Que benefícios os Jogos Paralímpicos trouxeram para o brasil

Constança Rezende, Marcio Dolzan e Paulo Favero, enviado especial ao Rio - O Estado de S.Paulo

17 de setembro de 2016 | 17h00

Mesmo que ainda não seja o ideal, é perceptível que o mundo está mais inclusivo para as pessoas com deficiência, principalmente se compararmos os dias atuais a décadas passadas. Nos Jogos Paralímpicos no Rio, isso é até mais visível. No Parque Olímpico, por exemplo, crianças se divertem e assistem aos eventos como se eles estivessem na própria Olimpíada, sem nenhum tipo de preconceito.

Markus Rehm e o salto na história paralímpica

Nas arenas, o apoio aos competidores é incessante. O que a torcida vê são atletas de alto rendimento, mesmo que necessitem de alguma prótese, cadeira de rodas ou guia. Nesse sentido, a Paralimpíada que se encerra neste domingo atingiu plenamente seu objetivo: mostrar que, mesmo com diferenças, somos iguais.

1 | 7 Torcedores tiram selfies com Evani Calado e Evelyn Oliveira, que foram ouro na bocha Foto: Wilton Junior/ Estadão 2 | 7 Primeiro brasileiro medalhista na canoagem em Paralimpíada, Caio Ribeiro brinca com pedestre no Rio Foto: Marcos Arcoverde/ Estadão 3 | 7 Experiências aproximam todos da realidade enfrentadas pelos atletas paralímpicos Foto: Marcos Arcoverde/ Estadão 4 | 7 A arquiteta Daniele Eidelwein trouxe sua filha Carolina para os Jogos para mostrar que existem pessoas com deficiências que conseguem se superar a cada dia Foto: Wilton Junior/ Estadão 5 | 7 'As pessoas escondiam o deficiente’, afirmou Gloriete Pimentel, que foi aos Jogos com o filho, José Rodrigues, e a nora, Ana Foto: Fabio Motta/ Estadão 6 | 7 Rosana foi acompanhar as competições paralímpicas com os filhos Thiago e Vivian Foto: Fabio Motta/ Estadão 7 | 7 A freira Terezinha levou 28 crianças ao Engenhão para curtir a Paralimpíada Foto: Fabio Motta/ Estadão

Num passado não muito distante, era comum o uso de termos pejorativos para tratar pessoas que nasceram com alguma deficiência ou que a adquiriram ao longo da vida, em função de acidentes ou doenças. Com educação, isso mudou. Os locais estão mais acessíveis, assim como a cabeça das pessoas.

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Durante a Paralimpíada, todos puderam ver nas mais de 300 sessões esportivas que um cego pode jogar futebol, que um amputado pode correr, nadar e andar de bicicleta, e que um cadeirante pode jogar basquete ou rúgbi. Isso é provavelmente o maior legado intangível que a Paralimpíada do Rio deixa para os brasileiros.

“A Paralimpíada serviu para várias coisas. Uma delas foi tornar os atletas mais conhecidos e mudar a impressão de que o esporte paralímpico é só de participação. Aqui é alto rendimento, mesmo com as limitações de cada um. E também serviu para tirar o estigma e mostrar a capacidade do ser humano de se superar”, explica o nadador Carlos Farrenberg, que ganhou a prata nos 50 m livre S13, para atletas com deficiência visual.

Dentre os mais de dois milhões de torcedores que foram às arenas nos 11 dias de disputas, muitos aproveitaram para usar o evento para conscientizar os filhos pequenos. Foi o caso do empresário carioca Marcelo Urbano, que junto com a mulher, Carolina, levou os filhos Marcela, de 7 anos, Luca, de 6, e Antony, de apenas 1, para assistir às provas no Engenhão e no Parque Olímpico.

“Queríamos que eles tivessem essa experiência, conhecessem o Parque e pudessem, principalmente, ver os atletas”, disse o empresário. “A Paralimpíada ajuda muito na conscientização. O Luca tinha um pouco de medo, ficava impressionado quando via alguém que não tinha uma perna ou braço. Nos Jogos, ele viu que é uma pessoa igual a ele. Fomos ver o atletismo e tinha atletas sem pernas correndo mais do que ele corre. Ele acabou tendo outra visão, que uma pessoa com deficiência pode ser um super-herói.”

Já a historiadora aposentada Gloriete Pimentel, de 76 anos, lembra dos tempos difíceis para os deficientes. Da arquibancada do Engenhão, ela viu atletas se superando no atletismo. Mas disse que nem sempre foi assim. “Na minha juventude, no interior da Paraíba, as pessoas tinham vergonha de apresentar familiares com deficiência. Existia muito preconceito e eles ficavam escondidos nas casas. Hoje, há uma consciência na sociedade e cobrança nas autoridades para a inclusão dessas pessoas. Os deficientes estão menos dependentes e têm coragem para superar as dificuldades. Estamos vendo isso aqui na Paralimpíada”, contou.

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Nathalia Garcia - O Estado de S.Paulo

17 de setembro de 2016 | 17h00

Que sociedade queremos para nossos filhos e netos? Os Jogos Paralímpicos do Rio devem ajudar a responder a essa questão. Na visão de alguns especialistas, a reflexão sobre a inclusão social é um dos legados da competição. “Estamos vivendo um momento divisor de águas”, afirma Vinícius Hirota, professor de Educação Física com experiência em desenvolvimento humano, desenvolvimento motor e psicologia do esporte.

Para ele, a convivência do público com atletas com deficiência durante a competição ajuda a desmistificar certos assuntos e aumentar a aceitação das diferenças. “Tenho visto muitas crianças no Rio, os pais estão dispostos mostrar que a diferença existe na cabeça de quem é preconceituoso.” 

O discurso de Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, segue essa mesma linha de raciocínio. Ele destaca a possibilidade de eliminar diversas camadas de preconceito na abordagem ao deficiente e enfatiza: “Transformar alguém em super-herói ou vítima não contribui. Devemos olhar o sujeito como alguém dotado de direitos e deveres. As pessoas querem ser tratadas com dignidade.” 

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Exemplos de superação nos Jogos Paralímpicos não faltam. E evitar a glamourização dos atletas é um aspecto fundamental na opinião de Luiz David Araujo, professor de Direito Constitucional da PUC-SP. 

“Não são todas as pessoas com deficiência que atingem metas surpreendentes. A Paralimpíada não pode passar a ideia de que temos de esperar superação de cada pessoa com deficiência. Ela tem seus problemas, suas dificuldades como qualquer outra”, analisa.

O especialista tenta transportar a experiência do Rio para a vida cotidiana. E ele destaca a importância do processo inclusivo nas escolas infantis. A falta de preparo de diversas instituições e de seus profissionais ainda é um empecilho nesse processo e a dificuldade se estende ao mercado de trabalho. “A convivência com crianças diferentes gera pessoas mais preparadas, solidárias e acolhedoras. Esses meninos e meninas serão arquitetos e engenheiros que vão zelar pela acessibilidade”, explica Araujo.

A necessidade de um espaço urbano mais acessível é outro ponto debatido pelos profissionais. A locomoção é um desafio diário. “A conjugação arquitetônica da cidade não favorece as pessoas com mais idade e muito menos aquelas com restrições”, avalia Prando.

O trio de especialistas reconhece os esforços feitos nos últimos anos para incluir os deficientes na sociedade, mas admite que ainda há muito trabalho a ser feito. “Está engatinhando e tende a crescer mais nos próximos anos”, projeta o professor Vinícius Hirota.

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Constança Rezende - O Estado de S.Paulo

17 de setembro de 2016 | 17h00

A experiência de ver atletas paralímpicos em competições fez com que muitos responsáveis levassem crianças ao Engenhão para verem de perto exemplos de superação. A freira Terezinha de Jesus levou 28 crianças do Lar da Criança Padre Franz Neumair, em Niterói, para assistir ao atletismo. Ela ganhou ingressos do Comitê Paralímpico. “É importante para estas crianças, que também têm muitos desafios porque não têm pais, verem que podem superar as dificuldades da vida, assim como esses atletas”, disse.

As irmãs Kethelyn, de 11 anos, e Lara, de 8, que vão ser adotadas por um casal de São Paulo, ficaram surpresas com as atrações esportivas. “Gostei mais de ver eles correndo. O ruim é que tem muita a coisa acontecendo ao mesmo e não dá para ver tudo”, disse Kethelyn.

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Constança Rezende, Marcio Dolzan e Paulo Favero, enviado especial ao Rio - O Estado de S.Paulo

17 de setembro de 2016 | 17h00

Mesmo que ainda não seja o ideal, é perceptível que o mundo está mais inclusivo para as pessoas com deficiência, principalmente se compararmos os dias atuais a décadas passadas. Nos Jogos Paralímpicos no Rio, isso é até mais visível. No Parque Olímpico, por exemplo, crianças se divertem e assistem aos eventos como se eles estivessem na própria Olimpíada, sem nenhum tipo de preconceito.

Markus Rehm e o salto na história paralímpica

Nas arenas, o apoio aos competidores é incessante. O que a torcida vê são atletas de alto rendimento, mesmo que necessitem de alguma prótese, cadeira de rodas ou guia. Nesse sentido, a Paralimpíada que se encerra neste domingo atingiu plenamente seu objetivo: mostrar que, mesmo com diferenças, somos iguais.

1 | 7 Torcedores tiram selfies com Evani Calado e Evelyn Oliveira, que foram ouro na bocha Foto: Wilton Junior/ Estadão 2 | 7 Primeiro brasileiro medalhista na canoagem em Paralimpíada, Caio Ribeiro brinca com pedestre no Rio Foto: Marcos Arcoverde/ Estadão 3 | 7 Experiências aproximam todos da realidade enfrentadas pelos atletas paralímpicos Foto: Marcos Arcoverde/ Estadão 4 | 7 A arquiteta Daniele Eidelwein trouxe sua filha Carolina para os Jogos para mostrar que existem pessoas com deficiências que conseguem se superar a cada dia Foto: Wilton Junior/ Estadão 5 | 7 'As pessoas escondiam o deficiente’, afirmou Gloriete Pimentel, que foi aos Jogos com o filho, José Rodrigues, e a nora, Ana Foto: Fabio Motta/ Estadão 6 | 7 Rosana foi acompanhar as competições paralímpicas com os filhos Thiago e Vivian Foto: Fabio Motta/ Estadão 7 | 7 A freira Terezinha levou 28 crianças ao Engenhão para curtir a Paralimpíada Foto: Fabio Motta/ Estadão

Num passado não muito distante, era comum o uso de termos pejorativos para tratar pessoas que nasceram com alguma deficiência ou que a adquiriram ao longo da vida, em função de acidentes ou doenças. Com educação, isso mudou. Os locais estão mais acessíveis, assim como a cabeça das pessoas.

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Durante a Paralimpíada, todos puderam ver nas mais de 300 sessões esportivas que um cego pode jogar futebol, que um amputado pode correr, nadar e andar de bicicleta, e que um cadeirante pode jogar basquete ou rúgbi. Isso é provavelmente o maior legado intangível que a Paralimpíada do Rio deixa para os brasileiros.

“A Paralimpíada serviu para várias coisas. Uma delas foi tornar os atletas mais conhecidos e mudar a impressão de que o esporte paralímpico é só de participação. Aqui é alto rendimento, mesmo com as limitações de cada um. E também serviu para tirar o estigma e mostrar a capacidade do ser humano de se superar”, explica o nadador Carlos Farrenberg, que ganhou a prata nos 50 m livre S13, para atletas com deficiência visual.

Dentre os mais de dois milhões de torcedores que foram às arenas nos 11 dias de disputas, muitos aproveitaram para usar o evento para conscientizar os filhos pequenos. Foi o caso do empresário carioca Marcelo Urbano, que junto com a mulher, Carolina, levou os filhos Marcela, de 7 anos, Luca, de 6, e Antony, de apenas 1, para assistir às provas no Engenhão e no Parque Olímpico.

“Queríamos que eles tivessem essa experiência, conhecessem o Parque e pudessem, principalmente, ver os atletas”, disse o empresário. “A Paralimpíada ajuda muito na conscientização. O Luca tinha um pouco de medo, ficava impressionado quando via alguém que não tinha uma perna ou braço. Nos Jogos, ele viu que é uma pessoa igual a ele. Fomos ver o atletismo e tinha atletas sem pernas correndo mais do que ele corre. Ele acabou tendo outra visão, que uma pessoa com deficiência pode ser um super-herói.”

Já a historiadora aposentada Gloriete Pimentel, de 76 anos, lembra dos tempos difíceis para os deficientes. Da arquibancada do Engenhão, ela viu atletas se superando no atletismo. Mas disse que nem sempre foi assim. “Na minha juventude, no interior da Paraíba, as pessoas tinham vergonha de apresentar familiares com deficiência. Existia muito preconceito e eles ficavam escondidos nas casas. Hoje, há uma consciência na sociedade e cobrança nas autoridades para a inclusão dessas pessoas. Os deficientes estão menos dependentes e têm coragem para superar as dificuldades. Estamos vendo isso aqui na Paralimpíada”, contou.

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Para ele, a convivência do público com atletas com deficiência durante a competição ajuda a desmistificar certos assuntos e aumentar a aceitação das diferenças. “Tenho visto muitas crianças no Rio, os pais estão dispostos mostrar que a diferença existe na cabeça de quem é preconceituoso.” 

O discurso de Rodrigo Prando, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, segue essa mesma linha de raciocínio. Ele destaca a possibilidade de eliminar diversas camadas de preconceito na abordagem ao deficiente e enfatiza: “Transformar alguém em super-herói ou vítima não contribui. Devemos olhar o sujeito como alguém dotado de direitos e deveres. As pessoas querem ser tratadas com dignidade.” 

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O especialista tenta transportar a experiência do Rio para a vida cotidiana. E ele destaca a importância do processo inclusivo nas escolas infantis. A falta de preparo de diversas instituições e de seus profissionais ainda é um empecilho nesse processo e a dificuldade se estende ao mercado de trabalho. “A convivência com crianças diferentes gera pessoas mais preparadas, solidárias e acolhedoras. Esses meninos e meninas serão arquitetos e engenheiros que vão zelar pela acessibilidade”, explica Araujo.

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O trio de especialistas reconhece os esforços feitos nos últimos anos para incluir os deficientes na sociedade, mas admite que ainda há muito trabalho a ser feito. “Está engatinhando e tende a crescer mais nos próximos anos”, projeta o professor Vinícius Hirota.

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As irmãs Kethelyn, de 11 anos, e Lara, de 8, que vão ser adotadas por um casal de São Paulo, ficaram surpresas com as atrações esportivas. “Gostei mais de ver eles correndo. O ruim é que tem muita a coisa acontecendo ao mesmo e não dá para ver tudo”, disse Kethelyn.

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