Como se faz uma politica comparada

Como se faz uma politica comparada

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A política comparada, também chamada de governo comparativo, descreve um método de estudo científico no campo das ciências políticas. Como o nome sugere, a política comparativa compara dois ou mais países e tenta tirar conclusões com base nessas comparações. Os cientistas políticos podem comparar um ou vários aspectos, como prosperidade econômica, nível de educação e emprego. O método comparativo é semelhante ao método científico nas ciências físicas porque busca estabelecer relações empíricas entre as variáveis.

As ciências sociais e políticas diferem das ciências físicas nos métodos de teste disponíveis. Nas ciências físicas, os pesquisadores podem realizar estudos controlados em laboratórios onde as variáveis ​​do estudo podem ser manipuladas. Em contraste, as ciências sociais dependem da observação e interpretação dos dados sociais e governamentais disponíveis; nenhuma manipulação direta de variáveis ​​é possível.

A política comparativa descreve o método de testar uma hipótese, definindo variáveis ​​dependentes e independentes, semelhante ao método científico das ciências físicas. Ao observar as correlações, os cientistas políticos tentam confirmar ou descartar uma relação de causa e efeito, dependendo se os dados disponíveis apóiam ou contradizem a hipótese. Como nas ciências físicas, os resultados de um estudo muitas vezes levantam novas hipóteses a serem estudadas.

Os exemplos mais familiares do método comparativo envolvem a comparação de diferentes formas de governo em diferentes países, e quão eficazes são em áreas específicas de desenvolvimento social ou econômico. Por exemplo, um cientista pode querer testar a hipótese “Os países com formas democráticas de governo têm uma população mais instruída do que os países governados por monarquias”. O cientista compilaria dados sobre dois ou mais países, definindo a forma de governo como variável independente e o nível de educação da população como variável dependente. A hipótese seria então avaliada e confirmada ou rejeitada, com base no fato de os dados concretos apoiarem a hipótese ou a contradizerem. Embora este exemplo seja extremamente simplista, ele ilustra o processo científico básico do método de política comparada.

Cientistas sociais e filósofos têm usado variações do método comparativo de estudo ao longo da história. Aristóteles comparou e contrastou diferentes tipos de governo em sua obra intitulada A Política. Alexis de Toqueville também empregou o estudo político comparativo em sua obra Democracy in America, que examinou as nuances do governo dos Estados Unidos na época de sua concepção e o comparou aos governos britânico e francês. Outros cientistas sociais que fizeram contribuições significativas para o campo da política comparada incluem Anthony Downs, Max Weber e Giovanni Sartori.

Como se faz uma politica comparada

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Esta área temática representa um campo de estudos que se caracteriza pela natureza comparativa das suas abordagens e pela diversidade de métodos, qualitativos e quantitativos, para o tratamento de diferentes temas. Desde a proposição dos métodos da semelhança e da diferença por John Stuart Mill, a política comparada tem sido aprimorada para se aprofundar em poucos casos ou explorar as relações entre variáveis em um grande número de casos. Mais recentemente, tem se afirmado a tendência de utilização de métodos mistos em um mesmo estudo. Além da diversidade metodológica, a política comparada abrange uma gama ampla de temas, tendo em comum a preocupação em comparar os casos de estudo.

A área de Comparative Politics é comum nos departamentos de Ciência Política de universidades prestigiadas em várias partes do mundo, para o estudo das dinâmicas política e social de outros países que não só os que abrigam essas instituições, fazendo a comparação de experiências e resultados e elevando a confiabilidade e a possibilidade de generalização das conclusões. Dessa maneira, comparativistas especializados(as) nas diferentes regiões do mundo, inclusive a América Latina, têm se formado e aprimorado. Com a projeção de uma escola quantitativista de comparação, a tradição qualitativista intensificou sua atenção com os métodos e se aperfeiçoou, a partir das contribuições, por exemplo, de Charles Ragin e colaboradores, que difundiram a abordagem conhecida pela definição em inglês de Qualitative Comparative Analysis (QCA). Inserida nesse contexto do campo de conhecimento, a AT de Política Comparada busca contribuir para a formação e o estímulo ao trabalho de comparativistas e latinoamericanistas no Brasil e abrigar estudos de temas novos e tradicionais na Ciência Política brasileira que se desenvolvam em uma perspectiva comparada.

João Carlos Amoroso Botelho

Hoje iniciamos uma série semanal de publicações a respeito de temas relevantes para todos os interessados em entender a política em perspectiva comparada. Por isso, a primeira publicação não poderia ser diferente: o que é a política comparada? Por que e o que comparar na análise da política? O que devem ler os interessados em dar os primeiros passos no campo? Esses são os pontos que serão tratados brevemente pelo coordenador do Centro de Política Comparada - CPC, Prof. Marcelo Vieira.

Antes de uma definição da política comparada, é preciso esclarecer o que se entende atualmente por política. A política é o processo que envolve toda a atividade humana de tomada de decisões de caráter público e oficial no interior de um sistema político, isto é, nas fronteiras territoriais e de cidadania onde interagem atores e instituições (usualmente, Estados nacionais e subnacionais ou mesmo organizações supranacionais). Decisões de caráter público são aquelas que afetam toda a coletividade de indivíduos que pertencem ao sistema político. Já o caráter oficial de uma decisão política é referente à necessidade de sua obediência, implicando em sanções até mesmo físicas por parte do representante autorizado do sistema político (usualmente, governos) para aqueles que a desrespeitarem.

Dessa forma, a política comparada é a análise descritiva, correlacional ou causal das semelhanças e diferenças entre unidades de análise (casos) onde variáveis políticas incidem, transversalmente (entre casos) ou longitudinalmente (em um mesmo caso, mas ao longo do tempo). Mesmo quando se analisa uma ou mais variáveis políticas em um único caso num ponto fixo do tempo, é preciso ter em mente um quadro de referências comparativas (amostra ou população de casos) para que qualquer juízo analítico possa ser feito. É por essa razão que, nos anos 1950, o rótulo “comparada” foi criado como um cavalo de batalha para acompanhar a expressão “política”. A exigência era que toda análise empírica da política tivesse na comparação uma dimensão metodológica explícita da pesquisa.

Portanto, o que se almeja com a análise comparada é algum grau de generalização das conclusões obtidas, seja em nível micro, meso ou macro da política. Mas que variáveis políticas, incidindo em que casos, são passíveis de comparação? Desde “casos” de atores políticos (eleitores, cidadãos comuns, lideranças partidárias, presidentes, legisladores, juízes, burocratas) manifestando suas preferências ou atitudes frente a decisões políticas enquanto “variáveis” (voto, manifestação de rua, iniciativa legislativa, implementação de políticas públicas), passando por “casos” de instituições políticas (partidos, parlamentos, movimentos sociais, executivos, judiciários, burocracias) e suas características “variáveis” (plataforma política, fragmentação partidária, grau de mobilização, tipo de gabinete, nível de insulamento).

Para quem tiver interesse em fazer suas primeiras leituras sobre a política comparada, são altamente recomendáveis os seguintes trabalhos:

  • CARAMANI, Daniele. “Introduction to Comparative Politics”, in Comparative Politics. Oxford, Oxford University Press, 2011. (pp. 2-15).
  • COLLIER, David. “The Comparative Method”, in Finifter, Ada (ed), Political Science: The State of the Discipline II. Washington, D.C.: American Political Science Association, 1993 (pp. 105-108).
  • LIJPHART, Arend. “Comparative Politics and the Comparative Method”. American Political Science Review, Vol. 65, No. 3, 1971 (pp. 682-693).
  • PEREZ-LIÑAN, Anibal. “Cuatro Razones para Comparar”. Boletin de Politica Comparada, n. 1, 2008 (pp.4-8).
  • SARTORI, Giovanni. A Política. Ed. UnB, Brasília, 1979. (pp.203-246).

Uma boa leitura a todos!