leia as quadrinhas extraídas do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, do livro Sagarana (1969).

1 – “Mariquinha é como a chuva: boa é p’ra quem quer bem! Ela vem sempre de graça, só não sei quando ela vem…” (p.321)

2 – “O terreiro lá de casa não se varre com vassoura: Varre com ponta de sabre, bala de metralhadora…” (p.350)

3 – “A roupa lá de casa não se lava com sabão: lava com ponta de sabre e com bala de canhão…” (p.354)

Assinale a alternativa correta.

a) Os versos não têm nenhuma relação com a história que está sendo contada.

b) O conto de Guimarães Rosa é narrado em forma de versos.

c) Alguns versos servem apenas para demonstrar a valentia de Augusto Matraga.

d)As quadrinhas contribuem para caracterizar as personagens da história de Matraga.

e) Guimarães Rosa define a matéria das quadrinhas populares como único recurso de sua criação literária.

61. (FUVEST)

“Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai…

Não cantes fora de hora, ai, ai, ai…

A barra do dia aí vem, ai, ai, ai…

Coitado de quem namora!…”

Esta quadrinha é a epígrafe do conto Sarapalha. Ela aponta para o clímax da estória que se dá por ocasião:

a)da eleição de seu Major Vilhena: tiroteio com três mortes.

b) da confissão de Argemiro e sua expulsão da casa de Ribeiro.

c) do casamento de Luísa com o boiadeiro e despedida dos primos;

d) da morte do boiadeiro, que Argemiro mata em respeito ao primo.

e) da declaração de Ribeiro e ruptura deste com o boiadeiro.

 (PUC-SP) Leia o fragmento a seguir, extraído de “São Marcos”, conto que integra a obra Sagarana, de João Gui­marães Rosa, para responder às questões 62 e 63.

Foi quase logo que eu cheguei no Calango-Frito, foi logo que eu me cheguei aos bambus. Os grandes colmos1 jaldes2, envernizados, lisíssimos, pediam autógrafo; e alguém já gravara, a canivete ou ponta de faca, letras enormes, enchendo um entrenó:

“Teus olho tão singular

Dessas trançinhas tão preta

Qero morer eim teus braço

Ai fermosa marieta.”

E eu, que vinha vivendo o visto mas vivando estrelas, e tinha um lápis na algibeira, escrevi também, logo abaixo:

Sargon

Assarhaddon

Assurbanipal

Teglattphalasar, Salmanassar

Nabonid, Nabopalassar, Nabucodonosor

Belsazar

Sanekherib

E era para mim um poema esse rol de reis leoninos, agora despojados da vontade sanhuda3 e só representados na poesia. Não pelos cilindros de ouro e pedras, postos sobre as reais comas4 riçadas5, nem pelas alargadas barbas, entremeadas de fios de ouro. Só, só por causa dos nomes. Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se jamais usado. (ROSA, João Guimarães. Ficção completa. Vol 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017, p. 223-224)

Vocabulário: 1 colmo: caule. 2 jalde: cor amarelo-ouro. 3 sanhuda: terrível. 4 comas: cabelos. 5 riçadas: crespas. 6 prisco: antigo.

62. A leitura do fragmento em questão – no qual o narrador-personagem relata uma de suas disputas poéticas com Quem-Será – permite afirmar que

a) o narrador critica o estilo ultrapassado dos textos de Quem-Será, condenando o emprego de termos arcaicos e pouco conhecidos.

b) o duelo poético entre o protagonista e a personagem Quem-Será define-se pela oposição entre poesia clássica e poesia moderna.

c) o narrador, ao inscrever no bambu uma lista de “reis leoninos”, afirma ter criado um poema, já que, para ele, o emprego de termos raros caracteriza a poesia.

d) o protagonista revela-se contraditório, pois, apesar de escrever um poema nos moldes parnasianos, defende o emprego de neologismos, traço da poética modernista.

63. Dentre os aspectos que caracterizam a prosa de João Guimarães Rosa em Sagarana, destaca-se, no fragmento em questão,

a) a concepção mística da realidade, ilustrada pela fórmula de encantamento (“Sargon… Sanekherib”) empregada pelo narrador para combater seu antagonista.

b) a crítica às instituições sociais e políticas, evidenciada pela aversão da personagem aos “reis leoninos”, cujo poder ilusório sustenta-se “por causa dos nomes”.

c) o emprego do discurso indireto livre, por meio do qual concede-se voz às personagens, como comprova o excerto “Só, só por causa dos nomes”.

d) a poeticidade da linguagem, exemplificada pelas aliterações no trecho “E eu, que vinha vivendo o visto mas vivando estrelas”.

64. (PUC-SP) A respeito do conto “Sagarana” de João Guimarães Rosa, é INCORRETO afirmar que a) é um conto de linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da realidade, em suas diferentes situações narrativas.

b) refere as ações domingueiras do personagem narrador Izé, que se embrenha no mato, carregando uma espingarda a tiracolo com o firme propósito de caçar irerês, narcejas, jaburus e frangos-d’água.

c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatural, por obra de um feiticeiro, que produz cegueira temporária no protagonista e da qual ele se safa por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa e proibida. d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da cultura popular, das cantigas do sertão e que condensa e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.

e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se encontram gravados os nomes dos reis leoninos e onde se trava floral desafio entre o narrador e Quem será.

Leia o texto, a seguir, extraído do conto A hora e vez de Augusto Matraga, e responda às questões de 65 a 67.

Já Nhô Augusto, incansável, sem querer esperdiçar detalhe, apalpava os braços do Epifânio, mulato enorme, de musculatura embatumada, de bicipitalidade maciça. E se voltava para o Juruminho, caboclo franzino, vivo no menor movimento, ágil até no manejo do garfo, que em sua mão ia e vinha como agulha de coser:

– Você, compadre, está-se vendo que deve de ser um corisco de chegador!…

E o Juruminho, gostando.

– Chego até em porco-espinho e em tatarana-rata, e em homem de vinte braços, com vinte foices para sarilhar!… Deito em ponta de chifre, durmo em ponta de faca, e amanheço em riba do meu colchão!… Está aí

nosso chefe, que diga… E mais isto aqui…

E mostrou a palma da mão direita, lanhada de cicatrizes, de pegar punhais pelo pico, para desarmar gente em agressão.

Nhô Augusto se levantara, excitado:

– Opa! Oi-ai!… A gente botar você, mais você, de longe, com as clavinas… E você outro, aí, mais este

compadre de cara séria, p’ra voltearem… E este companheirinho chegador, para chegar na frente, e não dizer até-logo!… E depois chover sem chuva, com o pau escrevendo e lendo, e arma-de-fogo debulhando, e homem mudo gritando, e os do-lado-de-lá correndo e pedindo perdão!…

Mas, aí, Nhô Augusto calou, com o peito cheio; tomou um ar de acanhamento; suspirou e perguntou:

– Mais galinha, um pedaço, amigo?

– ’Tou feito.

– E você, seu barra?

– Agradecido… ’Tou encalcado… ’Tou cheio até à tampa!

Enquanto isso, seu Joãozinho Bem-Bem, de cabeça entornada, não tirava os olhos de cima de Nhô Augusto.

E Nhô Augusto, depois de servir a cachaça, bebeu também, dois goles, e pediu uma das papo-amarelo, para ver:

– Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma que cursa longe…

– Pode gastar as óito. Experimenta naquele pássaro ali, na pitangueira…

– Deixa a criaçãozinha de Deus. Vou ver só se corto o galho… Se errar, vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho…

Fez fogo.

– Mão mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois… Ferrugem em bom ferro! (ROSA, J. G. Sagarana. 71.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.394-395.)

65. O trecho “– Você, compadre, está-se vendo que deve de ser um corisco de chegador!…” pode ser substituído, sem prejuízo do sentido original, por

a) “– Você, parceiro, sem grande alarde, bem de mansinho, consegue tudo o que quer!…”.

b) “– Amigo, creio que você é muito mais eficiente com o garfo do que com a faca!…”.

c) “– Amigo, pelo visto, você é um caboclo muito bom de garfo!…”.

d) “– Companheiro, a julgar pelo que vejo, você deve ser muito ligeiro no ataque!…”.

e) “– Companheiro, está-se vendo que você transforma tudo num verdadeiro cavalo de batalha!…”.

66. A partir da leitura do texto, considere as afirmativas a seguir.

I. A passagem registra o momento que antecede a entrada de Nhô Augusto no bando de Joãozinho Bem-Bem, a convite do próprio chefe jagunço.

II. Apegado ao lema “P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!”, Nhô Augusto tem, ao lado de Joãozinho Bem-Bem e seu bando, a oportunidade de ver seu lema concretizado.

III. Os comentários de Nhô Augusto bem como sua familiaridade com “uma das papo-amarelo” caracterizam-no como um homem “bom de briga” aos olhos de Joãozinho Bem-Bem.

IV. Por um dado momento, a presença de Joãozinho Bem-Bem e seu bando reacende, em Nhô Augusto, o antigo lado jagunço, duramente combatido através da penitência.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

67. Um dos aspectos distintivos de João Guimarães Rosa é seu trabalho laborioso com a linguagem.

A esse respeito e com base no texto, considere as afirmativas a seguir.

I. O termo “bicipitalidade” é um exemplo de neologismo. Colocado ao lado do adjetivo “maciça”, expressa a ideia da grande força muscular de Epifânio.

II. O trecho “com o pau escrevendo e lendo” constitui um exemplo de recriação de um dito popular cujo sentido original é: o não cumprimento do combinado ocasionará punição.

III. A expressão “Ferrugem em bom ferro!” caracteriza-se como uma construção poética que exprime, através dos termos “ferrugem” e “ferro”, a falta de destreza do protagonista com a arma de fogo.

IV. As expressões “chover sem chuva” e “homem mudo gritando” configuram-se como exemplos de inadequação vocabular, e seu uso revela o baixo nível cultural do protagonista.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

( PUC-SP) Leia o fragmento a seguir, de “A hora e vez de Augusto Matraga”, narrativa que integra Sagarana, de João Guimarães Rosa, para responder às questões 68 e 69.

O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, não trabalhando um nada e vivendo no estadão1. Mas, ele, tinham-no visto mourejar2 até dentro da noite de Deus, quando havia luar claro.

Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda nenhuma e nem nenhuma arma para caçar; e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o terço ou os meses dos santos. Mas fugia às léguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de música que escuma tristezas no coração. Quase sempre estava conversando sozinho, e isso também era de maluco, diziam; porque eles ignoravam que o que fazia era apenas repetir, sempre que achava preciso, a fala final do padre:

— “Cada um tem a sua hora e a sua vez: você̂ há-de ter a sua”. — E era só́.

E assim se passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho deste jeito, sem tirar e nem por, sem mentira nenhuma, porque esta aqui é uma estória inventada, e não é um caso acontecido, não senhor.

Vocabulário:

1 estadão: luxo.

2 mourejar: trabalhar duro.

68. Considerando a trajetória do protagonista de “A hora e vez de Augusto Matraga”, é correto afirmar que o fragmento em questão refere-se ao período em que:

a) Augusto Estêves, após ser abandonado por sua mulher e sua filha, finge-se de louco para os moradores do arraial do Murici enquanto, na verdade, planeja sua vingança contra Major Consilva, seu inimigo.

b) Nhô Augusto, arrependido de sua vida passada, vive no lugarejo de Tombador acompanhado de Quitéria e Serapião, trabalhando arduamente e ajudando os necessitados da região.

c) Augusto Matraga, ao encontrar Joãozinho Bem- Bem e seu bando de matadores, começa a recobrar a memória perdida após ser espancado pelos capangas do Major Consilva.

d) Nhô Augusto, explorado pelo casal que o havia acolhido e influenciado pelo discurso do padre, prepara-se secretamente para o confronto com Joãozinho Bem-Bem e seu bando.

69. Com base na variedade de focos narrativos empregados nos contos de Sagarana, é possível afirmar que, no trecho destacado – “E assim se passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho deste jeito, sem tirar e nem pôr, sem mentira nenhuma,

porque esta aqui é uma estória inventada, e não é um caso acontecido, não senhor” – manifesta-se o relato de um

a) narrador em primeira pessoa que, assim como o narrador de “São Marcos”, assume o ponto de vista de uma personagem cética, arrebatada por eventos de natureza mística.

b) narrador-testemunha que, assim como o de “Corpo fechado”, conta em primeira pessoa a história protagonizada por outra personagem como se fosse apenas um observador atento dos fatos.

c) narrador em terceira pessoa observador que, semelhante a um contador de histórias, reproduz um caso a ele relatado por outra personagem, característica presente também em “Conversa de bois”.

d) narrador em terceira pessoa onisciente que, à maneira de um contador de casos, interfere na narrativa, traço verificado também em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”.

 70. (MACK) Sobre o personagem principal de “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, assinale a alternativa incorreta.

a)No decorrer da narrativa, aparece como Nhô Augusto, Augusto Estêves e Augusto Matraga.

b)No início, surge como um fazendeiro pacato, averso a brigas e totalmente dedicado à família.

c)Por ordem de seu maior inimigo, é surrado, marcado a ferro e deixado praticamente morto.

d)Convidado por Joãozinho Bem-Bom a integrar seu grupo de jagunços, recusa tal oferta …

e)No duelo final, morre em consequência dos ferimentos recebidos, assim como seu opositor.

71. (UNEMAT)Assinale a alternativa em que as palavras completam corretamente as lacunas.

Era um burrinho__________, miúdo e resignado, vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão. (p. 3)

É aqui, perto do vau da _________: tem uma fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca de pedra-seca, do tempo de escravos. (p. 118)

Cassiano escolhera mal o lugar onde se derrear: no ________ era tudo gente miúda, amarelenta ou amaleitada, esmolambada, escabreada, que não conhecia o trem-de-ferro, mui pacata e sem ação. (p. 158)

Uma barbaridade! Até os meninos faziam feitiço, no ___________. O mestre dava muito coque, e batia de régua, também. (p. 225)

E começou o caso, na encruzilhada da _______, logo após a cava do Mata-quatro, onde com a palhada do milho e o algodoal de pompons frouxos, se truncam as derradeiras roças da Fazenda dos Caetanos e o mato de terra ruim começa dos dois lados. (p. 283)

a) Mosquito, Calango Frito, Ibiúva, Pedrês, Sarapalha.

b) Pedrês, Mosquito, Calango Frito, Ibiúva, Sarapalha.

c) Pedrês, Calango Frito, Ibiúva, Sarapalha, Mosquito.

d) Pedrês, Ibiúva, Sarapalha, Mosquito, Calango Frito.

e)Pedrês, Sarapalha, Mosquito, Calango Frito, Ibiúva.

72. (PUC-SP) João Guimarães Rosa escreveu “Sagarana” em 1946, obra composta de nove contos, entre os quais se destaca “O Burrinho Pedrês”. Leia o trecho que segue. Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros, churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chitados, vareiros, silveiros… E os tocos da testa do mocho macheado, e as armas antigas do boi cornalão… Deste trecho é correto afirmar que é marcadamente ritmado e sonoro. Esses efeitos se alcançam por causa

a) de uma possível métrica presente no trecho, caracterizada como redondilha menor, e da presença de aliterações.

b) da diversidade de tipos de bois e do jogo contrastivo de termos que designam essa diversidade. c) das medidas dos diferentes segmentos frásicos e pela dominante presença da redondilha maior. d) da enumeração caótica estabelecida no jogo adjetivo dos termos e pela rima interna na constituição dos pares vocabulares.

e) do jogo sonoro provocado pela dominância de vogais fechadas e pela presença de cadência de sons apenas longos e átonos.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (UFMG) Leia as passagens:

De seu calmo esconderijo, o ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho…

(MEIRELLES, Cecília. ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA)

As Minas do século XVIII foram uma capitania pobre.
(VERGUEIRO, Laura. OPULÊNCIA E MISÉRIA DAS MINAS GERAIS)

REDIJA um pequeno texto que relacione os versos de Cecília Meireles com a afirmativa de Laura Vergueiro.
RESPOSTA:

Cecília Meireles aborda o poder, a riqueza e o prestígio que a exploração do ouro traz, enquanto Laura Vergueiro trata da exploração colonial e da consequente pobreza da colônia.

2. (UFRJ) ROMANCE II OU DO OURO INCANSÁVEL

Mil bateias vão rodando sobre córregos escuros; a terra vai sendo aberta por intermináveis sulcos; infinitas galerias

penetram morros profundos.

De seu calmo esconderijo, o ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho . . . É tão claro! — e turva tudo:

honra, amor e pensamento.

Borda flores nos vestidos, sobe a opulentos altares, traça palácios e pontes, eleva os homens audazes, e acende paixões que alastram

sinistras rivalidades.

Pelos córregos, definham negros a rodar bateias. Morre-se de febre e fome sobre a riqueza da terra: uns querem metais luzentes,

outros, as redradas pedras.

Ladrões e contrabandistas estão cercando os caminhos; cada família disputa privilégios mais antigos; os impostos vão crescendo

e as cadeias vão subindo.

Por ódio, cobiça, inveja, vai sendo o inferno traçado. Os reis querem seus tributos, — mas não se encontram vassalos. Mil bateias vão rodando,

mil bateias sem cansaço.

Mil galerias desabam; mil homens ficam sepultos; mil intrigas, mil enredos prendem culpados e justos; já ninguém dorme tranquilo,

que a noite é um mundo de sustos.

Descem fantasmas dos morros, vêm almas dos cemitérios: todos pedem ouro e prata, e estendem punhos severos, mas vão sendo fabricadas

muitas algemas de ferro.

O poema de Cecília Meireles apresenta um tom épico e revela afinidades com as propostas que distinguiram a chamada geração de 30 da primeira geração modernista.

a) Indique duas características do poema relacionadas ao gênero épico.

b) Aponte um aspecto em comum entre a perspectiva da autora sobre o país, revelada nesse texto, e a que predominou na obra de romancistas da geração de 30.

RESPOSTAS:

a) Duas dentre as características: tema tratado com dignidade, sem irreverência vocabulário identificado com o uso da língua em situações de formalidade abordagem de fatos históricos, encarados sob a perspectiva da coletividade

b) A poetisa aborda criticamente os problemas do Brasil, enfocando as origens da desigualdade social – tema frequente no romance regionalista a partir dos anos 30

3. (UFG) Leia o poema que segue:

ROMANCE XXXV OU DO SUSPIROSO ALFERES Terra de tantas lagoas! Terra de tantas colinas! No fundo das águas podres, o turvo reino das febres…

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

Nos palácios, vãos fidalgos. Santos vãos, pelas esquinas. Pelas portas e janelas, as bocas murmuradoras…

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

Rios inchados de chuva, serra fusca de neblinas… Quem tivera uma canoa, quem correra, quem remara…

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

(Que vens tu fazer, Alferes, com tuas loucas doutrinas? Todos querem liberdade, mas quem por ela trabalha?)

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

(O humano resgate custa pesadas carnificinas! Quem morre, para dar vida? Quem quer arriscar seu sangue?)

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

Minas das altas montanhas, das infinitas campinas… Quem galopara essas léguas! Quem batera àquelas portas!

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

Mas os traidores labutam nas funestas oficinas: vão e vêm as sentinelas, passam cartas de denúncia…

“Ah! se eu me apanhasse em Minas…”

(E tudo é tão diferente do que em saudade imaginas! Onde estão os teus amigos? Quem te ampara? Quem te salva, mesmo em Minas? mesmo em Minas?) MEIRELES, Cecília. “Romanceiro da Inconfidência”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 135-136. Com base no poema “Romance XXXV ou do Suspiroso Alferes”: a) Explique a ironia presente no poema. b) Identifique o momento histórico que esse poema retoma e explicite duas características da linguagem usada pela poetisa para transformar o documental em lírico. c) Esclareça a divergência entre a voz do narrador e a do Alferes.

RESPOSTAS:

a) A ironia está em querer a revolução e não fazer nada, ou seja, não lutar por ela.

b) O Alferes está preso no Rio de Janeiro, traído e desejando retornar para Minas Gerais. Presença de recursos estilísticos, entre eles: poema, verso, estrofe, rima, refrão, presença de voz lírica, metáfora, repetição, alegoria, reticências, interrogação, exclamação, anáfora, aliteração, hipérbole.

c) O narrador é realista, cético. O Alferes é sonhador, idealista.

4. (UFMG) A alternativa que apresenta a justificativa mais adequada para o uso do termo ROMANCEIRO por Cecília Meireles, no título de sua obra “Romanceiro da Inconfidência” é a) aproximar-se do romance, forma narrativa em prosa. b) compor a narrativa alternando verso e prosa.

c) conciliar a narrativa histórica com situações líricas.

d) dispensar a objetividade na narrativa.

e) utilizar metros e ritmos variados.

(FATEC) Texto para responder às questões 05 e 06.

Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério

Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério: que ele traiu Jesus Cristo, tu trais um simples Alferes. Recebeu trinta dinheiros… — e tu muitas coisas pedes: pensão para toda a vida, perdão para quanto deves, comenda para o pescoço, honras, glória, privilégios. E andas tão bem na cobrança que quase tudo recebes! Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério! Pois ele encontra remorso, coisa que não te acomete. Ele topa uma figueira, tu calmamente envelheces, orgulhoso impenitente, com teus sombrios mistérios. (Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens,

e a surda força dos vermes.)

 (Cecília Meirelles, Romanceiro da Inconfidência.)

5. Considere as seguintes afirmações sobre o texto.

I. O emissor assume postura argumentativa ao exprimir juízos de valor sobre as ações de ambos os traidores célebres. II. A significação do texto constrói-se com base numa ampla comparação, na qual se destaca crítica mais contundente à traição praticada por Joaquim Silvério. III. O emissor enfatiza as vantagens obtidas pelos atos de Joaquim Silvério, como forma de expor sua vileza.

IV. Os versos finais, postos entre parênteses, contêm um comentário de natureza ética e generalizante que expressa o tema do texto.

Estão corretas as afirmações:

a) I e III, apenas. b) II e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas.

e) I, II, III e IV.

6. À vista dos traços estilísticos, é correto afirmar que o texto de Cecília Meirelles

a)representa grande inovação na construção dos versos, marcando-se sua obra por experimentalismo radical da linguagem e referência a fontes vivas da língua popular. b) é despida de sentimentalismo e pautada pelo culto formal expresso na riqueza das rimas e na temática de cunho social.

c) simula um diálogo, adotando linguagem na qual predomina a função apelativa, e opta por versos brancos, de ritmo popular (caso dos versos de sete sílabas métricas).

d) expressa sua eloquência na escolha de temática greco-romana e nas tendências conservadoras típicas do rigor formal de sua linguagem.

e) é de tendência descritiva e heroica, adotando a sátira para expressar a crítica às instituições sociais falidas.

7. Leia atentamente a seguinte passagem retirada do prefácio “Como escrevi o ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA”, de Cecília Meireles.

“A obra de arte não é feita de tudo – mas apenas de algumas coisas essenciais. A busca desse essencial expressivo é que constitui o trabalho do artista.”

A alternativa que apresenta um fragmento extraído de MEMÓRIAS DO CÁRCERE, de Graciliano Ramos, com ideias semelhantes às de Cecília Meireles é a) A minha decisão de traçar um diário encolhia-se, bambeava, sem nenhum estímulo fora ou dentro. Os fatos, repisados, banalizavam-se. Apenas quatro ou cinco sobressaíam, mas, ao dar-lhes forma, vi-os reduzidos, insignificantes. b) Na verdade o tempo não era o que havia sido: tornava-se confuso e lento, cheio de soluções de continuidade, e nesses hiatos vertiginosos perdia-me, escorregava, os olhos turvos, numa sensação de queda ou voo.

c) Omitirei acontecimentos essenciais ou mencioná-los-ei de relance, como se os enxergasse pelos vidros pequenos de um binóculo; ampliarei insignificâncias, repeti-las-ei até cansar, se isto me parecer conveniente.

d) Sei lá o que se passava no meu interior? Difícil sermos imparciais em casos desse gênero; naturalmente propendemos a justificar-nos, e é o exame do procedimento alheio que às vezes revela as nossas misérias íntimas, nos faz querer afastar-nos de nós mesmos, desgostosos, nos incita à correção aparente.

e) Tentava expressar-me direito, não me custava fingir calma. Aspecto normal, a voz ordinária; convencia-me de que nas minhas palavras não havia incongruências e esta certeza me parecia insensata.

8. (FUVEST) Como o próprio titulo indica, no Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, os romances têm como referência nuclear já frustrada rebelião na Vila Rica do Século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:

a)A base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e amargo que caracteriza as outras obras da autora. b) As intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes de uma elaborada prosa poética. c) A imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos episódios essenciais da rebelião, alterando-lhes o rumo.

d) A matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dos fatos centrais quanto motiva o lirismo reflexivo.


e) A preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático da vida, habitual na poesia da autora.

9. (UFMG) Todas as alternativas contêm trechos do ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília Meireles, que tematizam a importância da palavra como estruturadora da realidade, EXCETO:

a) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia,

calúnia, fúria, derrota…

b) Como pavões presunçosos, suas letras se perfilam. Cada recurvo penacho é um erro de ortografia. Pena que assim se retorce

deixa a verdade torcida.

c) Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique,

e ninguém que não entenda!

d) Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados… – liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados

mentira e verdade estão.

e) Pelas gretas das janelas, pelas frestas das esteiras, agudas setas atiram a inveja e a maledicência. Palavras conjeturadas oscilam no ar de surpresas, como peludas aranhas na gosma das teias densas, rápidas e envenenadas,

engenhosas, sorrateiras.

10. (UFPR) Sobre o livro “O romanceiro da inconfidência”, de Cecília Meireles, considere as afirmativas a seguir: 1. Os documentos históricos ligados à posteridade não esclarecem de fato certos episódios relacionados à Inconfidência Mineira. Em face dessa situação, Cecília Meireles optou por apresentar os acontecimentos e as personagens a partir de uma perspectiva lírica que prescinde de nitidez e definição. 2. O poema contém partes de elaboração clássica, metrificadas em versos longos, e outras, mais próximas das composições populares, em versos curtos. 3. Além das personagens diretamente envolvidas no movimento sedicioso do título, o poema também trata de outras, como Chica da Silva, que embora não estejam diretamente envolvidas, ajudam a compor o ambiente histórico do texto. 4. Tiradentes, o alferes que a história transformou em herói, é apresentado na obra como indivíduo ambíguo e de moral discutível, numa clara contraposição literária à imagem apresentada pelos historiadores mais conservadores. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

11. (U.F. OURO PRETO) Leia os textos abaixo.

“Toda vez que um justo grita,

um carrasco o vem calar;

quem não presta fica vivo;

quem é bom, mandam matar.”

(Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência)

“Ao passar estava falando,

vinha conversando consigo.

Por que agora caminha mudo

se estava falando a princípio?

decreto o forçaram a calar-se.

Até os gestos lhe são proibidos.

Fazem-se calar porque, certo,

sua fala traz grande perigo.”

(João Cabral de Melo Neto – Auto do Frade)

Assinale a alternativa incorreta.

a)A fala é, em ambos os casos, um símbolo do exercício de liberdade.

b) A fala é vista, nos dois textos, como um instrumento de luta política.

c) Nas execuções públicas, os condenados eram proibidos de falar, pois havia o perigo de atrapalhar o andamento da cerimônia.

d) O carrasco faz o condenado se calar para que ele não exponha suas ideias, motivo de sua condenação.

e) O papel da fala é o de conscientizar as pessoas através do debate. Daí o seu perigo para o poder autoritário.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 12 A 15

(UFPB) Romanceiro da Inconfidência Romance LIII ou Das palavras aéreas

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!

Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia,

calúnia, fúria, derrota…

A liberdade das almas, ai! com letras se elabora… E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos,

pelo vosso impulso rodam…

Detrás de grossas paredes, de leve, quem vos desfolha? Pareceis de tênue seda, sem peso de ação nem de hora… – e estais no bico das penas, – e estais na tinta que as molha, – e estais nas mãos dos juízes, – e sois o ferro que arrocha, – e sois barco para o exílio,

– e sois Moçambique e Angola!

Ai, palavras, ai, palavras, íeis pela estrada afora, erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa, desejos do tempo inquieto,

promessas que o mundo sopra…

Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?

– Acusações, sentinelas, bacamarte, algema, escolta; – o olho ardente da perfídia, a velar, na noite morta; – a umidade dos presídios, – a solidão pavorosa; – duro ferro de perguntas, com sangue em cada resposta; – e a sentença que caminha, – e a esperança que não volta, – e o coração que vacila,

– e o castigo que galopa…

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!

Perdão podíeis ter sido!

– sois madeira que se corta, – sois vinte degraus de escada, – sois um pedaço de corda… – sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa…

Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem…

– sois um homem que se enforca!

GLOSSÁRIO:

quedar: ficar, deter-se, conservar-se.

 retorta: vaso de vidro ou de louça com o gargalo recurvo, voltado para baixo e apropriado para operações químicas.

tênue: delgado, fino.

galhofa: gracejo, risada.

 bacamarte: arma de fogo.

 perfídia: deslealdade, traição.

 aragem: vento brando, brisa.

12.A leitura do poema sugere que as palavras, por serem aéreas,

a) retornam, sempre, com o vento.

b) não mudam jamais.

c) perdem a sua potência.

d) transformam-se ao sabor do vento.

e) nunca chegam ao seu destino.

 13. A expressão “Ai, palavras”, na última estrofe do poema, sugere

I. a alegria do eu-lírico diante da condição aérea das palavras.

II. a admiração do eu-lírico pela rápida existência das palavras.

III. o lamento do eu-lírico diante do estranho poder de transformação das palavras.

Está(ão) correta(s) apenas:

a) I

b) II

c) III

d) I e II

e) I e III

14. Leia os versos 50 e 51 a seguir:

“- duro ferro de perguntas,

com sangue em cada resposta;”

Esses versos fazem referência, especificamente, à (ao)

a) perseguição aos revoltosos.

b) tortura dos réus.

c) cerceamento da liberdade.

d) atitude de rebelião.

e) isolamento dos condenados.

15. Há oposição de sentido (antítese) entre as ideias expressas nos versos da alternativa:

a) “sois de vento, ides no vento, (verso 4) no vento que não retorna,” (verso 5)

b) “E dos venenos humanos (verso 20) sois a mais fina retorta:” (verso 21)

c) “frágil, frágil como o vidro (verso 22) e mais que o aço poderosa!” (verso 23)

d) “Pareceis de tênue seda, (verso 28) sem peso de ação nem de hora…” (verso 29)

e) “- e sois barco para o exílio, (verso 34) – e sois Moçambique e Angola!” (verso 35)

16. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre o “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles. I – “O Romanceiro” é narrativo e lírico ao mesmo tempo, apresentando uma sequência de poemas, através dos quais a autora realiza uma comovente reflexão sobre um momento da história do Brasil. II – A obra vale-se dos acontecimentos da Inconfidência Mineira para expor a constituição da sociedade e a atuação do homem, e, a partir deles, traçar um retrato da condição humana. III – “O Romanceiro” recria a cidade de Vila Rica durante o episódio da Inconfidência, procurando dar voz tanto às figuras conhecidas da história quanto ao povo que assistiu perplexo ao desenrolar dos acontecimentos. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

17. (UFMG) Leia atentamente a seguinte passagem, retirada de ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília Meireles. A luz é sem data. Nomes aparecem nas fitas que esvoaçam: Marília, Glauceste, Dirceu, Nise, Anarda … – O bosque estremece: nos arroios, claras ovelhinhas bebem. Sanfonas e flautas

suspiros repetem.

O país da Arcádia, súbito, escurece, em nuvem de lágrimas. Acabou-se a alegre pastoral dourada: pelas nuvens baixas, a tormenta cresce. Todas as alternativas contêm interpretações corretas desse trecho de ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA de Cecília Meireles, EXCETO a) A expressão PASTORAL DOURADA funde o ideal árcade com um dado da realidade local. b) A segunda estrofe confere uma dimensão histórica aos elementos literários da primeira. c) A segunda estrofe metaforiza o desencadear-se da Inconfidência Mineira. d) Os nomes próprios citados fazem parte das convenções do Arcadismo.

e) O universo idealizado da primeira estrofe é uma invenção dos poetas inconfidentes.

(ENEM)

Ai, palavras, ai, palavras que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida principia a vossa porta: o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota… A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora… E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil, como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos,

pelo vosso impulso rodam…

MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).

18. O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:

a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.

b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.

c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida.

d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.

e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.

19. (FUVEST) O verso “Só se estivesse alienado”, que funciona como um refrão no “Romance LXXIII ou da inconformada Marília”, registra a reação desta personagem do “Romanceiro da Inconfidência” à informação de que: a) seu amado, o inconfidente e poeta Cláudio Manuel da Costa, se suicidara na prisão. b) seu primo-irmão, o inconfidente Joaquim Silvério dos Reis, traíra os companheiros de conjura, delatando-os.

c) seu noivo, o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, se casara em África.

d) seu prometido, o árcade e inconfidente Dirceu, se suicidara na prisão.

e) seu companheiro na Inconfidência, o alferes Tiradentes, assumira sozinho toda a culpa da conjuração.

20. (UFMG) Leia atentamente o trecho do ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília Meireles. Aí, ouro negro das brenhas, ai, ouro negro dos rios… Por ti trabalham os pobres, por ti padecem os ricos. Por ti, mais por essas pedras que, com seu límpido brilho, mudam a face do mundo, tornam os reis intranquilos! Em largas mesas solenes, vão redigindo os ministros cartas, alvarás, decretos, e fabricando delitos. Todas as alternativas apresentam interpretações possíveis para o trecho e para a obra como um todo, EXCETO a) A antítese entre OURO NEGRO e seu LÍMPIDO BRILHO ajuda a compor uma visão irônica da História.

b) A redação da legislação colonial incentiva, pela impunidade, a prática de delitos.

c) A riqueza das minas gerais agrava as diferenças existentes na sociedade colonial. d) O ouro traz consigo a miséria da luta por sua posse.

e) O ouro simboliza a ambição do homem e sua luta pelo poder.

21. (UFRS) Considere o enunciado a seguir e as três propostas para completá-la. No “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles 1. recria a paisagem física e humana da Vila Rica dos inconfidentes, dando voz a figuras centrais dos acontecimentos políticos da época. 2. recupera uma forma poética de origem medieval, proveniente da literatura oral ibérica, o que favorece a inserção de vozes populares. 3. retoma, em muitos “romances”, episódios da vida de Tomás Antônio Gonzaga, relatando sua prisão, seu exílio e seus amores. Quais propostas estão corretas? a) Apenas 1. b) Apenas 2. c) Apenas 1 e 3. d) Apenas 2 e 3.

e) 1, 2 e 3.

22. (U.F. Ouro Preto) Leia o poema abaixo.

“Cenário

Eis a estrada, eis a ponte, eis a montanha

Sobre a qual se recorta a igreja branca.

Eis o cavalo sobre a verde encosta.

Eis a solteira, o pátio, e a mesma porta.

E a direção do olhar. E o espaço antigo

para a forma do gesto e o vestido.

E o lugar da esperança. E a fonte, E a sombra.

E a voz que já não fala e se prolonga.

E eis a névoa que chega, envolve as ruas,

move a ilusão de tempos e figuras.

A névoa que se adensa e vai formando

nublados reinos de saudade e pranto.”

(Romanceiro da Inconfidência)

O poema exemplifica uma técnica poética central do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Assinale-a.

a)Descrição minuciosa de lugares e cenas.

b) Ficcionalização de personagens históricas através de sua convivência com outros puramente ficcionais.

c) Referência a dados históricos, com sua respectiva situação espaço-temporal.

d) Uso da rima como centro do trabalho poético.

e) Visão de fatos e processos através da enumeração de elementos metonímicos que constituem uma cadeia de significação.

Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados… — liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão.

[…] (MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento)

23. O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio:

a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma poética desassociada da história nacional. b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta a força dos ideais dos Inconfidentes. c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes.

d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda.


e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes.

24. (UFMS) Sobre o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale

a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) Quanto ao estilo de época, pertence ao Modernismo brasileiro.

(002) Quanto ao tema, seu nacionalismo é ufanista e idealizado.

(004) Quanto à forma, é vazado em oitavas-rimas camonianas.

(008) Quanto ao gênero, é poema épico nos moldes clássicos.

(016) Quanto à tradição literária, evoca raízes que se firmam na narrativa e na poesia medievais.

SOMA: 017 (001+016)

25. (UFES)”Pareceis de tênue seda,

sem peso de ação nem de hora…

– e estais no bico das penas,

– e estais na tinta que as molha,

– e estais nas mãos dos juízes,

– e sois o ferro que arrocha,

– e sois o barco para o exílio,

– e sois Moçambique e Angola!” (“Romance III ou das Palavras Aéreas”)

Cecília Meireles, nesse trecho de uma composição inserida no “Romanceiro da Inconfidência, dirige-se às palavras através de:

a)processo anafórico/ catacrese/ versos isométricos.

b) processo metafórico/ antonomásia/ versos heterométricos.

c) processo anafórico/ metonímia/ versos isométricos.

d) processo metafórico/ alegoria/ versos heterométricos.

e) processo anafórico/ símbolo/ versos isométricos.

26. (UEPB) No Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles recria poeticamente os acontecimentos históricos de Minas Gerais, ocorridos no final do século XVIII. Nesta mesma época, circulavam, em Vila Rica, as Cartas Chilenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga. O fragmento a seguir foi extraído da Carta 2 em que Critilo (Gonzaga), dirigindo-se ao seu amigo Doroteu (Cláudio Manuel da Costa), narra o comportamento do Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses, governador de Minas).

“Aquele, Doroteu, que não é Santo Mas quer fingir-se Santo aos outros homens, Pratica muito mais, do que pratica, Quem segue os sãos caminhos da verdade. Mal se põe nas Igrejas, de joelhos, Abre os braços em cruz, a terra beija, Entorta o seu pescoço, fecha os olhos, Faz que chora, suspira, fere o peito; E executa outras muitas macaquices,

Estando em parte, onde o mundo as veja.”GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas.


São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 68-69.

Considerando as informações apresentadas e esse fragmento poético, é correto afirmar:

a) O autor descreve as atitudes do governador de Minas sem fazer uso de um tom irônico.

b) O autor critica algumas atitudes do governador de Minas, julgando-as dissimuladas.

c) O autor descreve, com humor, o comportamento do governador de Minas, sem apresentar um posicionamento crítico.

d) O tom satírico, presente nas Cartas Chilenas, não é observado nesse fragmento, pois, aqui, há apenas a descrição das práticas religiosas do Fanfarrão Minésio.

e) O autor chama a atenção para o fato de que o governador de Minas age com fervor, longe dos olhos dos fiéis.

27. (MACK) “Romanceiro da Inconfidência” é um longo poema que revê nossa época árcade. Seu autor é:

a)Mário de Andrade.

b)Oswald de Andrade.

c)Carlos Drummond de Andrade.

d)Cecília Meireles.

e)Vinícius de Moraes.

28. (UFPR) Leia os fragmentos de Romanceiro da Inconfidência transcritos abaixo.

Maldito o Conde, e maldito

esse ouro que faz escravos,

esse ouro que faz algemas,

que levanta densos muros

para as grades das cadeias,

que arma nas praças as forcas,

 lavra as injustas sentenças,

arrasta pelos caminhos

vítimas que se esquartejam! (Romance XVII – “Das lamentações no Tejuco”)

 – Acusações, sentinelas,

bacamarte, algema, escolta;

 – o olho ardente da perfídia,

 a velar, na noite morta;

– a umidade dos presídios,

 – a solidão pavorosa;

– duro ferro de perguntas,

com sangue em cada resposta;

 – e a sentença que caminha,

– e a esperança que não volta,

 – e o coração que vacila,

– e o castigo que galopa…

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa! (Romance LIII – “Das palavras aéreas”)

Considerando a totalidade da obra, identifique as afirmações verdadeiras.

1. “Ouro” e “palavras” são aproximados ao longo do poema: ambos podem causar efeitos contraditórios, tais como libertar ou privar da liberdade. No caso do ouro, outras partes do poema apontam o quanto a riqueza e a miséria estiveram próximas na época de sua exploração em Minas Gerais.

2. Ao longo de todo o Romanceiro da Inconfidência, os textos dirigem-se diretamente às palavras, fazendo delas interlocutoras privilegiadas, que por isso assumem a condição de personagens principais dos vários romances.

3. O poder evocativo dos versos é construído com repetições de sons e de ritmos, personificação de elementos da natureza, alternância de vozes e com o emprego frequente de interjeições. Trata-se, portanto, de texto poético com grande carga dramática.

4. Cecília Meireles teve a intenção de evidenciar apenas os episódios históricos protagonizados pelos líderes da Inconfidência Mineira. A menção ao Conde no verso transcrito é uma exceção, já que se trata de personagem de pouca relevância histórica. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

29. (PUC-RS) O livro de Cecília Meireles que evoca os “tempos do ouro” denomina-se:

a)Romanceiro da Inconfidência.

b)Balada para el-Rei.

c)Vaga música.

d)Retrato natural.

e)Romance de Santa Clara.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

1. (FUVEST) Entre as variedades de preconceito enumeradas a seguir, aponte aquelas que o grupo do “capitães da areia” (do romance homônimo) rejeita e aqueles que acata e reforça: preconceito de raça e cor; de religião; de gênero (feminino e masculino); orientação sexual. Justifique suas respostas:

RESPOSTAS:

Raça e cor: Não se pode afirmar que exista preconceito de raça e cor entre os Capitães da Areia. O grupo não faz distinção entre meninos brancos, como Pedro Bala e Gato, e negros , como João Grande, e mulatos, como Boa-Vida e Volta Seca.

Religião: A religião também não é um motivo de preconceito entre o grupo. Há os que praticam o catolicismo, como Pirulito, os que seguem o Candomblé, como João Grande, e os que são indiferentes às questões religiosas, como Pedro Bala.

Gênero: Há preconceito de gênero entre o grupo. Quando Dora chega ao bando, é rechaçada e hostilizada pela maioria dos menores abandonados, por ser menina. Contudo, ela é lentamente aceita pelo grupo, não exatamente pela superação do preconceito, mas sim porque se atribui a ela o papel que, tradicionalmente, é associado às mulheres: o de mãe e de irmã, para sua maioria do grupo, e de noiva e mulher, para Pedro Bala, Depois, Dora encarará também a bravura e a coragem, assumindo papéis semelhante ao de seus companheiros, chegando a usar roupas masculinas e a participar das ações transgressoras do grupo.

Orientação Sexual: Esse é certamente o preconceito mais arraigado entre eles. O narrador chega a afirmar que “umas das leis do grupo era que não se permitiam pederastas passivos”. Essa postura pode ser narrada em relação a Almiro, que mantinha em segredo suas relações homossexuais com o Barandão.

2. (UNICAMP )  Leia o seguinte trecho do romance Capitães da Areia, de Jorge Amado:

Agora [Pedro Bala] comanda uma brigada de choque formada pelos Capitães da Areia. O destino deles mudou, tudo agora é diverso. Intervêm em comícios, em greves, em lutas obreiras. O destino deles é outro. A luta mudou seus destinos.(Jorge Amado, Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 268.)

a) explique a mudança pela qual os capitães da areia passaram, e o que a tornou possível.

b) que relação se pode estabelecer entre esse desfecho e a tendência política do romance de jorge amado?

RESPOSTAS:

a) Inicialmente, a narrativa relata as histórias de um grupo de aproximadamente cem “meninos de rua” que sobrevivem de furtos e pequenas trapaças. A trajetória de Pedro Bala, filho de um grevista morto no cais, é a linha condutora de toda a história, ligando os quadros que são apresentados ao longo da narrativa. Por ser o mais corajoso, torna-se chefe das crianças que a pouco e pouco se foram afastando da marginalidade para combater as injustiças sociais, até se transformar em líder revolucionário comunista.

b) Em “Capitães da areia”, Jorge Amado trata de assunto real e desenvolve temas diversos, como a vida dos excluídos e suas lutas, o papel da Igreja, das autoridades e da imprensa. Jorge Amado era membro do Partido Comunista, por isso constrói uma obra de denúncia, com um discurso ideológico que reflete as suas convicções políticas: transformação social decorrente da conscientização e da luta organizada contra as injustiças. 

3. Leia o seguinte excerto de Capitães da areia, de Jorge Amado, e responda ao que se pede. O sertão comove os olhos de Volta Seca. O trem não corre, este vai devagar, cortando as terras do sertão.  Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos homens é terrível. Mas estes homens são tão fortes que conseguem criar beleza dentro desta miséria. Que não farão quando Lampião libertar toda a caatinga, implantar  a justiça e a liberdade? Compare a visão do sertão que aparece no excerto de Capitães da areia com a que está presente no livro Vidas  secas, de Graciliano Ramos, considerando os seguintes aspectos: a) a terra (o meio físico); b) o homem (o sertanejo).

RESPOSTAS:

a)No fragmento de Capitães da areia, o sertão é associado a elementos positivos (“lírico” e “belo”), apesar  das marcas de miséria que apresenta. Em Vidas secas, o meio físico, destituído de valores positivos, atua como um forte elemento de opressão dos sertanejos, seja na época da seca, seja na época da chuva.

b) No trecho de Capitães da areia, a representação do sertanejo (nas fi guras de Volta-Seca e Lampião) aparece  associada à força e à possibilidade de “criar beleza dentro desta miséria”, qualificando-o como agente possível da libertação e da justiça. Em Vidas secas, a força do protagonista Fabiano liga-se menos ao seu poder 
criador e mais à sua capacidade de sobreviver em condições inóspitas. Fabiano demonstra pouca habilidade  para transformar sua indignação em ações efetivas para trazer justiça e liberdade a si e a sua família.

4. (PUC-SP)  A reportagem e as cartas inseridas nas páginas iniciais do livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, criam uma relação entre jornal e literatura e acabam compondo a matéria propriamente dita da obra. Dessa  relação, é possível afirmar que

a) jornal e literatura tratam do mesmo assunto, e mostram a realidade com igual objetividade e isenção de ânimo.

b) nessa matéria jornalística, os fatos são comprovadamente verdadeiros, enquanto na literatura, são verossímeis e constituem matéria de ficção.

c) o autor se vale da matéria jornalística para dar força de verdade e legitimidade ao seu romance, como retrato fiel da realidade, embora nenhuma pessoa referida nela seja aproveitada como personagem no

d) tanto a matéria jornalística, pseudo-reportagem, quanto a literária mostram-se como objetos do imaginário, criados, portanto, pelo mesmo autor.

e) a matéria jornalística, aí inserida, é independente da do romance e não estabelece com ele nenhum vínculo causal.

5. (ITA) Sobre o romance “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, é INCORRETO afirmar que: a) se trata de um livro cuja personagem central é coletiva, um grupo de meninos de rua, e isso o aproxima de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo. b) as principais personagens masculinas são Pedro Bala, Sem Pernas, Volta Seca, Pirulito e Professor, e a figura feminina central é Dora. c) há uma certa herança naturalista, visível na precoce e promíscua vida sexual dos adolescentes.

d) os vestígios românticos aparecem em algumas cenas de jogos e brincadeiras infantis e na caracterização de Dora. 
e) todos os meninos acabam encontrando um bom rumo na vida, apesar das dificuldades.

 6. (UFPE) “Irmão … é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la de irmã. Ela também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma mãezinha. Cuida deles. Para os mais velhos é como uma irmã que brinca inocentemente com eles e com eles passa os perigos da vida aventurosa que levam. Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe. E dentro do seu coração Professor também a chama de noiva.” (Jorge Amado: “Capitães da Areia”).

Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se aprofundaram as radicalizações políticas na realidade brasileira.

b) Jorge Amado representa a Bahia, “descobrindo” mazelas, violências e identificando grupos marginalizados e revolucionários em “Capitães da Areia”.

c) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da narrativa, que aborda a dramática vida dos camponeses das fazendas de cacau no sul da Bahia.

d) O tom da narrativa aproxima-se do Naturalismo, alternando trechos de lirismo e crueza. O nível de linguagem é coloquial e popular.

e) “Capitães da Areia ” pertence à primeira fase da produção de Jorge Amado, quando era notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o esquematismo psicológico: o mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a burguesia).

7. (FUVEST) Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de fuzuês. Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer preciso. Jorge Amado, Capitães de areia. O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais, neste excerto, aparece em romances como Memórias de um sargento de milícias, O cortiço, além de Capitães de areia. Essa recorrência indica que

a) certas estruturas e tipos sociais originários do período colonial foram repostos durante muito tempo, nos processos de transformação da sociedade brasileira.

b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para elas a migração de tipos sociais que o progresso expulsara do Sul/Sudeste. c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade, militaram com patriotismo na defesa de nossas personagens mais típicas e mais queridas. d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas obras, tipos sociais já extintos quando elas foram escritas.

e) a criança abandonada, personagem central dos três livros, torna-se, na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade dos homens de bem.

8.(UEPB) Com referência a Capitães da areia, é correto afirmar que

a) Os provérbios e as gírias classificam a obra como romance regionalista.

b) Os rituais africanos e as crendices populares imprimem um caráter doutrinário ao romance.

c) O coloquialismo e o emprego excessivo de termos vulgares comprometem a literariedade da obra.

d) A oralidade e a linguagem popular conferem um ritmo dinâmico à obra e não prejudicam o seu teor literário.

e) A linguagem jornalística sobrepõe-se à linguagem lírico-poética e categoriza a obra como documentário.

9. (FUVEST )  Por caminhos diferentes, tanto Pedro Bala (de Capitães de areia, de Jorge Amado) quanto o operário (do conhecido poema “O operário em construção”, de Vinícius de Moraes) passam por processos de “aquisição de uma consciência política” (expressão do próprio Vinícius). O contexto dessas obras indica também que essa conscientização leva ambos a: a) exclusão social, que arruína precocemente suas promissoras carreiras profissionais. b) sublimação intelectual do ímpeto revolucionário, motivada pelo contato com estudantes. c) condição de meros títeres, manipulados por partidos políticos oportunistas.

d) luta, em associação com seus pares de grupo ou de classe social, contra a ordem vigente.


e) cumplicidade com criminosos comuns, com o fito de atacar as legítimas forças de repressão.

O romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia num velho armazém abandonado do cais do porto.”É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais recém-construído atraiu para suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.

“Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Brandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio. Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da areia, crianças abandonadas que viviam do furto.”Jorge Amado, Capitães da Areia, 50a ed. Rio de Janeiro: Record, 1980, P. 26/7. 10. Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema? a) um problema econômico. (desvalorização do dinheiro); b) um problema de identidade. (sem pai e sem mãe); c) um problema de social. (vagabundo, preguiçoso); d) um problema educacional (falta de instrução);

e) um problema social ( a questão do menor abandonado).

 11.( UFR-RJ) O preto Henrique tomou o caneco das mãos da preta velha e bebeu dois tragos. – Ainda tá quente, meu filho? É o restinho… – Tá, tia. Bota mais. Quando acabou, disse: – Você lembra dessas histórias que você sabe, minha tia? – Que histórias? – Essas histórias de escravidão… – O que é que tem? – Você vai esquecer elas todas. – Quando? – No dia em que nós for dono disso… – Dono de quê? – Disso tudo… Da Bahia… do Brasil… – Como é isso, meu filho? – Quando a gente não quiser mais ser escravo dos ricos, titia, e acabar com eles… – Quem é que vai fazer feitiço tão grande pros ricos ficar tudo pobre? – Os pobres mesmo, titia. – Negro é escravo. Negro não briga com branco. Branco é senhor dele. – O negro é liberto, tia. – Eu sei. Foi a Princesa Isabel, no tempo do Imperador. Mas negro continua a respeitar o branco… – Mas a gente agora livra o preto de vez, velha. – Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo, Henrique? – Não. – Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, branco montava em negro…

AMADO, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984, 43. ed., p. 43-44. Adaptado.

O cenário predominante na obra do escritor Jorge Amado é o estado da Bahia. Sua produção é dividida pelos críticos literários em várias fases. O texto lido pode ser enquadrado na fase:

a) do romance proletário, que denuncia a miséria e a opressão das classes populares.

b) dos depoimentos sentimentais, baseados em rixas e amores de marinheiros. c) de pregação partidária, que inclui biografias de pessoas defensoras de maior justiça social. d) de textos de tom épico, que retratam as lutas entre coronéis e trabalhadores da região do cacau. e) do relato de costumes provincianos, que mostram o lado pitoresco do povo

baiano.

 (FUVEST) Texto para as questões 12 a 16:

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam: Ele é mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar… Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida: Ora, adeus, ó meus filhinhos, Qu’eu vou e torno a vortá…

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. Jorge Amado, Capitães da Areia. *lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas

por determinadas doenças

12.(FUVEST ) –  Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado: I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e política. II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial. III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil passou por processos de modernização descompassados e desiguais. Está correto o que se afirma em: a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente.

e) I, II e III.

 13. (FUVEST ) Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento a) o experimentalismo estético, de caráter vanguardista, visível no abundante emprego de neologismos.

b) o tratamento preferencial de realidades bem determinadas, com foco nos problemas sociais nelas envolvidos.

c) a utilização do determinismo geográfico e racial, na interpretação dos fatos narrados. d) a adoção do primitivismo da “Arte Negra” como modelo formal, à semelhança do que fizera o Cubismo europeu.

e) o uso de recursos próprios dos textos jornalísticos, em especial, a preferência pelo relato imparcial e objetivo.

14. (FUVEST )As informações contidas no texto permitem concluir corretamente que a doença de que nele se fala caracteriza se como
a) moléstia contagiosa, de caráter epidêmico, causada por vírus. b) endemia de zonas tropicais, causada por vírus, prevalente no período chuvoso do ano. c) surto infeccioso de etiologia bacteriana, decorrente de más condições sanitárias. d) infecção bacteriana que, em regra, apresenta-se simultaneamente sob uma forma branda e uma grave.

e) enfermidade endêmica que ocorre anualmente e reflui de modo espontâneo.

15. (FUVEST )Apesar das diferenças notáveis que existem entre estas obras, um aspecto comum ao texto de Capitães da Areia, considerado no contexto do livro, e Vidas secas, de Graciliano Ramos, é
a) a consideração conjunta e integrada de questões culturais e conflitos de classe. b) a reprodução fiel da variante oral popular da linguagem, como recurso principal na caracterização das personagens. c) o engajamento nas correntes literárias nacionalistas, que rejeitavam a opção por temas regionais. d) o emprego do discurso doutrinário, de caráter panfletário e didatizante, próprio do “realismo socialista”.

e) o tratamento enfático e conjugado da mestiçagem racial e da desigualdade social.

16. (FUVEST ) Das propostas de substituição para os trechos sublinhados nas seguintes frases do texto, a única que faz, de maneira adequada, a correção de um erro gramatical presente no discurso do narrador é: a) “Assim mesmo morrera negro, morrera pobre.”: havia morrido negro, havia morrido pobre. b) “Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.”: Omolu dizia, no entanto, que não fora. c) “Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina.”: mas tão pouco sabiam da vacina. d) “Mas para que seus filhos negros não o esqueçam […].”: não lhe esqueçam.

e) “E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas […].”: numa noite em que os atabaques.

17. (ENEM )

Texto I

Logo depois transferiram para o trapiche o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os nove aos dezesseis anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações… AMADO, J. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).

Texto II

À margem esquerda do rio Belém, nos fundos do mercado de peixe, ergue-se o velho ingazeiro – ali os bêbados são felizes. Curitiba os considera animais sagrados, provê as suas necessidades de cachaça e pirão. No trivial contentavam-se com as sobras do mercado.

TREVISAN, D. 35 noites de paixão: contos escolhidos. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 (fragmento).

Sob diferentes perspectivas, os fragmentos citados são exemplos de uma abordagem literária recorrente na literatura brasileira do século XX. Em ambos os textos,

a) a linguagem afetiva aproxima os narradores dos personagens marginalizados.

b) a ironia marca o distanciamento dos narradores em relação aos personagens.

c) o detalhamento do cotidiano dos personagens revela a sua origem social.

d) o espaço onde vivem os personagens é uma das marcas de sua exclusão.

e) a crítica à indiferença da sociedade pelos marginalizados é direta.

18. (UEPB) Atente para os nomes dos Capitães da areia, elencados na coluna esquerda e os relacione às características, aventuras e desventuras relatadas na coluna direita:

(1) João Grande

(2) Pedro Bala

(3) Sem-Pernas

(4) Professor

(5) Pirulito

19. (__) “Era o espião do grupo, aquele que sabia se meter na casa de uma família uma semana, passando por bom menino perdido dos pais na imensidão agressiva da cidade.”

(__) “Gostava de saber das coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiros, de homens do mar, personagens heroicos e lendários…”

(__) “Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. […] ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade…”

(__) “Era magro e muito alto, uma cara seca, meio amarelada, os olhos encovados e fundos, a boca rasgada e pouco risonha […] sua reza era simples e não fora sequer aprendida em catecismos.”

(__) “Vai curvado pelo vento como a vela de um barco, é alto, o mais alto do bando, e o mais forte também, negro da carapinha baixa e músculos retesados, embora tenha apenas 13 anos.”

Assinale a alternativa correta:

a) 5, 1, 3, 4, 2

b) 2, 1, 3, 5, 4

c) 5, 3, 1, 2, 4

d) 3, 5, 1, 4, 2

e) 1, 5, 3, 2, 4

20. ( UFMS) Considerando as proposições abaixo, assinale a(s) correta(s).

(01) Em Fogo Morto, vários temas são abordados, dentre os quais: a falência da sociedade

patriarcal nordestina, o surgimento do cangaço e a denúncia da miséria e da exploração

de grande parcela da população do Nordeste.

(02) Em Fogo Morto, configuram-se aspectos da realidade social nordestina de uma época: a fragilidade de um seleiro, vítima do autoritarismo do dono das terras onde vive;

o desprestígio de um senhor de engenho arruinado pelo surgimento de novas relações

de trabalho e produção; a aspiração por justiça numa sociedade oprimida pelas arbitrariedades do cangaço, da polícia e da “politicagem” das elites.

(04) Em algumas passagens do romance Capitães da Areia, percebe-se a intenção de garantir a semelhança com a vida real. Exemplo claro desse tipo de procedimento encontra- se no comportamento da personagem Sem-Pernas. Explorando o próprio defeito físico, o garoto aproxima-se das pessoas para, depois, trair-lhes a confiança.

(08) O desfecho de Capitães da Areia é trágico: além da morte de Dora, a única mulher

aceita pelo bando de Pedro Bala, ocorre o assassinato do próprio Pedro Bala, pondo

fim aos sonhos dos garotos abandonados.

SOMA: 07

21.(PUC-SP)  O diretor do Reformatório Baiano para Menores  Abandonados e Delinquentes é um velho amigo do  ―Jornal da Tarde‖. Certa vez uma reportagem nossa  desfez um círculo de calúnias jogadas contra aquele  estabelecimento de educação e seu diretor. Hoje, ele se achava na polícia esperando poder levar consigo o  menor Pedro Bala. A uma pergunta nossa respondeu:

– Ele se regenerará. Veja o título da casa que dirijo:  ―Reformatório. Ele se reformará.  E a outra pergunta nossa, sorriu:

– Fugir? Não é fácil fugir do Reformatório. Posso lhe  garantir que não o fará.

O trecho acima é do romance Capitães da Areia, de  Jorge Amado. De acordo com o texto, indique a  alternativa verdadeira.

a) A regeneração se dá porque, segundo o Juiz de menores, em carta à Redação do Jornal, o reformatório é um ambiente onde se respiram paz e trabalho e onde  as crianças são tratadas com o maior carinho.

b) A referência à fuga é desnecessária, visto que ninguém consegue de lá escapar, nem mesmo Pedro

c) A matéria jornalística é isenta na defesa do Diretor do Reformatório, que, aliás, é um velho amigo do Jornal da Tarde.

d) A afirmação do Diretor sobre a regeneração é irônica e subentende o tratamento que é dispensado aos menores que para lá são conduzidos.

e) A reforma aludida é possível porque conta com a ação apostólica do Padre José Pedro junto ao Reformatório e cuja ação é respeitada pelo Diretor.

22. (UFBA)

Texto I

“— Dê seu jeito… — Balduíno encolheu os ombros.

O soldado abriu a mão na cara de Antônio Balduíno, mas o negro já estava por baixo, as pernas batendo nas do soldado que caiu. Se levantou com o sabre na mão. Antônio Balduíno abriu a navalha:

— Venha se é homem!

— Não tenho medo de macho…

— Eu não respeito farda — e Antônio Balduíno foi arrancando o sabre do soldado que já levava uma navalhada no rosto.

Depois que desarmou o soldado, largou a navalha e esperou Osório na escuridão. Vinha gente, homens e guardas e mais soldados. Osório se atirou em cima de Balduíno e recebeu um daqueles socos pesados do negro. Ficou estatelado no chão. Um gringo que apreciava a luta puxou Antônio Balduíno:

— Vá embora que vem muito soldado aí. (…)” AMADO, Jorge. Jubiabá. São Paulo: Martins, 1961. p. 117.

TEXTO II

“O CAPOEIRA

— Qué apanhá sordado?

— O quê?

— Qué apanhá?

Pernas e cabeças na calçada.”

ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil. 6. ed. São Paulo: Globo, 1998. p. 87.

A leitura dos textos I e II permite afirmar:

(01) Em ambos os textos, ocorre a ruptura com a tradição literária nacional, um incorporando a linguagem popular, e o outro abandonando a rima e a métrica.

(02) No ritmo e nas ações dos dois textos, há um contraste: o primeiro é rápido e imprevisível, e o segundo, lento e previsível.

(04) Os dois textos se diferenciam tanto pelas características do gênero escolhido quanto

pela síntese do segundo e pelo estilo emocional do primeiro.

(08) Oswald de Andrade consegue uma forma de dar maior autenticidade ao seu poema,

transcrevendo a fala coloquial e popular nos diálogos, sem respeitar as normas ortográficas.

(16) Nesse trecho do romance de Jorge Amado, a presença repetida de nomes — próprios

e comuns — para identificar os lutadores contribui para evitar a ambiguidade em um

momento de ação tão rápida.

(32) “Qué apanhá” (v. 1 e 3) é uma realização popular de duas formas verbais no infinitivo.

SOMA:  29

23. (PUC-SP) Em Capitães da Areia, romance de Jorge Amado, a frase que abre a narrativa é a mesma que a fecha: Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.

Sob a lua, num velho trapiche abandonado, eles levantam os braços. Estão em pé, o destino mudou. Entre elas há um percurso narrativo no qual a vida das crianças sofreu significativas mudanças. Assim, indique, abaixo, a alternativa que contém ações que confirmam as referidas mudanças.

a) Os capitães da areia conseguem organizar-se porque são liderados por Pedro Bala, espécie de herói que supera a condição de marginal e se eleva ao plano histórico do confronto social e político.

b) O bando de meninos adquire força e supera as adversidades graças, também, à proteção que recebe da mãe-de-santo e do padre progressista.

c) Os capitães passam por transformações e dão uma finalidade política às artes da capoeira e do jogo de punhais e passam a ajudar na mudança do destino dos pobres.

d) As crianças, vítimas do fracasso das políticas sociais, encontram apoio para a mudança apenas no chefe de polícia e no juizado de menores.

e) As crianças, organizadas em grupo, formam uma brigada de choque e intervêm em comícios, em greves, em embates obreiros e, assim, por meio da luta, conseguem mudar seus destinos.

24. Leia o trecho da obra de Jorge Amado intitulado Capitães da Areia e marque a opção CORRETA a respeito do texto.

“Como o vestido dificultava seus movimentos e como ela queria ser totalmente um dos Capitães da Areia, o trocou por umas calças que deram a Barandão numa casa da cidade alta. As calças tinham ficado enormes para o negrinho, ele então as ofereceu a Dora. Assim mesmo, estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem. Amarrou com cordão, seguindo o exemplo de todos, o vestido servia de blusa. Se não fosse a cabeleira loira e os seios nascentes, todos a poderiam tomar por um menino, um dos Capitães da Areia.

No dia em que, vestida como um garoto, ela apareceu na frente de Pedro Bala, o menino começou a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por fim conseguiu dizer

— Tu tá gozada…

Ela ficou triste, Pedro Bala parou de rir.

— Não tá direito que vocês me dê de comer todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer.

O assombro dele não teve limites:

— Tu quer dizer…

Ela o olhava calma, esperando que ele concluísse a frase.

— … que vai andar com a gente pela rua, batendo coisas…

— Isso mesmo — sua voz estava cheia de resolução.

— Tu endoidou…

— Não sei por quê.

— Tu não tá vendo que tu não pode? Que isso não é coisa pra menina. Isso é coisa pra homem.

— Como se vocês fosse tudo uns homão. É tudo uns menino.”Jorge Amado. Capitães da Areia. São Paulo: Martins Editora, 34ª ed., s/d.

a)Incorreta. Dora, sentindo-se à margem da sociedade, rompe com a convenção social ao optar por usar calças. Essa identificação com os meninos, influenciada pela teoria determinista, desenvolve nela uma dúvida sobre sua preferência sexual. Dora decide usar calças porque o vestido dificultava seus movimentos e, sendo membro do grupo de meninos de rua, precisava de agilidade. Não há no trecho em questão nenhuma marca que possa pôr em dúvida a preferência sexual da personagem.

b) Correta. A linguagem coloquial usada por Jorge Amado neste romance enfatiza o estilo de denúncia social por fixar tipos marginalizados para, através deles, analisar toda uma sociedade. Os romances de Jorge Amado, vazados numa linguagem que retrata o falar do povo, são marcados pelo lirismo e pela postura ideológica que defendia.

c) Incorreta. Essa obra representa um movimento de rebeldia juvenil incitado pela ideologia hippie que pregava “sexo, drogas e rock and roll”. Essa fase de Jorge Amado evidencia um lado pitoresco, marcada pela crônica de costumes. O livro narra a vida de meninos abandonados, nas ruas de Salvador, os quais, apesar de marginais, ao final, organizam-se como um grupo político que defende ideias revolucionárias.

d) Incorreta. Pedro Bala, personagem central da obra, é um jovem de classe média, politizado, que abdica de seu cotidiano, para integrar-se a um grupo político que defende ideias revolucionárias. Pedro Bala é a representação do descaso, do abandono tanto familiar quanto governamental. É o chefe dos Capitães da Areia, que, depois, torna-se líder político, lutando pela mudança do destino de outras crianças abandonadas do país.

e) Incorreta. Dora é a representação da ingenuidade e da inocência. Iludida por Pedro Bala, acaba fazendo parte do grupo Capitães da Areia que consistia em um bando de delinquentes que viviam de furtos pela cidade de Salvador. Embora ainda criança, Dora demonstra coragem, ousadia, ideologia. Não é, por isso, iludida por Pedro Bala, faz parte dos Capitães da Areia por vontade própria, sendo a única menina do grupo.

25. (FATEC) “A cidade está alegre, cheia de sol. Os dias da Bahia parecem dias de festa, pensa Pedro Bala, que se sente invadido também pela alegria. Assovia com força, bate risonhamente no ombro de Professor. E os dois riem, e logo a risada se transforma em gargalhada. No entanto, não têm mais que uns poucos níqueis no bolso, vão vestidos de farrapos, não sabem o que comerão. Mas estão cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas ruas da cidade. E vão rindo sem ter do que, Pedro Bala com o braço passado no ombro de Professor. De onde estão podem ver o Mercado e o cais dos saveiros e mesmo o velho trapiche onde dormem.” (http/www.culturabrasil.org/zip/ Acesso em: 20.03.14. Adaptado)

É correto afirmar que esse fragmento foi extraído do romance

a) “O cortiço”, de Aluísio de Azevedo.

b) “São Bernardo”, de Graciliano Ramos.

c) “Capitães da areia”, de Jorge Amado.

d) “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.

e) “Sagarana”, de Guimarães Rosa.

26. (UFSC) […]. Depois Volta Seca chegou com um jornal que trazia notícias de Lampião. Professor leu a notícia para Volta Seca e ficou vendo as outras coisas que o jornal trazia. Então chamou: – Sem-Pernas! Sem-Pernas! […] E leu uma notícia no jornal: Ontem desapareceu da casa número… da rua…, Graça, um filho dos donos da casa, chamado Augusto. Deve ter se perdido na cidade que pouco conhecia. É coxo de uma perna, tem treze anos de idade, é muito tímido, veste roupa de casimira cinza. A polícia o procura para o entregar aos seus pais aflitos, mas até agora não o encontrou. A família gratificará bem quem der notícias do pequeno Augusto e o conduzir a sua casa. O Sem-Pernas ficou calado. Mordia o lábio. Professor disse: – Ainda não descobriram o furto… Sem-Pernas fez que sim com a cabeça. Quando descobrissem o furto não o procurariam mais como a um filho desaparecido. Brandão fez uma cara de riso e gritou: – Tua família tá te procurando, Sem-Pernas. Tua mamãe tá te procurando pra dar de mamar a tu… Mas não disse mais nada, porque o Sem-Pernas já estava em cima dele e levantava o punhal. E esfaquearia sem dúvida o negrinho se João Grande e Volta Seca não o tirassem de cima dele. Brandão saiu amedrontado. O Sem-Pernas foi indo para o seu canto, um olhar de ódio para todos. Pedro Bala foi atrás dele, botou a mão em seu ombro: – São capazes de não descobrir nunca o roubo, Sem-Pernas. Nunca saber de você… Não se importe, não. – Quando doutor Raul chegar vão saber… E rebentou em soluços, que deixaram os Capitães da Areia estupefatos. AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 133-134.Com base no texto , na leitura do romance Capitães da areia e no contexto do Modernismo brasileiro, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01.Capitães da areia inclui-se entre as obras do chamado Regionalismo de 30, cujas temáticas compreendem, entre outros aspectos, a denúncia das mazelas sociais do Brasil.

02. Augusto – apelidado pelos capitães da areia de Sem-Pernas, devido a uma deficiência física – abandona a casa dos pais após ter furtado objetos de valor e se une aos capitães da areia; a vergonha, mais que o temor do castigo, impede-o de voltar para casa.

04. A agressão de Sem-Pernas a Barandão representa um ponto de virada na história porque, a partir de então, Sem-Pernas, que sempre fora calmo e reservado, passa a agredir os colegas, até que Pedro Bala o expulsa do grupo e ele comete suicídio.

08. Na composição das personagens que habitam o trapiche, Jorge Amado adota um procedimento semelhante: nenhum dos meninos é mau por natureza, porém eles cometem más ações por força das circunstâncias sociais.

16. No período “A família gratificará bem quem der notícias do pequeno Augusto e o conduzir a sua casa” , a expressão “a sua casa” poderia ser escrita como “à sua casa”, sem que isso implicasse desrespeito à norma padrão.

SOMA: 01 + 04 + 08 + 16 = 29

27. (FATEC ) Logo depois transferiu-se para o trapiche [local destinado à guarda de mercadorias para importação ou exportação] o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então para o trapiche.

Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades, as mais variadas, desde os 9 aos 16 anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações… (AMADO, Jorge. O trapiche. Capitães de Areia. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1937. Adaptado.)

Capitães de Areia é um romance, de Jorge Amado, que trata

a)da vida de órfãos sobreviventes de um naufrágio ocorrido perto da cidade de Pernambuco.

b)do sofrimento de um grupo de meninos sobreviventes de uma chacina no Rio de Janeiro.

c)do drama vivenciado por jovens chineses e africanos encontrados nos porões de um navio no porto de Santos.

d)da pobreza vivida pelos jovens fugidos de um reformatório em busca do sonho de liberdade em Recife.

e)das histórias cotidianas de meninos de rua que lutam pela sobrevivência em Salvador.

28. (UEAP) Considerando que a narrativa do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado está organizada em três partes, assinale a alternativa correta.

a)A primeira parte trata da desintegração do bando, dos principais líderes; a segunda segue com o relato da história de amor que surge quando Dora torna-se a primeira “capitã da areia” e, finalmente, na terceira parte o autor traça o perfil dos meninos que compõe o bando.

b)A narrativa começa com a apresentação dos meninos, segue com Dora, a “capitã da areia”; e termina com a desintegração do bando e seus destinos.

c)A primeira parte sobre Pedro Bala, o líder; a segunda sobre Volta Seca, que é afilhado de Lampião e sonha em tornar-se cangaceiro; e, a terceira sobre o Professor, menino muito talentoso que lê e desenha.

d)A primeira parte revela a indignação do narrador diante da tomada da cidade da Bahia pelos meninos de rua; a segunda marca a perplexidade de se ver uma menina fazendo parte do bando; a terceira trata do relato impiedoso do trágico e inevitável destino dos meninos do bando.

e)Nas três partes, a narrativa apresenta apenas, os problemas enfrentados pelos meninos que vivem no cais da Bahia, sem, contudo, fazer referência aos maus tratos sofridos por eles.

29. (PUC-SP) Grita, xinga nomes. Ninguém o atende, ninguém o vê, ninguém o ouve. Assim deve ser o inferno. Pirulito tem razão de ter medo do inferno. É por demais terrível. Sofrer sede e escuridão. (…) Seu pai morrera para mudar o destino dos doqueiros. Quando ele sair será doqueiro também, lutar pela liberdade, pelo sol, por água e de comer para todos. Cospe um cuspo grosso. A sede aperta sua garganta. Pirulito quer ser padre para fugir daquele inferno.

O trecho acima integra o romance Capitães de Areia, de Jorge Amado. Descreve a situação de Pedro Bala, preso no reformatório, confinado num cubículo escuro, com fome, sede e humilhação de não poder ficar de pé. A propósito deste trecho, pode-se afirmar que

a) simboliza, na narrativa, a descida aos infernos da história romanesca. Na dor dessa prova definitiva, o herói retempera o seu amor à liberdade com nova disposição para a luta social.

b) a palavra inferno, repetida no texto, é apenas um desabafo do protagonista e não projeta nenhuma analogia com a situação geral das crianças e da sociedade.

c) o estilo quase telegráfico do texto, quebra o ritmo da narrativa e impede a possibilidade de criação e de efeitos estéticos.

d) desprovido de recursos estilísticos, limita-se a informar a situação do protagonista, mediante a utilização de uma linguagem objetiva e direta., marcadamente referencial.

e) dá a chave para compreender o mundo interior do personagem, aflorado no texto pelo intenso uso do discurso direto.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

A imagem adiante foi criada por Luís Jardim, para ilustrar o conto “Famigerado”, de “Primeiras estórias”. Considerando as relações entre a imagem e o conto que ela ilustra, responda ao que se pede. a) Quem são as personagens representadas na ilustração? Como está figurada, na imagem, a relação entre essas personagens? Explique sucintamente.

b) Que elemento da narrativa está representado pelo grande ponto de interrogação?

RESPOSTAS:

a) As personagens representadas na ilustração são o jagunço Damázio e três moradores “da Serra”, que foram arregimentados pelo marginal para servirem de testemunhas da resolução da dúvida que o assaltava. A relação de dominação entre eles é representada pela apresentação de Damázio em primeiro plano e dos “tristes três” ao fundo, com os braços levantados, coagidos, constrangidos.

b) O grande ponto de interrogação representa a dúvida que assalta o jagunço Damázio, que quer saber, do narrador, o significado da palavra “famigerado”, adjetivo que lhe foi dirigido por um moço do governo.
O narrador, apavorado, não quer provocar a ira do malfeitor e procura esconder de Damázio o significado popular e pejorativo. Em todo o conto “Famigerado”, portanto, Guimarães Rosa joga com essa ambivalência de sentidos. A dúvida é linguística, mas assume, na narrativa, um caráter dramático existencial.

2. (FUVEST) As meninas Nhinhinha e Brejeirinha são, respectivamente, personagens principais de “A menina de lá” e de “Partida do audaz navegante”, contos de PRIMEIRAS ESTÓRIAS. a) Embora ambos os contos tenham como ambiente o meio rural, há, neles, elementos que permitam assinalar uma diferença DE NÍVEL SOCIAL entre essas personagens? Justifique sucintamente sua resposta. b) Qual dessas personagens se vincula primordialmente à própria literatura e qual se relaciona também, de modo explícito, à religião? Justifique brevemente sua resposta.

RESPOSTA:

a) Nhinhinha vive no ambiente rural, rústico e primitivo. Seu pai era um sitiante, que sabia trabalhar na lavoura e cuidar do gado. Já Brejeirinha mora na zona rural; porém com articulações mais complexa: o primo Zito, a “caixa de fósforos” levam-nos a outras séries literárias.

b) Brejeirinha é a contadora de histórias, enquanto Nhinhinha é vista com poderes milagrosos. Como dizia a mãe: “Santa Nhinhinha”.

3. (FUVEST):Muitas personagens das PRIMEIRAS ESTÓRIAS acham-se privadas de saúde, de recursos materiais, de posição social e até mesmo do pleno uso da razão. Pelos esquemas de uma lógica social moderna, estritamente capitalista, só lhes resta esperar a miséria, a abjeção, o abandono, a morte. O narrador, cujo olho perspicaz nada perde, não poupa detalhes sobre o seu estado de carência extrema. Apesar disso, os contos não correm sobre os trilhos de uma história de necessidades, mas relatam como, através de processos de suplência afetiva e simbólica, essas mesmas criaturas conhecerão a passagem para o reino da liberdade. (Alfredo Bosi, “Céu, inferno”) Este texto aponta um aspecto muito relevante de vários contos de “Primeiras estórias”, de Guimarães Rosa: a “passagem” de um estado de “necessidade” para o “reino da liberdade”. Tendo em vista esse aspecto, explique sucintamente essa “passagem” nos seguintes contos: a) “Sorôco, sua mãe, sua filha” (em que Sorôco leva as outras duas personagens, loucas, para o embarque no trem que as conduzirá ao hospício); b) “Substância” (em que se narra a história de Maria Exita, cujo ofício era o de partir o polvilho).

RESPOSTAS:

a) Em “Sorôco, sua mãe, sua filha” o canto solidário daqueles que acompanhavam Sorôco, o compartilhar da dor e da “loucura” do homem que se despedia para sempre de seus maiores vínculos afetivos, é o instante de “passagem”, em que a linguagem poderosa do autor cria um instante mágico. O canto daqueles “orfeus” sertanejos instaura uma dimensão intensamente humana e lírica: “A gente, com ele (Sorôco), ia até aonde que ia aquela cantiga”. É a dor e a loucura que se transformam em afeto e solidariedade.

b) Em “Substância”, um dos belos “contos de fadas” do livro, a pedra e o trabalho árduo de fazer cada vez mais branco o polvilho são os elementos que promovem a transformação “alquímica ” da imagem de Maria Exita, aos olhos do apaixonado Sionésio. É como se um rito penitencial purificasse a imagem da mulher, filha de um leproso e de uma leviana, irmã de dois bandidos. Os nomes ajudam a instaurar esse clima de magia: Sionésio ë Sion, Sião (Jerusalém); Maria (mãe de Cristo); Exita (do latim exire, “sair”), Ex (do latim, de), Ita (do Tupi, pedra).

Textos para as questões 04 e 05

I – Olhou curtamente! Levou a mão ao cinturão? Não. A gente, era que assim previa, a falsa noção do gesto. Só disse, subitamente ouviu-se: ¾ “Moço, o senhor vá, se recolha. Sucede que o meu saudoso irmão é que era um diabo de danado…”

Disse isso, baixo e mau-som. Mas se virou para os presentes. Seus dois outros manos, também. A todos, agradeciam. Se não é que não sorriam, apressurados. Sacudiam dos pés a lama, limpavam as caras do respingado. Doricão, já fugaz, disse, completou: ¾ “A gente, vamos embora, morar na cidade grande…” O enterro estava acabado. E outra chuva começava.

II – Alvava.

Assim; mas era também o exato, grande, o repentino amor ¾ o acima. Sinésio olhou mais sem fechar o rosto, aplicou o coração, abriu bem os olhos. Sorriu para trás. Maria Exita. Socorria-a a linda claridade. Ela ¾ ela! Ele veio para junto. Estendeu também as mãos para o polvilho ¾ solar e estranho: o ato de quebrá-lo era gostoso, parecia um brinquedo de menino. Todos o vissem, nisso, ninguém na dúvida. E seu coração se levantou. ¾ “Você, Maria, quererá, a gente, nós dois, nunca precisar se separar? Você, comigo, vem e vai? Disse, e viu. O polvilho, coisa sem fim. Ela tinha respondido: ¾ “Vou demais.” Desatou um sorriso. Ele nem viu. Estavam lado a lado, olhavam para a frente. Nem viam a sombra da Nhatiaga, que quieta e calada, lá, no espaço do dia.

Sinésio e Maria Exita ¾ a meios-olhos, perante o refulgir, o todo branco. Acontecia o não-fato, o não-tempo, silêncio em sua imaginação. Só o um-e-outra, um em-si-juntos, o viver em ponto sem parar, coraçãomente: pensamento, pensamor. Alvor. Avançavam, parados, dentro da luz, como se fosse no dia de Todos os Pássaros.
4. Com base na leitura de Primeiras Estórias, de onde foram extraídos os fragmentos acima, indique alguns recursos utilizados por Guimarães Rosa em sua pesquisa da palavra.

5. Identifique os contos de Primeiras Estórias a partir dos textos acima.

RESPOSTAS:

4. Guimarães Rosa era um grande pesquisador da língua e são seus recursos a aglutinação e repetição de palavras, o emprego de aliterações, assonâncias, silepses, anacolutos, inversões de frases feitas, provérbios sertanejos, a prosa rimada, o vocabulário coloquial e o aportuguesamento de palavras estrangeiras. 

5. I) “Os Irmãos Dagobé”
II) “Substância” 

6. (FUVEST) “Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?” “Pai o senhor está velho, já fez seu tanto… Agora, o senhor vem, não carece mais… . O senhor vem e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas as vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!…” Os fragmentos foram extraídos do conto “A Terceira Margem do Rio”, do livro PRIMEIRAS ESTÓRIAS, de João Guimarães Rosa. a) Na sua opinião, o que simbolizaria essa terceira margem do rio? b) Quais os elementos que demonstram a intencional elaboração de linguagem realizada no primeiro período transcrito?

RESPOSTAS:

a) Muitas respostas são possíveis: aspectos transcendentes, misteriosos, loucura, etc.

b) Cê, ocê, você. Há conotação do distanciamento do pai, pela gradação do “cê”, familiar, para “você”, formal e distante.

7. (FUVEST) A gente via Brejeirinha: primeiro, os cabelos, compridos, lisos, louro-cobre; e, no meio deles, coisicas diminutas: a carinha não-comprida, o perfilzinho agudo, um narizinho que-carícia. Aos tantos, não parava, andorinhava, espiava agora – o xixixi e o empapar-se da paisagem – as pestanas til-til. Porém, disse-se-dizia ela, pouco se vê, pelos entrefios: – “TANTO CHOVE, QUE ME GELA” (Guimarães Rosa, “Partida do audaz navegante”, PRIMEIRAS ESTÓRIAS) a) Os diminutivos com que o narrador caracteriza a personagem traduzem também sua atitude em relação a ela. Identifique essa atitude, explicando-a brevemente. b) “Andorinhava” é palavra criada por Guimarães Rosa. Explique o processo de formação dessa palavra. Indique resumidamente o sentido dessa palavra no texto.

RESPOSTAS:

a) O narrador, que se insinua discretamente na expressão “a gente”, adere ao universo infantil de sua personagem, reproduz seu pensamento e a maneira peculiar de a criança ver e sentir o mundo. Os diminutivos são os recursos expressivos que reforçam essa identidade narrador-personagem, bem como traduzem uma aproximação terna entre ambos: “Brejeirinha ” (nome próprio derivado de adjetivo “brejeira”, sugerindo a beleza despojada, associada à natureza), “coisas diminutas “, “carinha “, “perfilzinho “, “narizinho “.

b) O neologismo, tipicamente rosiano, “andorinhava” constrói-se por derivação sufixal. A criação do verbo a partir do substantivo instaura uma constelação de sentidos, todos eles tendentes a valorizar as idéias conjugadas de movimento e leveza, de mover-se com a graça de andorinha. No campo sonoro, há ainda o expressivo efeito que decorre da associação entre “andar” e “andorinhava”. 

8. (FUVEST) Considere as afirmações a seguir e responda às questões referentes a cada uma delas: I – Em “Primeiras estórias”, o autor escolheu realizar um mergulho profundo no Brasil ainda arcaico e rural, preferindo, por isso, excluir do livro os assuntos que se relacionassem aos processos de modernização do país. a) Você concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente sua resposta. II – Diante do estilo empregado na composição da maioria dos contos de “Primeiras estórias”, o leitor se vê forçado a renunciar a uma recepção passiva, sendo levado a participar ativamente da produção do sentido. b) Essa afirmação é correta? Justifique resumidamente sua resposta.

RESPOSTAS:

a) Não. Os espaços focalizados na obra em questão não são apenas os de um Brasil ainda arcaico e rural. Em vários contos as referências são urbanas, como em “O Espelho”, “Darandina”, “Pirlimpsiquice” etc. Há outros contos que, mesmo enquadrados em meio rural, apresentam índices do processo de modernização do país – em “A Terceira Margem do Rio”, por exemplo, há lancha e repórteres. Cabe lembrar que, no primeiro e no último conto do livro, respectivamente “As Margens da Alegria” e “Os Cimos”, o protagonista, um menino, viaja com o tio engenheiro para o “lugar onde se construía a grande cidade”. Pelas referências existentes nos textos, pode-se supor que se trata de Brasília, a então futura capital do país. Em tais contos um subtema importante é o depauperamento da natureza em favor do estabelecimento da urbanidade e do progresso.

b) Sim, pois uma das características mais marcantes do estilo rosiano está na elaboração de uma linguagem inovadora e plena de experimentalismo, cuja decodificação obriga o leitor a uma incessantemente vigília imposta pela originalidade de tal escritura.
A estrutura dos contos também exige uma leitura que se move entre dois planos básicos: o da ação vivenciada pelas personagens (sintaxe narrativa) e o que transcende esse primeiro nível e remete constantemente a uma dimensão metafísica e espiritual (semântica da narrativa). Assim, cabe ao leitor buscar ativamente, para além do narrado, o sentido implícito, que, quase sempre, se consubstancia numa alegoria
.

9. (FUVEST) Ao contista de “Primeiras estórias”, as manifestações da loucura interessam não como casos clínicos, e sim como campo propício à invasão do extraordinário, do mítico, do mágico – numa palavra, da poesia – que irrompem no meio das acomodações cotidianas, questionando o que é considerado normal.(Adaptado de Paulo Rónai) a) O questionamento de que se fala na afirmação acima ocorre no conto “Darandina” (em que se narra a história do homem que sobe em uma palmeira)? Explique sucintamente. b) E no conto “Tarantão, meu patrão” (no qual se conta a cavalgada do velho João-de-Barros-Diniz-Robertes, com seus acompanhantes, rumo à cidade), o referido questionamento ocorre? Justifique resumidamente sua resposta.

RESPOSTAS:

a) “Darandina” propõe um tema análogo ao de “O Alienista: “Se todo mundo é louco, ninguém é louco, diluindo-se os limites entre normalidade e loucura”. No conto de G. Rosa, são loucos o homem “empalmeirado”, os psiquiatras, os transeuntes e os curiosos.

b) A quixotesca cavalgada de João-de-Barros Dinis Robertes contra o doutor Magrinho encerra o triunfo do velho senil como um rito glorioso de preparação para a morte.

– Famigerado? [ … ]

– Famigerado é “inóxio”, é “célebre”, “notório”, “notável” …

 – Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?

 – Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos …

– Pois … e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia de semana?

 – Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito … ROSA, G. Famigerado. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

10. Nesse texto, a associação de vocábulos da língua portuguesa a determinados dias da semana remete ao

a) local de origem dos interlocutores.

b) estado emocional dos interlocutores.

c) grau de coloquialidade da comunicação.

d) nível de intimidade entre os interlocutores.

e) conhecimento compartilhado na comunicação.

11. (CESGRANRIO) Considere as afirmações a seguir. I – O conto constitui uma unidade dramática, contém um só conflito e seu epílogo corresponde em geral, ao clímax da história. II – João Guimarães Rosa estendeu por inúmeros livros de conto (entre eles, PRIMEIRAS ESTÓRIAS) sua revolução na linguagem com a recriação e invenção de palavras, tendo como ponto de partida a fala dos sertanejos. III – Machado de Assis é um “contador de histórias da cidade.” Escreveu excelentes contos dentre os quais se destacam “O ALIENISTA”, “MISSA DO GALO”, “CANTIGA DE ESPONSAIS”. IV – Autor de numerosos livros de poemas, Mário de Andrade escreveu apenas um conto: CONTO DE NATAL. São verdadeiras as afirmações: a) I e IV apenas. b) II e III apenas. c) II e IV apenas.

d) I, II e III apenas.


e) I, III e IV apenas.

12. (PUC-SP) Do conjunto dos contos que constitui PRIMEIRAS ESTÓRIAS, selecionamos “As margens da alegria”. É possível afirmar que o enredo desta narrativa se resume a
a) viagem de um menino feita em estado de sonho. b) clima mágico que envolve Nhinhinha cujos pensamentos se fazem milagrosamente realidade. c) história de duas loucas que cantam e cuja canção contagia o povoado. d) situação de meninos que, fazendo teatro, inventam palavras de uma história nunca ouvida.

e) êxtase do amor que se transfunde na sensação de ofuscamento que vem da matéria branca, o polvilho.

13. (UFSM-RS) Guimarães Rosa costumava dizer que “decifrar mistérios é ótimo. Diverte e exercita o cérebro”. É assim que ele desafia o leitor, ao propor para um conto de Primeiras histórias a seguinte ilustração:

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

Os cinco elementos trazem sugestões simbólicas que se associam por adição.

            Considerando que

         = o infinito, em linguagem matemática,

            afirma-se que o mistério proposto pelo escritor mineiro pode ser decifrado por

a) “Partida do audaz navegante”, pois tem como tema um homem que, numa canoa, chega a determinada cidade e sequestra duas crianças.

b) “A terceira margem do rio”, pois , o infinito, simboliza a terceira margem, o rio adentro, a busca do ponto mais elevado do desenvolvimento mental.

c) “Famigerado”, pois Damásio, dos Siqueiras, ao morrer no fim do conto, atinge o ponto mais elevado do desenvolvimento mental.

d) “O espelho”, pois o elemento  remete à batalha dos índios protagonistas do conto, em sua infinita busca de perfeição.

e) “Sequência”, pois o conto retrata a eterna busca de um homem, a fim de resgatar uma vaquinha fujona, que remete a , símbolo do infinito, já que a procura não termina nunca.

 14. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Famigerado” (Primeiras Estórias, 1962), de João Guimarães Rosa (1908-1967)
[…] Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz- megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…? Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação? – “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…” Se sério, se era. Transiu-se-me. “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem tem o legítimo – o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei? Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

Famigerado?


“Sim senhor…” – e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo – apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. – Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio: “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…” Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…

“Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”

Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado – bem famigerado, o mais que pudesse!… “Ah, bem!…” – soltou, exultante.

(ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 15-16.)

As palavras de Damázio são registradas de maneira condizente com sua origem sertaneja. Assim, lê-se, no texto, entre muitas outras expressões similares, “pra mor de lhe preguntar a pregunta”. Tal fato revela: a) Preconceito do autor com relação ao sertanejo iletrado, marginalizando-o através da fiel transcrição de sua fala em desacordo com a norma linguística vigente e incompreensível para o homem culto da cidade. b) Descaso do autor com o registro da fala do homem do sertão, somando-se, desta forma, com a política brasileira dominante em 1962, quando seu livro foi escrito, que pouco se ateve à problemática destes seres marginalizados. c) Consciência política do autor que, através do registro da fala arcaica de seus sertanejos, objetiva trazer à tona problemas concernentes à marginalidade e à subserviência experimentadas por esses homens incapazes de ostentar alguma forma de poder. d) Vínculo da obra rosiana com obras regionalistas brasileiras que a antecederam nas quais há o registro concomitante de duas falas muito diferentes entre si, a do sertanejo e a do homem da cidade, como é o caso, por exemplo, de São Bernardo, de Graciliano Ramos.

e) Conhecimento, por parte do autor, da existência de um ser outro, ainda que também brasileiro, distinto daquele que se faz presente na cidade, sendo que sua especificidade registra-se de diferentes maneiras, inclusive na maneira como fala.

15. (UFSM)Assinale a alternativa correta a respeito de PRIMEIRAS ESTÓRIAS, de Guimarães Rosa. a) Os enredos giram em torno das personagens Riobaldo e Diadorim. b) Em todos os contos, como marca compositiva do autor, o narrador é de primeira pessoa.

c) Entre os personagens, destacam-se seres rústicos e exóticos, ao gosto de Rosa.

d) Os temas alternam situações passadas no sertão e flagrantes das grandes metrópoles.

e) A linguagem dos contos segue os padrões da norma culta e está adequada à tradição da narrativa ficcional.

16. (UFES) ” – Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os outros ignoram […] Sim? Mas, então, está irremediavelmente destruída a concepção de vivermos em agradável acaso sem razão nenhuma, num vale de bobagens? Disse. Se me permite, espero, agora, sua opinião, mesma, do senhor, sobre tanto assunto. Solicito os reparos que se digne dar-me, a mim, servo do senhor, recente amigo, mas companheiro no amor da ciência, de seus transviados acertos e de seus esbarros titubeados. Sim?” Os trechos supracitados, de um conto de “Primeiras estórias”, de Guimarães Rosa, fazem um convite ao leitor para responder a certas questões referentes à natureza da vida e da existência humana a partir da temática tratada em sua narrativa. Marque a alternativa cuja seqüência indique CORRETAMENTE temática, título e sinopse do conto do qual os trechos acima foram retirados. a) Amor/ “Substância”: moça, contratada para o ofício de quebrar polvilho, ao crescer é estuprada pelo patrão fazendeiro. b) Culpa / “A terceira margem do rio”: personagem sem nome conta as razões transcendentais que levaram seu pai a se isolar em ilha deserta.

c) Imagem / “O espelho” : personagem sem nome especula em torno de uma experiência em que o espelho se revela como metáfora da alma.

d) Loucura / “Sorôco, sua mãe, sua filha”: os personagens do título, antes de serem levados para o manicômio, são alvos de chacota por parte da população.

e) Medo / “Famigerado”: médico radicado no interior recebe a visita de retirantes nordestinos em busca de pouso e alimentação.

17. (UFMG-MG) Leia estes trechos:

         Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado em que tacteia, privo, mal-existente, o que é, cabidamente, é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática verdade. GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. Primeiras estórias, 45. ed., p. 116.

     O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda a achatava mais batendo nela todos os dias e falando pro guri:

       — Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro. ANDRADE, Mário de. Macunaíma, 31. ed., p. 28.

 Com base nessa leitura, é INCORRETO afirmar que os dois trechos

a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e filho.

b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões populares.

c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.

d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.


18. O fragmento textual que segue, retirado da narrativa A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa, servirá de base para a questão 75.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio — o rio — pondo perpétuo [grifo nosso]. Eu sofria já o começo da velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais.

De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar o vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando ideia. ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976.

(UFRN-RN) No quadro do Modernismo literário no Brasil, a obra de Guimarães Rosa destaca-se pela inventividade da criação estética.

Considerando-se o fragmento em análise, essa inventividade da narrativa roseana pode ser constatada através do(a)

a) recriação do mundo sertanejo pela linguagem, a partir da apropriação de recursos da oralidade.

b) aproveitamento de elementos pitorescos da cultura regional que tematizam a visão de mundo simplista do homem sertanejo.

c) resgate de histórias que procedem do universo popular, contadas de modo original, opondo realidade e fantasia.

d) sondagem da natureza universal da existência humana, através de referência a aspectos da religiosidade popular.

19. (FUVEST) I. Em “Vidas Secas”, a existência dos seres oprimidos e necessitados é apresentada como um mundo fechado, no qual os sonhos e esperanças são ilusões; já em “Primeiras estórias”, na vida de carências e opressões, algumas vezes abrem-se brechas que dão lugar à solidariedade, ao humor e aos sonhos realizáveis. II. Em “Primeiras estórias”, o homem rústico, dotado de cultura oral-popular, já se encontra ausente; em “Vidas secas”, ele ainda ocupa o centro da narrativa. III. Em “Vidas secas”, a visão de mundo das personagens infantis é parte importante da narrativa; já naqueles contos de “Primeiras estórias” em que elas surgem, a percepção da criança não se mostra importante ou reveladora. A oposição entre “Vidas secas” e “Primeiras estórias” está correta apenas em

a) I.

b) II. c) I e II. d) I e III.

e) II e III.

20. (UFRS) Assinale a afirmação correta em relação à obra “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa.
a) Em “As Margens da Alegria”, narra-se a viagem de um menino que vive experiências marcantes no contato com a natureza. b) Em “Sorôco, sua Mãe, sua Filha”, uma família de três pessoas embarca rumo à capital mineira num trem de passageiros enviado pelo governo. c) Em “Os Irmãos Dagobé”, Liojorge, bandido responsável pelo assassinato de Damastor Dagobé, é punido pelos familiares da vítima, logo após o velório. d) Em “A Terceira Margem do Rio”, um pai de família encomenda uma canoa, despede-se dos seus e parte para a capital, sem atender aos diferentes apelos.

e) Em “O Espelho”, a vaidade feminina é objeto das mais diferentes reflexões sobre a beleza e sobre a imagem do rosto da mulher.

21. (UFMG) Leia estes trechos: Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado em que tateia, privo, mal existente, o que é, cabidamente, é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática verdade. (GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. “Primeiras estórias”, 45 ed., p. 116.) O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda a achatava mais batendo nela todos os dias e falando pro guri: – Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro. (ANDRADE, Mário de. “Macunaíma”, 31 ed., p. 28). Com base nessa leitura, é INCORRETO afirmar que os dois trechos

a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e filho.

b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões populares. c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.

d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.

Texto para a questão 22:

“— ‘Vosmecê me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado…

fas-me-gerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?’

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a nudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, findo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— ‘Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…’

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— ‘Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo – o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias…

Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fala, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe preguntei?’

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

— Famigerado?

— ‘Sim senhor’… — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo – apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. –

Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro interim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— ‘Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…’

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é enôxio, é: ‘célebre’, ‘notório’, ‘notável’…

[…]

— Famigerado? Bem. É: ‘importante‘, que merece louvor, respeito…

— ‘Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na escritura?’

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o senhor me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado – bem famigerado, o mais que pudesse!…

— ‘Ah! Bem!…’ – soltou, exultante.”

ROSA, Guimarães. O Famigerado. In: Primeiras Estórias.

22. ( CEFET-RJ) Assinale a opção falsa.

Em Guimarães Rosa, autor pós-modernista,

a) a criatividade acaba por submeter-se à tirania da gramática e dos dicionários dos outros, ainda que isso provoque mutilações irreversíveis.

b) o sertão aparece como uma forma de aprendizado sobre a vida, sobre a existência, não apenas do sertanejo, mas do homem. “O sertão é o mundo.”

c) a linguagem é a verdadeira matéria e, ainda que calcada em aspectos do falar sertanejo, mistura-se à pesquisa erudita, à exploração sonora, sintática e semântica do português.

d) o folclórico, o pitoresco e o documental cedem lugar a sua maneira nova de repensar as dimensões da cultura.

e) o sertão não se restringe aos limites geográficos brasileiros, ainda que dele extraia a sua matéria-prima.

 23. (UFLA) No conto Os Cimos (Primeiras Estórias, Guimarães Rosa), o menino mostra-se essencialmente a) corajoso b) determinado c) esperto d) revoltado

e) inseguro

24. (UFMG)  Com relação aos contos “A terceira margem do rio” e “Partida do audaz navegante”, de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, é INCORRETO afirmar que ambos constituem narrativas que

a) focalizam uma situação de separação vivida pelas personagens.

b) se constroem a partir da focalização de uma situação familiar.

c) se constroem a partir do ponto de vista de um narrador em primeira pessoa.

d) se constroem a partir do ponto de vista infantil de um narrador-menino.

 25. (F. I. de Vitória-ES) Em um dos contos de Primeiras Estórias, o narrador dirige-se a um

interlocutor presente, cujas falas não são registradas, e, empregando linguagem pretensiosa,

põe em questão a identidade do homem e o sentido da vida; em outro, o foco-narrativo

situa-se na relação entre o letrado e o iletrado, extraindo-se dessa efeitos de surpresa e

humor, por causa do significado de uma palavra. Os contos são, respectivamente:

a) “A terceira margem do rio” e “O espelho”.

b) “O espelho” e “Famigerado”.

c) “A terceira margem do rio” e “Famigerado”.

d) “O espelho” e “Pirlimpsiquice”.

e) “Pirlimpsiquice” e “Famigerado

26. (UFSM) Leia os fragmentos a seguir. I. Foi de incerta feita – o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.  (“Primeiras estórias”, de Guimarães Rosa) II. Do leito, o velho André via o céu nublar-se, através da janela, enquanto as folhas da mangueira brilhavam com surda refulgência, como se absorvessem a escassa luz da manhã.  (“Melhores contos”, de Osman Lins) Quando se comparam os dois fragmentos, pode-se afirmar: I. Ambos focalizam personagens que observam pela janela a paz da natureza. II. Somente no primeiro, narrador e personagem compõem uma entidade única. III. As expressões “o arraial sendo de todo tranquilo” (trecho I) e “as folhas da mangueira brilhavam com surda refulgência” (trecho II) indicam, através de diferentes formas, referências a espaço e ambiente. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas III.

d) apenas II e III.


e) I, II e III.

27. (PUC-SP) O livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, começa com o conto “As margens da alegria” e termina com “Os cimos” . Há uma semelhança entre eles que é a caracterização do mundo interior de um menino, através de recursos do discurso indireto livre. Sobre esses dois contos, é possível afirmar que

a) os contos tratam do mesmo tema, ou seja, relatam situações vividas por um menino em companhia de seus tios, situações essas marcadas por envolvimentos emocionais diferentes.

b) o segundo conto é uma continuação do primeiro e, em ambos, a viagem se faz em estado de sonho.

c) as personagens e o contexto são os mesmos e em ambas as narrativas o menino se encanta com a beleza e o esplendor de um tucano.

d) o primeiro conto é marcadamente psicológico e poético e o segundo é mais satírico e prosaico.

e) o desfecho de ambos é trágico e inusitado e nega os títulos de ambas as narrativas.

28. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Famigerado” (Primeiras Estórias, 1962), de João Guimarães Rosa (1908-1967)
[…] Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz- megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…? Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação? – “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…” Se sério, se era. Transiu-se-me. “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem tem o legítimo – o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei? Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

Famigerado?


“Sim senhor…” – e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo – apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. – Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio: “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…” Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…

“Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”

Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado – bem famigerado, o mais que pudesse!…

“Ah, bem!…” – soltou, exultante.(ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 15-16.)

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o adjetivo “famigerado” significa “que tem fama; muito notável; célebre; famoso; famígero”. Acontece que, tendo sido utilizado inúmeras vezes associado à palavra malfeitor, “famigerado malfeitor”, acabou por adquirir o significado negativo do substantivo ao qual esteve reiteradamente ligado. Daí resultou uma segunda acepção: “mal afamado, perverso”. O segundo significado é resultante de desvio em relação ao significado primeiro. Com base nessa elucidação, na passagem do conto rosiano transcrita e no conto como um todo, considere as afirmativas a seguir. I. Damazio, o jagunço, procura o médico no arraial para esclarecimento a respeito da palavra “famigerado” porque acha que foi ofendido pelo moço do Governo que assim o denominou. II. A resposta oferecida pelo médico à questão levantada pelo jagunço não foi motivada pelo medo de possível violência por parte do jagunço, mas antes pelo seu conhecimento da língua portuguesa restrito aos registros da norma culta. III. Damazio só foi procurar pelo médico no arraial porque no sertão, embora existam dicionários disponíveis, “o legítimo – o livro que aprende as palavras”, não há quem possa resolver questões desta espécie. IV. Quando questionado pelo jagunço, o médico, para evitar maiores problemas, oferece-lhe o primeiro significado da palavra, engambelando, desta forma, o homem do sertão e evitando possível violência. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II.

b) I e IV.

c) III e IV. d) I, II e III.

e) II, III e IV.

29. (POLI) O trecho a seguir foi extraído do conto Nada e Nossa Condição, da obra Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. Vejamos:
Enfim, tornou para junto delas, de sua Liduína – imovelmente – a o século, como a quisessem: num amontôo de flores. Suspensas, as filhas, de todo ao não entender, mas adivinhar, dele a crédito vago esperassem, para o comum da dor, qualquer socorro. Ele, por detrás de si mesmo, pondo-se de parte, em ambíguos âmbitos e momentos, como se a vida fosse ocultável; não o conheceriam através de figuras. Sendo que refez sua maciez; e era uma outra espécie, decorosa, de pessoa, de olhos empalidecidamente azuis. Mas fino, inenganador, o rosto, cinzento moreno. Transluz-se que, fitando-o, agora, era como se súbito as filhas ganhassem ainda, do secesso de seus olhos, o insabível curativo de uma graça, por quais longínquos, indizíveis reflexos ou vestígios. Felícia, apenas, a mais jovem, clamou, falando ao pai: – “Pai, a vida é feita só de traiçoeiros altos-e-baixos? Não haverá, para a gente. Algum tempo de felicidade, de verdadeira segurança?” E ele, com muito caso, no devagar da resposta, suave a voz: – “Faz de conta, minha filha… Faz de conta…” Entreentendidos, mais não esperaram. Cabisbaixara-se, Tio Man`Antônio, no dizer essas palavras, que daí seriam as suas dele, sempre. Sobre o que, leve, beijou a mulher. Então, as filhas e ele choraram; mas com o poder de uma liberdade, que fosse qual mais forte e destemida esperança.

Tia Liduína, que durante anos de amor tinham-na visto todavia sorrir sobre sofrer – só de ser, vexar-se e viver, como, ora, dá-se – formava dolorida falta ao uso de afeto de todos. Tia Liduína, que já fina música e imagem.

Guimarães Rosa, Nada e Nossa Condição in Ficção Completa, vol. II: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. A partir de uma leitura atenta do trecho assinale a incorreta: a) O trecho relata o velório de Tia Liduína, marcado entre outras passagens em de sua Liduína – imovelmente – ao século. b) Tio Man’Antônio esforça-se por assumir uma feição de segurança diante das filhas, porém não consegue disfarçar completamente sua dor, o que fica evidente no trecho em que aparece o neologismo inenganador, no primeiro parágrafo). c) O trecho é o relato da festa de casamento das filhas de Tio Man’Antônio.

d) Tio Man’Antônio assumirá, ao longo da narrativa, uma dimensão mítica de justiça e de proteção, típica da figura paterna dos contos de fadas. O que já se insinua no trecho Faz de conta, minha filha… Faz de conta…, no segundo parágrafo.


e) No trecho Tia Liduína, que durante anos de amor tinham-na visto todavia sorrir sobre sofrer notamos uma construção típica de Rosa, como a conciliação dos opostos “sorrir” e “sofrer”.

30. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Famigerado” (Primeiras Estórias, 1962), de João Guimarães Rosa (1908-1967)
[…] Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz- megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…? Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação? – “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…” Se sério, se era. Transiu-se-me. “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem tem o legítimo – o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei? Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

Famigerado?


“Sim senhor…” – e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo – apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. – Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio: “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…” Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…

“Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”

Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado – bem famigerado, o mais que pudesse!… “Ah, bem!…” – soltou, exultante.

(ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 15-16.)

Assinale a alternativa em que os termos substituem, respectivamente, os neologismos “se famanasse” e “verivérbio”, sem alterar o sentido das frases no texto transcrito. a) Ficasse contente; a visão clara da verdade. b) Se sentisse enaltecido; a etimologia da palavra. c) Estivesse saciado; a opinião sincera do narrador. d) Ficasse famoso; a necessidade da palavra.

e) Agisse como valentão; o sentido preciso da palavra.

31. (PUC-SP) E o tucano, o voo, reto, lento como se voou embora, xô, xô! mirável, cores pairantes, no garridir; fez sonho. Mas a gente nem podendo esfriar de ver. Já para o outro imenso lado apontavam. De lá, o sol queria sair, na região da estrela-d’alva. A beira do campo, escura, como um muro baixo, quebrava-se, num ponto, dourado rombo, de bordas estilhaçadas. Por ali, se balançou para cima, suave, aos ligeiros vagarinhos, o meio-sol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora, era a bola de ouro a se equilibrar no azul de um fio. O Tio olhava no relógio. Tanto tempo que isso, o Menino nem exclamava. Apanhava com o olhar cada sílaba do horizonte.
Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guimarães Rosa, é incorreto afirmar que: a) é texto descritivo caracterizador da natureza, representada pela presença da ave e do amanhecer. b) utiliza recursos de linguagem poética como a onomatopeia, a metáfora e a enumeração. c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de encadeamento de palavras com força adjetiva.

d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o leitor e impede a manifestação da força poética do texto.


e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em “dourado rombo, de bordas estilhaçadas”, nasce o sol.

32. (PUC-SP) Sequência, LUAS-DE-MEL e SUBSTÂNCIA são contos da obra PRIMEIRAS ESTÓRIAS, de Guimarães Rosa, e têm como tema o amor. Qual dos contos a seguir pode ser lido, também, como uma estória de amor? a) “Fatalidade” b) “Pirlimpsiquice”

c) “Partida do Audaz Navegante”

d) “A Menina de Lá”

e) “As Margens da Alegria”

33. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Famigerado” (Primeiras Estórias, 1962), de João Guimarães Rosa (1908-1967)
[…] Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz- megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…? Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação? – “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…” Se sério, se era. Transiu-se-me. “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem tem o legítimo – o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei? Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

Famigerado?


“Sim senhor…” – e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo – apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. – Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio: “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…” Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”…

“Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”

Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito…

Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado – bem famigerado, o mais que pudesse!… “Ah, bem!…” – soltou, exultante.

(ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 14. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 15-16.)


Sobre os contos presentes em Primeiras Estórias (1962), de João Guimarães Rosa (1908-1967), considere as afirmativas a seguir. I. Em “Os Irmãos Dagobé”, a norma, considerando-se os valores do sertão, seria o assassinato de Liojorge, uma vez que aí a vingança é a lei. Acontece que Liojorge não é assassinado, pois os irmãos sertanejos resolvem mudar de vida, optando pelos valores da cidade. II. Em “Fatalidade”, a norma seria o assassinato de Herculião Socó, uma vez que a estória se passa no sertão. Zé Centeralfe prefere, no entanto, esquecer o acontecido, não chegando sequer a dirigir-se à delegacia de Amparo, onde certamente contaria com o auxílio da polícia. III. No final do conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, a comunidade acompanha Sorôco a sua casa, assumindo o canto de loucura dele, canto este que foi por ele tomado da mãe louca, que, por sua vez, em ato de solidariedade, tomou-o da neta em estado de completo delírio. O canto une a comunidade. IV. Em “A terceira margem do rio”, o sentimento de fracasso do filho deriva do fato de não ter amparado sua mãe no momento de infortúnio, deixando-a, juntamente com seus irmãos, à mercê do destino e de um padrasto cruel. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II.

b) I e III.

c) II e IV. d) I, III e IV.

e) II, III e IV.

34. (UFRS) Em relação ao conto “Famigerado”, de “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa, são feitas as seguintes afirmações. I – O narrador, homem letrado, recebe a visita de um conhecido facínora da região. II – Damásio Siqueira quer esclarecer o sentido de uma palavra dirigida a ele pelo “moço do governo”, com o qual se desentendera. III – O final do conto dissolve a tensão que vinha sendo construída desde o seu início. Quais estão corretas? a) Apenas I b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

35. (FUVEST) Elemento coletivo e contagiante, o canto funciona como fator de solidariedade entre as pessoas que se agrupam, na estação, em volta da personagem. O canto permite que dividam com ela a mágoa da partida dos parentes loucos e preenche o vazio que fica. Entre os contos de “Primeiras Estórias” a seguir nomeados, em qual deles se encontra esta situação? a) “Partida do Audaz Navegante”. b) “As Margens da Alegria”. c) “Fatalidade”. d) “Nenhum, Nenhuma”.

e) “Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha”.

36. (PUCCAMP) Em PRIMEIRAS ESTÓRIAS, de Guimarães Rosa, contos como “A menina de lá”, “Soroco, sua mãe, sua filha” e “A terceira margem do rio”, entre outros, podem ser associados às seguintes afirmações: I – Experiências excepcionais de criaturas visionárias têm a força de verdadeiras revelações mítico-poéticas. II – Elementos regionalistas são a matéria-prima trabalhada e transfigurada em estórias que ultrapassam os limites da observação realista. III – A linguagem enigmática é responsável pelo caráter abstrato das narrativas, pela irrelevância dos fatos tratados. Está correta a associação dos contos acima referidos ao que vem afirmado SOMENTE em a) I b) II c) III

d) I e II


e) II e III

37. (PUC-SP) O trecho anterior é do conto “A terceira margem do rio”, escrito por João Guimarães Rosa. Considerando o conto com um todo, é incorreto afirmar-se dele o seguinte: a) insere-se no livro PRIMEIRAS ESTÓRIAS, conjunto de contos de temática variada e de linguagem que, sem deixar de apresentar recursos de estilo, revela aproveitamento do coloquial e da fala popular. b) fala de um homem refugiado em uma canoa no meio do rio onde, em absoluto silêncio, resiste ao tempo. c) aborda o tema da loucura, presente também em outras narrativas que compõem o livro, entre as quais SORÔCO, SUA MÃE, SUA FILHA. d) sugere, no diz-que-diz das pessoas, que as razões do desatino da personagem estão ligadas à doideira, ao pagamento de promessa, à lepra ou a um aviso semelhante ao de Noé sobre o fim do mundo.

e) revela que o filho, narrador do conto, acaba tendo o mesmo final triste do pai, já que o substitui nas vagações rio afora.

38. (UFES) “Aquilo na noite do nosso teatrinho foi de Oh. O estilo espavorido. Ao que sei, que se saiba, ninguém soube sozinho direito o que houve. Ainda, hoje adiante, anos, a gente se lembra: mas, mais do repente que da desordem, e menos da desordem que do rumor. Depois, os padres falaram em pôr fim a festas dessas, no Colégio.” (“Pirlimpsiquice”) No livro “Primeiras estórias”, de Guimarães Rosa, ocorre a presença constante de crianças. Contos como “As margens da alegria”, “A menina de lá” e “Os cimos” são protagonizados por crianças. “Pirlimpsiquice” é a história de um grupo de crianças que ensaia uma peça. A partir deste conto, é CORRETO afirmar que a) a linguagem da narrativa segue o mesmo estilo do realismo machadiano. b) a narrativa não está em “flash-back”, pois o narrador não é personagem do conto. c) há personagens femininas – como a “atriz” Nhinhinha – entre os alunos que encenam a peça. d) o espaço – típico da obra rosiana – onde se desenrola a narrativa do conto é o sertão mineiro.

e) o neologismo “Pirlimpsiquice” envoca a magia e a fantasia do imaginário infantil.

39. (UFSM) Leia o trecho a seguir. NA ESTRADA das Tabocas, uma vaca viajava. Vinha pelo meio do caminho, como uma criatura cristã. A vaquinha vermelha, a cor grossa e afundada – o tom intenso de azamar. Ela solevava as ancas, no trote balançado e manso, seus cascos no chão batiam poeira.  (“Primeiras estórias”, de Guimarães Rosa.) Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmativas que se relacionam com a passagem transcrita do conto “Sequência”, de Guimarães Rosa. ( ) Pelo modo como trata as referências, pode-se afirmar que o narrador produz uma transfiguração estilística do universo do sertão. ( ) A maneira como utiliza as adjetivações e as definições indica que o narrador interpreta o mundo a partir de sua materialidade concreta. ( ) O uso da primeira pessoa leva o narrador a se confundir com o animal que domina a cena transcrita. ( ) “batiam poeira” significa que, ao bater no chão, os cascos da vaca levantavam poeira. A sequência correta é a) V – F – V – F. b) V – V – F – F. c) F – V – V – F. d) F – F – V – V.

e) V – V – F – V.

 40. (UFV JM) No conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, publicado no livro Primeiras Estórias (1962), a narrativa se constrói por meio de um relato em primeira pessoa que se propõe a contar um evento passado, em que o autor utilizou tanto a língua padrão culta quanto a inclusão de traços da oralidade.

ASSINALE a alternativa em que há o discurso direto e a marca da oralidade:

a) “Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto.”

b) “Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador”.

c) “Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino , pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando Indaguei a informação.”

d) “Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a resposta.”

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

O Quinze (fragmento)

Sentada na espreguiçadeira da sala, Conceição lia, com os olhos escuros intensamente absorvidos na brochura de capa berrante. Na paz daquela manhã de domingo, um silêncio doce tudo envolvia, e algum ruído que soava, logo era abafado na calma sonolenta. Maciamente, num passo resvalado de sombra, Dona Inácia entrou, de volta da igreja, com seu rosário de grandes contas pretas pendurado no braço. Conceição só a viu quando o ferrolho rangeu, abrindo: – Já de volta, Mãe Nácia? – E você sem largar esse livro! Até em hora de missa! A moça fechou o livro rindo: – Lá vem a Mãe Nácia com briga! Não é domingo? Estou descansando. Dona Inácia tomou o volume das mãos da neta e olhou o título: – E esses livros prestam para moça ler, Conceição? No meu tempo, moça só lia romance que o padre mandava… Conceição riu de novo: – Isso não é romance, Mãe Nácia. Você não está vendo? É um livro sério, de estudo… – De que trata? Você sabe que eu não entendo francês… Conceição, ante aquela ouvinte inesperada, tentou fazer uma síntese do tema da obra, procurando ingenuamente encaminhar a avó para suas tais ideias: – Trata da questão feminina, da situação da mulher na sociedade, dos direitos maternais, do problema… Dona Inácia juntou as mãos, aflita: – E minha filha, para que uma moça precisa saber disso? Você quererá ser doutora, dar para escrever livros?

Novamente o riso da moça soou:

 – Qual o quê, Mãe Nácia! Leio para aprender, para me documentar… – E só para isso, você vive queimando os olhos, emagrecendo… Lendo essas tolices.. – Mãe Nácia, quando a gente renuncia a certas obrigações, casa, filhos, família, tem que arranjar outras coisas com que se preocupe… Senão a vida fica vazia demais… – E para que você torceu sua natureza? Por que não se casa? Conceição olhou a avó de revés, maliciosa: – Nunca achei quem valesse a pena… Rachel de Queirós, O quinze, Rio de Janeiro,

José Olympio Editora, 20a ed. 1976, p. 91

1. Os personagens presentes nesse fragmento do romance O Quinze opõem-se, entre outros aspectos, pela visão que possuem sobre a função da leitura. Explique essa oposição com suas próprias palavras.

RESPOSTA:

Para Mãe Inácia, a leitura é simples lazer enquanto para Conceição é meio de informação e instrução.
2. “Lá vem a Mãe Nácia com briga! Não é domingo? Estou descansando.” Reescreva as orações sublinhadas, unindo-as em um só período por meio de uma palavra de ligação, mantendo o sentido original do texto.


RESPOSTA:

Já que é domingo, estou descansando. É domingo e eu estou descansando. Estou descansando porque é domingo.
OBS: Segundo o gabarito oficial há outras possibilidades

3. Os dois primeiros parágrafos da narrativa (texto 2) são representativos de um modo de organização discursiva: o descritivo. a) Indique duas características da descrição presentes nesse segmento do texto.

b) Exemplifique as características dadas com elementos do texto.

RESPOSTAS:

a)A presença marcante de adjetivos ou de sensações visuais, auditivas; o uso do imperfeito do indicativo; a unidade temporal.
b) “… silêncio doce tudo envolvia…”; “Conceição lia, com os olhos escuros intensamente absorvidos na brochura de capa berrante.
 

 4.A personagem Conceição mostra certa contradição entre sua posição progressista em relação ao papel da mulher na sociedade e os valores tradicionalmente atribuídos a ela.
Destaque duas palavras da fala de Conceição que revelam essa contradição.

RESPOSTA:
renuncia; obrigações; vazia.

Leia o Texto I, para responder às questões de números  05 a 08.

O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado, no horizonte próximo. Sombras cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum arruado. Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome. Uma forma esguia de mulher se ajoelhou no chão vermelho. Um vulto seco se acocorou ao lado, e mergulhou a cabeça vazia entre os joelhos agudos, amparando-a com as mãos.

Só um menino, em pé, isolado, olhava pensativamente o grupo agachado de fraqueza e cansaço. Sua voz dolente os chamou, num apelo de esperança. E sua mão se destacou no fundo escuro da tarde apontando o casario, além. Mas a única aparência de vida, no grupo imóvel, era o choro intermitente e abafado de uma criança. Lentamente, o menino se voltou. Ainda esperou algum tempo. Ainda repetiu seu apelo e seu gesto. Depois saiu devagar, de cabeça erguida, os olhos fitos nos telhados  pretos que se espalhavam lá longe. Leve e doce, o aracati soprava. E lentamente foi-se abatendo sobre eles a noite escura pontilhada de estrelas, seca e limpa como um manto de cinzas onde luzissem faúlhas.   (Rachel de Queiroz, O Quinze)

5. Considere as afirmações da sequência.texto, pertencente ao romance regionalista, marca-se pela escolha de tema social, narrado em prosa ágil.Na sintaxe do texto predominam períodos curtos e o processo de  coordenação. Trecho é descritivo e cria efeito de sentido de estaticidade, com o emprego de palavras como arrastavam, ajoelhou, acocorou, dormente, agachado. Há abundante adjetivação no texto, avivando as sensações que a cena descrita pode provocar.

Sobre essas afirmações, deve-se concluir que estão corretas

a) I, II e IV apenas.

b) I, II, III e IV

c) III e IV apenas.

d) I e IV apenas.

e) I, II e III APENAS

6. Assinale a alternativa cuja palavra ou grupo de palavras NÃO faz referência às personagens retratadas no texto.

a)sombras cambaleantes

b) os

c) grupo imóvel

d) se.

e) eles .

 7. Assinale a alternativa em que as palavras entre parênteses podem substituir as do texto, sem prejuízo de sentido.

a) […] a noite escura pontilhada de estrelas, seca e limpa como um manto de cinzas onde luzissem (brilhassem) faúlhas.

b) Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira (verdadeira) embriaguez da fome.

c) Uma forma esguia (esquiva) de mulher se ajoelhou no chão vermelho.

d) Depois saiu devagar, de cabeça erguida, os olhos fitos (tristes) nos telhados pretos que se espalhavam lá longe.

e) Mas a única aparência de vida, no grupo imóvel, era o choro intermitente (irritante) e abafado de uma criança.

8. No contexto da frase “grupo agachado de fraqueza e cansaço”, o trecho grifado guarda relação de sentido de:

a) condição

b) modo

c) lugar

d) meio

e) causa

9. (U.E. LONDRINA) Marque a alternativa incorreta sobre o romance O Quinze, de Raquel de Queiroz:

a)O sucesso que rapidamente alcançou em todo o país esta obra de uma jovem cearense fez com que O Quinze, publicado pouco depois de A Bagaceira, de José Américo de Almeida, fosse uma das obras fundamentais na divulgação do regionalismo de 30.

b)Escrito por Raquel de Queiroz aos 15 anos, O Quinze apresenta a vida de Conceição, uma jovem normalista também de 15 anos que se apaixona por seu primo Vicente, pecuarista que procura salvar a fazenda da família das garras do coronel Chico Bento.

c)A obra de estreia de Raquel de Queiroz usa a seca de 1915 no Ceará como pano de fundo para revelar o sofrimento e as angústias tanto dos miseráveis quanto dos proprietários rurais.

d)Narrado na terceira pessoa, utilizando da onisciência, o romance apresenta dois núcleos dramáticos que se cruzam: a odisseia de Chico Bento, vaqueiro pobre e desempregado, e sua família, fugindo da seca rumo a Fortaleza, e os desencontros amorosos entre a professora Conceição e o seu primo e quase namorado, o pecuarista Vicente.

e)Conceição leva sua avó, Inácia, da fazenda onde mora, em Quixadá, para ficar em Fortaleza enquanto perdurar a seca. Na capital, a professora, solteirona (aos 22 anos!), ajuda os miseráveis reunidos no Campo de concentração e pensa no seu primo Vicente que permanece em Quixadá, cuidando bravamente da fazenda da família. Divididos tanto no espaço, quanto por interesses diversos e intrigas várias, os primos, incapazes de se comunicar, vão mesmo se amando, separando-se mais cada dia.

10. (UFRS) Leia o texto a seguir, extraído do romance “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, e considere as afirmações que se seguem. “O sol poente, chamejante, rubro, desaparecia rapidamente como um afogado no horizonte próximo. Sombras cambaleantes se alongavam na tira ruiva da estrada, que se vinha estirando sobre o alto pedregoso e ia sumir no casario dormente dum arruado. Sombras vencidas pela miséria e pelo desespero que arrastavam passos inconscientes, na derradeira embriaguez da fome.” I. A descrição da paisagem estabelece uma comparação entre paisagens brasileiras e seus aspectos econômicos. II. As imagens da terra assolada pela seca constituem um retrato das condições adversas a que estão sujeitos os habitantes daquela região. III. A plasticidade da cena, expressa nas imagens de “sombras cambaleantes” e “sombras vencidas”, representa a luta do nordestino com a natureza hostil. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.


e) I, II e III.

11. (U.E. LONDRINA) Entre as personagens do romance O Quinze de Raquel de Queiroz, está uma sertaneja corajosa, resistente e sofredora que acompanha o marido na viagem entre Quixadá e Fortaleza. A retirante vê um dos seus filhos morrer envenenado, outro fugir e se perder e é obrigada a entregar o mais novo para ser criado em Fortaleza. Esta personagem em muito se assemelha à mulher sertaneja criada, anos depois por Graciliano Ramos em Vidas Secas. As retirantes de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos são, respectivamente:

a)Madalena e Sinhá Vitória

b)Conceição e Madalena

c)Cordulina e Sinhá Vitória

d)Cordulina e Madalena

e)Conceição e Sinhá Vitória.

12. (PUC-RS) Leia o texto que se segue. “Lá adiante, em plena estrada, o pasto se enramava, e uma pelúcia verde, verde e macia, se estendia no chão até perder de vista. A caatinga despontava toda em grelos verdes […] Insetos cor de folha – “esperanças” – saltavam sobre a grama. […] Mas a triste realidade duramente ainda recordava a seca. Passo a passo, na babugem macia, carcaças sujas maculavam a verdura. Reses famintas, esquálidas, magoavam o focinho no chão áspero, que o mato ainda tão curto mal cobria, procurando em vão apanhar nos dentes os brotos pequeninos.” Trata-se de trecho de __________, de Rachel de Queiroz – obra que se caracteriza pela __________, evidenciando a consciência crítica da autora acerca do problema da seca. É dessa forma que a obra se associa ao que se convencionou denominar de romance __________. a) “Fogo Morto” – irreverência – regionalista b) “O Quinze” – denúncia – de vanguarda c) “São Bernardo” – verossimilhança – nacionalista

d) “O Quinze” – verossimilhança – de 30


e) “Jubiabá” – denúncia – regionalista

13. (UFT) Leia o fragmento de texto para responder a questão a seguir.

Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.

– Mãezinha, cadê a janta?

– Cala a boca, menino! Já vem!

– Vem lá o quê!…

Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos… nem um triste vintém azinhavrado…

Lembrou-se da rede nova, grande e de listras que comprara em Quixadá por conta do vale de Vicente.

Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de fome.

Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo dum velho pau-branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao tempo, porque aqueles cepos apontados para o céu não tinham nada de abrigo.

O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:

– Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito…

Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e um litro de farinha:

– Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu isso, e ainda por cima se fazendo de compadecido…

Faminta, a meninada avançou; e até Mocinha, sempre mais ou menos calada e indiferente, estendeu a mão com avidez.

(QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1979, p. 33).

“O Quinze”, romance de estreia de Rachel de Queiroz, publicado em 1930, retrata a intensa seca que marcou o ano de 1915 no sertão cearense. Considerando o fragmento apresentado, é CORRETO afirmar:

a)Ainda que publicado no início da década de 30, momento de intensas mudanças políticas e culturais no país, o romance liga-se estética e tematicamente às propostas literárias da primeira geração modernista.

b)Na narrativa, estreitamente ligada às propostas de denúncia social dos regionalistas de 30, destacam-se o drama da seca, a miséria e a degradação humana, marcantes em cenas como a do fragmento citado.

c)Apesar de se referir à seca que marcou o ano de 1915, o romance coloca em primeiro plano a violência e o desrespeito que marcam as relações sociais, independente das condições climáticas; exemplo disso é a relação de espoliação entre Chico Bento e o homem da bodega.

d)A linguagem utilizada pela autora, para construir o romance, aproxima-se da oralidade, conforme se vê no fragmento. Tal recurso é utilizado para se contrapor à escrita extremamente rebuscada de alguns modernistas da primeira geração, como Oswald de Andrade.

e)O fragmento apresenta um discurso moralizante, recorrente nos romances da segunda geração modernista, e destaca o drama vivido pela família de Chico Bento, diante das dificuldades de sobrevivência.

14. (UCS) A seca é metáfora recorrente na literatura, especialmente no segundo período modernista. Assinale a alternativa correta em relação às obras que apresentam cenas que caracterizam a brutal realidade dos retirantes nordestinos.

a)O Quinze, de Raquel de Queiroz; Vidas Secas, de Graciliano Ramos

b)Menino de Engenho, de José Lins do Rego; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

c)A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade; Os Sertões, de Euclides da Cunha

d)Um Lugar ao Sol, de Érico Veríssimo; A Legião Estrangeira, de Clarice Lispector

e)  Capitães da Areia, de Jorge Amado; Urupês, de Monteiro Lobato

15. (UNICENTRO) No poente avermelhado, um vulto preto se desenhou.

Depois, o cavalo e o cavaleiro foram-se destacando na sombra escura que avançava.

Ao chouto duro do cavalo, o cavaleiro subia e descia na sela, desengonçadamente, numa indiferença de macaco pensativo que se agacha num encontro de galhos e ali fica, deixando que o vento o empurre e sacuda à vontade.

Era o Chico Bento. O cavalo parou debaixo do pau-branco seco que fazia as vezes de sombra. O dono apeou, com a mesma indolência desajeitada, tirou o cabresto de baixo da capa da sela e amarrou o animal no tronco.

Vicente, sentado numa rede, o cigarro entre as mãos, via-o chegar. E respondendo à saudação tartamudeada do caboclo:

— Boa tarde, compadre. Abanque-se!

O vaqueiro sentou-se num banco de pau, junto ao parapeito.

Vinha fazer um negócio… umas resinhas que ele tinha nas Aroeiras e queria vender…

[…]

Quando o vaqueiro montou novamente, o rapaz disse, a modo de despedida:

— Pois de manhãzinha bem cedo mande o rapaz buscar o animal e a ordem do dinheiro para o Zacarias da Feira.

Chico Bento saiu já com escuro. Lentamente o balançava o chouto largo do cavalo.

Ia e vinha na larga sela de campo, de arção redondo e grandes capas bordadas.

Pensava na troca. Umas reses tão famosas! Por um babau velho e cinquenta mil-réis de volta! O que é a gente estar na desgraça…(QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: José Olímpio, 13 ed., 1971, p. 41-43).

O fragmento contextualizado na obra permite afirmar:

a)  A narrativa como um todo sugere que a solução para a pobreza do nordestino retirante encontra-se na emigração para o Amazonas a fim de trabalhar nos seringais.

b)  O personagem Vicente é o chefe político de Quixadá que, no período de seca, pratica o assistencialismo, a fim de garantir o continuísmo de sua família no poder.

c)  Vicente representa o proprietário de terra que, no período da seca, se refugia no litoral, buscando novos negócios que aumentem os seus lucros.

d)  A amizade de Vicente a Chico Bento é reveladora do espírito solidário que marca as relações entre todos os sertanejos no período da seca.

e)  Chico Bento, ao fazer negócio com Vicente, mostra consciência crítica do contexto em que se encontra.

16. (PUC-RS) NÃO há correspondência entre a obra citada e o comentário apresentado no caso de: a) “Casa de pensão” – Romance de cunho naturalista, em que o comportamento das personagens é explicado à luz de tendências cientificistas do final do século XIX, tais como o determinismo, o evolucionismo, o positivismo. b) “Esaú e Jacó” – Metáfora da oposição Império × República, configurada na história de dois irmãos gêmeos, que já nascem adversários. c) “O Ateneu” – Romance autobiográfico, narrado em primeira pessoa, cuja intenção crítica vai além dos muros da instituição escolar, desnudando a sociedade em que se insere.

d) “O quinze” – Conceição, jovem proprietária rural em luta por afirmação numa sociedade patriarcal, narra a história de seus antepassados.


e) “Estrada nova” – Representante de um mundo em decadência, o estancieiro Coronel Teodoro resiste às mudanças na região da campanha sul-rio-grandense da primeira metade do século XX.

Como pode ser interpretada a frase central da cena descrita pelo narrador Vosso pai já não é meu

(UEL) Leia o texto a seguir e responda às questões de 01 a 04.

par Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; vaga-lumes retouçando no escuro. Desci, dei-me com o lugar onde havia estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde tinha posto a guaiaca e as armas, corri as mãos por todos os lados, mais pra lá, mais pra cá…; nada… nada!…

par Então, senti frio dentro da alma. . . o meu patrão ia dizer que eu havia roubado!… roubado… Pois então eu ia lá perder as onças!… Qual! Ladrão, ladrão, é que era!…

par E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me, para não sofrer a vergonha daquela suposição.

par É, era o que eu devia fazer: matar-me… e já, aqui mesmo!

par Tirei a pistola do cinto: amartilhei o gatilho… benzi-me, e encostei no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala…

Ah! patrício! Deus existe!… No refilão daquele tormento, olhei para diante e vi… as Três-Marias luzindo na água… o cusco encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão… e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali perto, num oco de pau!… Patrício! não me avexo duma heresia; mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má tenção…

O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo cantador trouxe a esperança…

Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude… a gente vê caras, não vê corações…; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: era luz de Deus por todos os lados!…

E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar. (LOPES NETO, J. S. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 21-22.)

1. É correto afirmar que a história é narrada

a) em primeira pessoa, por João Simões Lopes Neto, que, num tom autobiográfico, conta fatos da época em que atuou na Revolução Farroupilha.

b) em terceira pessoa, por uma personagem textualmente nomeada Patrício, que relata todo o seu arrependimento por ter roubado as onças do patrão.

c) por um narrador testemunha, mais precisamente o patrão do protagonista, que registra as qualidades morais de seu empregado.

d) em primeira pessoa, pelo vaqueano Blau Nunes, que relata como e onde perdeu as onças do patrão.

e) por um narrador onisciente, não nomeado, que registra fatos relacionados à agitada e violenta época do cangaço rio-grandense.

2. O trecho “[…] não me avexo duma heresia” pode ser substituído, sem prejuízo do sentido original, por:

a) Não aceito, de modo algum, que se digam tolices.

b) Não sou um homem defensor da fé.

c) Não me envergonho de maldizer a religião.

d) Não me importo com doutrinas da fé.

e) Não me causa vergonha ter fé.

3. Com base no texto, assinale a alternativa correta.

a) A expressão “[…] eu sou mui rude…”, por meio da qual o narrador se caracteriza, atesta seu comportamento descortês em relação ao interlocutor.

b) A comunicação entre o protagonista e os animais estabelece uma relação de hierarquia, na qual o homem é superior.

c) A ausência de marcas de oralidade revela que o protagonista não age de acordo com os costumes de seu meio.

d) Ao “meter a pistola no cinto” e, em seguida, tentar o suicídio como última saída, o protagonista revela falta de valentia e desconsideração pelos valores religiosos.

e) A expressão “como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia” exprime a súbita iluminação espiritual vivenciada pelo vaqueano.

 4. Acerca da obra Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto, é correto afirmar:

a) É representativa da chamada Geração de 30, de feição neorrealismo, preocupada em apresentar as desigualdades sociais do Brasil.

b) Trata a afinidade entre o homem e a natureza de forma inverossímil, o que a filia à tradição do realismo mágico no Brasil.

c) Publicada antes da Semana de Arte Moderna, é uma obra representativa do regionalismo, tendência estética iniciada no período romântico.

d) Sob uma perspectiva crítica, delineia os contornos físicos e sociais dos grandes centros urbanos sulistas.

e) Caracteriza-se por conter referências à história do Brasil, indo desde a chegada dos portugueses até a Era Vargas.

5. (UFRS) Sobre o Conto “Contrabandista”, de Simões Lopes Neto, são feitas as seguintes afirmações. I – Simões Lopes Neto explora uma temática original, quase ignorada pela literatura regionalista subsequente e contemporânea: a prática do contrabando como atividade clandestina e arriscada. II – O leitor toma conhecimento das circunstâncias trágicas da morte de Jango Jorge pelas palavras de um acompanhante que presenciara a cena; com isso, o autor se vale de um procedimento comum às tragédias gregas. III – Jango Jorge, já antevendo as dificuldades em contrabandear o enxoval da filha e receando não regressar a tempo, partiu em direção à fronteira sete dias antes da data marcada para o casamento. Quais estão corretas? a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II. d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

Leia o texto I e responda às questões de 06 a 08.

(UEL) Texto I

par Foi na estância dos Lagoões, duma gente Silva, uns Silvas mui políticos, sempre metidos em eleições e enredos de qualificações de votantes.

par A estância era como aqui e o arroio como a umas dez quadras; lá era o banho da família. Fazia uma ponta, tinha um sarandizal e logo era uma volta forte, como uma meia-lua, onde as areias se amontoavam formando um baixo: o perau era do lado de lá. O mato aí parecia plantado de propósito: era quase que pura

guabiroba e pitanga, araçá e guabiju; no tempo, o chão coalhava-se de fruta: era um regalo!

par Já vê… o banheiro não era longe, podia-se bem ir lá, de a pé, mas a família ia sempre de carretão, puxado

a bois, uma junta, mui mansos, governados de regeira por uma das senhoras-donas e tocados com uma rama por qualquer das crianças.

par Eram dois pais da paciência, os dois bois. Um se chamava Dourado, era baio; o outro, Cabiúna, era preto, com a orelha do lado de laçar branca, e uma risca na papada.

par Estavam tão mestres naquele piquete, que, quando a família, de manhãzita, depois da jacuba de leite, pegava a aprontar-se, que a criançada pulava para o terreiro ainda mastigando um naco de pão e as crioulas apareciam com as toalhas e por fim as senhoras-donas, quando se gritava pelo carretão, já os bois havia

muito tempo que estavam encostados no cabeçalho, remoendo muito sossegados, esperando que qualquer peão os ajoujasse.

(LOPES NETO, Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 65-66.)

6. Os termos “baixo”, “regalo” e “baio” são empregados no texto, respectivamente, com os sentidos de

a) repressão, presente, manco.

b) subsolo, pomar, cego.

c) aclive, recanto, selvagem.

d) declive, prazer, castanho.

e) relevo, jardim, domado.

7. Acerca dos fatos narrados no texto, considere as afirmativas a seguir.

I. Agora que já estavam velhos e cansados, os animais eram mantidos na estância para servir às mulheres e às crianças da família, especialmente para irem até o riacho.

II. O riacho, local de banho da família, não ficava muito longe da casa, mas assim mesmo eles utilizavam a carreta de bois para se locomover até lá.

III. Depois da higiene matinal e de tomar o café da manhã, os moradores da estância reuniam-se no terreiro para começar a trabalhar na plantação.

IV. Os bois eram tão mansos e acostumados com a tarefa que até mesmo as mulheres e as crianças podiam conduzir a carreta puxada por eles.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e III são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

8. Contos gauchescos é uma obra representativa

a) da escola romântica, pelas imagens poéticas na descrição espacial e pelo retrato de personagens sensíveis e heroicas.

b) da estética naturalista, pois defende a determinação do comportamento das personagens pelo espaço geográfico e por fatores genéticos.

c) da tendência regionalista em literatura, por retratar a substância real de um espaço e a relação entre ele e o homem que o habita.

d) do movimento realista, por assumir forte tom de crítica social e adotar uma linguagem científica na construção da narrativa.

e) da fase heroica do Modernismo brasileiro, caracterizada pela incorporação da oralidade e pela criação de neologismos.

9. (UFRS) Leia o texto abaixo, extraído do conto “Jogo do Osso” de Simões Lopes Neto. “Vancê compr’ende? Do mesmo talho varou os dois corações, espetou-os no mesmo ferro, matou-os da mesma morte, fazendo os dois sangues, num de cada peito, correrem juntos num só derrame… que foi lastrando pelo chão duro, de cupim socado, lastrando… até os dois corpos baterem na parede, sempre abraçados, talvez mais abraçados, e depois, tombarem por cima do balcão, onde estava encostado o tocador, que parou um rasgado bonito e ficou olhando fixe para aquela parelha de dançarinos morrentes farristas ainda!…” Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao trecho. a) A indagação inicial do narrador Blau Nunes evidencia o tom coloquial que marca a linguagem dos “Contos Gauchescos”. b) Descreve-se aqui o assassinato de Osoro e Lalica por Chico Ruivo, no interior da “vendola do Arranhão”.

c) A violência e a brutalidade da cena são reforçadas pelo emprego de uma linguagem despojada e objetiva, típica do mundo rude em que as ações acontecem.

d) Simões Lopes Neto consegue harmonizar, nesta cena, a intensidade trágica e o lirismo poético, resultando numa descrição de rara beleza plástica.

e) A imagem final dos “dançarinos morrentes farristas ainda” sintetiza metaforicamente os movimentos finais do par espetado pelo facão.

10. (UFSM) Leia o trecho de “Contos gauchescos” a seguir. “Genuíno tipo – o crioulo – rio-grandense (hoje tão modificado), era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingênuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável.” Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmativa sobre esse trecho. ( ) A caracterização de Blau assegura-lhe autenticidade como narrador dos “Contos gauchescos”. ( ) A descrição da personagem demonstra a densidade humana que o autor confere aos tipos regionais. ( ) Ao afirmar que Blau é impulsivo, o narrador sugere a incapacidade de a personagem compreender o mundo que a cerca. A sequência correta é a) V – F – F.

b) V – V – F.

c) F – V – F. d) F – F – V.

e) V – F – V.

11. (UFRS) Considere as afirmações abaixo sobre o Regionalismo do início do século XX. I- O poema “Antônio Chimango”, de Amaro Juvenal, é uma sátira cortante cujo alvo é o chefe político sul-rio-grandense Borges de Medeiros. II- Em “Luzia Homem”, Alcides Maya retrata, com intensidade dramática, a influência do meio geográfico sobre os retirantes do Nordeste.

III- Jango Jorge é personagem do conto “Contrabandista”, um dos mais conhecidos de Simões Lopes Neto em “Contos Gauchescos.”

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

12. (PUC-RS)Analisar as afirmativas que seguem, sobre o autor do texto, Simões Lopes Neto. I. Escreveu “Contos Gauchescos e Lendas do Sul.” II. Realizou uma harmoniosa conjunção entre linguajar e temática regionais. III. Recolheu material de tradição oral, que serviu de base para os contos. IV. Criou o grande personagem-narrador Blau Nunes, através do qual “fala” ao leitor. Pela análise das afirmativas, conclui-se que está correta a alternativa a) I e II

b) I, II, III e IV

c) II e III d) II e IV

e) III e IV

13. (UFRS) :Em CONTOS GAUCHESCOS, utiliza como narrador Blau Nunes, o velho e sábio peão que lutou ao lado de Bento Gonçalves na Guerra dos Farrapos. a) Sérgio Faraco b) Charles Kiefer

c) Simões Lopes Neto

d) Caio Fernando Abreu

e) Moacyr Scliar

14. Leia atenciosamente o trecho introdutório da obra Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto.

Patrício, apresento-te Blau, o vaqueano. − Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezigue. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da coxilha de Santana; molhei as mãos no soberbo Uruguai; tive o estremecimento do medo nas ásperas penedias do Caverá; já colhi malmequeres nas planícies do Saicã, oscilei sobre as águas grandes do Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla, pousei em São Gabriel, a forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou, e, arrastado no turbilhão das máquinas possantes, corri pelas paragens magníficas de Tupaceretã, o nome doce, que no lábio ingênuo dos caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus…

(Contos gauchescos, J. Simões Lopes Neto.)

A partir da leitura da obra, assinale a alternativa INCORRETA. a) O vaqueano assume diferentes posturas nas diferentes histórias que narra, e a voz narrativa alterna-se, ora na primeira, ora na terceira pessoa do discurso.

b) O vaqueiro Blau Nunes narra as histórias por meio do dialeto do gaúcho dos pampas, sem as influências da língua culta portuguesa, podendo, assim, constituir-se o primeiro exemplar de narrativa regionalista brasileira.

c) Nas narrativas, evidencia-se um profundo apreço à paisagem natural, aos animais, que interagem muito proximamente com o humano, e um esforço em celebrar o espírito aguerrido do habitante dos pampas.

d) As histórias narradas por Blau Nunes dividem-se naquelas em que ele participou efetivamente, constituindo-se narrador-personagem, e em outras que ele presenciou ou ouviu falar.

15. (UFRS)Assinale a alternativa INCORRETA sobre Simões Lopes Neto. a) Em CONTOS GAUCHESCOS, o autor cria o narrador Blau Nunes, um vaqueano que conta histórias vivenciadas por ele próprio na campanha do Rio Grande do Sul. b) Em contos como TREZENTAS ONÇAS, o narrador aponta a lealdade e a honestidade como valores fundamentais para o gaúcho. c) CANCIONEIRO GUASCA reúne canções de origem popular que se mantinham vivas na tradição oral. d) O autor recria em sua obra a linguagem falada, utilizando termos gauchescos e lançando mão de comparações e imagens típicas do linguajar popular.

e) Os personagens de CONTOS GAUCHESCOS são construídos a partir de uma visão satírica e moralista dos habitantes da campanha gaúcha.

16. (PUC-RS) Com _________, em _________, de Simões Lopes Neto, e com _________, em _________, de João Guimarães Rosa, o caráter tradicional do regionalismo torna-se ultrapassado, graças à perfeita harmonia entre o tema das obras e a recriação da linguagem _________. As lacunas podem ser correta e respectivamente preenchidas por: a) Riobaldo – “Grande sertão: veredas” – Blau Nunes – “Contos gauchescos” – oral. b) Romualdo – “Contos gauchescos” – Riobaldo – “Sagarana” – oral. c) Blau Nunes – “Lendas do sul” – Diadorim – “Grande sertão: veredas” – popular.

d) Blau Nunes – “Contos gauchescos” – Riobaldo – “Grande sertão: veredas” – oral.


e) Romualdo – “Lendas do sul” – Riobaldo – “Sagarana” – popular.

17. (UFRS) Assinale a alternativa correta sobre Simões Lopes Neto. a) Trata-se de autor pelotense que realizou obra de cunho regional sem ter atingido o patamar de construção de uma linguagem literária. b) Costuma ser incluído no período do Pré-Modernismo porque seus textos misturam narrativa e poesia. c) Publicou uma série de narrativas curtas em CONTOS GAUCHESCOS, obra em que o gaúcho é comparado a outros tipos regionais brasileiros. d) Os seus relatos são focalizados por um narrador distanciado e deixam transparecer a própria linguagem da natureza local.

e) As lendas e os contos que escreveu reelaboram ficcionalmente a história e a linguagem oral da região.

18. (UFRS) Nas alternativas abaixo, títulos de contos, extraídos dos “Contos Gauchescos”, de Simões Lopes Neto, aparecem associados ou a personagens ou a situações das narrativas. Assinale a alternativa em que a associação sugerida NÃO encontra suporte no respectivo conto. a) “Negro Bonifácio”: Tudinha, Nadico e Sia Fermina

b) “Jogo do Osso”: Reduzo, Costinha e Sia Talapa

c) “Melancia-Coco Verde”: versos com mensagem cifrada interrompem o casamento d) “Contrabandista”: o pai da noiva é assassinado

e) “Jogo do Osso”: mulher é usada como objeto de aposta no jogo