O mundo que ficou para trás pdf Rainha Vermelha

O mundo que ficou para trás pdf Rainha Vermelha

Ordem Cronológica:

  1. A rainha vermelha #1
  2. Espada de vidro #2
  3. A prisão do rei #3
  4. Tempestade de guerra #4
  5. Trono destruído (contém todos os contos da serie) #4.5

Descrição do livro #1

O mundo de Mare Barrow é dividido pelo sangue: vermelho ou prateado. Mare e sua família são vermelhos: plebeus, humildes, destinados a servir uma elite prateada cujos poderes sobrenaturais os tornam quase deuses. Mare rouba o que pode para ajudar sua família a sobreviver e não tem esperanças de escapar do vilarejo miserável onde mora. Entretanto, numa reviravolta do destino, ela consegue um emprego no palácio real, onde, em frente ao rei e a toda a nobreza, descobre que tem um poder misterioso… Mas como isso seria possível, se seu sangue é vermelho? Em meio às intrigas dos nobres prateados, as ações da garota vão desencadear uma dança violenta e fatal, que colocará príncipe contra príncipe - e Mare contra seu próprio coração.

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Mare Barrow aprendeu rápido que, para vencer, é preciso pagar um preço muito alto. Depois da traição de Cal, ela se esforça para proteger seu coração e continuar a lutar junto aos rebeldes pela liberdade de todos os vermelhos e sanguenovos de Norta. A jovem fará de tudo para derrubar o governo de uma vez por todas — começando pela coroa de Maven.
Mas nenhuma guerra pode ser vencida sem ajuda, e logo Mare se vê obrigada a se unir ao garoto que partiu seu coração para derrotar aquele que quase a destruiu. Cal tem aliados prateados poderosos que, somados à Guarda Escarlate, se tornam uma força imbatível. Por outro lado, Maven é guiado por uma obsessão profunda e fará qualquer coisa para ter Mare de volta, nem que tenha que passar por cima de tudo — e todos — no caminho.

Nesta coletânea, que encerra a série A Rainha Vermelha, você vai descobrir mais sobre o universo avassalador da saga que já vendeu mais de meio milhão de exemplares no Brasil.

Trono destruído é uma coletânea essencial para todos os leitores da série best-seller de Victoria Aveyard que ficaram com vontade de passar mais tempo com os personagens depois do fim de Tempestade de guerra

. Com design especial, o livro traz os dois contos já publicados (“Canção da rainha” e “Cicatrizes de aço”), além de quatro histórias inéditas que darão aos leitores mais um vislumbre de seus personagens favoritos e a chance de conhecer caras novas.

O volume ainda conta com mapas exclusivos, bandeiras, registros sobre a história de Norta e muito mais!

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O mundo que ficou para trás pdf Rainha Vermelha
SumárioCapaFolha de rostoDedicatóriaAberturaMonarcas da Casa CaloreCanção da rainhaUmDoisTrêsQuatroCincoSeisCicatrizes de açoUmDoisO mundo que ficou para trásUmDoisTrêsQuatroCincoSeisSeteLinha do tempoCoração de ferroUmDoisTrêsQuatroCincoSeisLuz do fogoUmDoisTrêsQuatroCincoSeisAdeusMavenCalCalEpílogoAgradecimentosSobre a autoraCréditosMal posso acreditar que vocês estão comigo há tanto tempo. Obrigada.CANÇÃO DA RAINHACOMO SEMPRE, JULIAN DEU UM LIVRO A ELA.Igual ao ano anterior, e a um ano antes, e a toda festa ou ocasião especial queele podia encontrar entre os aniversários da irmã. Ela tinha prateleiras cheias dossupostos presentes dele. Alguns dados de coração, outros apenas para liberarespaço na biblioteca que ele chamava de quarto, onde altas pilhas de livros seamontoavam de maneira tão precária que até os gatos tinham dificuldade para seorientar naquele labirinto. Os temas eram variados, desde aventuras dosdesbravadores de Prairie até antologias de poemas entediantes sobre a corte realinsípida que ambos tentavam evitar. Mais combustível para a fogueira, Corianesempre dizia quando ele lhe entregava outra obra sem graça. Certa vez, noaniversário de doze anos da irmã, Julian deu a ela um texto antigo escrito numidioma que ela não sabia ler — e ele provavelmente só fingia compreender.Apesar de não gostar da maioria das histórias do irmão, ela guardava acrescente coleção em prateleiras limpas, em ordem alfabética rigorosa, com aslombadas de couro voltadas para fora a fim de exibir os títulos. Quase nenhumseria tocado, aberto, lido — uma tragédia que nem Julian era capaz de encontrarpalavras para lamentar. Não existe nada tão horrível quanto uma história nãocontada. Mas Coriane guardava os livros mesmo assim, bem espanados, limpos,com as letras douradas brilhando sob a claridade turva do verão ou sob a luzcinzenta do inverno. Todos vinham com “De: Julian” rabiscado na primeirapágina, e era isso que ela mais valorizava. Só os verdadeiros presentes deleconseguiam ser mais amados: os guias e manuais encapados em plástico,inseridos entre as páginas de uma enciclopédia ou de um livro de genealogia.Alguns ganhavam a honra de ficar enfiados debaixo do colchão, de onde eramarrancados à noite para que ela pudesse devorar os esquemas técnicos e osestudos sobre maquinário. Como construir, destruir e conservar motores deveículos, jatos, telégrafos e até mesmo lâmpadas e fogões de cozinha.O pai dela não aprovava, como sempre. Uma prateada nobre e filha de umaGrande Casa não deveria manchar os dedos com óleo de motor, quebrar as unhascom ferramentas “emprestadas”, ou ficar com olheiras por causa de noites maldormidas devido a leituras inadequadas. Mas Harrus Jacos esquecia asapreensões sempre que a tela de vídeo na sala de estar entrava em curto e chiavaentre fagulhas e imagens distorcidas. Conserte, Cori, conserte. Ela obedecia àsordens dele, sempre na esperança de que daquela vez fosse convencê-lo. Masdepois as caras fechadas diante de seus experimentos voltavam, e todo o bomtrabalho era esquecido.Ela estava contente com a viagem do pai à capital para ajudar o tio deles, osenhor da Casa Jacos. Assim ela poderia passar o aniversário com as pessoas queamava. No caso, Julian e Sara Skonos, que viera especialmente para a ocasião.Cada dia mais linda, Coriane pensou ao ver a melhor amiga. Fazia meses queelas não se viam, desde que Sara completara quinze anos e se mudaradefinitivamente para a corte. Na verdade, não era tanto tempo assim, mas aamiga já parecia diferente, mais afiada. As maçãs do rosto destacavam-se cruéispor baixo da pele aparentemente mais pálida do que antes, como se tivesse sidodrenada. E os olhos azul-cinzentos, antes estrelas brilhantes, pareciam escuros,repletos de sombras. Mas o sorriso ainda saía fácil quando estava com os Jacos.Com Julian, na verdade, Coriane sabia. E seu irmão era a mesma coisa, cheio desorrisos, mantendo uma distância que nenhum rapaz sem interesse pensaria emmanter. Ele tinha uma consciência precisa dos próprios movimentos, e Corianetinha uma consciência precisa da presença do irmão. Com dezessete anos, ele játinha idade suficiente para pedir alguém em casamento, e ela suspeitava que umpedido viria nos próximos meses.Julian não se dera ao trabalho de embrulhar o presente, que já era belo por sisó. Encadernação de couro, com faixas em tom de ouro envelhecido, cor da CasaJacos, e a coroa flamejante de Norta gravada na capa. Não havia título na frentenem na lombada, e Coriane percebeu que as páginas não traziam nenhummanual técnico, o que a fez torcer um pouco o nariz.— Abra, Cori — Julian disse, interrompendo-a antes que ela pudesse atirar olivro na modesta pilha com os outros presentes. Todos eram insultos velados:luvas para esconder as mãos “comuns”, vestidos desconfortáveis para uma corteque ela se recusava a visitar, e uma caixa já aberta de doces que o pai não queriaque ela comesse. Acabariam antes da hora do jantar.Coriane fez o que o irmão pediu e abriu o livro, encontrando-o em branco.Suas páginas creme estavam vazias. Ela fechou a cara, sem se dar ao trabalho debancar a irmã agradecida. Julian não precisava desse tipo de encenação, eenxergaria seus sentimentos verdadeiros de qualquer jeito. E o que era melhor:não havia ninguém para lhe dar uma bronca por se comportar assim. Minha mãemorreu, meu pai está fora, e a prima Jessamine felizmente ainda está dormindo.Julian, Coriane e Sara estavam sozinhos no solário do jardim, como trêspedrinhas se agitando em meio à poeira velha da mansão Jacos. Era um lugarentediante, que combinava com a dor vazia e constante no peito de Coriane.Janelas arqueadas davam para um canteiro de rosas que não via as mãos de umverde fazia anos. O chão precisava de uma boa varrida e as cortinas douradasestavam cinza de tanta poeira — e provavelmente teias de aranha. Mesmo apintura pendurada acima da lareira de mármore manchada de fuligem estava sema moldura de ouro, vendida anos antes. O homem de olhar sério na tela era o avôde Coriane e Julian, Janus Jacos, que certamente ficaria incomodado com asituação da propriedade da família. Nobres empobrecidos, se beneficiando donome antigo e das tradições, sobrevivendo com pouco e cada vez menos.A risada de Julian soou como sempre. Irritação afetuosa, Coriane sabia. Eraessa a melhor expressão para descrever a atitude dele com a irmã mais nova.Tinham dois anos de diferença, e ele sempre fazia questão de lembrá-la de suainteligência e idade superiores. Com delicadeza, claro. Como se fizesse algumadiferença.— É para você escrever nele — ele continuou, deslizando os dedos longos efinos pelas páginas. — Ideias, o que você fez no dia.— Eu sei o que é um diário — ela replicou, fechando o livro com força. Elenão se importou, não se deu ao trabalho de ficar ofendido. Julian a conheciamelhor do que ninguém. Mesmo quando entendo as coisas errado. — Os meusdias não merecem muito registro.— Besteira. Você é bem interessante quando quer.Coriane sorriu, maliciosa.— Julian, suas piadas estão melhorando. Será que finalmente encontrou umlivro que ensina a ser engraçado? — Ela lançou um rápido olhar para Sara. —Ou alguém?Enquanto Julian corava, as bochechas ficando azuladas com o sangueprateado, Sara levou na esportiva.— Sou curandeira, mas não faço milagres — ela disse.Os três gargalharam, preenchendo o vazio da mansão com um instante deternura. O velho relógio soou num canto, indicando que a desgraça de Coriane seaproximava: a prima Jessamine chegaria a qualquer momento.Julian levantou rápido e alongou o corpo esguio, ainda em transição para o dehomem adulto. Ele precisava crescer um pouco, tanto em altura como emlargura. Coriane, por outro lado, tinha a mesma altura havia anos, e não davaqualquer sinal de mudança. Ela era comum em todos os sentidos, desde os olhosazuis quase sem cor até o frágil cabelo castanho que teimava em não cresceralém dos ombros.— Você não quer esses, né? — ele perguntou ao estender o braço por cima dairmã. Roubou um punhado de doces açucarados da caixa na pilha de presentes eganhou um tapinha na mão em resposta. Que se dane a etiqueta. Os doces sãomeus. — Cuidado. Vou contar para Jessamine — ele avisou.— Não precisa — o sopro débil da voz da prima idosa vinha das colunas daentrada do solário.Bufando aborrecida, Coriane fechou os olhos desejando que Jessamine Jacosdeixasse de existir. Não adianta fazer isso, claro. Não sou uma murmuradora.Sou apenas uma cantora. E embora pudesse tentar usar seu exíguo poder contraJessamine, no fim com certeza se daria mal. Por mais velha que a prima fosse, avoz e o poder dela ainda eram bem afiados, muito mais rápidos que os deCoriane. Vou acabar esfregando o chão com um sorriso no rosto se a provocar.Coriane tentou parecer educada e se voltou para a prima, que se apoiava numabengala coberta de joias, um dos últimos itens bonitos da casa que pertencia àpessoa mais feia. Jessamine tinha parado de frequentar os prateados curandeirosde pele havia muito tempo, para “envelhecer naturalmente”, como costumavadizer. Mas a verdade era que a família não podia mais pagar o tratamento feitopelos mais talentosos da Casa Skonos, nem mesmo pelos curandeiros aprendizesque não pertenciam à nobreza. A pele dela estava murcha, cinza de tão pálida,com manchas roxas de velhice nas mãos enrugadas e no pescoço. Naquele dia,usava um turbante de seda cor de limão para esconder o pouco cabelo brancoque lhe restava, e um vestido esvoaçante combinando. A barra roída por traçasestava bem escondida, claro. Jessamine era uma mestra da ilusão.— Julian, seja um bom rapaz e leve isso para a cozinha, por favor — elapediu, apontando a unha comprida para os doces. — A criadagem ficará muitoagradecida.Coriane precisou se segurar para não caçoar da prima. “A criadagem”consistia em um mordomo vermelho mais velho que Jessamine que sequer tinhadentes, a cozinheira, e duas jovens criadas de quem se esperava a conservação damansão inteira. Eles deviam gostar dos doces, mas claro que Jessamine não tinhaa menor intenção de lhes dar nada. O mais provável é que os doces acabem nalata de lixo ou guardados em algum esconderijo no quarto dela.Julian teve a mesma desconfiança, a julgar pela sua expressão. Mas discutircom Jessamine era tão inútil quanto esperar frutos das árvores na estufa velha eem ruínas.— Claro, prima — ele disse num tom mais adequado a um funeral. O olhardele indicava um pedido de desculpas; o de Coriane, um monte de rancor. Comum sorriso sarcástico quase evidente, ela observou o irmão oferecer um braço aSara e, com o outro, pegar o presente inadequado. Ambos estavam ansiosos paraescapar das garras de Jessamine, mas odiavam ter que deixar Coriane para trás.Ainda assim, seguiram em frente e deixaram o solário.Ótimo, me deixem aqui. É sempre assim. Abandonada com Jessamine, quetomara sobre si a função de transformar Coriane numa filha decente da CasaJacos. Em outras palavras, uma filha calada.Coriane também era sempre abandonada com o pai, quando ele voltava dacorte depois de longos dias à espera de que tio Jared morresse. O chefe da CasaJacos e governador da região de Aderonack não tinha mais filhos, então seustítulos passariam ao irmão e então a Julian. Os gêmeos, Jenna e Caspian, forammortos nas Guerras de Lakeland, deixando o pai sem herdeiros diretos — e semvontade de viver. Era apenas uma questão de tempo até o pai de Coriane assumiro posto, e ele não queria perder tempo. Coriane achava esse comportamento, namelhor das hipóteses, perverso. Não se imaginava fazendo algo assim comJulian, por mais que sentisse raiva dele de vez em quando. Ficar de braçoscruzados, observando-o definhar de tanto sofrimento. Mas não tenho qualquerdesejo de chefiar a família, e nosso pai é um homem muito ambicioso, apesar denão ter nenhum tato.Coriane não sabia o que o pai planejava fazer depois da ascensão. A CasaJacos era pequena e insignificante; governava um fim de mundo e tinha poucomais que o sangue nobre para mantê-los aquecidos à noite. E, claro, Jessamineestava lá para garantir que todos fingissem que não estavam arruinados.Ela sentou com a elegância de alguém com metade da sua ida- de, batendo abengala contra o piso sujo.— Que absurdo — ela resmungou enquanto observava uma nuvem de póagitar-se contra um feixe de luz do sol. — É tão difícil encontrar bonsempregados nos dias de hoje.Principalmente quando você não tem condições de pagar, Coriane desdenhoumentalmente.— Sim, prima, é muito difícil.— Bom, passe-os pra cá. Quero ver o que Jared mandou — Jessamine disse.Ela estendeu a mão curvada e começou a abrir e fechar várias vezes, numgesto que fazia a pele de Coriane arrepiar. A jovem mordeu o lábio para nãodizer nada de errado. Depois pegou os dois vestidos dados pelo tio e os estendeusobre o sofá onde Jessamine estava acomodada.Fungando, a idosa examinou os vestidos dourados como Julian examinavatextos antigos. Ela apertou os olhos para reparar bem na costura e no bordado, epassou a mão pelo tecido para arrancar fios soltos invisíveis.— Dignos — ela disse depois de um longo tempo —, embora ultrapassados.Nenhum é da última moda.— Que surpresa — Coriane não conseguiu conter as palavras. Um baque: abengala golpeia o chão.— Nada de sarcasmo. Não convém a uma dama.Bom, todas as damas que conheço parecem bem versadas nele, incluindovocê. Se é que posso chamá-la de “dama”. Na verdade, já fazia pelo menos umadécada que Jessamine não ia à corte real. Ela não tinha ideia de qual era a últimamoda e, quando bebia muito gin, não conseguia nem lembrar quem estava notrono. “Tiberias VI? Ou Tiberias V? Não, ainda estamos no Tiberias IV, comcerteza. Aquele velho insiste em não morrer.” Coriane enfim lembrava a primadelicadamente de que o país era governado por Tiberias V.O filho dele, o príncipe herdeiro, se tornaria Tiberias VI quando o paimorresse, embora seu famoso gosto pela guerra fizesse Coriane se perguntar seele viveria o bastante para usar a coroa. A história de Norta estava marcada porardentes da Casa Calore morrendo em batalha, sobretudo primos e príncipes nãoherdeiros. Coriane desejava secretamente que o príncipe morresse, só para sabero que aconteceria. Ele não tinha irmãos, e os primos Calore eram poucos, paranão dizer fracos, se as aulas de Jessamine eram confiáveis. Havia um século queNorta lutava contra Lakeland, mas com certeza uma guerra interna estava nohorizonte. Uma guerra entre as Grandes Casas, para que outra família tomasse otrono. Não que a Casa Jacos fosse ter algum envolvimento nisso. Ainsignificância deles era uma constante, assim como a prima Jessamine.— Bom, pelas mensagens do seu pai, esses vestidos vão ser usados logo —Jessamine prosseguiu enquanto deixava os presentes de lado. Sem se preocuparcom o horário ou com a presença de Coriane, ela sacou uma garrafa de gin dovestido e tomou um gole generoso. O aroma se espalhou pelo ar.Franzindo a testa, Coriane levantou os olhos das mãos, ocupa- das em apalparas luvas novas.— O tio não está bem? — ela perguntou. Outro baque da bengala.— Que pergunta idiota. Ele está mal há anos, como você sabe muito bem.O rosto da jovem corou num tom prata intenso.— Quis dizer “pior”. Ele está pior?— Harrus acha que sim. Jared se enfurnou em seus aposentos na corte eraramente participa dos banquetes sociais, muito menos das reuniõesadministrativas ou do conselho dos governadores. Ultimamente seu paidesempenha as funções dele cada vez mais. Isso sem falar da aparentedeterminação que seu tio tem em sugar todo o cofre da Casa Jacos. — Outrogole de gin. Coriane quase riu da ironia. — Quanto egoísmo.— É muito egoísmo mesmo — a jovem balbuciou. Você não me desejou felizaniversário, prima. Mas ela não insistiu no assunto. Doía ser chamada deingrata, mesmo que por uma sanguessuga.— Vejo que ganhou mais um livro de Julian. Ah, e luvas! Ótimo, Harrusaceitou minha sugestão. E Skonos, o que ela trouxe para você?— Nada.Ainda. Sara tinha dito que o presente dela era algo que não podia seramontoado com os outros.— Nenhum presente? E mesmo assim ela vem aqui, come nossa comida,ocupa nosso espaço…Coriane se esforçou para deixar as palavras de Jessamine voarem pelos arespara bem longe, como nuvens num dia de ventania. Para isso, concentrou-se nomanual que tinha lido na noite anterior. Baterias. Cátodos e ânodos. Os de usoprimário são descartados, os secundários podem ser recarregados…Baque.— Sim, Jessamine?A velha encarava Coriane de olhos arregalados, a irritação estampada em cadauma de suas rugas.— Não faço isso em benefício próprio, Coriane.— Bom, com certeza também não é em benefício meu — ela sibilou, sempoder se segurar.A resposta de Jessamine foi uma gargalhada tão seca que a saliva podia sairem pó.— Bem que você gostaria, não é? Acha que sento aqui com você, aturandosuas gozações e sua amargura por diversão? Ponha-se no seu lugar, Coriane.Faço isso única e exclusivamente pela Casa Jacos, por todos nós. Sei que somosmelhores do que você. E lembro como éramos antes, quando morávamos nacorte e negociávamos tratados, tão indispensáveis para os reis Calore quanto achama que eles sempre levam consigo. Eu lembro. Não existe dor ou castigomaior do que a memória.Ela virou a bengala na mão, contando as joias que polia todas as noites.Safiras, rubis, esmeraldas e um único diamante. Dadas por pretendentes, amigosou parentes; Coriane não sabia. Mas eram o tesouro de Jessamine, e os olhosdela reluziam como aquelas pedras.— Seu pai vai ser o senhor da Casa Jacos, e seu irmão depois dele. Por issovocê precisa arranjar seu próprio senhor. A não ser que queira ficar aqui parasempre.Como você. A conclusão era clara e, por algum motivo, Coriane foi incapaz desuperar o súbito nó na garganta e responder. Só conseguiu balançar a cabeça.Não, Jessamine, não quero ficar aqui. Não quero ser como você.— Muito bem — Jessamine disse. Mais um baque da bengala.— Vamos começar o dia.Mais tarde, já à noite, Coriane sentou para escrever. A pena corria pelaspáginas do presente de Julian, jorrando tinta como uma faca espirra sangue.Coriane escreveu sobre tudo. Jessamine, o pai, Julian. A sensação terrível de queo irmão a abandonaria para enfrentar sozinho o furacão que estava por vir. Eletinha Sara agora. Ela tinha flagrado os dois se beijando antes do jantar, e apesarde sorrir, de fingir um riso, de fingir achar graça ao ver os dois envergonhados,gaguejando explicações, no fundo Coriane tinha ficado desesperada. Sara éminha melhor amiga. Sara é a única coisa que pertence a mim. Só que não eramais. Assim como Julian, Sara ia se afastar, até que só restasse a Coriane apoeira de uma casa e de uma vida esquecidas.Porque não importava o que Jessamine dissesse, o quanto ela se envaidecessee mentisse sobre as supostas perspectivas de Coriane. Não havia o que fazer.Ninguém vai casar comigo. Pelo menos ninguém com quem eu queira casar. Elajá havia perdido as esperanças e aceitado a situação. Jamais sairei daqui,escreveu. Estas paredes douradas serão meu túmulo.JARED JACOS TEVE DOIS FUNERAIS.O primeiro foi na corte, em Archeon, num dia de primavera chuvoso enublado. O segundo, uma semana depois, foi na mansão em Aderonack. O corpodele se juntaria aos outros Jacos no mausoléu da família, onde descansaria numsepulcro de mármore pago com uma das joias da bengala de Jessamine. Aesmeralda tinha acabado de ser vendida a um mercador de pedras preciosas emArcheon Leste, sob os olhares de Coriane, Julian e da prima idosa. Jessamineparecia desapegada; nem quis ver a pedra verde passar das mãos do novo LordJacos para as do joalheiro prateado. Um homem comum, Coriane reconheceu.Não vestia as cores de nenhuma Casa conhecida, mas era mais rico que eles,

com roupas finas e uma boa quantidade de joias. Podemos ser ...