Os advérbios mais (verso 6) e mais (último verso) exprimem a mesma circunstância justifique

Os advérbios mais (verso 6) e mais (último verso) exprimem a mesma circunstância justifique

GuSilvaa460 @GuSilvaa460

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3.Leia estes trechos do poema "Infância", de Carlos Drummond de Andrade.Infância1Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.Minha mãe ficava sentada cosendo.Meu irmão pequeno dormia.Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé,6 comprida história que não acaba mais.No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala- e nunca se esqueceu chamava para o café.[...]10Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda.E eu não sabia que minha históriaera mais bonita que a de Robinson Crusoé.Carlos Drummond de Andrade. Alçmopoesb. Sào Paulo: Companhia das letras, 2013. p. 13. © Grafia Drummond. www.carlosdrummond.com.br.Considere os elementos textuais destacados no trecho e respondaaos itens de a a d.■) Os advérbios “mais" (versos 6] e “mais" (último verso) exprimem a mesma circunstância, ou seja, têm a mesma classificação? Justifique.; “Sozinho* (verso 4) funciona como adjetivo ou como advérbio x modo? Justifique sua resposta baseando-se na possível ■Texão (variação de forma) dessa palavra.; A que verbo associa-se a locução adverbial “no meio-dia branco de luz" (verso ?} e que circunstância ela exprime no texto?: Considere as palavras “longes* (verso 8) e “longe* (verso 10) e aponte a diferença de classe gramatical e de sentido entre elas.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu

chamava para o café. [...]

longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Infância. In: _____. Alguma Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. www.carlosdrummond.com.br

CRÉDITO: Superstock/Glowimages

Considere os elementos textuais destacados no poema e responda aos itens de a a d.

a) Os advérbios mais (verso 6) e mais (último verso) exprimem a mesma circunstância, ou seja, têm a mesma classificação? Justifique.

Resposta: Não. No verso 6, mais associa-se ao verbo acaba e exprime tempo; no último verso, associa-se ao adjetivo bonita e exprime intensidade.



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Os advérbios mais (verso 6) e mais (último verso) exprimem a mesma circunstância justifique
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Severino Antônio Moreira Barbosa

Doutor em Educação (área de Filosofia e História da Educação) pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.

Professor do Ensino Médio e do Ensino Superior há 40 anos e autor de vários livros.

3ª edição

São Paulo - 2016

FTD


MANUAL DO PROFESSOR

2

FTD

Copyright © Emília Amaral, Mauro Ferreira do Patrocínio, Ricardo Silva Leite, Severino Antônio Moreira Barbosa, 2016

Diretor editorial Lauri Cericato

Gerente editorial Flávia Renata P. A. Fugita

Editora Angela C. D. C. M. Marques

Editoras assistentes Ana Paula Figueiredo, Irene Catarina Nigro, Maria Aiko Nishijima, Nathalia de Oliveira Matsumoto, Roberta Vaiano

Assessoria Suelen Rocha M. Marques

Gerente de produção editorial Mariana Milani

Coordenador de produção editorial Marcelo Henrique Ferreira Fontes




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Page 3

Estudo das palavras invariáveis (2ª parte), p. 225

Preposição, p. 225

Conjunção, p. 227

Interjeição, p. 229

Resumindo o que você estudou, p. 230

Atividades, p. 230

Da teoria à prática, p. 233

Ponto de partida, p. 233

Agora é sua vez, p. 233

Capítulo 4 - A sintaxe - conceitos gerais Sujeito e predicado, p. 236

Introdução, p. 237

A sintaxe - conceitos gerais, p. 237

A organização dos enunciados: seleção, ordenação e combinação das palavras, p. 237

Análise sintática, p. 238

Sujeito e predicado, p. 240

Estudo do sujeito (1ª parte), p. 241

A relação morfossintática "sujeito-substantivo", p. 241

Características do sujeito, p. 243

Resumindo o que você estudou, p. 245

Atividades, p. 245




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Page 4

Em tom de conversa

Exponha para os colegas suas impressões sobre o poema e discuta com eles as seguintes questões:

1. Muitas vezes a literatura é instrumento de evasão, de fuga da realidade. Como o eu lírico se posiciona em relação à poesia escapista? É possível dizer que ele formula um projeto de poesia?

Resposta: Ele recusa a poesia escapista de todas as formas. Em seu projeto não cabe a fuga no tempo- tanto para o passado (o "mundo caduco") como para o futuro - ou no espaço (para "as ilhas", para a "paisagem vista da janela"); não cabem a entrega aos sentimentos (a mulher, os "suspiros ao anoitecer"), a evasão para o sonho (os "entorpecentes", o rapto por "serafins"), a alienação no desejo da morte ("cartas de suicida"). Essas recusas configuram um projeto pelo uso dos verbos no futuro do presente.

2. Qual é o tema mais frequente da poesia lírica em todos os tempos? Como o eu lírico se manifesta em relação a esse tema?

Resposta: O tema é o amor. O eu lírico também o recusa, ao afirmar que não será "o cantor de uma mulher", "de uma história (de amor)" e que não dirá "suspiros ao anoitecer" (a interpretação de "história" e de "suspiros ao anoitecer" como parte da temática amorosa é possível, mas não única).



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Page 5

Características clássicas

CRÉDITO: Editoria de arte

· Clareza: nitidez das formas e contornos, visibilidade absoluta.

· Equilíbrio: simetria (a cada elemento da esquerda corresponde um da direita - observe os retângulos verdes).

· Predomínio das linhas verticais e horizontais (linhas verdes).

· Perspectiva explícita, convergindo para um ponto de fuga situado nas figuras de Cristo e Maria (linhas vermelhas).

· Forma fechada: todos os elementos convergem para o eixo central da pintura.

· Figuras estáticas e solenes, em repouso e contemplação.

CRÉDITO: Pietro Perugino. c. 1497-1500. Afresco, 40 × 31 cm. Collegio del Cambio, Perugia




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Trovadorismo (do final do século XII ao século XIV)

É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência e ao surgimento do Estado português.

As obras refletem a mentalidade religiosa (teocentrismo) e feudal. Leia este trecho.

Sedia-m'eu na ermida de San Simion

e cercaron-mi-as ondas que grandes son.

Eu estandend'o meu amigo! E verrá?

Estando na ermida, ant'o altar,

cercaron-mi-as ondas grandes do mar.

Eu estandend'o meu amigo! E verrá?

E cercaron-mi-as ondas que grandes son:

non ei i barqueiro nen sei remar.

Eu estandend'o meu amigo! E verrá?

E cercaron-mi-as ondas do alto mar:

non ei i barqueiro ni remador.

Eu estandend'o meu amigo! E verrá?

[...]


Estava eu na ermida de São Simeão

e cercaram-me as ondas tão grandes.

Eu esperando o meu amigo! E ele virá?

Estando na ermida ante o altar

Cercaram-me as ondas grandes do mar.

Eu esperando o meu amigo! E ele virá?

E cercaram-me as ondas tão grandes:

Lá não tenho barqueiro nem remador.

Eu esperando o meu amigo! E ele virá?

E cercaram-me as ondas do alto-mar:

Lá não tenho barqueiro nem sei remar.

Eu esperando o meu amigo! E ele virá?

[...]

MENDINHO. In: MONGELLI, Lênia Márcia (Org.). Fremosos cantares: antologia da lírica medieval galego-portuguesa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. p. 134.

Observe que a língua que se falava na época ainda era o galego-português, que daria origem, mais tarde, ao português moderno.

No fragmento, uma jovem está em uma ermida (pequena igreja) à beira-mar e se sente envolvida pelas ondas. O tumulto das ondas sugere a inquietação da alma: a moça preocupa-se com a demora do namorado (amigo) e sente-se naufragar na dúvida e no sofrimento.



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21

Escolas realistas - Realismo, Naturalismo, Parnasianismo (segunda metade do século XIX)

Reagindo contra os exageros da subjetividade e do emocionalismo romântico, surgem, na segunda metade do século, tendências literárias que pretendem representar a realidade com o máximo de objetividade. A escola naturalista, por exemplo, pretendia utilizar efetivamente os métodos das ciências naturais e experimentais. Os poetas parnasianos, além de se dedicarem ao realismo descritivo, realizaram um verdadeiro culto à perfeição formal.

LEITURA

João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.

Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lhe, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.

Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. In: LEVIN, Orna M. (Org.). Ficção completa em dois volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. v. 2. p. 441.




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Page 8

a) A poesia é criação de belezas eternas.

b) A poesia é a linguagem que provoca a loucura do poeta.

c) O poeta se distingue dos mortais comuns porque é louco.

d) A natureza oculta a loucura do poeta.

e) O poeta é "assinalado" porque contribui para povoar o mundo.

Resposta: Alternativa a.

25

As quatro reproduções a seguir representam a mesma cena religiosa, inspirada em uma passagem do Evangelho. Depois de tê-las observado atentamente, responda às questões 7 e 8.

PINTURA 1

LEGENDA: A última ceia (1520-1525), de Andrea del Sarto.

CRÉDITO: Andrea del Sarto. 1520-1525. Afresco, 871 × 525 cm. Convento San Salvi, Florença

PINTURA 2

LEGENDA: A última ceia (1498), de Leonardo Da Vinci.

CRÉDITO: Leonardo da Vinci. 1498. Afresco, 4,6 × 8,8 m. Convento Santa Maria delle Grazie, Milão

26




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Page 9

AMPLIE SEUS CONHECIMENTOS

Livros

· CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Porto Alegre: L&PM, 2008. Edição comentada.

· NESTI, Fido. Os Lusíadas em quadrinhos. São Paulo: Peirópolis, 2006.

· SONETOS de Camões. 5ª ed. São Paulo: Ateliê, 2011.

Vídeos

· 1492, A CONQUISTA do paraíso. Dirigido por: Ridley Scott. França/Espanha, 1992.

· QUEM ÉS TU, Luís Vaz?. Produção: RTP2. Portugal, 2002. (Especial Grandes Escritores Portugueses.) Disponível em: tub.im/sp4v85. Acesso em: 27 abr. 2016.

Sites

· BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. Obras de Camões. 2016. Disponível em: http://tub.im/esk32n. Acesso em: 27 abr. 2016.

· INSTITUTO CAMÕES. [2015?]. Disponível em: http://tub.im/2g4qdo. Acesso em: 27 abr. 2016. (Na aba Conhecer, selecione Biblioteca Digital Camões ou Bases Temáticas/Literatura portuguesa).

· OBRAS DE ALTO RENASCIMENTO. 2014. Disponível em: http://tub.im/e23byw. Acesso em: 27 abr. 2016.

31

Atenção Professor(a), a atividade da seção "E mais...", da página 38, requer preparação antecipada. Fim da observação.



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Page 10

Características do Classicismo

A principal tendência do Renascimento na literatura e nas artes é o Classicismo, que se define pelas seguintes características:

· imitação dos autores gregos e latinos, tomados como modelos de perfeição estética;

· obediência a regras, estabelecidas com base na leitura de textos teóricos clássicos, como os de Aristóteles (filósofo grego) e de Horácio (poeta latino), e na análise de obras clássicas;

· busca da perfeição formal das obras;

· diferenciação clara e independência dos gêneros;

· racionalismo; equilíbrio entre razão e emoção, entre razão e imaginação;

· impessoalidade;

· identificação com os valores ideais do Bem e da Verdade e o ideal da Beleza.

O Renascimento português é multiforme, como ocorreu, aliás, em todos os países. As características do Classicismo (veja acima) conviveram com a influência da última época medieval, às vezes nos mesmos autores e até nas mesmas obras. No entanto, muito cedo há uma evolução para o Maneirismo, em que se podem sentir os prenúncios do Barroco: a expressão poética de conflitos interiores, cada vez mais tensa, torna precário o equilíbrio clássico entre razão e emoção.



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Page 11

Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões é o maior poeta renascentista português. Tornou-se referência obrigatória para as épocas posteriores e sua influência continua a ser exercida, com a mesma intensidade, nos dias atuais.

Das obras de Camões, estudaremos a lírica e a épica, deixando de lado sua obra dramática (três autos), que não tem a mesma grandeza e importância.

A lírica camoniana

A poesia lírica de Camões foi reunida no livro Rimas, organizado e publicado 15 anos após a morte do autor (edições de 1595 e de 1598). A recolha póstuma de seus versos torna a questão da autoria um problema talvez insolúvel: muitos poemas tidos como de Camões são apócrifos, isto é, de falsa ou duvidosa atribuição autoral.

Camões escreveu na medida velha (versos redondilhos) e na medida nova (versos decassílabos). Nesta, os poemas mais famosos e admirados são os sonetos.

A medida velha

Em suas redondilhas, Camões dá continuidade à poesia medieval. Com ele, a tradição poética eleva-se a um nível nunca alcançado pelos autores do Cancioneiro geral, de Garcia de Resende.

E vi que todos os danos

se causavam das mudanças

e as mudanças dos anos;

onde vi quantos enganos

faz o tempo às esperanças.

Ali vi o maior bem

quão pouco espaço que dura,

o mal quão depressa vem,

e quão triste estado tem

quem se fia da ventura.

CAMÕES, Luís Vaz de. Rimas. Texto estabelecido, revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão. Coimbra: Atlântida, 1973. p. 105.

A medida nova

A poesia composta na medida nova constitui o ponto mais alto não apenas da lírica camoniana, mas de todo o Renascimento português. Camões não seguiu apenas uma moda. A nova métrica, as formas fixas, como a do soneto, os temas, a imitação (sobretudo de Petrarca), enfim, todos os preceitos e todos os lugares-comuns da lírica renascentista são apenas instrumentos expressivos de uma vivência profunda e intensa.

O culto da razão não elimina a emoção. A reflexão sobre os dramas pessoais vividos pelo autor eleva a emoção a um nível superior. A partir de sua vivência, Camões busca o sentido da vida. A partir do particular, o universal.

Sua poesia não evita as contradições da época. Pelo contrário, dá a elas uma expressão tensa e dramática. Aos ideais buscados pelo homem renascentista contrapõe a dura realidade humana: ao Bem, nossa fragilidade; à Beleza, nossas imperfeições; ao Amor, nossa infelicidade; à Mulher idealizada, a mulher real... Da contraposição tensa entre o ideal e a realidade resulta uma visão trágica e pessimista da vida, que prenuncia o Barroco.

Seus temas prediletos são o amor, a mutabilidade e o desconcerto do mundo.




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Características estruturais

O poema, como seus modelos clássicos, desdobra-se em três partes:

I. Introdução (estrofes 1 a 18 do Canto I)

A introdução subdivide-se em três partes:

a) Proposição (estrofes 1 a 3): o poeta anuncia o tema de seu canto épico - os grandes feitos dos heróis portugueses.

b) Invocação (estrofes 4 e 5): os épicos gregos e latinos pediam inspiração às Musas. Camões invoca as Tágides (ninfas do Tejo - o termo Tágide foi criado pelo humanista André de Resende, 1500-1573).

c) Dedicatória (estrofes 6 a 18): o poema é dedicado a D. Sebastião, rei de Portugal na época da publicação do poema.

II. Narração (da estrofe 19 do Canto I à 144 do Canto X)

Camões segue o preceito clássico, iniciando a narração in medias res (expressão latina que significa "no meio dos acontecimentos"): na estrofe 19 do Canto I, os navegantes já estão no oceano Índico, próximos a Moçambique. Os deuses reúnem-se em concílio no Olimpo e, apesar da oposição de Baco, aprovam a viagem de Vasco da Gama, com os votos favoráveis de Júpiter, Vênus e Marte. Em Moçambique e no trajeto até Melinde, os portugueses sofrem várias traições dos mouros, todas inspiradas por Baco. Vênus, a deusa do amor, socorre seus protegidos.

No final do Canto II, o rei de Melinde pede a Vasco da Gama que lhe conte a História de Portugal; os Cantos III e IV são dedicados a essa narração. No Canto V, ainda pela voz de Gama, a primeira parte da viagem é relatada.

Já o Canto VI narra, novamente pela voz épica, a viagem entre Melinde e Calicute, repleta de incidentes provocados por Baco. Entre o Canto VII e o início do IX, descrevem-se a estadia na Índia, as negociações com as autoridades locais e as traições (sempre promovidas por Baco).

Na viagem de regresso, exposta nos Cantos IX e X, Vênus prepara um prêmio aos navegantes: a recepção por Tétis e pelas outras ninfas na Ilha dos Amores. Na estrofe 144 do Canto X, os navios chegam a Portugal.

(estrofes 145 a 156 do Canto X)

No epílogo, Camões abandona o tom heroico do poema, passando a lamentar a situação a que chegara Portugal após o período mais grandioso de sua história.

CRÉDITO: Os Lusíadas. Luís de Camões. Portugal, 1572. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro




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Page 13

PARA NÃO ESQUECER

Ordem direta é a ordem mais usual dos termos nas orações ou das orações nos períodos. Na língua portuguesa, a ordem direta é esta: sujeito - verbo - complemento(s). Se essa ordem for alterada, a oração estará na ordem indireta.

FIQUE SABENDO

Hipérbato consiste na transposição ou inversão da ordem dos termos de uma oração, tendo como consequência a separação dos elementos de um mesmo grupo sintático. Exemplo:

Em tão longo caminho e duvidoso / Por perdidos as gentes nos julgavam (hipérbato)

As gentes nos julgavam por perdidos / Em caminho tão longo e duvidoso (ordem direta)

O Velho do Restelo

94

Mas um velho d'aspeito venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

C'um saber só d'experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:

Mas um velho despeito [de aspecto] venerando, que ficava entre a gente nas praias, os olhos postos em nós, meneando, descontente, três vezes a cabeça, alevantando um pouco a voz pesada, que nós ouvimos claramente no mar, com um saber feito só de experiências, tirou tais palavras do peito experto [experiente]:

95

- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

- Ó glória de mandar! Ó cobiça vã [feita] desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó gosto fraudulento, que se atiça [estimula] com uma aura [prestígio] popular, que se chama honra! Que tamanho castigo e que justiça fazes no [impões ao] peito vão [coração vaidoso] que te ama muito! Que mortes, que perigos, que tormentas, que crueldades experimentas neles [nos corações vaidosos]!

44

96

- Dura inquietação d'alma e da vida,

Fonte de desamparos e adultérios,

Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios!

Chamam-te ilustre, chamam-te subida,

Sendo dina de infames vitupérios;

Chamam-te Fama e Glória soberana,

Nomes com quem se o povo néscio engana!

- Dura inquietação da alma e da vida, fonte de desamparos e adultérios, conhecida consumidora sagaz de fazendas [riquezas], de reinos e de impérios! Chamam-te ilustre, chamam-te subida [nobre, grandiosa], sendo dina [digna] de vitupérios infames; chamam-te Fama e Glória soberana, nomes com quem [os quais] se engana o povo néscio!

97

- A que novos desastres determinas

De levar estes reinos e esta gente?

Que perigos, que mortes lhe destinas

Debaixo dalgum nome preminente?

Que promessas de reinos, e de minas

D'ouro, que lhe farás tão facilmente?

Que famas lhe prometerás? que histórias?

Que triunfos, que palmas, que vitórias?

[...]


- A que desastres novos determinas [decides] de levar estes reinos e esta gente? Que perigos, que mortes lhe destinas debaixo de algum nome preminente [com palavra difícil, elevada]? Que promessas de reinos, e de minas de ouro, que lhe farás tão facilmente? Que famas lhe prometerás? que histórias? que triunfos, que palmas, que vitórias?

102


- Oh! Maldito o primeiro que no mundo

Nas ondas velas pôs em seco lenho,

Dino da eterna pena do profundo,

Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!

Nunca juízo algum alto e profundo,

Nem cítara sonora, ou vivo engenho,

Te dê por isso fama nem memória,

Mas contigo se acabe o nome e glória.

- Oh! Maldito [seja] o primeiro que no mundo pôs nas ondas velas em lenho seco [i. e., fez o primeiro barco a vela], [seja] dino [digno] da pena eterna do [inferno] profundo, se a lei justa que sigo e tenho é [realmente] justa! [Que] nunca algum juízo [opinião] alto e profundo, nem cítara sonora, ou engenho [talento] vivo, te dê fama nem memória por isso [pela invenção do barco a vela], mas [que] o nome e glória se acabe contigo [i. e.; sejas esquecido].

(Os Lusíadas. Canto IV)



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Page 14

Epílogo (estrofe 145 do Canto X)

Não posso cantar mais, Musa, não posso, porque tenho a lira desafinada e a voz enrouquecida, e não por causa do longo canto, mas por perceber que estou cantando a uma gente surda e indiferente. A pátria não me dá o aplauso, com que mais se inflama a inspiração, porque ela está mergulhada no gosto da cobiça e no mau humor de uma tristeza austera, desanimada e vil.

41

Releitura

Escreva no caderno

1. Na terceira estrofe da Proposição, a voz épica compara o assunto do poema com o das narrativas e epopeias antigas. Por que, segundo o poema, os heróis lusitanos são superiores aos heróis antigos?

Resposta: Porque os heróis portugueses realizaram a maior aventura marítima até então. Foram maiores tanto na navegação (Netuno) como na guerra (Marte), conquistando terras longínquas e fundando um grande império.

2. Antes de responder às perguntas a seguir, releia as características de Os Lusíadas.

a) Qual é a diferença de tom da voz épica entre as duas estrofes?

Resposta: Na primeira, a voz épica tem um tom exaltado, vibrante, glorificando os heróis e seus feitos, como é próprio de um poema heroico. Na segunda, o tom é de desânimo e tristeza.

b) Qual é a expressão usada pelo poeta na estrofe 3 do Canto I que indica o verdadeiro herói do poema? Explique.

Resposta: É a expressão "peito ilustre Lusitano". O poeta propõe-se a cantar a bravura (peito) do povo lusitano, herói coletivo do poema.



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Page 15

LEITURA

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,

A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme

E dizemos amor sem saber o que seja.

Mas fizemos de ti a prova da riqueza,

E também da pobreza, e da fome outra vez.

E pusemos em ti, sei lá bem que desejo

De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos

As vertigens do espaço e maravilhas:

Oceanos salgados que circundam

Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa

Onde come, brincando, só a fome,

Só a fome, astronauta, só a fome,

E são brinquedos as bombas de napalme.

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta by José Saramago. Copyright © José Saramago 1966, used by permission of The Wylie Agency (UK) Limited.

CRÉDITO: Auad/Alamy/Latinstock




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Page 16

Releitura

Escreva no caderno

1. Na estrofe 94, o narrador (Vasco da Gama) apresenta o personagem do episódio. Destaque e explique duas características desse personagem.

Respostas possíveis: "aspeito venerando" - o personagem era digno de veneração por ser bastante velho; "ficava nas praias" - pode-se entender que ele era muito pobre e morava nas praias, como, atualmente, os moradores de rua; "saber só d'experiências feito" e "experto peito" - o ancião é um sábio, mas sua sabedoria não é feita de estudos e sim de vivências, de experiência, de conhecimento do mundo.

2. Na estrofe 95, o Velho do Restelo inicia uma longa apóstrofe. Considere os versos:

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

a) A quem ou a que se dirige o velho, utilizando a 2·ª pessoa do discurso (tu fazes)?

Resposta: O velho dirige-se a uma ideia abstrata, que ele nomeia como glória de mandar, vã cobiça, vaidade ou Fama.



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Page 17

Principais episódios

Ao longo do poema, alguns episódios se destacam, tanto por sua extensão como pelo tom lírico que Camões imprime à narrativa. Estes são alguns dos momentos mais belos de Os Lusíadas:

· "Inês de Castro" (no Canto III): conta a história da amante de D. Pedro I (rei português dos meados do século XIV), assassinada em 1355. A história dos amores de Pedro e Inês tornou-se tema recorrente na literatura portuguesa (foi tratado por Fernão Lopes, Garcia de Resende, Antônio Ferreira, Camões, entre outros).

· "O Velho do Restelo" (no Canto IV): quando as naus vão zarpar, um velho maltrapilho, de aspecto impressionante, faz um discurso contra a aventura marítima, predizendo futuros resultados desastrosos e a decadência da pátria.

· "O gigante Adamastor" (no Canto V, exatamente no meio da epopeia): o gigante Adamastor, que, segundo o mito, foi transformado em rochedo como castigo por seu amor pela ninfa Tétis, é identificado com o cabo das Tormentas, no sul da África. Episódio de grande força lírica e impregnado de sentidos simbólicos.

· "A Ilha dos Amores" (nos Cantos IX e X): no final da viagem, os navegantes são recebidos por Tétis na Ilha dos Amores.



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José Saramago (1922-2010)

Romancista, teatrólogo, poeta e tradutor português, foi o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Recebeu também, em 1995, o Prêmio Camões, a mais importante distinção concedida a um escritor em língua portuguesa.

Suas obras são publicadas também no Brasil, onde é muito lido. Livros mais conhecidos: Levantado do chão, Memorial do convento, O ano da morte de Ricardo Reis, A jangada de pedra. Ensaio sobre a cegueira foi filmado em 2008 (produção do Brasil, Japão e Canadá; direção de Fernando Meirelles).




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b) A quem pertence o peito vão (coração vaidoso) que muito te ama, ou seja, que ama o interlocutor abstrato do Velho do Restelo? Explique.

Resposta: O peito, ou coração, pertence ao navegante, ou seja, aos aventureiros que partem para as Índias, comandados por Vasco da Gama. Professor(a), leve os alunos a compreender que, ao dirigir-se à "glória de mandar", à "vã cobiça", à vaidade, o velho está na verdade dirigindo-se aos que possuem ou amam esses defeitos, ou seja, com esse deslocamento ele está acusando os navegadores de cobiçosos e vaidosos.

3. A partir do final da estrofe 95, o Velho do Restelo enumera as consequências funestas - que ele chama de castigo e justiça - do empreendimento marítimo. Quais são elas?

Resposta: Mortes, perigos, tormentas, crueldades (estrofe 95); inquietação d'alma e da vida, desamparo (dos familiares que ficaram em Portugal), adultérios (das esposas abandonadas), destruição de riquezas (fazendas) de reinos e de impérios (estrofe 96); desastres (e novamente perigos e mortes - estrofe 97).

4. A quem o Velho do Restelo amaldiçoa na estrofe 102?

Resposta: Ele amaldiçoa o inventor do barco a vela, desejando-lhe as penas do inferno e o esquecimento dele pela posteridade.

Vocabulário:

apóstrofe: consiste em uma exclamação com a qual o emissor interrompe o discurso para dirigir-se a alguém - real ou fictício - ou a algo - concreto ou abstrato.

Fim do vocabulário.



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Os Lusíadas

I. Introdução (estrofes 1 a 18)

· Proposição: o poeta anuncia o tema de seu Canto - os grandes feitos dos heróis lusitanos

· Invocação: às Tágides (ninfas do Tejo)

· Dedicatória: ao rei D. Sebastião

II. Narração (da estrofe 19 do Canto I à 144 do Canto X) Canto I

· Concílio dos deuses

· No meio da viagem: oceano Índico

· Acidentes atribuídos a Baco/intervenções salvadoras de Vênus

· Chegada a Mombaça

Canto II

· Traição do rei de Mombaça

· Intervenção de Vênus

· Profecia de Júpiter

Em Melinde:

· O rei de Melinde pede a Vasco da Gama que lhe conte a História de Portugal

Canto III

Início do discurso de Vasco da Gama

· História dos reis de Portugal: do conde D. Henrique a D. Fernando

· "Batalha do Salado" (episódio)

· "Inês de Castro" (episódio)

Canto IV

· História dos reis de Portugal: de D. João I a D. Manuel

- "Batalha de Aljubarrota" (episódio)

· Conquista de Ceuta

· Sonho profético de D. Manuel

· Preparativos da viagem (Belém)

· "O Velho do Restelo" (episódio)




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Alexandro: Alexandre Magno;

Trajano: imperador romano de origem espanhola;

Netuno: deus do mar;

Marte: deus da guerra;

Musa: nome dado às nove filhas de Zeus que habitavam o monte Hélicon e presidiam as artes liberais. O poema refere-se a uma delas: Calíope, musa da epopeia e da eloquência;

Musa antiga: poesia antiga (metonímia);

destemperado: desafinado;

favor: aplauso;

acender: inflamar;

austero: sombrio.

Fim do vocabulário.

Paráfrases

Proposição (estrofe 3 do Canto I)

Deixem de ser cantadas as grandes navegações realizadas pelos heróis das antigas epopeias, Ulisses (grego) e Eneias (latino); cale-se o louvor às vitórias que Alexandre (rei da Macedônia) e Trajano (imperador romano) tiveram; porque eu tenho um assunto superior: eu canto a famosa bravura lusitana, que venceu o mar e as guerras. Cessem todas as grandes façanhas cantadas pelas epopeias antigas, porque se levanta um valor superior a elas.



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Em tom de conversa

Discuta com seus colegas a seguinte questão:

· Ao criar o discurso do Velho do Restelo, Camões estaria expondo seu próprio pensamento em relação ao grande empreendimento marítimo realizado naquela época pelos portugueses?

· Com que argumentos você defende seu ponto de vista a respeito?

Para formular seus argumentos, releia as estrofes 3, do Canto I, e 145, do Canto X, na página 40.

Resposta: Espera-se que os alunos concluam que dificilmente o modo de pensar do Velho do Restelo seria o de Camões. Afinal, ele escreveu um grandioso e trabalhoso poema para exaltar o empreendimento marítimo como um todo e, em especial, a viagem de Vasco da Gama. No entanto, é possível argumentar que, mesmo aprovando e louvando a viagem, Camões poderia ter críticas aos comportamentos e às motivações de muitos membros da nobreza e dos empresários da viagem - sobretudo a cobiça. Por outro lado, no epílogo (estrofe 145 do Canto X), a voz épica (ou seja, Camões) reafirma a crítica do Velho do Restelo e acusa a pátria de perder-se na cobiça.

Atenção Professor(a), informar os alunos de que, na época em que Camões compôs o poema, várias décadas após a viagem de Gama, o império português já estava em decadência, e portanto, o discurso do Velho já seria um modo de anunciar "profeticamente" o desânimo e a condenação do epílogo. Fim da observação.



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CRÉDITO: Allmaps

Canto V

· Partida de Lisboa

· Incidentes da viagem (costa ocidental da África)

· Cabo das Tormentas:

· "O gigante Adamastor" (episódio)

· Em Melinde

Canto VI

· Partida de Melinde

· 2º Concílio dos deuses

· Histórias a bordo:

· "Os Doze de Inglaterra" (episódio)

· Tempestade marítima

Canto VII

· Chegada a Calicute

· Descrição da Índia

· Visita do Catual

Canto VIII

· Diálogo entre o Catual e Paulo da Gama: as bandeiras

· Baco instiga os indianos contra os portugueses

· Prisão de Vasco da Gama

· Resgate

Canto IX

· Viagem de regresso:

· "A Ilha dos Amores" (episódio)

Canto X

· ("A Ilha dos Amores" - continuação)

· O banquete das ninfas

· Profecia de uma ninfa: os futuros feitos dos portugueses

· Tétis mostra a Vasco da Gama a "Máquina do Mundo"

· Regresso a Portugal

(final do Canto X)

· Lamentações e exortações do poeta

LEITURA

O Canto IV faz parte da longa narração de Vasco da Gama ao rei de Melinde. No final desse canto, depois de já ter narrado toda a história de Portugal, o comandante conta como foi a preparação da viagem e a partida de Lisboa.

Uma multidão de curiosos e de parentes dos navegantes aglomerou-se na praia de Belém para se despedir dos viajantes.

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Em tão longo caminho e duvidoso

Por perdidos as gentes nos julgavam;

As mulheres c'um choro piedoso,

Os homens com suspiros que arrancavam;

Mães, esposas, irmãs, que o temeroso

Amor mais desconfia, acrescentavam

A desesperação, e frio medo

De já nos não tornar a ver tão cedo.

Qual vai dizendo: - 'Ó filho, a quem eu tinha

Só para refrigério, e doce amparo

Desta cansada já velhice minha,

Que em choro acabará, penoso e amaro,

Por que me deixas, mísera e mesquinha?

Por que de mim te vais, ó filho caro,

A fazer o funéreo enterramento,

Onde sejas de peixes mantimento?"

(Estrofes 89 e 90)

Em meio a essas manifestações de desespero, destaca-se, então, um velho, que vivia na praia do Restelo, e pronuncia um discurso de condenação ao empreendimento marítimo.

Com a ajuda do(a) professor(a) e dos colegas, leia o discurso do Velho do Restelo.

A maior dificuldade durante a leitura de Os Lusíadas talvez seja a sintaxe - períodos longos em ordem indireta, com frequência constituindo hipérbatos. Observe que, ao lado de cada estrofe, apresentamos a versão do texto em ordem direta, para auxiliá-lo(a) na compreensão. Entre colchetes encontram-se traduções de palavras e expressões que caíram em desuso.




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a) a métrica.

Resposta: A epopeia Os Lusíadas é constituída de versos decassílabos; no poema de Saramago predominam os versos decassílabos, mas os da segunda estrofe são de doze sílabas.

b) a estrofação.

Resposta: Em Os Lusíadas, todas as estrofes possuem oito versos; no poema de Saramago, o tamanho das estrofes varia de dois a seis versos.

c) a rima.

Resposta: A epopeia possui um esquema de rimas invariável: ABABABCC; o poema de Saramago é constituído de versos brancos (sem rimas) ou de rimas imperfeitas (seja / desejo).

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Comentário

Você leu e interpretou algumas estrofes do Velho do Restelo e certamente percebeu que a leitura de Os Lusíadas é bastante trabalhosa. Mas terá percebido também como ela é compensadora, pela beleza do poema e pela percepção da atualidade de seus temas? Essa atualidade foi evidenciada pela comparação com a "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta", de José Saramago. Esse poema exemplifica também a permanente influência de Camões sobre os autores de nossa literatura até hoje.



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Releitura

Escreva no caderno

1. Considerando o que você sabe sobre o episódio do Velho do Restelo, explique o paralelo que o poema de Saramago estabelece entre a viagem marítima do século XVI e as viagens dos astronautas do século XX, motivadoras das falas do personagem nos dois textos.

Resposta possível: No poema de Camões, o Velho comparece à partida das naus de Vasco da Gama e faz um discurso contra a aventura marítima. Essa viagem de descobertas é comparável às primeiras viagens dos astronautas, na segunda metade do século XX. Assim, Saramago põe na boca desse personagem "experiente" uma nova condenação, agora à aventura espacial, caríssima, que se realiza a despeito da fome em que vive grande parte dos seres humanos.

2. Estabeleça as diferenças entre a epopeia de Camões e o poema de Saramago, considerando:



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RESUMINDO O QUE VOCÊ ESTUDOU

Neste capítulo, estudamos o Renascimento e Camões, um dos autores mais importantes da literatura em língua portuguesa.

· O Renascimento foi um movimento cultural amplo, que se iniciou na Itália no século XIV e se difundiu em Portugal no século XVI.

· No Renascimento há várias tendências. A mais conhecida é o Classicismo, caracterizado pela imitação dos autores gregos e latinos, pelo ideal de perfeição formal, pela formulação de regras e pela busca de um equilíbrio entre razão e emoção. No Maneirismo já se quebra esse pretendido equilíbrio e se prenuncia a escola seguinte, o Barroco.

· Interpretamos um poema do iniciador do Renascimento em Portugal, Francisco Sá de Miranda. Sua atualidade evidenciou-se na comparação com um poema de Mário de Sá-Carneiro, poeta do Modernismo.

· O principal autor renascentista português é Luís Vaz de Camões, também considerado um dos maiores poetas da literatura em língua portuguesa.

· Além de obras dramáticas, de menor importância, Camões escreveu:

· poesia lírica - reunida no livro Rimas -, composta em medida velha (versos redondilhos, de 5 e de 7 sílabas) e em medida nova (versos decassílabos).

· poesia épica - o poema épico Os Lusíadas, que exalta os grandes feitos do povo português e narra a viagem de Vasco da Gama às Índias, é escrito em versos decassílabos predominantemente heroicos (acentos na 6ª e 10ª sílabas), reunidos em estrofes em oitava-rima (8 versos). Os principais episódios do poema, que possui 10 cantos, são a história trágica de Inês de Castro, o discurso do Velho do Restelo no momento da partida, o diálogo entre Vasco da Gama e o gigante Adamastor na passagem pelo Cabo das Tormentas, e a estadia dos navegantes na Ilha dos Amores como prêmio pelo sucesso da viagem.




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