A grande aposta opinião popular

A grande aposta opinião popular

O cinema americano tem um gosto particular por adaptações de alguns acontecimentos marcantes para o mundo, imaginando, talvez, que isso possa mudar os resultados. Isso não acontece, mas algumas surpresas aparecem quando se apropria da história e apresenta uma visão completamente diferente. Em A Grande Aposta, o alvo é a crise econômica dos anos 2000.

Baseado em um livro escrito por Michael Lewis, o filme segue a história de um grupo de pessoas que, entre os anos de 2005 e 2008, conseguiu prever o colapso da bolha imobiliária e decidiu nadar contra a maré do mercado. Em uma decisão que muitos consideram louca, mesmo para investidores de Wall Street, todos eles criam um esquema para apostar contra os bancos e saírem lucrando após o início da crise.

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Entretanto, mesmo com essas previsões, a maioria deles não tinha plena noção do quão grande seria o estrago dentro da sociedade norte-americana e mundial. Hoje, nós conhecemos o final dessa história e sabemos que ele não é nem um pouco feliz, então o primeiro grande acerto do roteiro (e possivelmente do livro) é pegar esse tema bastante denso e tratá-lo pelo viés de uma comédia quase absurda, estrelada por personagens completamente caricatos e situações improváveis dentro da vida real.

Além disso, o roteiro, escrito por Adam McKay e Charles Randolph, também precisa lidar com a complexidade do mundo econômico e a quantidade de termos técnicos que obrigam o filme a ser extremamente didático. No entanto, eles conseguem sair muito bem dessa enrascada com algumas inserções visuais, a sempre genial quebra da quarta parede, a troca constante dos narradores e, principalmente, a aparição de famosos (incluindo Margot Robbie na banheira) esclarecendo algumas das possíveis dúvidas do espectador.

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Isso tudo faz com que o filme tenha um desenvolvimento bem rápido durante a apresentação dos personagens e o estabelecimento da trama. A questão é que essa agilidade atinge o seu prazo de validade no momento em que todos os personagens começam a conviver com a mesma espera e passam a falar sobre os mesmo assuntos, tornando o filme um pouco mais arrastado e repetitivo do que ele parecia ser.

Além disso, eu também me incomodei com a frase final do filme porque ela estabelece um clima de aviso que não combina nem um pouco com o filme. Logicamente, é importante passar a mensagem de que essa não foi a primeira nem será a última vez em que a corrupção, a fraude e a ganância dos bancos iriam causar uma quebra no sistema, mas o filme não é um documentário e nem se apresenta em nenhum momento como um novo “Uma Verdade Inconveniente” para que aquela frase faça sentido dentro do seu contexto.

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Apesar disso, os erros de A Grande Aposta param por aí e não se espalham pela parte técnica ou pela ótima direção de Adam McKay. O diretor, acostumado com filmes de comédia mais escrachadas, aceitou o desafio e mostrou uma capacidade de controle gigantesco dentro de um longa cheio de idas e vindas no tempo, cortes inesperados e inserções incomuns para o cinema de grande porte.

Essas características um tanto quanto incomuns fazem que esse seja um longa difícil de ser pensado, planejado e filmado, por isso Adam também conta com uma ajuda valiosa da edição rápida e quase documental de Hank Corwin. Ela é decisiva para a marcação do ritmo do filme e também parece fazer alguns milagres de pós-produção nas cenas que precisaramm ser resolvidas na sala de edição, incluindo ali uma trilha sonora incrível que vai de Nirvana à Gorillaz.

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Por fim, temos um elenco onde todos os componentes apresentam características distintas e funcionam em cada um dos papéis. Steve Carell continua trabalhando a sua divisão entre o drama e a comédia com habilidade, Ryan Gosling apresenta um timing cômico que até então era desconhecido (pelo menos, para mim), Christian Bale cria uma pessoa pouco sociável que se conecta com o público pelo seu passado e Brad Pitt é o tipo paranoico e traumatizado pelo próprio mercado financeiro.

Isso sem contar o ótimo elenco de coadjuvantes formado por Rafe Spall, Hamish Linklater, Jeremy Strong, John Magaro, Finn Wittrock, Melissa Leo, Marisa Tomei e Tracy Letts. Com exceção de Magaro e Wittrock (que poderiam estar no grupo de protagonistas se tivessem mais nome), eles tem menos espaço para brilhar e mesmo assim fazem a trama se desenvolver de maneira agradável em alguns momentos.

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A Grande Aposta é um filme divertido e interessante que consegue apresentar bastante coisa do mercado financeiro através sua da edição rápida e de um tom sarcástico certeiro. Assim como O Lobo de Wall Street, merece ser visto por saber tirar sarro de si mesmo e daquela situação toda, mas também pode afastar boa parte do público por conta complexidade do tema e da lentidão da segunda metade da narrativa.É um filme difícil de ser digerido, mas diverte e vale os 130 minutos de sessão.

OBS 1: O olho de vidro do personagem de Christian Bale é assustadoramente real e perturbador.

OBS 2: Ainda não assisti todos os indicados, mas acredito que ele mereceu as suas indicações ao Oscar, principalmente de diretor, ator coadjuvante, roteiro e edição.

Em 2008, os EUA sofreu um dos maiores impactos em sua economia na história de todo o país. Obviamente tal impacto foi refletido no mundo inteiro. A situação foi tão séria que serviu de tema (um bem suculento, diga-se) para diversas produções cinematográficas e televisivas. Obras como Margin Call – O Dia Antes do Fim (2011), Grande Demais para Quebrar (2011) e o documentário Trabalho Interno (2010), narrado por Matt Damon, abordaram o assunto em níveis variados de profundidade, eficiência e sucesso.

No entanto, nenhum dos filmes mencionados acima utilizava um fator decisivo que deve ser levado em consideração na hora do ensino: o humor, que resulta na acessibilidade. Em qualquer aula, em especial de um tema complexo e de difícil abordagem para leigos (a maior parte do público), é necessário criar identificação. É necessária a proximidade com coisas mundanas, que vivemos no dia a dia. Exemplos aplicáveis. E o humor é a porta de entrada de tudo isso.

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A Grande Aposta, novo filme a abordar a fatídica crise imobiliária norte-americana, que gerou a bolha de um dos maiores problemas na economia do país, produzido pelo astro Brad Pitt e com um dos elencos mais chamativos do ano, vinha anunciado como uma obra densa, mas de pedigree, sobre o tema. A surpresa é justamente o uso intenso do humor, que resultou na classificação de comédia ou musical para o filme no Globo de Ouro. A Grande Aposta é o que toda aula chata deveria ser.

Para explicar vários termos ou situações de economia, por exemplo, o filme utiliza artifícios espertinhos, tornando a linguagem rápida, moderna e jovem. A montagem é dinâmica, e o filme traz a participação de belas como Margot Robbie e Selena Gomez para exemplificar com facilidade como tudo funciona dentro de um assunto que a maioria não domina. O Resultado termina por criar uma ponte de fácil e divertido acesso.

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Fora isso, existe a quebra da quarta parede, termo usado quando personagens no filme falam diretamente com a câmera, ou seja, com você, o público. Um dos exemplos mais famosos disso é o quintessencial da Sessão da Tarde, Curtindo a Vida Adoidado. Além de todos estes “truques” para criar maior proximidade, o texto por si só já é bastante sortido de comicidade. Não deixando mentir, no comando temos um especialista. Adam McKay é o diretor de rasgos humorísticos como O Âncora (2004), Ricky Bobby – A Toda Velocidade (2006), Quase Irmãos (2008), Os Outros Caras (2010) e Tudo por um Furo (2013), ou seja, os melhores filmes de Will Ferrell.

Aqui, McKay aposta em seu primeiro filme “sério”, com um elenco do primeiro escalão, que não por menos inclui o parceiro de comédias Steve Carell (ator que já provou prestígio longe do gênero, como no recente Foxcatcher). Carell é um dos alívios cômicos na pele de Mark Baum, um dos sujeitos que previram a “bolha” e possui um temperamento explosivo.

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A trama e seus personagens, tudo baseado em fatos, é somente uma desculpa para nos contar, pela primeira vez da forma acessível, o terrível mal que assolou o mundo. A Grande Aposta serve também de conto cautelar. Diversos personagens circulam pela tragédia, alguns tentando impedi-la, outros lucrando com ela. No elenco, temos ainda Christian Bale, como Michael Burry, o gênio antissocial e primeiro a subir a bandeira vermelha, Ryan Gosling na pele de Jared Vennett, um almofadinha (e melhor personagem do filme) e Brad Pitt envelhecido e cansado como Ben Rickert, um consultor fora do jogo. Ao término da sessão só podemos desejar que todas as aulas fossem sempre assim.

Não deixe de assistir: