Cultura popular e cultura de massa

Normalmente as pessoas não costumam entender direito as diferenças entre cultura de massa, popular e erudita, assim, acabam usando os conceitos de forma equivocada em discussões ou textos acadêmicos e escolares, que porventura podem fazer.

Assim, diferenciar esses termos é essencial para saber enquadrá-los em cada tipo de demonstração cultural. Ademais, é perfeitamente normal que algum tipo de confusão possa vir a ocorrer, por isso que estamos publicando esse artigo.

O primeiro passo é compreender os motivos pelos quais precisamos fazer essa separação de termos culturais. Cada expressão cultural é feita por uma pessoa ou grupo de pessoas que estão envolvidas em uma determinada parcela da sociedade.

Essas demonstrações acabam por revelar algum tipo de vivência que cada uma dessas separações vive e acredita ser a melhor maneira de expor aquilo que tem em mente. Deste modo, temos os três tipos de produções artísticas.

A cultura de massa, cultura popular e cultura erudita, cada uma delas expressando e atuando em um setor da sociedade. Não existe nenhuma melhor ou pior, mas cada tipo expressa algo que é vivenciado em distintas realidades vividas por cada pessoa ou grupo.

Em geral, algumas são mais preparadas justamente por ter um respaldo técnico maior, mas isso não significa que são mais populares ou que consigam expor perfeitamente aquilo que estão tentando passar.

Diferentemente de uma fabricante de etiquetas adesivas, por exemplo, cada expressão cultural tem como objetivo transmitir algum tipo de mensagem para o maior número de pessoas possíveis.

Assim, a interpretação que cada um desses grupos fará perante a produção artística será diferenciada pela maneira como cada parte da sociedade entende aquele determinado tema ou expressão.

Neste artigo abordaremos os seguintes aspectos da cultura de massa, erudita e popular, são eles:

  • Para quem são feitas?
  • Como são feitas?
  • Como são recebidas?
  • De onde que vieram?

Entender esses pontos é essencial para fazer um melhor enquadramento de cada um dos milhares de conteúdos aos quais somos submetidos diariamente, bem como que fazem, ou não, parte de nossas vidas cotidianas.

Entenda o que é a cultura de massa

É importante começarmos pela cultura de massa, pois é a que mais se afasta de uma criação artística. Podemos substituir o termo por “cultura pop”, ou seja, algo que cai fácil no gosto da maioria das pessoas.

Sabe aquela sensação de ter escutado uma música ou visto algum filme que parece ser muito parecido com outro que já vimos ou ouvimos? Com a explosão das mídias sociais, cada vez mais esse tipo de sensação está presente em nossas vidas.

Um produto feito para a massa ou que seja pop, é normalmente consumido por quase todos os públicos de diferentes classes sociais e idades. Seja em uma escola pública ou em empresas terceirizadas de limpeza e conservação.

A sua criação tem o único e exclusivo objetivo de vender o máximo possível. E é importante dizer que isso não significa que seja algo ruim ou errado, afinal a produção desses itens costuma ser totalmente industrializada, o que acaba dando oportunidade para muitas pessoas.

Exemplos claros de filmes de romance entre vampiros ou filmes de super heróis mostram que as produções para a cultura de massa têm como objetivo trazer o maior número de pessoas a consumirem aquele produto cultural.

A indústria cultural e a cultura de massa

O termo indústria cultural foi criado na escola de Frankfurt, na Alemanha, por Max Horkheimer, sendo que ganhou o mundo após a Segunda Guerra Mundial e com o início da Guerra Fria.

É necessário entender que o principal meio de controle social vem das produções culturais e o controle midiático. Deste modo, é como se as indústrias criassem e fizessem a publicidade de seus próprios produtos para que a população os consumisse.

Deste modo, você padroniza os meios de produção cultural e faz com que as pessoas consumam apenas um tipo de produto, e o mais importante, não percebam que estão sendo influenciadas por isso.

Trata-se, então, de uma fórmula concreta e extremamente eficiente de vender algum tipo de produto, discurso e ideal, pensando que a maioria das pessoas não estão interessadas em saber como, para ou por que essas produções são lançadas.

Entenda o que é a cultura erudita

Muito se fala que a cultura Erudita é criada somente por pessoas da elite intelectual. Falar dessa maneira parece soar algo meio pejorativo e distante, por isso precisamos entender a origem da expressão ‘Elite’, para então compreendermos a cultura erudita.

Há muito tempo não existia câmeras e sequer empresas que fizessem a instalação de alarme ou de transmissões. O que se tinha eram cartas e livros, sendo que as pessoas passavam informações umas para as outras deste modo.

Esses escritos foram passados de pessoas para pessoas, e ensinados de pais para filhos, até serem criadas as escolas artísticas e universidades. Deste modo, antigamente, existia uma parcela da população que detinha de todos esses conhecimentos e criavam arte.

As produções artísticas eram muitas e variadas, mas somente podiam ser consumidas por pessoas que pudessem pagar pelo preço. A palavra Elite no contexto social, que infelizmente foi deturpado anos depois, vem das pessoas que detinham o conhecimento.

Esse modelo ajudou muitas produções a atingirem níveis de excelência enormes além de construir e desenvolver tudo o que temos hoje como padrão para se criar uma música, peça de teatro, escultura, acessórios pet atacado e afins.

Esse modelo de expressão gerou enorme influência no mundo todo, principalmente no ocidente, onde a grande maioria dos países foi colonizado por europeus.

É equivocado dizer que apenas aqueles que atendiam o padrão europeu eram vistos como uma expressão de arte. O maior exemplo disso foi com o compositor Carlos Gomes (1836-1896), criador do incrível trabalho mundialmente famoso, O Guarani.

Existe o fato de que grandes compositores, cientistas e artistas europeus como Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, Beethoven e Mozart foram conhecidos graças à influência colonial e imperial, muitas obras deles são utilizadas em uma empresa de advocacia ou restaurantes.

Vale a pena destacar que o imperador Dom Pedro II é conhecido por investir fortemente na arte e na ciência do Brasil. Esse investimento gerou pessoas como Machado de Assis, Monteiro Lobato, Heitor Villa Lobos, Santos Dumont e André Rebouças.

Mais cedo ou mais tarde toda pessoa que quiser desenvolver a mais perfeita obra de arte deverá passar pelos estudos preservados pela cultura erudita. Atualmente, com a explosão de outros tipos de expressão artística, ela é consumida por um público bem menor.

Em geral, a maioria das pessoas já ouviu diversos trechos das músicas eruditas que são usadas em canções para cestas natalinas e outros fins.

A sociedade é capaz de criar suas próprias obras, sem a necessidade de que ninguém a ensine, e foi assim que a cultura popular surgiu. Por meio de pessoas curiosas em aprender algo a mais e dispostas a transmitir uma mensagem, criaram suas próprias artes.

É importante diferenciar a cultura de massa da cultura popular, pois a cultura popular não foi criada para vender, mas para transmitir alegria, tristeza, rancor, medo e outros sentimentos que envolvem as obras de arte.

A capoeira, por exemplo, é um exemplo de luta e dança criada pelos escravos e, posteriormente, utilizada por milhões de brasileiro. O samba é um outro exemplo de cultura popular, assim como o carnaval e o axé.

A cultura popular está no conhecimento de todos, seja em um fretado para empresas ou no restaurante mais caro do país. Diferentemente da cultura de massa, que é praticamente imposta, ela transcende as diferenças sociais e passa a ser parte da vida das pessoas.

A cultura popular se mistura com a crença das pessoas, a linguagem, a moral seguida por todos que se transformam em hábitos e até tradições. Ela também foi passada de geração em geração. O interessante é que ela não foi escrita, mas vivida por todos.

Podemos ficar aqui dando diversos exemplos da cultura popular brasileira, como as músicas folclóricas, moda de viola, Bossa Nova. As festas? Temos Carnaval, Festa Junina, Bumba meu Boi e outras.

Considerações finais

Cada uma dessas culturas que explicamos ao longo do artigo exercem funções diferentes na sociedade. É possível curtir todas elas consumindo o que você mais gosta, mas sem perder tempo com discussões de qual é melhor, pois não existe resposta.

Hoje, a cultura erudita utiliza das criações populares, assim como a cultura popular também utiliza da cultura erudita. Por trás de todo grande palco, existem pessoas que precisam levar comida para casa, o que torna um negócio para a cultura de massa interessante.

Já pensou um carnaval seja no Rio de Janeiro, Bahia ou São Paulo sem uma montagem de estruturas metálicas para carregar todos? Sem uma logística e uma organização?

Agora que já entendemos a influência que cada uma dessas culturas e como cada uma age em nossas vidas, é possível consumir aquelas que melhor atendem aos nossos gostos pessoais.

Esse texto foi originalmente desenvolvido pela equipe do blog Guia de Investimento, onde você pode encontrar centenas de conteúdos informativos sobre diversos segmentos.

A cultura de massa faz parte da cultura em geral, que é o bem mais precioso produzido pela humanidade. Por cultura, entendemos um conjunto de hábitos, costumes, religião, idioma e produções artísticas ligadas a um grupo específico de pessoas, ou seja, a uma comunidade ou sociedade.

Dentro desse recorte, temos a cultura autêntica e a cultura inautêntica. A cultura inautêntica é a cultura de massa, que é produzida em larga escala e serve como artifício para fazer girar o mecanismo capitalista por meio dos lucros com a produção cultural e com a manipulação das massas, que serve aos interesses políticos e mercantis.

Leia também: Cultura material e cultura imaterial – diferentes modalidades do mesmo conceito

O que é cultura de massa

No horizonte da produção cultural humana, existem formas artísticas que buscam um fim em si mesmas: fazer arte, promover a arte, despertar sensações estéticas no espectador. Também nesse horizonte, existe um fenômeno do século XX possibilitado pelos meios de comunicação de massa: produzir uma forma de arte que seja agradável apenas pelo entretenimento e que não tenha uma finalidade em si mesma, mas em outras coisas, como o poder político e o lucro. Nesse sentido, a cultura de massa utiliza-se da arte para fazer algo distinto dela: movimentar o mecanismo capitalista.

Cultura popular e cultura de massa
Os filósofos e sociólogos da Escola de Frankfurt Adorno e Horkheimer criaram o termo “cultura de massa”.

A cultura de massa não é produzida, mas sim reproduzida. A ideia aqui não é criar algo autêntico, mas reproduzir incessantemente o que já foi produzido (até que a demanda pelo objeto reproduzido esgote-se) para conseguir atingir o maior número de espectadores, gerando assim um maior lucro com menos esforço e gasto. O grande comunicador brasileiro Abelardo Barbosa, imortalizado pelo seu nome artístico Chacrinha, lançou uma frase que ainda circula na mídia: “Na TV nada se cria, tudo se copia”.

Ironicamente, Chacrinha é copiado até hoje. Seu formato irreverente de apresentar um programa de auditório, com piadas, música ao vivo, competições, dançarinas e cenários chamativos ainda é utilizado nos programas de auditório brasileiros. A música comercial, os filmes comerciais, até mesmo as artes plásticas atuais renderam-se a um sistema de reprodução de cópias.

A cultura de massa apresenta-se como o modelo de reprodução cultural que deixa de lado o que o filósofo e crítico literário alemão Walter Benjamin chamou de aura da obra de arte, para dar lugar à produção de fácil acesso, de fácil “digestão”, de baixa qualidade e de baixo nível intelectual e técnico.

Filmes com roteiros que prendem o espectador por sua fórmula que mistura ação, romance e planos dinâmicos; músicas de poucos acordes e poesias pobres; estampas reproduzidas que dão lugar à arte plástica produzida pelo pintor, enfim, tudo isso pode compor a gama de objetos da cultura de massa. A cultura de massa trata as pessoas não como indivíduos, mas como uma massa que busca sempre as mesmas coisas.

Cultura de massa e consumo

Há uma grande pesquisa da área da comunicação que envolve a sociologia, a psicologia e a administração para descobrir o que é capaz de agradar o grande público, que consiste no espectador médio da cultura de massa. Seguindo essa linha, as produtoras criam conteúdo de fácil acesso para prender a atenção dessas pessoas e dominá-las.

Em meio à programação ofertada, na TV, no rádio, na internet ou nos grandes shows de música, há a inserção de anúncio de patrocinadores que financiam a produção e esperam, em troca, a busca do público pelos produtos anunciados.

Cultura popular e cultura de massa
A cultura de massa estabeleceu-se como um artifício de manipulação das massas.

Um carro que aparece no comercial, ou mesmo em um filme ou novela, torna-se um objeto de desejo das pessoas por ter sido utilizado pelo ator/atriz ou personagem. Uma bebida, um alimento, uma grife de roupas, enfim, qualquer produto que apareça vinculado diretamente ao conteúdo apresentado ou indiretamente (em um anúncio de intervalo) é mostrado de forma a seduzir o consumidor.

O hábito de fumar, por exemplo, popularizou-se bastante nos Estados Unidos após a disseminação de filmes de Hollywood que mostravam atrizes e atores fumando de forma elegante e sedutora. Algumas marcas de refrigerante e cerveja tornaram-se mundialmente conhecidas por seus anúncios bem elaborados e incorporação em filmes e novelas.

Veja também: Cultura brasileira – produto da diversidade étnica do Brasil

Cultura de massa e indústria cultural

Os termos “cultura de massa” e “indústria cultural” foram cunhados pelos filósofos e sociólogos judeus alemães da Escola de Frankfurt: Theodor Adorno e Max Horkheimer, no livro Dialética do esclarecimento. Essa obra visa condensar uma visão comum dos pensadores da chamada primeira geração da Escola de Frankfurt: de que o iluminismo falhou enquanto projeto de mundo civilizado.

Enquanto os iluministas pensavam que o avanço científico e intelectual aliado à ampliação do acesso a esse conhecimento levaria, diretamente, ao avanço moral e social, o século XX vivenciou a barbárie do holocausto judeu e o avanço do capitalismo a ponto de chegar-se a uma sociedade extremamente desigual. A indústria cultural é aquela que produz a cultura de massa, incorporando todas as formas de fazer artístico.

Um forte aliado do capitalismo e do totalitarismo em seus projetos particulares de dominação foi a cultura de massa, pois ela é um eficiente meio de manipulação das massas. Adorno e Horkheimer perceberam que há uma fórmula descoberta pela indústria cultural para produzir sua arte massificada.

Essa fórmula consistiria em mesclar elementos da cultura popular com a cultura erudita em uma linguagem simplista, com técnicas rudimentares, e utilizar-se dos meios de reprodutibilidade técnica (meios de comunicação pelos quais se é possível reproduzir o mesmo elemento milhares ou milhões de vezes, como a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão e a internet) para disseminar o conteúdo gerado. Para saber mais sobre esse outro conceito fundamental da primeira fase da Escola de Frankfurt, acesse o nosso texto: Indústria cultural.

Pelo forte apelo popular da cultura massificada, tende-se a confundi-la com a cultura popular. No entanto, os dois conceitos são diferentes. A cultura popular é um modo de fazer artístico autêntico, fruto dos esforços de criação de uma camada popular da sociedade com o que se tem ao alcance.

A cultura popular é a cultura tradicional, muitas vezes com uma menor elaboração técnica, mas que objetiva apenas a produção artística para a expressão do artista. Podemos eleger como exemplos de cultura popular a música caipira brasileira, o samba, o grafite como arte urbana, a literatura de cordel nordestina, e a nossa culinária popular.

Cultura popular e cultura de massa
A literatura de cordel é um exemplo de cultura popular produzida no Nordeste brasileiro.

Termo oposto à cultura de massa é a cultura erudita, criada pelas elites e voltada para as elites. Por nascer em um meio que possui maior acesso ao estudo formal, a cultura erudita tende a ser mais elaborada do ponto de vista técnico. Temos como exemplo a música produzida por mestres como Beethoven, Bach, Vivaldi e Heitor Villa-Lobos. No campo das artes plásticas, temos pintores como Rembrandt, Van-Gogh, e Portinari (o pintor brasileiro que já foi mal visto pelas elites artísticas europeias, mas que hoje é considerado um clássico da arte mundialmente aclamado).

No campo da literatura e da dramaturgia, temos os clássicos escritores Miguel de Cervantes, Shakespeare, Victor Hugo e Clarice Lispector (que, por ser mulher, contemporânea e radicada no Brasil, foi considerada uma literata menor, mas que hoje é reconhecida como uma erudita pelas elites). O grande escritor austro-húngaro Franz Kafka já foi considerado menor, hoje é reconhecido como um erudito. Fechando a conta, percebe-se que quem decide se um artista ou sua obra é erudita, é a elite.

A cultura de massa vai na contramão de tudo o que acabou de ser apresentado. Sua preocupação não está na própria obra de arte, mas no alcance e no lucro que ela pode gerar. O que se espera é que o público saia satisfeito e queira mais, queira consumir mais.

Uma diferença marcante entre a cultura de massa e as culturas populares e eruditas é que estas perduram por muito tempo e são sempre lembradas e revisitadas, enquanto a cultura massificada tem um curto prazo de validade. Logo após ser lançada e consumida, a cultura massificada deixa de ser novidade e deve ser substituída por outro produto.

Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia