Em sua opinião como será daqui 20 anos a paisagem do lugar onde você vive

28/05/2018 - 08h01 - Atualizado 28/05/2018 19h07

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Em sua opinião como será daqui 20 anos a paisagem do lugar onde você vive

O problema de olhar para o futuro é que ele muda toda vez que você se volta em sua direção, definiu o escritor americano Philip K. Dick (1928-1982). “O futuro muda porque você olhou para ele, e isso muda todo o resto”, escreveu. Sem a totalidade das respostas, prevê-lo é um exercício de risco. No entanto, faz parte da aventura humana procurar antecipar os dias que vêm. Ao completar 20 anos, ÉPOCA levantou previsões de especialistas sobre o futuro próximo, nas áreas mais variadas. Talvez o manhã venha a contestar as ideias expostas, mas é o que sabemos por enquanto. Como diz Dick, tudo na vida é por enquanto.

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Avanço da neurociência pode permitir imersão de corpo inteiro nos sons

por Leonardo Lichote

Você ouve a música, mas não há fones, tampouco caixas de som — ela é baixada e toca diretamente em seu cérebro. A imagem com ares de Matrix ou Black mirror (descontada a distopia) descreve um dos cenários possíveis para o consumo da música em 2038. No caso, um cenário imaginado por Chico Dub, idealizador e curador do Festival Novas Frequências, que desde 2011 explora exatamente o que há de vanguarda nas experiências que cruzam tecnologia e som.

“O consumo da música estará ligado aos avanços da neurociência”, afirmou. “Seremos uma caixa de ressonância, com as frequências distribuídas por nosso corpo: subgraves na caixa torácica, a parte melódica no cérebro. Tudo equalizado de acordo com os chacras, algo místico, de musicoterapia, mas com uma base científica, técnica. Você vai baixar uma playlist “good vibes” que atuará diretamente sobre sua tranquilidade a partir das frequências, não porque tem uma letra que diz “everything’s gonna be alright”.

Se a música sem caixas de som ainda parece distante, a experiência ao vivo do futuro já começa a se delinear, apontou Dub, referindo-se ao sistema 4D. Nele, o som não vem de um lugar específico, mas de todos os lados, incluindo teto e chão, numa imersão única — e, segundo suas previsões, ao alcance dos frequentadores das casas de show e salas de concerto de 2038.

Há apostas de que os shows com hologramas de artistas mortos serão populares — ou mesmo de artistas “inventados”, como Hatsune Miku, uma menina de 16 anos desenhada ao estilo anime que costuma fazer apresentações para milhares de empolgados fãs. Existem ainda as possibilidades da realidade virtual, que pode transportar o espectador para um show sem que ele esteja lá — há vários clipes em 360 graus que já sugerem isso de maneira incipiente, feitos por nomes como Björk, Ivete Sangalo, Cordel do Fogo Encantado e Imagine Dragons.

O produtor Berna Ceppas acredita que a realidade virtual pode mudar a própria maneira de fazer música: “A tecnologia vai trazer novas formas de produzir música. Como quando surgiu o estéreo nos anos 1960 e as pessoas começaram a mixar usando essa possibilidade radicalmente, botando um instrumento de cada lado, o que acabou definindo uma estética. Ou a digitalização da música, permitindo maneiras de edição, de uso de camadas, que geraram composições impensáveis antes.”

No extremo, o surgimento recente de obras totalmente compostas por inteligência artificial — como as peças clássicas do algoritmo Aiva ou o disco Hello world, de SKYGGE — aponta para um futuro no qual o mercado tenha hits criados sem a interferência humana. Fantasias futuristas como tatuagens ou camisetas que produzem som também já são sonhadas. Porém, sem medo de soar nostálgico, o cantor e produtor Zé Ricardo — curador do Palco Sunset do Rock in Rio e responsável pela parte musical do Rio2C, evento que abarca shows e conferências sobre o mercado — não acredita no sucesso de um modelo que ignore o calor do humano.

Zé Ricardo prevê mudanças, como o fortalecimento das séries de TV como divulgadoras de música (“como o cinema foi no século XX”) e dos álbuns visuais (“você poderá assistir ao álbum enquanto está no trânsito, já que seu carro vai dirigir sozinho”). Mas duvida que a presença humana será dispensável no processo: “Você não vai pagar para ver o holograma de um artista que tem milhões de vídeos na internet. Acredito no artista trocando experiências com o público”.

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Como assistiremos ao cinema e à TV?

Grades de programação e experiência de ir às salas de exibição estão em xeque

por Alessandro Giannini

“A TV perdeu o poder de programar”, afirma o jornalista Gabriel Priolli, ex-coordenador de programação da TV Cultura. O diagnóstico, feito por um profissional com mais de três décadas de experiência na televisão, reflete não só o estado atual do meio como é um prognóstico do futuro próximo. É fato que o espectador virou seu próprio programador. Além de escolher ao que assistir, ele pode definir o horário e as condições em que vai ver um determinado programa ou filme. Basta acessar a plataforma de streaming ou um serviço de vídeo sob demanda para encontrar ao que assistir, na hora em que for mais conveniente e no suporte que for mais prático e confortável — seja no aparelho de TV, no computador, no tablet, no smartphone ou até na tela de cinema.

“Estou aqui enterrando mais uma tecnologia? Claro que não. Acho que a TV vai continuar daqui a 20 anos, porque a oferta de serviços de entretenimento continua existindo. E porque tem gente que quer simplesmente chegar em casa, apertar o botão e ver o que tem para assistir”, disse Priolli. “Mas, das duas tendências, o video on demand (VoD) tende a predominar. O que se fala em relação a isso é a TV apostar no que tem de mais forte: a transmissão ao vivo de grandes eventos e debates.”

Mídias audiovisuais mais populares do século XX, o cinema e a TV passaram por profundas transformações na virada para o novo milênio. Para além das mudanças tecnológicas, o surgimento das plataformas de streaming e dos serviços de vídeo sob demanda acabou com a dependência das grades de programação. Os mais jovens foram os primeiros a se insurgir contra as grades — aquele formato com os horários fixos de cada programa — e os roteiros. Os espectadores não têm mais de chegar em casa em determinado horário para assistir à novela na TV nem precisam sair correndo para chegar ao cinema a tempo de assistir à sessão de um filme qualquer.

No caso do cinema, está claro que a oferta de filmes diminuiu, e o ritual de ir às salas está perdendo terreno. O mercado, disse o crítico Ismail Xavier, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), responde com “uma certa pirotecnia”, investindo principalmente em produções com efeitos especiais cada vez mais complexos. “O outro lado da questão é que o cinema do século XXI se constitui em um processo narrativo mais sofisticado. Então, para resgatar isso, a solução é buscar fazer filmes mais baratos, não tão dependentes de receita, para se viabilizar nas salas.”

Além disso, Xavier citou a qualidade da imagem cinematográfica oriunda do formato de filme em 35 milímetros e processo fotoquímico, que foi paulatinamente sendo substituída pela cópia digital e pelas projeções em 2.000 ou 4.000 pixels. “Sem querer gerar prognósticos, é comum pessoas mais jovens já não fazerem tanta questão de assistir aos filmes da melhor forma possível, que é ir ao cinema. Ou, dentro da contexto doméstico, buscar a melhor maneira de ver”, disse. “De um lado, não se pode ter uma posição purista. Um filme feito com um celular tem seu valor, mas não dá para equiparar tudo. E quem tem uma sensibilidade formada no 35 milímetros fotoquímico provavelmente vai sentir falta dessas características que são identificadas como qualidade.”

Recentemente, o Festival de Cannes e a Netflix entraram em rota de colisão por causa da legislação francesa. Segundo esta, a janela de exibição das produções que passam pelos cinemas é de 36 meses, ou seja, só depois desse prazo os filmes poderiam ser veiculados em outros meios. A Netflix retirou seus títulos do festival, mas esteve presente na Croisette como compradora e adquiriu várias produções que passaram em Cannes. Sinal dos tempos.

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Novos esportes digitais devem crescer como mercado

por Bárbara Nóbrega

Lucas Gonçalves, catarinense de 20 anos, voltou ao Brasil em janeiro de 2017 com um prêmio de US$ 20 mil após disputar um campeonato de videogame em Miami. Em um intervalo de sete meses, o morador do bairro de Paranaguamirim, que registra uma das maiores taxas de homicídio de Joinville, conheceu também Los Angeles, Berlim e Londres, sempre envolvido em campeonatos de Fifa, franquia de games desenvolvida pela Eletronic Arts desde 1993. O que chamou a atenção da mãe, Silvia, de 54 anos, foi que a habilidade no Playstation 4 (PS4) naquele torneio deu a Gonçalves o equivalente a três anos do salário dela como professora. Hoje, o jovem gamer conta com a ajuda do tio, que é contador, para gerenciar o dinheiro que ganhou como e-atleta, uma ocupação que há 20 anos não era nem sequer imaginada.

Os amigos das idas às praias de Florianópolis já não escondem a inveja dos rumos profissionais de Lucasrep, como é conhecido. “Eles falam: ‘Pô, a gente aqui acordando às 5 da manhã para trabalhar, e você aí viajando o mundo para jogar’”. Seu nickname remonta a um apelido, herança da infância. “Tinha o cabelo grande, parecido com o formato de um repolho. ‘Rep’ vem disso.”

Gonçalves não é exatamente o Cristiano Ronaldo do jogo. Estaria mais para um Philippe Coutinho, uma estrela ascendente. Atualmente, o catarinense se dedica a desenvolver táticas e a analisar seus erros, enquanto admite que ainda não domina a versão 2018 do jogo. A rotina de e-atleta não é rígida em regras e horários, mas Lucas se preocupa em fazer valer a pena o incentivo dado por sua família. “Meu tio sempre fala que é só uma questão de tempo, ano que vem posso ser melhor”, disse ele. Para reforçar o caixa, faz trabalhos freelancers para amadores, que precisam acumular vitórias a fim de reforçar seus times para os duelos on-line. Gonçalves chega a receber R$ 250 para conquistar 34 vitórias em perfis alheios, permitindo que eles possam ter craques da moda, como o egípcio Mohamed Salah, do Liverpool.

A descoberta de um craque como Gonçalves ainda se dá ao acaso, e é difícil reconhecer talento naquilo que a classe média normalmente encara como passatempo. No caso de Leonardo Souza, conhecido como Robo, também de 20 anos e um dos melhores e-atletas da febre League of Legends (LoL), a história começou com um castigo dado pelos pais. Advertido por mau comportamento, não podia ir à rua: tinha de ficar em casa, sem amigos, com direito apenas ao videogame. Hoje, Souza é um dos melhores jogadores profissionais de LoL, com mais de 85 mil seguidores no Twitter. No último Mundial, em 2017 na China, foi um dos players que seduziram 57,6 milhões de espectadores em todo o mundo.

Com Gonçalves, tudo começou em 2006, com o console que ganhou da mãe e da avó, com quem mora — ele nunca conheceu o pai. O “eureka” se deu dez anos depois, num campeonato organizado por uma loja de videogame em um shopping de Joinville: era dezembro de 2016 quando, aos 18 anos, Gonçalves conquistava o primeiro lugar e, incentivado pelo primo mais velho, decidiu se dedicar ao Fifa 17 para ver no que dava. Tinha acabado de concluir o ensino médio em uma escola da rede pública, mas decidiu se aperfeiçoar no joystick. No mês seguinte, recebeu um e-mail anunciando que havia sido selecionado como representante brasileiro, na categoria de PS4, para concorrer à final regional das Américas do Fifa Ultimate Team Championship Series, no sul da Flórida. Somente 12 nomes foram escolhidos na América. Antes de ir a Miami, Gonçalves fez um acordo com sua mãe e se comprometeu a estudar para o vestibular ao voltar da viagem.

Venceu, classificou-se para outra etapa e adiou a graduação — ironicamente, ele pensa em cursar educação física. Os torneios não pararam: em março de 2017, embarcou para a Alemanha com o objetivo de representar o Brasil na final do campeonato Fifa Ultimate Team, em Berlim. Na ocasião, obteve o 5º lugar na classificação geral entre os melhores jogadores do mundo de sua categoria, além de somar mais US$ 6 mil. Visitaria novamente os EUA para conquistar em Los Angeles uma vaga no Mundial de Fifa 2017, programado para agosto, em Londres. Único gamer brasileiro classificado para os mata-matas, acabou eliminado em seguida.

Nesses campeonatos, a torcida não para: canta, vibra e também grita “gol”, como num grande clássico. No entanto, há uma diferença: embora esse público frequente pessoalmente as arenas nas quais os campeonatos acontecem, é mesmo por meio da rede móvel ou do wi-fi, em seus tablets, computadores e celulares de alta geração, que define quem serão seus próximos jovens ídolos dos jogos eletrônicos.

Gonçalves enxerga a possibilidade de, daqui a 20 anos, o público lotar as arenas em todo o mundo para assistir aos craques. “Já acontece nos campeonatos de League of Legends e de Counter Strike. No caso do Fifa, é um jogo de futebol: mesmo quem não é do game gosta e entende.” Ele lembra que seleções de fora, como a da França, já escolhem seus jogadores para o time oficial de Fifa. Espero que no Brasil aconteça isso também”, disse ele, que já foi contratado pelo Goiás, tradicional clube de futebol de Goiânia, e tem pouco a duvidar da profissão que o transformou no primeiro membro de sua família a fazer uma viagem ao exterior.

Se o Fifa ainda engatinha, o LoL se gaba de ter até Ronaldo Fenômeno como sócio. Diferentemente de Gonçalves, Souza permanece contratado e recebe salário — cujo valor não revela —, além de faturar com publicidade e premiações em campeonatos. “A gaming house (espécie de clube e franquia) é como uma mãe para a gente. Nós temos tudo, só precisamos focar em nosso desempenho no jogo. Nossa renda é bem variável, e dois jogadores de um mesmo time não necessariamente ganham a mesma coisa. Já recebi individualmente R$ 10 mil em campeonatos. Ao somar todas as minhas fontes de renda em um mês, já cheguei a faturar R$ 40 mil.”

Hoje há 14 times oficiais pertencentes à liga de LoL no Brasil, dos quais oito pertencem à primeira divisão e os outros seis à segunda — há um acordo de transmissão dos campeonatos semestrais pelo SporTV. “No início, estávamos testando para ver a resposta do público. Logo no primeiro fim de semana a audiência foi enorme, cerca de 500 mil pessoas assistindo às disputas na TV”, ressaltou Carlos Antunes, diretor de e-sports da Riot Games no Brasil, empresa americana que desenvolve o LoL. Na última final do Campeonato Brasileiro de LoL (CBLoL), ocorrida em setembro, a audiência foi de 2,5 milhões de pessoas, somando os canais oficiais da empresa no YouTube e no Twitch, além da televisão. Relevantes, Souza e seus colegas já são. O arrepiante é que mal começaram.

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Como viveremos mais e melhor?

Técnicas como mapeamento genético e alimentação natural são os caminhos

por Ana Paula Blower

Técnicas médicas utilizadas hoje por uma parcela ainda pequena da população estarão mais baratas e darão mais opções a pacientes graças ao mapeamento genético. No mesmo passo, práticas “ancestrais”, como uma alimentação natural, estarão ainda mais em voga, já que cada vez mais estudos apontam os danos causados por alimentos processados e ultraprocessados, como a obesidade. São esses os dois caminhos — um tecnológico e outro nem um pouco — para vivermos mais daqui a 20 anos, garantem médicos especialistas em longevidade.

Segundo eles, é provável que, em duas décadas, pesquisas sobre mecanismos para “silenciar” um gene, fazendo com que determinada doença não se desenvolva, estejam mais avançadas. Um mapeamento genético, hoje caro, vai se tornar mais acessível e poderá identificar qual doença podemos ter — possibilitando ao médico e paciente pensarem em estratégias para o enfrentamento do problema.

O caso da atriz Angelina Jolie foi emblemático para essa questão. Em 2016, dois anos após uma dupla mastectomia (retirada dos dois seios), ela se submeteu a uma cirurgia preventiva para retirar os ovários e as trompas de Falópio. Em um artigo no New York Times, Jolie escreveu: “Um exame de sangue revelou que eu tinha uma mutação no gene BRCA1. Isso me deu uma estimativa de 87% de risco de câncer de mama e 50% de risco de câncer de ovário. Perdi minha mãe, minha avó e minha tia para o câncer. Queria que outras mulheres em risco soubessem das opções”. O futuro parece atender ao desejo de Angelina. Além de baratear o custo desse exame, que girava em torno de R$ 15 mil à época, as pesquisas devem avançar no sentido de estudar mais genes.

“Já encontramos testes custando R$ 2 mil. Provavelmente, conheceremos mais genes no futuro, e o custo será menor ainda”, disse Raphael Parmigiani, biomédico e sócio-fundador do IdenGene. Ele destacou que, quanto mais indivíduos tiverem seu código genético sequenciado, mais conhecimento os médicos terão sobre as possíveis alterações dos genes, estimando melhor a chance de alguém ter uma doença genética. “Dependendo do tipo de alteração encontrado, você não poderá impedir a doença, mas ajudará (o tratamento) com um diagnóstico precoce. Em casos de câncer de mama e ovário, por exemplo, se a paciente não quiser retirar os seios, ela poderá fazer exames com maior frequência”, explicou o biomédico, lembrando que somente de 15% a 20% dos casos de câncer têm componente hereditário. Os outros 80% são esporádicos, resultados de hábitos de vida, como o tabagismo. Por isso, reforçou Parmigiani, práticas saudáveis continuarão sendo o caminho para se viver mais.

Como receita para a longevidade, o nutrólogo Sandro Ferraz valorizou o que chama de resgate da “época de nossos antepassados”, atitudes de “desempacotar menos e descascar mais”. “São coisas que fazíamos na era primitiva, como consumir alimentos não industrializados, preferindo os naturais, tais quais verduras e peixe. Alimentos industrializados, com corantes e outros aditivos, têm colaborado para o desenvolvimento de inúmeras doenças, como obesidade e diabetes”, assinalou.

Outra questão para garantir a longevidade é a modulação do estresse, que, associado a uma rotina desregrada e sedentária, pode levar a doenças como hipertensão e depressão. Para combatê-lo, atividade física e meditação: “A pauta da atividade física e da alimentação natural está se inserindo na cabeça das pessoas, mas ainda não são praticadas como devem. Com um adoecimento da população, vejo isso cada vez mais se inserindo no dia a dia. Será uma necessidade em 20 anos”, destacou Ferraz.

Parmigiani ressaltou ainda a importância de difundir e baratear os exames capazes de diagnosticar, de forma mais precisa, doenças em estágios iniciais. Um exemplo é a biópsia líquida. Simples e indolor, é como uma coleta de sangue convencional. O diferente é a análise molecular, capaz de identificar fragmentos de DNA de tumores na corrente sanguínea e indicar sua presença antes mesmo de eles se tornarem visíveis em análises convencionais, numa fase em que podem ser bloqueados. A novidade livra pacientes das biópsias tradicionais, procedimentos mais caros e invasivos.

Ele também destacou um experimento realizado por uma empresa americana para eliminar de nosso organismo substâncias que fazem com que o corpo entenda que está envelhecendo. Com a droga, não haveria sinais de envelhecimento e a expectativa de vida aumentaria. Mas o biomédico lembrou: “Esse mecanismo celular (que faz o corpo entender que está ficando velho) não existe por acaso. É uma defesa para quando o organismo está no limite e tem de morrer, senão vai ter problemas, como câncer”.

A expectativa média de vida do brasileiro é de 75 anos. Em países como Japão e Suécia, já passa dos 83. A tendência, segundo especialistas, é que a nossa também aumente.

“É inegável que vamos viver mais”, garantiu o cardiologista Cláudio Domênico, membro das sociedades Americana e Europeia de Cardiologia. “Mas o grande problema é a ‘perda da autonomia do idoso’. Você pode morrer aos 90 anos, mas, dos 80 aos 90, perde autonomia, não escuta bem, pode ter um quadro de demência. O grande desafio é garantir um envelhecimento com qualidade de vida e autonomia preservada, além de uma sociedade que respeite você. A pergunta é: queremos ter maior quantidade de vida ou de qualidade de vida?”, questionou Domênico.

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Poder dos cabelos grisalhos revitalizará economia

por Roberta Scrivano

Prestes a completar 63 anos, Janete do Nascimento se mudou de São Paulo para uma cidade do interior logo após sua aposentadoria. Mudou também alguns hábitos. Passou a ler notícias on-line; não vai ao banco pagar contas, porque é usuária do bankline; tornou-se assídua nas redes sociais, sobretudo Facebook e WhatsApp; e passou a resolver tudo por meio do smartphone. Associadas, as mudanças colocam Janete em sintonia com os jovens da geração millennial.

Pessoas de sua idade com tais comportamentos, porém, são designadas por outra denominação: grey power (ou o “poder cinza”, em referência aos cabelos mais do que grisalhos). “Minha capacidade mental não mudou. A física um pouco, me sinto mais cansada hoje”, disse ela. “Além disso, comecei a passar base na pele e lápis no olho apenas em eventos especiais, como aniversários. Antes era minha rotina.” Acrescenta que o hábito de fazer as unhas continua, e, depois da chegada dos cabelos grisalhos, a tintura no cabelo entrou no rol dos gastos mensais.

A alcunha grey power é usada pelo mercado para definir pessoas com mais de 60 anos e tem a ver com o lugar em que essa fatia da sociedade se colocou. Mais conectado e antenado com as novas tecnologias, o contingente de integrantes do grupo grey power usuários da internet cresceu nada menos que 1.100% nos últimos oito anos e soma hoje 5,4 milhões de pessoas. Eles também rejeitam o termo “idoso” e não se identificam com o estereótipo de velhinhos com cabelos brancos, coque no topo da cabeça ou bengala nas mãos.

Os dados são do Instituto Locomotiva, que identificou ainda que em 2018 a categoria movimentará R$ 1,1 trilhão, contra R$ 867 bilhões de 2017. É a única fatia da sociedade que continua expandindo gastos mesmo na crise, observou Renato Meirelles, presidente da Locomotiva. “Eles têm a renda garantida pela aposentadoria ou por pensões e não têm o medo de perder o pagamento, que assombra os assalariados, fazendo reduzir os gastos em períodos de incerteza”, disse. “Mais conectados com o mundo, eles ficam mais otimistas e se sentem mais presentes na sociedade.”

De acordo com a pesquisa da Locomotiva, 66% dos idosos afirmam que se preocupam muito com a aparência e 78% concordam com a afirmação de que pessoas com boa aparência têm mais chances de se dar bem socialmente. Outro levantamento, feito pela Bradesco Vida e Previdência, aponta que as pessoas com mais de 60 anos não se sentem confortáveis com o termo “terceira idade”. E todos os entrevistados, de forma unânime, disseram ter uma vida muito ativa e que não trocariam o momento atual para voltar à juventude.

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Amor será desvinculado do sexo, que terá ajuda prazerosa de máquinas

por Ana Paula Blower

Daqui a 20 anos, a tecnologia estará mais presente no sexo, mas os entendidos descartam as previsões de que as pessoas passariam a transar à distância e preveem que as maiores mudanças serão culturais. “Vamos transar como sempre transamos. Gradativamente, a quebra de tabus permitirá a inserção nas relações de produtos e tecnologias que hoje ainda sofrem preconceito. Isso multiplicará as configurações sexuais possíveis”, disse Luciana Walther, doutora em administração e autora do livro Mulheres que não ficam sem pilha.

Usar acessórios no sexo será tão natural quanto no esporte, disse ela. Em uma evolução dos aplicativos e sites de relacionamento disseminados hoje, haverá intermediação tecnológica nos primeiros contatos sexuais. As pessoas vão usar e abusar do sexo virtual intermediado por produtos como o teledildonics — aparelhos que transmitem sensações táteis — e aplicativos como os jogos sexuais multiplayers — mundos virtuais em que a pessoa customiza seu avatar e interage com outras.

“Mas não creio absolutamente que o toque presencial da pele será perdido”, afirmou Walther, para quem os movimentos que buscam dar mais poder à mulher vão propagar “um entendimento do ato sexual mais conducente ao orgasmo feminino”.

Embora robôs sexuais já sejam usados em alguns países, como o Japão, e devam ganhar funções que os aproximem mais do corpo humano, Walther não acredita que eles venham a fazer muito sucesso no Brasil. “É possível que os brasileiros busquem mais os aplicativos e gadgets que permitem a interação entre duas pessoas, potencializada pelas tecnologias de realidade virtual. E não tanto a interação individual com um produto.”

No campo do comportamento sexual, a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins aposta em relações sexuais mais satisfatórias e livres. Para ela, a ideia do amor romântico sairá de cena, dando lugar às relações múltiplas, não exclusivas. “Nos anos 1950 e 1960, era um escândalo a moça não se casar virgem. E houve uma mudança nas mentalidades décadas depois. A mudança é gradativa”, disse. “O amor romântico idealiza que os dois numa relação se transformarão num só, que terão todas as necessidades supridas pelo outro. Daí a ideia de que quem ama não tem tesão por mais ninguém.”

Em 20 anos, Lins diz que as pessoas, principalmente as mulheres, vão separar mais o amor do sexo, o que tornará as relações mais prazerosas: “Você pode ter uma transa ótima com quem acabou de conhecer e um sexo morno com quem ama”. Em duas décadas estaremos mais livres para escolher nossos tipos de relação sem julgamentos. Se quiser ficar casado por 40 anos, tudo bem. Se quiser ter três parceiros fixos, tudo bem também. “As pessoas vão ver que sexo e amor são coisas diferentes. E vão colocar mais em prática suas fantasias”, acredita a autora do livro Novas formas de amar.

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Mecanismos podem antecipar necessidades e reduzir interação

por Ana Paula Blower

Em 1998, o telefone celular era um aparelho caro, pesado, com baixa cobertura, com apenas 318 milhões de assinaturas, o que correspondia a 5,3% da população mundial da época, segundo a União Internacional das Telecomunicações (UIT). Hoje, quando o celular é mais leve, permite o acesso à internet e está disponível em modelos para todos os bolsos, há tantas assinaturas de linhas móveis quanto o número estimado de pessoas no planeta, de 7,6 bilhões. Daqui a 20 anos, porém, há quem aposte que o celular estará a caminho de se tornar mais um artefato obsoleto.

Camila Ghattas, cofundadora da diip, empresa de inovação e futurologia, creditou essa possibilidade à biotecnologia. Como em episódios do seriado distópico Black mirror, dispositivos de comunicação passariam a ser internos, como um chip implantado na mão ou em lentes de contato. Já Bruno Albertini, professor da Escola Politécnica da USP e integrante do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), não chegou a prever o desaparecimento do celular, mas concordou que ninguém precisará mais digitar uma mensagem ou um número para se comunicar.

“Em 20 anos, nos comunicaremos por mecanismos automáticos, com reconhecimento de linguagem natural. A pessoa só precisará falar o que quer. Dispositivos, como geladeira ou celular, vão reconhecer o que você quer e agir, conectando-se, por exemplo, com alguém por vídeo ou áudio”, disse.

Citando a curva de amadurecimento de tecnologias emergentes, Albertini acredita ser possível esperar que nos próximos 20 anos surjam três ou quatro dispositivos que não podemos imaginar hoje. Outras tecnologias mais maduras no campo da pesquisa — como holografia, reconhecimento audiovisual e telepresença em 3D — provavelmente serão comuns no cotidiano.

Os especialistas resistem a afirmar que essas transformações acabariam com a interação direta entre as pessoas, mas concordam que talvez ela diminua, principalmente para questões “práticas” — marcar uma ida ao cabeleireiro ou fazer uma visita ao médico, por exemplo, que poderá atender remotamente, realizando exames por meio de dispositivos de monitoramento contínuo.

“As pessoas diminuirão o círculo social com o qual interagem ao vivo, mas aumentarão a convivência virtual”, disse Albertini, ponderando que “quase todos os estudos sobre impacto de tecnologias emergentes indicam que continuaremos interagindo ao vivo por motivos sociais”.

Há quem defenda, como Camila Ghattas, que a tecnologia na verdade amplia as possibilidades de comunicação: hoje já é possível, por exemplo, que um pai acompanhe o parto de um filho de longe, por uma câmera 360 graus. “Quem pode falar que não é real algo que mexe com os sentimentos, que causa emoções reais? Você consegue sentir alegria, raiva, tristeza por meio do digital.”

Ghattas prevê que robôs nos ajudarão nas funções de casa e que teremos uma relação afetiva com eles. Outra possibilidade seria a “clonagem de mentes”, que fará com que alguém já morto continue presente. “É uma máquina, mas o que você sente é real. Ao pensar em formas de relacionamento, isso cria possibilidades”, especulou.

Outro otimista é o engenheiro Artur Ziviani, pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), para quem a tecnologia pode aumentar a sensação de proximidade, independentemente da distância física. Interfaces devem viabilizar a comunicação mais natural entre pessoas que falam línguas diferentes, por exemplo. Por outro lado, reconheceu Ziviani, “a hiperconectividade a que muitos se submetem degrada a qualidade da comunicação social face a face”.

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como andaremos de um lado para o outro?

Carros compartilhados, veículos autônomos e o fim da queima de combustível fóssil são esperados

por Rafael Galdo

Provavelmente não será ainda como nas obras de ficção científica ou nos desenhos animados futuristas. Mas, para evitar que se perpetue o caos nosso de cada dia no trânsito, novas tecnologias devem entrar em cena para ajudar a humanidade a caminhar (voar, navegar ou o que for) nas duas próximas décadas. E, se elas devem demorar mais um pouco a se popularizar nas grandes cidades brasileiras, especialistas do setor afirmam que, enquanto isso, alternativas já testadas por aqui precisam ser aprimoradas.

No mundo, os sistemas de compartilhamento de carros, os veículos autônomos e a substituição dos combustíveis fósseis por frotas movidas a energia elétrica, hidrogênio, levitação magnética ou outras fontes se confirmarão como tendências, afirmou o engenheiro de transportes José Eugênio Leal, da PUC-Rio. Em paralelo, o avanço das telecomunicações deve reduzir a necessidade de deslocamentos.

Com essas mudanças chegando mais lentamente às metrópoles brasileiras, disse ele, uma das saídas será combinar os investimentos em transporte público com outras políticas, para que a desordem generalizada não se imponha. “As cidades devem se tornar menos monocêntricas e ter múltiplos polos de desenvolvimento, a fim de que as pessoas se locomovam por distâncias menores para atividades como o trabalho. O planejamento de habitação também é essencial”, afirmou Leal. “Deve-se continuar expandindo as linhas de metrô. E, em capitais como o Rio, acho saudável que o VLT tome o lugar dos BRTs em algumas áreas.”

Antônio Nélson Rodrigues da Silva, engenheiro professor da USP, ressaltou que, por ora, o Brasil precisa fazer uma correção de rumos. Na contramão de uma iminente redução do uso de automóveis no planeta, as taxas de motorização no país continuam crescendo, com ampliação da infraestrutura para os modais individuais, que seguirá saturada mesmo com a abertura de novas ruas, avenidas e rodovias. “Precisamos reverter esse quadro e investir pesadamente em transporte público. Nas regiões metropolitanas, os sistemas ferroviários, como o metrô, são adequados, com um forte retorno social. Temos de encarar também o uso de meios não motorizados, como as bicicletas, de forma séria. Elas são competitivas até nas cidades grandes, como solução imediata e barata, desde que com uma malha cicloviária segura”, destacou o engenheiro.

José de Oliveira Guerra, da Uerj, ratificou o caminho a seguir. Ponderou que é difícil fazer projeções exatas para daqui a 20 anos. Mas não há dúvidas de que será imperativa a retirada do papel de projetos de mobilidade urbana, muitos deles já planejados. Para a maioria das cidades mais populosas do país, afirmou Guerra, as necessidades serão de natureza semelhante, porém com intensidades diferentes: “Não se pode comparar Curitiba com o Rio, por exemplo. No entanto, são prioridades de forma geral a integração dos modais, hoje muito aquém do ideal, e a expansão de metrôs e BRTs. No Rio, há projetos que precisam sair do papel urgentemente, como o metrô entre o Estácio e a Praça XV e o término da estação da Gávea da Linha 4 (Ipanema-Barra)”.

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Como usaremos o dinheiro?

Moeda será desmaterializada, inteligente e veloz ao circular

por Rennan Setti

Desde que o então presidente americano Richard Nixon quebrou a relação direta entre reservas de ouro e o valor do dólar, em 1971, o dinheiro corre uma maratona pela abstração. Da ubiquidade do mercado financeiro ao fenômeno dos bitcoins, a moeda caminha para, no futuro, se fazer presente pela ausência, dizem especialistas.

A “desmaterialização” do dinheiro já está, de fato, em curso. Segundo o estudo The future of money, publicado pelo The Innovation Group no fim de abril, 69% dos millennials nos EUA e na China praticamente nunca tiram suas moedas do bolso. Globalmente, o volume de transações globais sem dinheiro cresceu de US$ 282,1 bilhões para US$ 387,3 bilhões entre 2010 e 2014.

Por meio do aplicativo de celular WeChat, os chineses movimentaram R$ 50 trilhões — mais de sete vezes o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro — apenas nos dez primeiros meses de 2017. Na Suécia, que quer se tornar o primeiro país do mundo livre do dinheiro físico, apenas 2% das transações são feitas com ele. A expectativa é que, em 2020, o percentual seja menor que 0,5%, segundo estimativa do BNP Paribas.

“O caminho da desmaterialização vai levar à redução das fricções nas transações e a uma desburocratização generalizada. No médio prazo, até a gestão do dinheiro tenderá a ser desmaterializada, com investimentos automatizados por meio de inteligência artificial. Isso tudo significará aumentar a ‘velocidade do dinheiro’, eliminando barreiras para sua circulação”, explicou Rodrigo Castro, cofundador da startup de meios de pagamentos Zoop.

Um estudo da consultoria EY publicado no ano passado observou que a ascensão da chamada internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) deve intensificar transações financeiras entre objetos conectados, aumentando a “velocidade do dinheiro”. O equipamento de uma indústria, por exemplo, poderá encomendar automaticamente com fornecedores a entrega de determinado suprimento, realizando uma operação financeira de forma autônoma. O advento dos robôs-investidores, aliás, é uma realidade do mercado financeiro que deve abocanhar parcela cada vez maior dos giros das Bolsas globais. Tudo isso, acrescentou a EY, torna nebulosa a distinção entre dinheiro e informação.

A eliminação das barreiras é uma das características das criptomoedas como o bitcoin, que permitem transferir recursos para qualquer lugar prescindindo das etapas de validação institucional do dinheiro tradicional. No entanto, a tecnologia por trás do bitcoin, a chamada blockchain, requer ainda uma autenticação demorada e custosa por cada operação, ponderou Castro. Isso tornaria incerto o tamanho de seu papel no futuro do dinheiro.

Mas o tipo de moeda digital em circulação talvez não seja o fator mais importante da equação. A experiência da transação em si, disse Castro, pode ser mais determinante. Em Seattle, nos EUA, a loja conceitual Amazon Go dá pistas de como o processo de compra pode se dar no futuro. Nela, os clientes não precisam sequer retirar o celular do bolso. Softwares de machine learning e computação visual “enxergam”, por meio de câmeras espalhadas pela loja, tudo o que o cliente retira das gôndolas. Ninguém precisa passar no caixa — ele não existe, aliás — ou apertar qualquer botão no smartphone. Basta entrar, escolher e levar. Nesse cenário, só a barreira do limite no banco representará empecilho.