Quem teve hepatite pode doar sangue

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Juliana Conte é jornalista, repórter do Portal Drauzio Varella desde 2012. Interessa-se por questões relacionadas a manejo de dores, atividade física e alimentação saudável.

Quem teve hepatite pode doar sangue

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Em geral, qualquer pessoa entre 16 e 69 anos pode fazer uma doação, mas algumas condições são impeditivas. Veja aqui quem não pode doar sangue.

No dia 14 de junho é comemorado o Dia Mundial do Doador de Sangue. De acordo com o Ministério da Saúde, somente 1,6% da população brasileira – cerca de 3,36 milhões de habitantes – tem o hábito de doar sangue de maneira rotineira. Embora esteja dentro dos padrões estipulados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal seria que 3% da população fosse doadora, com o objetivo de suprir toda demanda. Até quatro vidas podem ser salvas com cada doação de sangue. Em São Paulo, a Fundação Pró-Sangue, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde, está convocando a população a doar sangue constantemente, principalmente dos tipos de sangue O+, O-, A- e B-, que estão em situação crítica no estoque.

Na hora de doar, todos passam por uma entrevista que tem como objetivo dar mais segurança ao doador e aos pacientes que vão receber a doação. O sangue doado é testado para doenças como hepatite B, hepatite C, HIV, sífilis e doença de Chagas. A quantidade de sangue colhida não afeta a saúde do doador e a recuperação é imediata. De acordo com a Fundação Pró-Sangue de São Paulo, o volume total de sangue a ser doado não pode exceder 8 ml/kg do peso do doador, no caso das mulheres, e 9 ml/kg dos homens. O volume máximo admitido para uma doação de sangue é de 450 ml, aos quais podem ser acrescentados até 30 ml para realização dos exames laboratoriais exigidos pelas leis e normas técnicas.

Para doar é necessário estar em boas condições de saúde, alimentado, não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas antes da doação e levar documento oficial com foto. Os homens podem doar até quatro vezes por ano, com intervalo mínimo de dois meses. Já as mulheres podem doar três vezes, com intervalo necessário de três meses, no mínimo. Qualquer pessoa entre 16 e 69 anos podem doar, desde que não estejam impossibilitados de acordo com os critérios a seguir.

Pessoas que não podem fazer a doação de sangue

  • Quem teve hepatite após os 10 anos de idade;
  • Quem não doou sangue pela primeira vez até os 60 anos;
  • Com peso inferior a 50 quilos;
  • Com anemia, malária, doença de chagas, HIV, graves problemas no pulmão, coração, rins, fígado ou de coagulação no sangue, com doenças associadas aos vírus HTLV I e II, Hepatites B ou C;
  • Pressão alta ou baixa no momento da doação;
  • Que recebeu enxerto de dura-máter;
  • Com diabetes;
  • Pessoas que já tiveram algum tipo de câncer, leucemia, tuberculose, elefantíase, hanseníase, leishmaniose visceral, brucelose, esquistossomose hepatoesplênica;
  • Com doenças que gere inimputabilidade jurídica (doença mental ou desenvolvimento mental incompleto);
  • Que fazem uso de drogas injetáveis;
  • Gestantes ou lactantes.

Existem muitas outras condições temporárias que também impedem a doação. Você pode conferir no site da Fundação Pró-Sangue.

É importante lembrar que é possível doar cada componente sanguíneo separadamente, como plaquetas, hemácias, leucócitos e plasma. Também é possível entrar na lista de espera para doação de medula óssea e aguardar a necessidade de algum paciente compatível.

Vídeo: Conheça a rotina da Fundação Pró-Sangue, de São Paulo

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Por que alguém que já teve hepatite não pode doar sangue?

Porque não é possível saber se restou algum vírus. No caso das hepatites B e C, mais graves, mesmo depois que o paciente deixa de apresentar qualquer sinal da doença, é possível que alguns poucos vírus mais resistentes sobrevivam. Se essa pessoa doar sangue, o vírus entra no organismo do receptor e faz com que ele contraia a doença. No caso da hepatite A, mais comum e menos perigosa, não existem vírus resistentes. Por isso, quem teve essa doença poderia doar sangue sem problemas. Mas é possível que o indivíduo com hepatite A tenha sido contaminado também com a do tipo B e não saiba. “Então, por precaução, os laboratórios não aceitam a doação”, diz o gastroenterologista Flair José Carrilho, da Universidade de São Paulo.

Há casos em que pacientes que tenham contraído hepatite B doam sangue depois de curados, mas não para transfusão. Os anticorpos são extraídos do sangue e injetados no organismo de bebês nascidos quando a mãe estava contaminada com doença. Assim, evita-se que a criança se contamine.

Fui doar sangue e me disseram que eu não poderia ser doador porque tinha anticorpos para as hepatites B e C, apesar de ter me curado sozinho das duas hepatites. Outro médico me disse que apenas os anticorpos da hepatite B são detectáveis no laboratório. Quero saber se a informação do Banco de Sangue realmente é correta.

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A informação do Banco de Sangue está correta, mas a informação de que apenas os anticorpos da hepatite B são detectáveis em laboratório está incorreta. Existem exames obrigatórios para detecção de anticorpos contra o vírus da hepatite C em doadores de sangue desde 1993.

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A cura espontânea nas hepatites é possível. O indivíduo deixa de ter o vírus, apesar de permanecer com anticorpos circulantes. Por outro lado, a persitência do vírus poderá ocorrer em pessoas aparentemente saudáveis e sem quaisquer sintomas. Um indivíduo portador crônico é potencial transmissor da infecção.

A atividade hemoterápica é regulamentada por resoluções da Vigilância Sanitária. Na legislação vigente, qualquer indivíduo que tenha tido contato com as hepatites B e/ou C, curado ou não, não poderá mais doar sangue.

Essa proibição baseia-se principalmente em dois argumentos:

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1) Os exames para detecção dessas doenças buscam anticorpos que o doador infectado tem na circulação. Níveis baixos de anticorpos no doador, como no caso de infecções recentes, poderiam ocasionar resultados falso-negativos, permitindo que seu sangue infectado seja transfundido em um paciente, com risco de transmissão da doença. Apesar dos métodos atuais serem considerados de alta sensibilidade, não temos exames totalmente seguros. Qualquer dúvida que paire sobre a qualidade do sangue impede a doação.

2) A promiscuidade sexual e o uso de drogas endovenosas são maneiras de uma pessoa adquirir essas infecções. Quem tem comportamento de risco também está sujeito a outras infecções sérias como a sífilis e a aids. Portanto, não é difícil entender porque não se aceita como doador qualquer indivíduo que possa ter tido comportamentos de risco.

Luis G. F. Turkowski, hematologista

Doar sangue é uma atitude cidadã geradora de cura e vida. Antes de programar-se para uma doação, porém, é preciso conhecer os requisitos para esta boa ação.

Você deve ter algum amigo que já fez campanha para doação de sangue, por ocasião do tratamento de algum parente que precisava de transfusão. Doar sangue nesses momentos é sempre uma atitude louvável. Mas já pensou em ser um doador constante e colaborar para que nunca falte sangue para quem necessita? Por isso, é preciso saber quais são os requisitos para fazer a doação de sangue e saber se você está em condições de contribuir.

Antes de cada doação, o candidato passa por uma entrevista para coleta de informações sobre viagens recentes, hábitos e questões de saúde. São feitas algumas perguntas de cunho íntimo, que podem até intimidar pessoas mais reservadas. De qualquer forma, não se preocupe: nos centros de doação o sigilo vem sempre em primeiro lugar. O que não se pode fazer nunca é mentir nas respostas, pois isso colocaria em risco a saúde já debilitada de alguém.

A intenção das perguntas é principalmente avaliar o risco de contaminação. Mas nem todas as perguntas e requisitos estão ligados somente ao risco da contaminação. Por exemplo, peso é um elemento importante para se calcular o volume de sangue que será retirado, que deve ter uma correta proporção entre o sangue doado e o anticoagulante que está presente na bolsa de armazenamento. O volume a ser doado depende do peso do doador e é por isso que não existe um tamanho padrão de bolsa de sangue.1 Homens podem doar até 9 ml/kg de peso e mulheres até 8 ml/kg.

Ao mesmo tempo, o volume admitido por doação é de 450 ml ± 45 ml, aos quais podem ser acrescidos até 30 ml para a realização dos exames laboratoriais exigidos pelas leis e normas técnicas2 cada bolsa deve conter no mínimo 450 ml para que o anticoagulante aja corretamente. Isso explica por que pessoas com menos de 50 kg não podem doar. Não tem relação com risco de anemia ou desmaio, como alguns acreditam.

Uma questão que sempre gera dúvidas é quanto ao histórico de doenças do doador. Além do HIV, a hepatite é a patologia mais lembrada. Existem vários tipos de hepatite viral (hepatite A , hepatite B , hepatite C , hepatite D , hepatite E). O tipo A é o mais comum e não impede a doação de sangue. Acredita-se que quase 100% das pessoas que tiveram hepatite antes dos 10 anos foram contaminadas pelo tipo A. Portanto, quem teve hepatite antes dos anos 10 anos provavelmente pode doar sangue. Já em casos de hepatite B ou C, a doação é impedida.

Tanto o HIV quanto a hepatite B são doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, todo hemocentro exclui candidatos a doação que tenham comportamento de risco: múltiplos parceiros sexuais em período recente e o uso de drogas injetáveis.

Cirurgias, tatuagens, viagens e vacinas

Cirurgias e procedimentos médicos e odontológicos também precisam ser avaliados na hora da doação. O período de resguardo varia de acordo com o tipo de intervenção e vai de uma semana (após uma extração de dentes) até um ano (após uma cirurgia de grande porte). Mesmo quem faz acupuntura precisa informar na hora de doar. Porém, se o procedimento foi feito com laser ou material descartável e a última sessão ocorreu até um dia antes, a doação está liberada.

É preciso também prestar atenção a tatuagens, maquiagem definitiva e piercings,3 pois há risco de contaminação por meio das agulhas e, por isso, quem passou por esses procedimentos deve esperar um ano antes de doar. Porém, caso o piercing tenha sido colocado na área genital ou nas mucosas (como os lábios), a doação não poderá ser realizada. É preciso retirar o acessório e esperar mais um ano para doar sangue.

As vacinas também merecem atenção especial. Algumas permitem que a doação de sangue seja efetuada 48 horas após a aplicação, como aquelas feitas com vírus e bactérias mortos (caso da vacina contra o tétano). Já outras, como febre amarela, poliomielite oral (Sabin), febre tifoide oral, caxumba, sarampo, BGC (Bacillus Calmette-Guérin), rubéola, catapora e varíola, pedem um intervalo de quatro semanas. Antibióticos também devem ser lembrados: a doação pode acontecer somente 15 dias depois do término de um tratamento.4

Diante do início da vacinação contra Covid-19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou Nota Técnica 12/2021 para orientar os serviços de hemoterapia e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) sobre os prazos de inaptidão temporária para doação de sangue de candidatos vacinados. Por precaução, as pessoas que receberam uma das vacinas contra o vírus Sars-CoV-2 com autorização para uso emergencial aprovada pela Anvisa ou que tenham registro sanitário no Brasil5 devem considerar um adiamento da doação por até sete dias após a vacinação.”

A proibição de doação para quem fez viagens para determinadas regiões do mundo é ligada à presença de epidemias. A principal preocupação é com a malária, presente em alguns estados brasileiros (Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins) e também em alguns países da África, da Ásia e da América Latina, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).6 Nos postos de doação, há informações sobre todos os lugares impeditivos. Se você esteve em um deles, precisa esperar doze meses para doar. Já quem viajou aos Estados Unidos deve esperar 30 dias.6

Existem condições temporárias nos requisitos como resfriados, conjuntivites, herpes labial e diarreias, que bastam estar curadas para que se libere a doação. No geral, uma pessoa com a saúde em dia, alimentada (nada de ir doar em jejum!) e disposta a ajudar alguém pode doar sangue. Quaisquer dúvidas sobre outras exigências podem ser esclarecidas nos próprios postos de doação.

Não pode doar sangue quem

  • é portador de vírus HIV, das hepatites B e C, dos vírus HTLV (vírus T-linfotrópico humano) I e II e da doença de Chagas;
  • usa drogas ilícitas injetáveis;
  • á teve malária;
  • recebeu enxerto de dura-máter (membrana que envolve o cérebro e a medula espinhal);
  • teve algum tipo de câncer, incluindo leucemia;
  • tem graves problemas no pulmão, coração, rins ou fígado;
  • tem problema de coagulação de sangue;
  • tem diabetes com complicações vasculares e/ou insulinodependente;
  • teve tuberculose extrapulmonar, elefantíase, hanseníase, leishmaniose visceral ou brucelose;
  • foi submetido a gastrectomia total (remoção de todo o estômago e linfonodos próximos, podendo incluir, ainda, a remoção do baço e partes do esôfago, intestino, pâncreas e outros órgãos adjacentes), pneumectomia (retirada de um pulmão), esplenectomia (remoção cirúrgica, completa ou parcial, do baço) não decorrente de trauma, transplante de órgãos ou de medula.

Todas as condições são descritas na Portaria nº 158, de 4 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde.7 Clique aqui para acessar.

Referências

1Pró-Sangue - Hemocentro de São Paulo http://www.prosangue.sp.gov.br/artigos/requisitos_basicos_para_doacao.html

2 PRT MS/GM 158/2016, Art. 51, Parágrafo Único)

3Blog da Saúde - Ministério da Saúde http://www.blog.saude.gov.br/index.php/servicos/52695-tire-suas-duvidas-sobre-a-doacao-de-sangue
4Pró-Sangue – Hemocentro de São Paulo http://prosangue.sp.gov.br/duvidas/default.html
5ONU Brasil https://brasil.un.org/pt-br/103324-oms-pede-acao-revigorada-para-combater-malaria
6Fundação Homocentro de Brasília http://www.fhb.df.gov.br/doacao-de-sangue/
7Ministério da Saúde http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0158_04_02_2016.html