A gastronomia é uma forma de expressa da cultura popular

Presente em diversos cursos de graduação, a pergunta que dá vida a este artigo e é título do mesmo, abrange crenças, costumes, lendas e, permeia o imaginário de todo um povo pertencente de nações mundo afora. A cultura popular está presente 24 horas por dia dentro das casas, nos carros, nas calçadas e nos asfaltos. Corta os céus dentro dos aviões, percorre quilômetros e mais quilômetros dentro de caminhões por infindáveis estradas – seja aqui no Brasil ou no Japão e por isso, é bonito observar a cultura de um povo, ainda que você possa não comungar com tal, como quem aprecia uma obra de arte de uma galeria de Nova Iorque.

Você pode responder o que é a cultura popular ou defini-la em uma palavra? Continue lendo, pois ao final deste artigo, poderá fazê-lo num piscar de olhos.

Cultura popular está expressa e caracterizada em um conjunto de elementos culturais específicos de determinada sociedade, nação ou região. Como mencionado a cima, o populário é definida pelas crenças de um povo determinado, e é formada basicamente através do contrato interpessoal de diferentes regiões.

A cultura popular, pode ainda, ser definida como qualquer tipo de manifestação, seja ela religiosa ou não, produzia por um povo que a participa de forma ativa. No Brasil, por exemplo, em cada região há uma tradição diferente: No Rio de Janeiro, o samba; em São Paulo, a mistura de povos faz com que se viva do RAP ao Frevo; Na Bahia, o som do Axé dita o ritmo, enquanto pelos interiores do país, você tenha a manifestação de sertanejos e demais culturas. Tudo isso citando apenas a manifestação musical propriamente dita. Não falamos do carnaval, das festas juninas e outros tipos.

Sobre a cultura

A gastronomia é uma forma de expressa da cultura popular
Demonstração da cultura popular brasileira a partir dos índios

Não seria rico falar dos costumers tradicionais e o que ela é sem citar o Brasil. Nosso país reúne uma grande mistura de culturas populares que vieram juntos dos colonizadores e demais povos que por aqui aportaram ao longo dos séculos pós descobrimento.

A cultura popular brasileira reúne elementos e tradições culturais que estão associadas ao linguajar popular e oral e Sobretudo, o fundamento concreto desse tipo de manifestação está enraizado no saber vulgar (saber não acadêmico) dividindo-se em componentes rural e urbano. Passe o tempo que passar, a cultura popular sempre será transmita de uma geração a outra.

Como identificar a cultura popular

Não é difícil identificar a tradição de uma determinada região, tampouco definir o que é cultura popular.

O significado desta está caracterizado por costumes pertencentes de uma sociedade em particular, no qual a sua população a pratica de forma ativa e através de diferentes manifestações como dança, teatro, folclore, literatura, religião, música e gastronomia.

Em Israel, em particular ao povo judeu, a demologia que pode defini-los seria a religião judaica. No Brasil, amplamente o catolicismo, o carnaval e o funk. Nos Estados Unidos, a cultura de comidas congeladas, a lenda no Pé Grande, os fastfoods… O que faz do mundo um local singular, é justamente essa riqueza de manifestações particulares.

Agora que você já sabe o que é a cultura popular, conseguirá compreender a sua e da região em que está presente.

1 A POLENTA COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA CULTURA POPULAR ITALIANA Autor: Giovanna Piffar Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Antunes dos Santos Palavras-chaves: alimentação, identidade, memória. O presente trabalho: A Polenta como forma de expressão da cultura popular italiana, começou a ser pensado e construído a partir do momento em que fazendo a matrícula para a disciplina de Tópicos Especiais de História e Cultura da Alimentação ministrada pelo professor Carlos Roberto Antunes dos Santos, fiquei curiosa como aluna do curso de História em saber que havia uma disciplina que abordava outras áreas do conhecimento científico. Devo considerar também o meu fascínio pelo tema que envolve aspectos pessoais, pois que sou descendente de italianos e procuro resgatar as minhas raízes. Partindo do pressuposto que alimento é categoria história, buscou-se pesquisar um elemento gastronômico da cultura italiana, no caso a polenta, e o seu processo de desenvolvimento destacando-a como símbolo de identidade étnica dos descendentes de italianos do Bairro de Santa Felicidade. O objetivo geral deste estudo foi verificar de que maneira os descendentes de imigrantes italianos vênetos do Bairro de Santa Felicidade se apropriam de um elemento gastronômico como forma de expressão de uma cultura popular italiana. O período de análise se restringiu aos anos de 1940 a 2006. Escolheu-se como delimitação espacial o bairro italiano de Santa Felicidade localizado na cidade de Curitiba, antiga colônia italiana, por apresentar ainda hoje em sua maioria uma população homogenia, descendentes de imigrantes italianos provenientes do Norte da Itália, em especial da região do Vêneto. Tendo na cultura gastronômica um dos elementos essenciais para a manutenção de suas tradições. Para sua execução procurei inicialmente trazer o referencial teórico acerca da História da Alimentação, discutir como algumas culturas imprimem caráter simbólico para determinados alimentos. Compreender como a memória coletiva manifesta a tradição culinária de um determinado grupo étnico. Considerar o processo da imigração italiana para a província do Paraná, notadamente no contexto da grande imigração, final do século XIX. Entender a reconstrução da identidade étnica dos descendentes de italianos vênetos manifestada através da valorização de sua culinária. Para o imigrante italiano a família, a fé, o trabalho e a alimentação eram os princípios fundamentais aceitos e mantidos pelo grupo, transmitidos de uma geração para outra. Através dessa análise optou-se investigar a comida italiana, destacando-se como objeto desta pesquisa um prato da gastronomia italiana do Bairro de Santa Felicidade a polenta presente ainda hoje nos ambientes familiares, restaurantes que servem a típica comida do imigrante italiano e as festas típicas do Bairro de Santa Felicidade que são as Festas da Uva e do Vinho, Polenta e Frango. Portanto, a identidade dos descendentes de imigrantes italianos vênetos é dada pela memória social, tendo na tradição alimentar sua herança cultural. É através da memória que resgatamos a memória gustativa de um grupo étnico. Adotou-se como metodologia a História Oral, através de entrevistas gravadas, abertas. Foram realizadas 15 entrevistas, sendo os entrevistados descendentes de italianos, homens e mulheres residentes no Bairro de Santa Felicidade, entre donas de casa, aposentados, contador, agricultor, professor, profissionais autônomos, clérigos, organizadores de festas e proprietários de restaurantes. Inseridos em faixa etária entre 30-75 anos, representando a

2 segunda e terceira geração de descendentes italianos. A opção se fez baseada que estas auxiliariam com seus depoimentos trazendo informações sobre o objeto pesquisado. Como observador participante acompanhei eventos que são as festas típicas do bairro: Festas da Uva e do Vinho, Polenta e Frango. Acompanhando todo o ritual dos voluntários no preparo da polenta, onde foram realizadas entrevistas gravadas e abertas com os organizadores da festa. Foram usadas fontes de imprensa através de matérias de revistas especializadas em gastronomia. Na pesquisa histórica realizou-se consulta a historiografia paranaense, como outras bibliografias que possibilitou a contextualização e análise das entrevistas. Ao fazer uso desta metodologia buscou-se entender a tradição dos descendentes de italianos vênetos de comer a polenta, uma forma de identificação e reafirmação de sua identidade étnica. A história oral foi fundamental para a análise do verdadeiro significado da polenta para os descendentes de italianos vênetos do Bairro de Santa Felicidade. Assim, a memória é essencial para a construção da identidade étnica, demonstrando a relevância da escolha desta metodologia para o desenvolvimento desse trabalho. Partindo da cultura gastronômica podemos observar as relações sociais que se estabelecem consciente ou inconscientemente entre grupos sociais. As diferentes relações sociais demonstram as diversas formas de sociabilidade como também de exclusão social. A historicidade da sensibilidade gastronômica para Carlos Roberto Antunes dos Santos explica e é explicada pelas manifestações culturais e sociais como espelho de uma época e que marcaram uma época. Nesse sentido, o que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. 1 Esse é o lugar da alimentação na História. Homem e alimento, uma ligação carregada de historicidade, que inscreve o tema da alimentação na História, amplia seus horizontes ao receberem seu seio a História da Alimentação, oferecendo a ela o suporte necessário para o seu desenvolvimento, dando-lhe personalidade própria. Portanto, ao longo dos anos a História da Alimentação vem ocupando o seu espaço na História, vencendo barreiras políticas e ideológicas e certas negligências, buscando enfim a sua integração. Ao situar-se no interior da micro-história a História da Alimentação apreende vários ângulos da cultura humana, não se restringindo somente aos aspectos biológicos, fisiológicos e clínicos. Nesse sentido, os aspectos econômicos, sociais, psicológicos, culturais também fazem parte da História da Alimentação demonstrando a importância do estudo da alimentação para a História e servindo como elo de integração desta disciplina com outros ramos do saber, abrindo um leque de opções ao interagir com as demais áreas do conhecimento científico. A comida tem seu papel dual ao revelar o ato de alimentar-se, como também para indicar e fixar identidades pessoais e grupais, simboliza a linguagem de uma identidade social. Identidade social e grupo social são elementos fundamentais para o processo de identificação. O ser humano busca sua identificação através da cultura. Assim, membros de determinado grupo partilham um sistema simbólico. Para Da Matta cultura exprime precisamente um estilo, um modo de fazer coisa. 2 A cultura necessita de símbolos para a sua perpetuação, o valor que é dado a certos alimentos envolve diferenças culturais. Nesse sentido, entender como algumas culturas imprime caráter simbólico para determinados alimentos é analisá-lo revestido de simbologia. A alimentação se apropria da memória para que esta nos possibilite sentir, compreender tradições, revelando a cultura de 1 SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. História da Alimentação. História: Questões & Debates. Curitiba, ano 22, n. 42, jan/jun. 2005. p. 12-13. 2 DA MATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1984. p. 17.

3 um povo, denotando a importância da escolha desta metodologia para o desenvolvimento desse trabalho. A história oral busca a recuperação e a reapropriação do passado, assim, podemos entender como um alimento popular ganha maior significado no interior de determinado grupo, seu código simbólico. Para construção de identidades, reafirmação de um grupo frente aos demais, a memória constitui-se elemento primordial. De acordo com Halbwachs a questão do ser humano buscar sempre viver em grupo faz com que as lembranças possam ser reconstruídas ou representadas através da compreensão dos outros. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. 3 Maurice Halbwachs estuda a memória como quadros sociais, onde as funções positivas que a memória exerce de fortalecer a coesão social, através de laços de afetos que dão ao grupo essa concordância afetiva, chamando de comunidade afetiva. A memória coletiva se apropria de lembranças pessoais, fazendo disposição dessas lembranças a nível grupal, os componentes deste grupo tem um passado em comum e interesses coletivos. A memória coletiva também pode ser analisada como tradição, como Da Matta relata que a memória social é vulgarmente chamada de tradição. Pois o homem é o único animal que se constrói pela lembrança, pela recordação e pela saudade. 4 Quando deixamos de pertencer a esse grupo, as lembranças tendem a se apagar em nossa memória. Isso nos permite compreender a memória coletiva como espaço de tradição, uma vez que ela é alimentada pelo grupo. Enquanto sobrevive o grupo, a tradição permanece, quando isso não mais ocorre à unidade é desfeita e o passado deixa de pertencer a todos. O sentimento de pertencimento ao grupo esta relacionada com a vivência de elementos culturais importantes para o grupo naquele momento e como esse grupo participa desta cultura compartilhada. Os descendentes de italianos vênetos do Bairro de Santa Felicidade estão enraizados neste sentimento de pertencer a um grupo que conserva heranças do passado, que são perpetuadas nos rituais locais. Assumem seu próprio referencial, ou seja, envolve todo o simbolismo da memória coletiva, dando continuidade a tradição, passando a ser identificarem a si próprios como italianos. A memória coletiva esta presente na identidade étnica, o que leva o grupo étnico ao passado, as sua origens como forma de auto-afirmação de si próprio e perante aos demais. A memória coletiva colabora para esse sentimento de pertencimento ao grupo, ao seu passado. Para o imigrante italiano que chega em 1878 a Colônia de Santa Felicidade em sua maioria da região do Vêneto, o isolamento espacial a que estavam submetidas, as dificuldades de adaptação ao idioma, aos hábitos alimentares brasileiros auxiliaram na formação deste grupo étnico. Para estes imigrantes a Itália era vista como um país fragmentado, sem uma identidade própria, identificavam-se apenas pela sua região como friulanos, lombardos, trentinos, vênetos. Frente as mais diversas dificuldades encontradas passaram a se identificar como italianos, assim longe de seu país de origem, a Itália constituiu-se em lugar de referência. Aqui se tornaram italianos não importando a sua região, construindo sua identidade étnica. Para Oliveira, a identidade social enquanto expressão étnica busca elementos de identificação para a sua identidade perante indivíduos ou grupos distintos. Assim, a identidade contrastiva é a origem da identidade étnica. A identidade para o autor implica a afirmação de nós diante dos outros. Quando uma pessoa ou grupo se afirmam como tais, o fazem como meio de diferenciação em relação alguma pessoa ou grupo com que se confrontam. 5 3 BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979. p. 17. 4 DA MATTA, Roberto. op. cit, p. 68. 5 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, Etnia e Estrutura Social. São Paulo: Pioneira, 1976. p. 05.

4 Verifica-se que o processo de assimilação é dual, ocorre no grupo de imigrantes como também na sociedade de adoção. De acordo com Balhana ninguém assimila sem ser transformado. Por outro lado, a assimilação não exige necessariamente a substituição de todos os traços culturais originalmente adquiridos. 6 Portanto, a identidade do imigrante italiano é dada pela memória, tendo na tradição alimentar sua herança cultural. Os imigrantes italianos ao chegarem em Santa Felicidade traziam consigo não só esperanças, mas seus hábitos nativos e é justamente seu hábito alimentar que resiste as transformações ocorridas diante de uma nova vida. Encontram na comida toda uma simbologia, uma forma de resistência ao processo de aculturação. A polenta se torna uma forma de identificação, de expressão cultural. Para eles a polenta também assume a sua representatividade, na Itália em tempos de pobreza, de falta de alimento, foi o alimento que saciou a fome dos colonos e aqui começando uma nova vida, a polenta também era o alimento de carestia. Segundo Balhana em seu trabalho Santa Felicidade: um processo de assimilação o alimento quotidiano fundamental em Santa Felicidade é a polenta, prato característico das classes rurais italianas. A polenta (poenta) que consiste em um angu de fubá, água e sal. 7 Os primeiros restaurantes instalados a beira da Estrada do Cerne deram origem a essa tradição de servir a típica comida do imigrante, destacando-se a polenta, originária dos primeiros imigrantes chegados a Colônia de Santa Felicidade, estavam criando uma identidade ao grupo. Os imigrantes italianos apropriam-se de sua culinária e transformam um prato típico, a polenta, o carro chefe dessa representação. Saborear a polenta, um código simbólico, que invade o espaço público dos restaurantes e festas típicas do bairro, transformando Santa Felicidade em referência gastronômica. A reconstrução da identidade dos descendentes de italianos do Bairro de Santa Felicidade é constantemente reafirmada pelos seus descendentes através dos rituais locais, que são as festas típicas do bairro: Festa da Uva e a Festa do Vinho, Polenta e Frango.O alimento do passado é transformado em símbolo de italianidade. São nos momentos festivos que certos pratos carregados de sentimento, emoções, revelam um passado distante que é transportado para o presente pelos seus descendentes por intermédio de rituais locais. As Festas da Uva e do Vinho, Polenta e Frango representam verdadeiros rituais de auto-afirmação e atualização da etnicidade italiana. Embora o Bairro de Santa Felicidade esteja dentro do processo de transformações modernizadoras, os descendentes de italianos priorizam o passado e buscam sempre cultuá-lo. Este culto à tradição se harmoniza com a modernidade. Referindo-se à preservação das tradições, falamos de tradições inventadas que para Hobsbawn se caracteriza em estabelecer com o passado histórico uma continuidade, ou seja, são atitudes frente a situações novas que tem relação a situações anteriores, ou que estabelecem seu próprio passado por meio da repetição. Para o autor por tradições inventadas entende-se um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição o que implica automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. 8 As próprias festas típicas do Bairro de Santa Felicidade representam espaços de reconstrução de valores étnicos, reinventando a Itália. Percorrendo a trilha da memória foi possível entender toda a simbologia dada à polenta. Nas entrevistas buscamos compreender o significado atribuído a um prato, resgatando experiências individuais de cada entrevistado. Entendemos que a memória coletiva 6 BALHANA, Altiva Pilatti. Un Mazzolino de Fiori. Curitiba: Imprensa Oficial, v. 1, 2002. p. 267. 7 BALHANA, Altiva Pilatti. Santa Felicidade: um processo de assimilação. Curitiba: João Haupt, 1958. p. 108. 8 HOSBSBAWN, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 09.

alimenta-se da memória individual, o que faz com que a memória coletiva se transforme em espaço de tradição. Suas falas reproduzem dias difíceis de sua infância como também de seus antepassados, falam da carência de alimento, enaltecendo a figura do moinho, das pedras que esmagavam o milho e produziam aquela farinha, que levada para casa iria se transformar no seu alimento, a polenta, que exalava um delicioso aroma e sabor marcante. As lembranças do passado ganham maior significado quando se referem à qualidade da farinha de fubá branco, próprio da região do Vêneto, responsável pelo gostinho todo especial da polenta servida nos restaurantes, nas festas típicas do bairro. Junto com essas lembranças é recuperado o valor simbólico de certos instrumentos usados para preparar a polenta como o caliero que é um grande tacho para fazer a polenta, a mêscola pá de madeira usada para mexer a polenta durante o seu cozimento. A figura feminina representada pela mãe, avó, bisavó é muito presente durante as entrevistas, são elas responsáveis pela transmissão do saber, do fazer a polenta que segue todo um ritual e como o ato de comer a polenta foi passada de uma geração para outra, onde cada membro da família torna-se responsável pela continuidade dessa tradição. Diante da modernidade a tradição de preparar a polenta no ambiente doméstico não é muito cultuada. As pessoas mais idosas ainda continuam a fazer polenta em casa, uma ou mais vezes por semana, prevalecendo a polenta acompanhada com algum tipo de molho e somente frita quando é sobra do dia anterior. Já os mais jovens reconhecem na polenta um elemento de identificação, mas não fazem a polenta em casa pelos contratempos da vida moderna e porque a polenta exige quase uma hora para o seu preparo. Muitas vezes fazem a opção pela polenta pronta instantânea pela sua facilidade. Participam da manutenção desta herança do passado os restaurantes de Santa Felicidade que servem a típica comida do imigrante italiano e as festas típicas do bairro. As Festas da Uva e do Vinho, Polenta e Frango refletem o universo simbólico, relação entre o passado, presente e futuro. O passado esta arraigado na memória que é dividida pela coletividade. Entender porque as festas típicas do Bairro de Santa Felicidade são momentos de ritualização em que se busca resgatar a história de um grupo de imigrantes, os vênetos, que deixaram seu país de origem em busca de melhores condições de vida, focalizando um período limitado e determinado de tempo, implica para seus descendentes que o passado não pode ser esquecido, ele traz a história, a memória de um povo que viu na emigração a solução para os problemas que afetavam seu país de origem e a eles. A ameaça da globalização exige dos descendentes a permanente ritualização para que o passado não se perca, por isso as festas típicas do bairro são verdadeiros rituais que estabelecem a ligação do grupo, por intermédio da comida típica do imigrante italiano, em especial a polenta. Ao oferecer o seu prato típico estão demarcando seu espaço e ao mesmo tempo recebendo outro grupos. A identidade é fortificada frente à homogeneização da cultura, podemos falar que lapidam o simbólico, privilegiando sua dimensão simbólica. Para os descendentes vênetos deve-se comemorar anualmente a história de seus ancestrais como exemplo de luta, trabalho, dignidade para que não se apague no tempo. A repetição é a continuidade de um passado elaborado segundo acontecimentos que são marcados a partir do presente. Ao ser venerado em ocasiões especiais, simboliza recriar esse passado reconhecido pelos seus descendentes que se auto-afirmam perante um mundo globalizado, de mundialização da cultura. Ao buscar o passado, festejam invenção deste passado para o presente. Tornar o passado presente é uma forma de mantê-lo vivo, sendo constantemente atualizado para que não se perca diante dos horizontes abertos pela modernidade. A polenta transformou o Bairro de Santa Felicidade em lugar de memória. 5