A pegada ecológica permite comparar diferentes padrões de consumo

Todos os dias ouvimos falar das alterações climáticas, da diminuição dos recursos naturais e dos impactos negativos que o nosso padrão de consumo exagerado tem no Planeta Terra. Seja na televisão, na rádio ou na internet, muitos são os alertas para o consumo desenfreado dos recursos naturais e os apelos à mudança.

Em 2019, o Planeta Terra consumiu todos os recursos naturais do ano a 29 de julho, a data mais prematura de sempre. O que é que isto significa? Que a capacidade do nosso planeta de regenerar os seus recursos não consegue acompanhar a procura do ser humano. 

O primeiro passo para tentar contrariar esta tendência é compreender o impacto das nossas escolhas no mundo, a nossa Pegada Ecológica.

Já diz o velho ditado popular: "Conhecimento é poder". Por isso mesmo, é crucial perceber como é que os nossos hábitos de consumo impactam o meio ambiente. Desde a alimentação ao tipo de transporte utilizado, tudo pode ser melhorado.

Para compreender esta realidade, podemos recorrer à Pegada Ecológica, a métrica utilizada para medir a relação entre os recursos produzidos pela natureza e o consumo humano. Esta metodologia reconhecida internacionalmente foi desenvolvida pela Global Footprint Network.

Analisar a pegada ecológica de cada cidadão a nível nacional permite-nos compreender de que forma os recursos mundiais estão a ser consumidos. As diferentes pegadas ecológicas devem-se aos diferentes estilos de vida e padrões de consumo, incluindo a quantidade de comida, bens e serviços que os cidadãos consomem, os recursos naturais que utilizam e o dióxido de carbono emitido para a produção dos bens e serviços consumidos.

Embora a tendência seja descente, os resultados nacionais não são os mais positivos pois a pegada ecológica do cidadão comum português ainda é expressiva. Em 2018, o indicador atingiu os 3,69 gha por cidadão, colocando Portugal na 66º posição no ranking mundial.

“Se cada pessoa no Planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria mais de 2 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos”, afirmou a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em comunicado divulgado em meados de 2019. 

Portugal ainda tem um longo caminho pela frente porque se continuarmos a consumir desenfreadamente, vamos precisar do equivalente a dois planetas em 2030 para conseguirmos sobreviver, sinalizou a World Wide Fund, ou WWF na sigla inglesa.

Quer reduzir o seu impacto negativo no ambiente? A Calculadora da Pegada Ecológica pode ajudá-lo.

Lançada no âmbito do Projeto Pegada Ecológica dos Municípios Portugueses em meados de 2019 em seis municípios portugueses, a calculadora é uma das ferramentas utilizadas para educar e conscientizar os cidadãos para as questões ambientais.

A partir de uma série de perguntas, a calculadora revela qual é a sua pegada ecológica, dando pistas para reduzir o impacto ambiental do seu modo de vida em cada um dos seis concelhos já envolvidos no projeto, como diminuir o consumo de carne, comprar produtos alimentares locais ou usar a bicicleta e os transportes públicos em vez do automóvel.

Atualmente, a iniciativa abrange seis municípios portugueses, nomeadamente, Guimarães, Lagoa, Castelo Branco, Bragança, Almada e Vila Nova de Gaia.

O projeto resulta de uma parceria estratégica entre a ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, a Global Footprint Network, ou GFN na sigla inglesa, e a Unidade de Investigação GOVCOPP da Universidade de Aveiro.

Como podemos reduzir o nosso impacto ambiental no planeta? Que hábitos podemos alterar de forma a beneficiar o meio ambiente? Existem muitos comportamentos que podemos ajustar ou adotar em benefício próprio e do planeta.

Reduzir o consumo de carne animal, evitar plásticos de utilização única ou evitar o desperdício de água são apenas alguns exemplos de medidas que podemos colocar em prática facilmente. Para conhecer estas e outras dicas, consulte o nosso artigo “10 dicas para reduzir a sua pegada ecológica”.

O modelo atual de crescimento econômico gerou uma série de desequilíbrios. Se por um lado, há tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental, o desperdício e a poluição vem aumentando a cada dia.

Diante disso, surge a ideia do desenvolvimento sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, trazer o fim da pobreza no mundo.

Por isso, é necessário haver ferramentas ou indicadores que permitam a identificação de padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerem aspectos técnicos, ambientais, econômicos e sociais.

Existem diversos indicadores criados para traduzir o grau de sustentabilidade, tanto do ambiente urbano quanto de outras atividades antrópicas, como o Barômetro da Sustentabilidade, indicadores de origem ecológica, Painel da Sustentabilidade, dentre outros.

Mais do que nunca as cidades brasileiras estão desafiadas a “casar” a gestão urbana e a gestão ambiental, integrando as políticas de planejamento urbano, a política habitacional e a política ambiental, ou seja, o desenvolvimento possui um novo paradigma que inclui a necessidade de qualidade de vida social, econômica e ambiental para as presentes e futuras gerações.

ALFONSIN, 2001.

Entre eles, notam-se os indicadores de origem ecológica, os quais compreendem a disponibilidade dos recursos naturais, tais como: áreas bioprodutivas (agricultura, silvicultura, pastagem, marítima, etc.), minerais, água, assim como a qualidade do solo, ar, a biodiversidade, dentre outros.

Um desses indicadores é a “Pegada Ecológica“.

Esse indicador foi criado no Canadá no inicio dos anos 1990 pelos pesquisadores William Ress e Mathis Wachernagelcomo forma de suprir a demanda por indicadores ecológicos (indicadores estes que compreendem os limites da ecosfera).

A pegada ecológica permite comparar diferentes padrões de consumo
William Rees e Mathis Wackernagel

Mas afinal, o que é Pegada ecológica e como podemos utiliza-lá?

O que é Pegada Ecológica?

A Pegada Ecológica é compreendida como uma metodologia de contabilidade ambiental que tem como objetivo avaliar a pressão do consumo da população humana sobre os recursos naturais.

 Wachernagel e Ress (1996) destacam que:

A pegada ecológica não é apenas a definição da população para uma determinada área geográfica, mas sim, o cálculo da população necessária para que um determinado sistema se mantenha indefinitivamente em um espaço.

Segundo o WWF (2012), a pegada ecológica de um estado, cidade, país ou pessoa corresponde ao tamanho das áreas produtivas terrestres e marinhas necessárias para sustentar um determinado estilo de vida, em outras palavras, é uma forma de traduzir em hectares, uma extensão de território que uma pessoa ou sociedade possam morar, se alimentar, locomover e se vestir, por exemplo.

Ela é geralmente expressa por hectares globais (gha)* e permite comparar diferentes padrões de consumo e ainda verificar se os mesmos encontram-se dentro da capacidade ecológica.

OBS:* Um hectare global significa um hectare de produtividade média mundial para terras e águas produtivas em um ano.

O objetivo da pegada ecológica é verificar se o consumo e a biocapacidade* estão em equilíbrio.

* A biocapacidade representa a capacidade dos ecossistemas em produzir recursos naturais renováveis para o consumo humano e absorver os resíduos gerados pelas atividades da população.

Vale salientar que, para se obter a Pegada Ecológica, considera-se também a emissão de gases de efeito estufa (principalmente o gás carbônico – CO2) na atmosfera e a presença de poluentes no ar, na água e no solo.

Ela também contabiliza os recursos naturais biológicos renováveis como: grãos e vegetais; carne; peixe; madeira e fibras, dentre outros.

De acordo com o sétimo relatório “Planeta Vivo 2012” , publicação bianual do Fundo Mundial para a Natureza (World Wildlife Fund – WWF, 2012), o índice da Pegada Ecológica de 2,7 por pessoa, enquanto a biocapacidade disponível para cada ser humano é de apenas 1,8 hectare global.

Alguns países, como os EUA e a China, demandam mais que sua biocapacidade, se caracterizando como “países devoradores ecológicos”. Outros países, como o Brasil, são “países credores ecológicos”, pois ainda possuem mais recursos ecológicos do que consomem, e usualmente “exportam” sua biocapacidade para os devedores. No entanto, de acordo com o mesmo relatório, a média brasileira por pessoa já supera este patamar e está atualmente em 2,9 hectares globais por habitante.

Os 2,9 hectares globais por habitante referente a pegada ecológica brasileira indicam que o consumo médio de recursos ecológicos pelo brasileiro está bem próximo da Pegada Ecológica mundial.

Abaixo segue a lista dos países com maior pegada ecológica (REVISTA EXAME, 2016):

  • Emirados Árabes Unidos (10,7 hectares);
  • Catar (10,5 hectares);
  • Dinamarca (8,3 hectares);
  • Bélgica (8 hectares);
  • Estados Unidos (8 hectares);
  • Estônia (7,9 hectares);
  • Canadá (7 hectares);
  • Austrália (6,8 hectares);
  • Kuwait (6,3 hectares);
  • Holanda (6,2 hectares);
  • Macedônia (5,7 hectares);
  • Letônia (5,6 hectares);
  • Noruega (5,6 hectares);
  • Mongólia (5,5 hectares);
  • Singapura (5,3 hectares);
  • Áustria (5,3 hectares);

Segundo INPE (2012), os resultados gerados por este indicador nos dá uma ideia de como um indivíduo, cidade ou país utiliza os recursos naturais, conforme os hábitos de consumo e estilos de vida.

No entanto, esse uso de recursos deve ser compatível com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. Os dados recentes mostram que estamos consumindo em média 50% a mais do que a capacidade de reposição do planeta. Isso significa que precisamos de um planeta e meio para manter nossos padrões de vida atuais (INPE, 2018).

Como diminuir a pegada ecológica?

Há várias formas de reduzirmos nossas pegadas ecológicas. Uma forma é a adoção de políticas de sustentabilidade ambiental em diversos setores.

Um exemplo destas medidas sustentáveis são as Ecovilas.

Nas Ecovilas, duas ou mais famílias, dividem os mesmos espaços territoriais e juntas integram sua vida social (trabalho, agricultura, atividades culturais, dentre outros), tudo isso de maneira 100% sustentável.

Sendo que todas essas ações são desenvolvidas e controladas de forma a não agredir o meio ambiente. Todo o material utilizado para a construção das casas são materiais diferenciados (palha, barro, madeira).

Outro detalhe é que o uso de água e energia é controlado e ensinado aos mais jovens, que já crescem em um ambiente mais sustentável e com a educação ecológica facilitada. Essas ações reduzem consideravelmente o impacto da presença humana no local e, com isso, a pegada ecológica.

Além das Ecovilas, outras ações simples podem ser adotadas para reduzir a pegada ecológica (incluindo quem vive em centros urbanos), como por exemplo, o descarte correto de resíduos, reciclagem, uso consciente da água e o aproveitamento de resíduo orgânico para geração de composto (como é o caso do projeto Adubooo Criciúma).

Como Calcular a Pegada Ecológica?

O calculo da Pegada Ecológica é bastante simples, basta avaliar (por meio de uma pontuação) qual o impacto que sua alimentação, moradia, bens, serviços, transporte dentre outros tem sobre o planeta (calculo seu impacto clicando aqui).

Com a pontuação final gerada, você irá comparar em uma tabela contento o total obtido versus sua pegada ecológica. Vamos supor que sua pontuação resultou em valor menor que 150, você teria uma pegada ecológica menor que 4 hectares globais.

OBS: O teste ainda permite que você compare sua pegada ecológica com a de outros países.

Mas só existe esse tipo de Calculadora?

Não, hoje em dia, existem diversas calculadoras para estabelecer a sua pegada ecológica. Dentre as calculadoras utilizadas, há a Calculadora Islandwood; Calculadora WWF; Calculadora do INPE; e Calculadora Global Footprint Network.

Se aplicarmos esse cálculo para toda uma população de uma cidade, estado ou país, podemos usar a pegada ecológica para melhorar a gestão pública e mobiliar a população a rever seus hábitos.

Como já citado anteriormente, a Pegada Ecológica Brasileira é de 2,9 hectares globais por pessoa, isso significa que, se as pessoas do mundo todo consumissem como nós, seria necessário 2,9 planetas para nos manter.

Por isso, devemos mudar nossos hábitos, rotinas e o comportamentos com formas alternativas de consumo consciente.

E você, já calculou sua pegada ecológica? E o que você pode fazer para reduzir ela? Deixe suas observações nos comentários.

Referências:ALFONSIN, B. O Estatuto da Cidade e a construção de cidades sustentáveis, justas e democráticas. In: II Congresso Brasileiro do Ministério Público de Meio Ambiente, Canela. Anais… Canela, 2001. CARDOSO, F. H. Meio ambiente e consumo. Coleção Educação para o consumo responsável. 1-62, 2002. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia cientifica. 4.ed. São Paulo: Makron Books, 1996.CHAMBERS, Nick. Sharing Nature’s Interest: Ecological footprint as an indicator of sustainability. London: Earthscan Publications Ltd, 2000.DIAS, G. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. As Dimensões Humanas das Alterações Globais – Um Estudo de Caso Brasileiro (Como o Metabolismo Ecossistêmico Urbano Contribui para as Alterações Ambientais Globais). São Paulo: Gaia, 2002.REVISTA EXAME. Os 20 Países com Maiores Pegadas Ecológicas. 2016. INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Pegada Ecológica: Qual é a sua? INPE. São José dos Campos. São Paulo. 2012, 24 p. WACKERNAGEL, M.; REES,W. Our ecological footprint. The new catalyst bioregional series. Gabriola Island, B.C.: New Society Publishers, 1996.WWF. World Wildlife Fund. Living Planet Report. 2008. WWF. World Wildlife Fund. Living Planet Report. 2012.


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