Os programas religiosos ocupam mais de 20 da programação de tv aberta no brasil

Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está detido desde o dia 7 de abril , em uma sala do quarto andar com televisão.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Depois de reclamar do clima chuvoso de Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detido desde o dia 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal na capital do Paraná, anda reclamando da programação da TV aberta, a única que pode acompanhar na sala onde está preso.

A informação é da colunista Mônica Bergamo, publicada na Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (3). Segundo a coluna, o petista se queixou do excesso de programas religiosos que ocupam boa parte da grade das emissoras de TV abertas. Ainda de acordo com a jornalista, o ex-presidente se recusa a assistir aos telejornais.

Essa não é a primeira reclamação feita por Lula ao seu período de detenção em Curitiba. Pouco mais de dez dias após sua prisão, se queixou por não poder conseguir aproveitar direito o banho de sol diário a que tem direito – são duas horas por dia. Nos primeiros dias, o petista evitou sair da cela, mas depois reclamou das chuvas, que impediram a atividade.

“Mas só chove”

Até o dia 17, quando recebeu a visita de integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Lula havia dito que só tinha conseguido aproveitar três dias de sol. “De que adianta banho de sol se só chove aqui! Deveria ser banho de chuva”, reclamou aos senadores em um momento de descontração.

Os senadores que visitaram Lula reclamaram da condição de isolamento à qual o ex-presidente está submetido. Segundo o senador João Capiberibe (PSB-AP), relator do grupo externo que visitou as instalações, a área mede 9 metros por 6 metros. O banho de sol de Lula é solitário, sem a presença de outros detentos. “Como se fosse um corredor”, relatou.

Livros como halteres

Ainda de acordo com os senadores que estiveram com Lula, o ex-presidente se viu obrigado a improvisar para manter uma rotina de exercícios, algo que costumava fazer com regularidade antes de ser preso. Para isso, transformou os livros à disposição na sala onde está detido em halteres para musculação.

A revelação foi feita pelas senadoras Vanessa Graziottini (PCdoB-AM) e Lídice da Mata (PSB-BA), que assinam nota conjunta. “Falamos sobre os últimos acontecimentos e ele nos relatou o seu dia a dia. Da cama que arruma, dos livros que lê, das ginásticas que faz (halteres com os livros em uma sacola e exercícios no seu pequeno espaço) e é claro falou muito de política”.

As senadoras informaram, no entanto, que ele não reclamou nem da comida nem das condições de encarceramento. “Apenas expressou indignação por sua injusta condenação, pelo seu isolamento pelo golpe que se segue no Brasil”, relataram as parlamentares.

Entre os livros à disposição do ex-presidente, está “A Elite do Atraso”, de Jessé Souza, segundo informou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) no dia 17, quando esteve na superintendência da PF em Curitiba para visitar Lula.

Zapear os canais da televisão brasileira e se deparar com um horário arrendado está sendo cada vez mais comum para o telespectador, mesmo que ele exija cada dia mais um conteúdo adequado e de qualidade.

Segundo levantamento exclusivo do TV História, nas 11 emissoras de maior audiência na TV aberta brasileira, contando todos os seus horários, cerca de 52% são dedicados para programas religiosos de várias crenças.

De todos os canais pesquisadas (Globo, SBT, RecordTV, Band, RedeTV!, Cultura, Gazeta, Rede Brasil, CNT, Rede 21 e Record News), a única que não tem qualquer horário religioso vendido é o SBT, que rechaça a prática por conta de Silvio Santos, o seu dono.

A Globo, líder de audiência, tem apenas uma hora: das 6h às 7h, aos domingos, onde é exibida a Santa Missa, apresentada pelo Padre Marcelo Rossi, o mais popular padre católico do Brasil.

Na Record, são 18 horas e 45 minutos semanais vendidas para a Igreja Universal do Reino de Deus. De segunda a sexta, a IURD fica das 1h15 às 6h. Aos sábados, a faixa é das 1h15 às 7h. Aos domingos, são 7 horas e 45 minutos de programação religiosa: de 1h15 às 9h.

Os programas religiosos ocupam mais de 20 da programação de tv aberta no brasil

Apenas na Record, segundo notícias publicadas pela imprensa e mostradas no balanço financeiro da emissora, em 2016 foram R$ 500 milhões para que estas faixas foram cedidas foram pagos pela Igreja.

Na Band, são 22 horas semanais vendidas para igrejas. Atualmente, uma hora diária é de R.R Soares e o seu Show da Fé, que paga o maior valor por hora na TV brasileira – são R$ 10 milhões por mês. Outras três horas, de domingo a sexta, são compradas pela Igreja Universal do Reino de Deus. Aos sábados, complementa esta faixa o programa Vitória em Cristo, de Silas Malafaia, das 12h às 13h.

Das cinco principais redes, a que mais vende para igrejas é a RedeTV!. São 75 horas semanais, o que configura 51% de toda a sua programação. Por dia, de segunda a sexta, são 12 horas. Aos sábados, são sete horas e meia, bem como no domingo.

Questionado sobre isto, Marcelo de Carvalho, vice-presidente da RedeTV!, já disse que se não vender tantas faixas, a emissora quebra e o seu negócio vai à falência. A esperança é a Simba, joint-venture formada entre RecordTV, SBT e RedeTV! para cobrar pelo sinal digital delas na TV paga.

Na Cultura, uma hora é dedicada para religião, como na Globo – aos domingos, das 8h às 9h, com a transmissão da Missa de Aparecida.

Na Gazeta, são seis horas e 30 minutos semanais: quatro horas de segunda a sábado, e mais duas horas e 30 minutos aos domingos. Todas elas são vendidas para a Igreja Universal do Reino de Deus.

Igrejas fazem farra em emissoras UHF

Nas emissoras UHF, de menor alcance, acontece uma verdadeira farra do boi. CNT, Rede 21 e Ideal TV vendem 22 horas de sua programação diariamente, tendo 95% de suas grades locadas para igrejas.

O cliente das três é o mesmo: a Igreja Universal do Reino de Deus. O TV História noticiou recentemente que cada uma dessas emissoras recebe R$ 10 milhões/mês para praticamente arrendarem 100% dos horários.

A exceção neste meio é a Rede Brasil. Semanalmente, o canal de Marcos Tolentino arrenda apenas duas horas e 45 minutos para igrejas. Essas faixas são normalmente compradas pela Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdemiro Santiago, concorrente direto da Universal.

Os programas religiosos ocupam mais de 20 da programação de tv aberta no brasil

A Record News, emissora de notícias da Record, também têm horários locados para igrejas – no caso, novamente a Universal. Por semana, são seis horas e 30 minutos para congressos empresariais promovidos pela IURD.

Investimento de uma Record

No total, também segundo informações publicadas pela imprensa e pelo TV História, as igrejas movimentam mais de R$ 1 bilhão apenas em horários comprados.

O valor é o mesmo que o faturamento líquido da RecordTV, a segunda maior emissora do País, teve no ano de 2016. O valor é superior ao do SBT, a terceira maior, que fechou 2016 com R$ 900 milhões.

A RedeTV!, por exemplo, tem 20% de seu faturamento total vindo de vendas de horário para igrejas. No ano passado, ela aumentou o número de faixas vendidas em uma hora e 45 minutos. Em 2016, teriam sido R$ 186 milhões faturados apenas com isto.

A medida preocupa, já que a TV brasileira ficou totalmente dependente do dinheiro de fiéis. Para tentar evitar que tantos horários sejam locados para doutrinação, o Ministério Público Federal entrou com uma ação judicial em 2014, pedindo a anulação das concessões de CNT e Rede 21, alegando arrendamento ilegal de programação.

O processo, porém, foi arquivado e acabou não dando em nada. Na lei, a cessão de horários é proibida, mas a legislação é questionada anualmente, já que ela é antiga e antes do tempo da popularização da TV, nos anos 1970.

Além disso, estas emissoras argumentam que conteúdo religioso também pode ser interpretado como uma finalidade cultural da programação das emissoras, prevista na Constituição. Dessa forma, programas religiosos não poderiam entrar no limite de 25% do espaço da grade.

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O gênero que mais ocupou as grades de programação em 2012 foi o religioso.

O Informe de Acompanhamento de Mercado de TV Aberta publicado pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), da Ancine, no final de junho e atualizado na última quarta, 3, traz alguns dados interessantes da programação de TV aberta no Brasil.

Segundo o estudo, que monitora as grades de programação de dez emissoras - Bandeirantes, CNT, Globo, MTV Brasil, Record, RedeTV!, SBT, TV Brasil, TV Cultura e TV Gazeta - 78,9% do tempo de programação é de obras brasileiras, na média.  O percentual de horas dedicadas à programação estrangeira é de 14,66%. A diferença (6,43%) é por conta do conteúdo “indefinido” - programas compostos por diversas pequenas obras, podendo ser brasileiras ou estrangeiras, ainda que ancoradas por apresentador brasileiro.

O SBT é a rede que conta com menos conteúdo nacional (51,07%), seguido da TV Cultura (52,58%), que na última gestão passou por um forte enxugamento, levando à redução da produção de conteúdo próprio.

Percentual de tempo de programação das emissoras aberta por Origem - 2012

Emissoras

Brasileira Estrangeira Indefinido

Band

78,58%

17,73%

3,69%

MTV Brasil

76,18%

6,40%

17,42%

Rede CNT

94,65%

5,35%

-

Rede Globo

76,18%

20,20%

3,62%

Rede Record

83,26%

13,76%

2,98%

Rede TV!

91,84%

5,21%

2,95%

SBT

51,07%

33,16%

15,78%

TV Brasil

80,91%

17,32%

1,78%

TV Cultura

52,58%

29,68%

17,75%

TV Gazeta

100,00%

-

-

Total

78,91%

14,66%

6,43%

Fontes: Grade de Programação das Emissoras. Jornais, site das emissoras e sites especializados.

O informe traz ainda um estudo sobre o tempo dedicado ao tipo de programação. Em 2012, a programação de TV aberta foi predominantemente ocupada por obras de entretenimento (59% do tempo da grade de programação das emissoras), com o gênero informação na sequência (15,9%).

Igreja eletrônica

O gênero que mais ocupou as grades de programação em 2012 foi o religioso, responsável por 13,55% do tempo médio das grades, com destaque para a Rede TV! (38,08% do tempo dedicado ao gênero religioso), Rede CNT (36,67%), e Record (23,33%). Na sequência vêm os gêneros variedades, com 10,45% do tempo médio, e telejornalismo, ocupando 10,43% do tempo médio das grades.

Cinema

O estudo detectou 2.110 exibições programadas de longas-metragens na TV aberta, dos quais 1.819 foram longas estrangeiros e 291, nacionais. A TV Cultura, a TV Brasil e a Rede Globo foram responsáveis por 98,6% das exibições de longas- metragens nacionais em 2012. A TV Brasil, com 111 exibições, e a TV Cultura, com 109, foram os canais que mais abriram espaço para as obras brasileiras, ainda que com um alto índice de reprises.

Fernando Lauterjung

(Fonte: www.telaviva.com.br