Qual excerto representa melhor a desmistificação do amor romântico

Este "episódio doméstico", conforme o clas­sificou Eça de Queirós, pretende mostrar a todos, de maneira exemplar, a tese da corrupção da família, vista como uma instituição burguesa, salientando-se a família da média burguesia lisboeta, que tem seus valores fundamentais atacados pelos escritores realistas.Não vemos, contudo, consistência psicológica nas atitudes de Luísa, que é tomada pelo medo, e não pelo amor. Ela trai seu marido arrastada pelas circunstância, como se fosse um joguete nas mãos do destino, como se não tivesse domínio sobre si mesma. Machado de Assis chegou a recolocar, de forma irônica, a tese defendida por Eça em sua obra: diz que a boa escolha de criados é uma condição de paz no adultério.Em princípio, Luísa, Basílio e Jorge são as peças do questionamento do casamento, que ocorre através do adultério, e constituem-se nos principais perso­nagens da história.Analisando-os, começamos por encontrar uma Luísa frágil, incapaz de agir e refletir, o que é atribuído, no decorrer da obra, de forma absolu­tamente naturalista, à ociosidade da vida que leva e ao temperamento romântico que mantém, constan­te­mente alimentado pelas leituras de Walter Scott e de outros romances "água com açúcar", que lhe proporcionam devaneios, como no caso de "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas.Assim, os sinais naturalistas já começam a se misturar aos realistas nesta obra. Notamos em Luísa, de um lado, a crítica realista à sentimentalidade romântica. Por outro, surge um certo esvaziamento psicológico, do qual brota um caráter que é colocado como móbil, inconsciente, cheio de deixar-se ir. Isso parece até um exagero das tendências naturalistas, que se mostram muito fortificadas nessa obra de Eça.Basílio é mais um tipo do que, propriamente, uma pessoa, como ocorre com Luísa e a maioria dos personagens. Ele mostra a sua irresponsabilidade, o cinismo, a mania de grandeza, de ser superior a tudo e a todos, mantendo uma relação de uso com as mulheres e com o país. É um janota, um almofadinha, um homem classificado como maroto e sem paixão, que não apresenta justificação para sua tirania, já que o que deseja é apenas e tão-somente uma aventura, o amor de graça, como diz o escritor Teófilo Braga.Jorge é marcado por uma personalidade pacata. É manso, dividindo-se entre seu papel de homem casado e o de engenheiro, diante da sociedade, e aquilo que sente de verdade, no fundo de si mesmo. Isso justifica sua truculência radical ao exprimir sua primeira opinião a respeito do adultério, sua aversão à vida desregrada que Leopoldina leva, sua cobrança, em relação à carta de Basílio, apesar de Luísa se encontrar extremamente adoentada. Por outro lado, ele muda de opinião e perdoa Luísa, devido ao desespero, pois não deseja vê-la partir desta vida.Esses personagens típicos da média burguesia lisboeta somam-se a alguns personagens secun­dários. O Conselheiro Acácio caracteriza-se, de acordo com Eça, pelo formalismo oficial e representa o covencionalismo bem-sucedido, o vazio ou vacuidade premiada, na exata proporção em que carrega, além do título de Conselheiro, obtido por uma carta régia, também a nomeação de Cavaleiro da Ordem de São Tiago, justamente por todas as obras sem utilidade e supérfluas escritas por ele, como a "Des­crição das principais cidades do reino e seus estabelecimentos". Já Dona Felicidade é a imagem de beatice boba, com seu temperamento irritadiço. Ernestinho retrata o azedume do descontentamento; Julião Zuzarte, às vezes, é até um bom rapaz. Sebastião, contudo, é considerado dono da força de um ginasta e da resignação de um mártir.Outra marca naturalista de "O Primo Basílio" é a presença das classes socialmente inferiores, com sua aversão devastadora aos mais abastados. Aparecem Paula, o patriota, que detesta padres e mulheres, a carvoeira que é imunda e disforme de obesidade e prenhez, as estanqueiras, que têm um carão viúvo, personagens que servem de exemplo da vizinhança que cerca Luísa e Basílio. Além desses, temos a figura de Tia Vitória, que é uma ex-incul­cadeira ou ex-alcoviteira, profissional na arte de orientar criados contra patrões. Empresta dinheiro aos que estão desempregados, guarda as economias daqueles que as têm, providencia que sejam escritas correspondências amorosas, para as domésticas que não estudaram, vende vestidos de segunda mão, aluga casacas, aconselha colocações, recebe confi­dências, dirige intrigas, entende de partos.São estes, como frequentadores da residência de Luísa e Jorge, personagens secundários apresen­tados com traços de grande força naturalista. A expressão máxima deles, contudo, reside em Juliana, que mostra o caráter mais completo e verdadeiro do livro, o mais íntegro, inteiro, de acordo com a opinião de Machado de Assis. Da forma como se destaca no desen­vol­vimento do enredo, ela termina por ter que ser considerada um dos perso­nagens principais, embora tal análise fuja da postura realista - uma empregada doméstica ser considerada personagem de maior importância na história.Sintetizando os traços mais marcantes de Juliana Couceiro Taveira, devemos começar pelo seu suplício de estar servindo há mais de vinte anos, sem que se acostume a fazê-lo; não nasceu para servir e, sim, para ser servida. Passa do azedume, do gênio embezerrado, para as desconfianças, a maldade, o ódio irracional e pueril pelas patroas para as quais trabalha, rogando-lhes pragas. Costuma cantar a "Carta da Adorada" e usar a expressão "récua de cabras", quando se entristecia.Juliana é invejosa, curiosa, gulosa, e encontra, em casa de Jorge e Luísa, o grande segredo de que sempre precisou. Apossando-se dele, desforra na "piorrinha" - é assim que chama Luísa, ironicamente, toda a mágoa que acumulara no decorrer dos anos, inclusive a de ter conservado sua virgindade, a qual ela comparava com a "devassidão da bêbeda". A empregada tem um vício, que é o de trazer o pé sempre muito bonito, enfeitando-o com botinas e expondo-as no Passeio Público.Essa personagem, enfim, é um claro exemplo da utilização do estilo naturalista bem-sucedido no livro, opondo-se à inconsistência de Luísa e de todos os outros personagens, que são excessi­vamente caricatos, modelares, exemplos sumários das teses da literatura do Naturalismo.O foco narrativo aparece em terceira pessoa, e revela um narrador onisciente. Percebemos sua postura irônica, crítica, reforçando defeitos e vícios de certos personagens, o que não permite que seja imparcial.O tempo é cronológico, com uma sequência praticamente linear. Surgem quebras, quando Luísa recorda o passado, passando pelo namoro com Basílio e o casamento com Jorge, ou quando o passado de Juliana é revelado pelo narrador aos leitores, a fim de que estes possam compreender melhor a revolta dela.O espaço está concentrado em Lisboa. Os males que desagregam a sociedade são mostrados no romance. Surgem a decadência moral, a ociosidade, o relacionamento de superfície, o uso das aparências e das convenções, o tédio disfarçado pela aventura, os abusos da sexualidade, a hipocrisia, e assim por diante.

Veja também:

  • Síntese
  • Personagens
  • Teste seus conhecimentos

Qual excerto representa melhor a desmistificação do amor romântico

(UFSCAR)INSTRUÇÃO: Leia o texto e responda as questões de números 1 e 2.

 (…) Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada — erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. (…) (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas.)

Uma das principais características da obra de Guimarães Rosa é sua linguagem artificiosamente inventada, barroca até certo ponto, mas instrumento adequado para sua narração, na qual o sertão acaba universalizado.

1) Transcreva um trecho do texto apresentado, onde esse tipo de “invenção” ocorre.

2) Transcreva um trecho em que a sintaxe utilizada por Rosa configura uma variação linguística que contraria o registro prescrito pela língua padrão.

RESPOSTAS:

1.)Nesse pequeno fragmento de Grande Sertão: Veredas o narrador faz uma reflexão sobre a necessidade da existência de Deus. O registro marcadamente roseano aparece em: “Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos.” A linguagem artificiosamente inventada aparece na concordância ideológica “  a gente perdidos” na grafia vai-vem no lugar oficial vaivém em na construção, “ é todos” no lugar de são todos.

2.) “é todos contra os acasos.” No registro prescrito pela língua padrão, deveria ser: são todos contra os acasos.

3.(PUC-RS) Responder à questão com base o excerto a seguir, de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).

Um dia, sem dizer o que a quem, montei a cavalo e saí, a vão, escapado. Arte que eu caçava outra gente, diferente. E marchei duas léguas. O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. Eu tocava seguindo por trilhos de vacas. Atravessei um ribeirão verde, com os umbuzeiros e ingazeiros debruçados – e ali era vau de gado. “Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago…” – foi o que pensei, na ocasião. De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de-motivo; que, quando notei que estava com dor de cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha era daquilo, isso até me serviu de bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia. O tanto assim, que até um Corguinho que defrontei – um riachim à-toa de branquinho – olhou para mim e me disse: – Não… – e eu tive que obedecer a ele. (…) Mas o demônio não existe real. Deus é que deixa se afinar à vontade o instrumento, até que chegue a hora de se dançar. Travessia, Deus no meio. Quando foi que eu tive minha culpa? Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente. O senhor me acusa? Defini o alvará do Hermógenes, referi minha má cedência. Mas minha padroeira é a Virgem, por orvalho.

Nesse excerto,

( ) o sertão é apresentado como sinônimo de solidão, devido à vastidão de um mundo onde se marcham léguas à procura de alguém.

( ) perante as travessias e as larguezas do chapadão, o sertão está localizado na interioridade e na subjetividade humanas.

( ) o autor demonstra a força inovadora de uma transfiguração estilística que busca potencializar o léxico próprio e o falar sertanejo.

( ) não existem temáticas místicas e religiosas associadas às manifestações da natureza do sertão.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a) V – F – F – F

b) F – F – V – V

c) V – V – F – V

d) V – V – V – F

e) F – F – V – F

4. (UFPE) OBSERVE:“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí vieram me chamar. Causa de um bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram: eu não quis avistar.”(Guimarães Rosa / GRANDE SERTÃO, VEREDAS)O texto anterior, apesar de curto, contém muitas características do estilo do autor, entre as quais:( ) Explora o chamado Superregionalismo (dentro do Modernismo) que ampliava e transformava as características do homem do interior.( ) Seu universo ficcional é dos senhores de terra aristocráticos, dominados por conceitos arcaicos, e dos capitalistas do litoral, ambos expressos em linguagem convencional.( ) Seguindo o modelo de José Lins do Rego, o linguajar de seus personagens copiava o dos sertanejos, sem modificações, imobilizado no tempo, como uma cópia fiel da realidade.( ) O texto utiliza arcaísmos, metáforas, neologismos, além de construções sintáticas inovadoras com inversões e apagamentos.( ) Apesar das inovações, o texto conserva o tom coloquial, isto é, o tom de conversa da gente do interior, numa imitação da fala.

RESPOSTA:V F F V V

5. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com o narrador, o diabo:

a) vive preferencialmente nas crianças, livre e fazendo as suas traquinagens.b) é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.c) só existe na mente das pessoas que nele acreditam, perturbando-as mesmo sem existir concretamente.

d) não existe como entidade autônoma, antes reflete os piores estados emocionais do ser humano.


e) é uma condição humana e não está relacionado com as coisas da natureza.

6. (ENEM ) “Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não… — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar… […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. […] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. […] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.” ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador

a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.

b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.

c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.

d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.

e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

7. (IBMEC) Utilize o texto a seguir para responder ao teste.

Amor e morte

“Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair.Eu fiquei. E a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal-entendia.Não me mostrou de propósito o corpo. E disse…Diadorim — nu de tudo. E ela disse:— ‘A Deus dada. Pobrezinha…’E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor — e mercê peço: — mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita… estarreci. A dor não pode mais do que a surpresa.A coice d’arma, de coronha…Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; e levantei mão para me benzer — mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável; abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca.Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata… Cabelos que, no só ser, haviam de dar para abaixo da cintura… E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:— ‘Meu amor!…’Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo.A Mulher lavou o corpo, que revestiu com a melhor peça de roupa que ela tirou da trouxa dela mesma. No peito, entre as mãos postas, ainda depositou o cordão com o escapulário que tinha sido meu, e um rosário, de coquinhos de ouricuri e contas de lágrimas-de-nossa-senhora. Só faltou — ah! — a pedra-de-ametista, tanto trazida…O Quipes veio, com as velas, que acendemos em quadral. Essas coisas se passavam perto de mim. Como tinham ido abrir a cova, cristãmente. Pelo repugnar e revoltar, primeiro eu quis: — ‘Enterrem separado dos outros, num aliso de vereda, adonde ninguém ache, nunca se saiba… ’ Tal que disse, doidava. Recaí no marcar do sofrer. Em real me vi, que com a Mulher junto abraçado, nós dois chorávamos extenso. E todos meus jagunços decididos choravam… Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão.Ela tinha amor em mim.

E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi.” (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986, p. 530-1)

O texto nos apresenta um suposto interlocutor que nunca toma a palavra. A conversa de Riobaldo com o tal interlocutor revela que:

a) De fato o narrador fez um pacto com o diabo e o “diálogo vazio” era consequência deste ato.
b) Para Riobaldo servia como reflexão em voz alta sobre os mistérios da condição humana.c) A carência do jagunço era tamanha que, em vários momentos, ele desanda a falar como se fosse uma ameaça à própria existência.d) É um recurso estilístico muitíssimo utilizado, servindo para o autor como desabafo perante tanta dor e tanta miséria.

e) É recurso característico dos textos dissertativos já que o que se busca é o fundamento para a argumentação.

8. (PUCC-SP) “Sertão. Sabe o senhor: o sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.” Pelo fragmento acima, de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, percebemos que neste romance, como em outros textos regionalistas do autor:

a)o conflito entre o eu e o mundo se realiza pela interação entre as personagens e o sertão, que acaba por ser mítico e metafísico.

b) o sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes sofrem as agressões do meio hostil e adverso à sobrevivência humana.

c) não existe uma região a que geograficamente se possa chamar “sertão”: ela é fruto da projeção do inconsciente das personagens.

d) a periculosidade da vida das personagens está circunscrita ao meio físico e social em que vivem.

e) há um conceito muito restrito de sertão, reduzido a palco de luta entre bandos de jagunços.

9. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

A personagem Riobaldo dialoga com alguém que chama de senhor. Embora a fala dessa personagem não apareça, é possível recuperar, pela fala do narrador, os momentos em que seu interlocutor se manifesta verbalmente. Isso pode ser comprovado pelo trecho:

a) O senhor aprova?b) Nenhum! — é o que digo.

c) Não? Lhe agradeço!

d) Tem diabo nenhum.

e) Até: nas crianças — eu digo.

10. (UFRS) O personagem Riobaldo, de GRANDE SERTÃO: VEREDAS,a) tem péssima pontaria, e por isso prefere lutar à faca com seus inimigos, alcançando fama de degolador cruel e inclemente.b) desnuda sua sensibilidade feminina passo a passo, a partir da descoberta da atração física pelos outros jagunços.

c) indaga-se a fundo para saber se o pacto que fez com o Diabo tem valor ou não e se as guerras e os sofrimentos humanos têm origem na intervenção do Demônio.

d) ao derrotar Joca Ramiro e Medeiro Vaz, ganha a inimizade de Zé Bebelo, aliado dos dois anteriores e sócio de Hermógenes.e) para ser reconhecido como líder pelos jagunços, é forçado a lutar com seu melhor amigo, apesar de saber que Diadorim tem uma reza que lhe dá corpo fechado.

11. (ENEM) O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. ROSA. J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a)

a) diário, por trazer lembranças pessoais.

b) fábula, por apresentar uma lição de moral.

c) notícia, por informar sobre um acontecimento.

d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.

e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano.

12.(F. CARLOS CHAGAS-SP) Em Grande sertão: veredas, de Guimarães rosa, ergue-se como presença dominadora a terra bruta dos confins de Minas Gerais; as personagens figuram o Homem endurecido pela rude lida do sertão; e o enredo é a Luta épica entre grupos de jagunços. Esses três elementos estruturais lembram uma semelhança básica com:

a)O sertão, de Coelho Neto.

b) Canaã, de Graça Aranha.

c) Os caboclos, de Waldomiro Silveira.

d) Urupês, de Monteiro Lobato.

e) Os sertões, de Euclides da Cunha.

13. (UFMG) É CORRETO afirmar que, entre os elementos que evidenciam a presença de intertextualidade na composição de “Grande sertão: veredas”, NÃO se incluia) o caso de Maria Mutema e Padre Ponte.

b) a lembrança recorrente da toada de Siruiz.

c) o relato do assassinato do chefe Zé Bebelo.d) a narração do pacto de Riobaldo com o diabo.

14. (UC-BA) “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido, desgovernado. Assim eu acho, assim eu conto (…). Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.

O trecho acima, de Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, esclarece um dos aspectos do tratamento dado ao tempo nessa obra. Assinale a alternativa em que se explicita esse tratamento.

a)narrador alterna o relato de fatos importantes do passado com a narração de pequenos episódios mais recentes.

b)A ordem cronológica da narrativa vai conferindo aos fatos relatados a importância real que tiveram no passado.

c) A narrativa constrói-se a partir de um tempo reestruturado pela memória, em que os acontecimentos se classificam segundo uma ordem de importância subjetiva.

d) relato dos acontecimentos não é feito em ordem cronológica, porque, se o fosse, ficaria falseada a importância dos fatos narrados, visto que a memória é mentirosa.

e) tempo da narrativa confunde na memória os acontecimentos significativos com aqueles que têm importância menor

15. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar de escrita, denunciada pelos recursos linguísticos empregados pelo escritor. Dentre as características do texto, está:

a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador, e o da linguagem regional, na voz da personagem.
b) a recriação da fala regional no vocabulário, na sintaxe e na melodia da frase.c) o emprego da linguagem regional predominantemente no campo do vocabulário.d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do sertanejo.

e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas com novas construções sintáticas e rítmicas

16. (PUCCAMP) “O romance é narrado na primeira pessoa, em monólogo ininterrupto, por um velho fazendeiro do Norte de Minas, antigo jagunço. Na estrutura do livro, os fatos são transpostos para uma atmosfera lendária e o real se cruza com o fantástico.”

As afirmações acima referem-se à obra-prima de um grande escritor brasileiro moderno:

a)Saragana, de João Guimarães Rosa.

b) Cangaceiros, de José Lins do Rego.

c) Menino do Engenho, de José Lins do Rego.

d) Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.

e) Tempo e o Vento, de Erico Verissimo.

17.(UFMG) Considerando-se a narração do julgamento de Zé Bebelo, em “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, é CORRETO afirmar que esse fato
a) significou a chegada de nova ordem jurídica ao sertão.b) aumentou o poder dos grandes chefes de jagunços.c) representou a continuidade do mando de Joca Ramiro.d) legitimou o princípio da vingança e o uso da violência.18.(MACKENZIE) “O jagunço Riobaldo conta sua vida nos campos gerais, onde tem destaque seu amor por Diadorim. A história seque o ritmo dos romances de cavalaria, fugindo aos padrões do realismo. O livro é uma sucessão de frases evocativas de Riobaldo, numa cronologia própria, frases curtas em que as palavras, frequentemente, aparecem em ordem inversa.”O trecho acima refere-se a:a) “São Bernardo”.b) “Fogo Morto”.c) “A Bagaceira”.

d) “Grande Sertão: Veredas”.


e) “Angústia”.

19. (UFVJM) O narrador do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é

a) Zé Bebelo.

b) Diadorim.

c) Riobaldo.

d) João Concliz.


20. (ESPM) Leia o texto:

“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! —me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.” (Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa)

Marque a afirmação que NÃO corresponde:

a) trata-se de uma narrativa oral, perceptível pelo uso de vocativos como “senhor” e “moço”.b) Deus age sutilmente (“lei do mansinho”), enquanto o diabo o faz de maneira escancarada (“às brutas”)c) na vida, tudo flui incessantemente, nada é estático: “as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas”.d) o milagre resulta do inesperado, do modo contido (“se economiza”), e não do espalhafatoso.

e) o termo “traiçoeiro” atribuído a Deus possui um sentido pejorativo, depreciativo.

21. (UFRS) Leia o trecho abaixo de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.“-Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas… Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão.”Assinale a afirmativa correta em relação ao trecho.

a) “Nonada” remete a uma situação anterior, pressuposta no início do romance, sobre a qual o narrador e o ouvinte estariam conversando.

b) As palavras do narrador indicam que o “senhor” compreendeu adequadamente o ocorrido.c) A interpretação do interlocutor sobre os tiros está equivocada, pois aquilo que ele pensou não poderia ocorrer no sertão.d) O aparecimento do bezerro com máscara de cachorro não causa estranhamento entre os sertanejos.e) Para o narrador, os tiros sempre indicam que houve morte de homens.

22. (UCSAL-BA) A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido, desgovernado. Assim eu acho, assim eu conto […]. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.

O trecho anterior, de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, esclarece um dos aspectos do tratamento dado ao tempo nessa obra. Assinale a alternativa em que se explicita esse tratamento.

a) O narrador alterna relatos de fatos importantes do passado com a narração de pequenos episódios mais recentes.

b) A ordem cronológica da narrativa vai conferindo aos fatos relatados a importância real que tiveram no passado.

c) A narrativa constrói-se a partir de um tempo reestruturado pela memória, em que os acontecimentos se classificam segundo uma ordem de importância subjetiva.

d) O relato dos acontecimentos não é feito em ordem cronológica, porque, se o fosse, ficaria falseada a importância dos fatos narrados, visto que a memória é mentirosa.

e) O tempo da narrativa confunde na memória os acontecimentos significativos com aqueles que tem importância menor.

23. (UEL) Enquanto o Brasil modernizava-se e industrializava-se, nos anos do chamado “desenvolvimentismo”, este romance – sem abrir mão de uma linguagem revolucionariamente moderna – mergulhou fundo tanto nas experiências concretas quanto no imaginário dos homens rústicos de uma região até então pouco representada em nossa literatura.

O período acima refere-se a

a) GABRIELA, CRAVO E CANELA.

b) GRANDE SERTÃO: VEREDAS.

c) MACUNAÍMA.

 d) OS SERTÕES.

e) USINA.

24.

(UFRS) Leia os trechos abaixo, extraídos do romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa.1. “O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam.”2. “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. […] Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro.”3. “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.”4. “Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.”5. “[…] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de quer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.”Associe adequadamente as seis afirmações abaixo com os cinco fragmentos transcritos acima.( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor imposto pelo destino.( ) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar.( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente.( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana.( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos.( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pacto, pode assumir várias formas, como as de animais.A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, éa) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3.

b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2.

c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4.d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1.e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2.25. (UFRS) GRANDE SERTÃO: VEREDAS rompe com a narrativa conhecida como Romance de 30 e estabelece um novo padrão para a narrativa longa brasileira. Entretanto, a obra de Guimarães Rosa NÃO rompe com

a) a ambientação preferencialmente rural.

b) o foco narrativo na terceira pessoa.c) a crítica ao latifúndio.d) a denúncia social.e) a linguagem enxuta e discreta.

26.(IELUSC) Texto para a próxima questão:

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar, dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. (Guimarães Rosa)

O texto é um fragmento de Grande sertão: veredas (1956), único romance de Guimarães Rosa. Sobre esta grandiosa obra, assinale a alternativa CORRETA.

a) Trata-se de uma história em que o autor fala da vida dos cangaceiros, “os errantes sem eira nem beira”, que sofriam com o calor das matas amazônicas.
b) É uma história apresentada como um imenso monólogo em que Riobaldo, ex-jagunço do norte de Minas e agora pacato fazendeiro, conta os casos que viveu a um compadre.c) Conta a saga de Severino, um retirante que atravessa o sertão de Pernambuco em busca de uma vida mais digna.d) Narra a história de amor entre Gabriela e Nacib, tendo os traços exóticos da região de Ilhéus como cenário.

e) Valendo-se do realismo fantástico em sua segunda parte, traz, como personagens centrais, mortos que ressuscitam para denunciar a corrupção dos vivos.

27. (PUC-PR) Em ” Grande Sertão: Veredas”, o jagunço Riobaldo, que é o narrador da história, já no início da narrativa, se autocensura: “Ai, arre, que esta minha boca não tem ordem nenhuma. Estou contando fora, coisas divagadas”. (GSV, p.19).Este modo de mostrar os bastidores da narração identifica uma das características da narrativa contemporânea.Escolha a alternativa que identifica esta característica.a) A ordem da narração está fora da vontade do narrador.b) Não importa quando os fatos narrados acontecem, e, sim, seu significado.c) O narrador é sempre um personagem confuso e dominado pelos fatos narrados.

d) A ordem da narração deixou de ser linear, isto é, dos fatos mais antigos para os mais recentes.


e) O romance emprega palavras de gíria, porque o narrador é um homem inculto.

28. (UFRS) Leia os trechos abaixo, extraídos do romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa.1. “O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam.”2. “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. […] Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro.”3. “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.”4. “Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.”5. “[…] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de quer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.”Associe adequadamente as seis afirmações abaixo com os cinco fragmentos transcritos acima.( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor imposto pelo destino.( ) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar.( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente.( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana.( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos.( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pacto, pode assumir várias formas, como as de animais.A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, éa) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3.

b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2.

c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4.d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1.e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2.

29. (FATEC) “Diadorim me pôs o rastro dele para sempre em todas essas quisquilhas da natureza. Sei como sei. Som com os sapos sorumbavam.

Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria boca; mas era um delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida.”

Assinale a alternativa que apresente, respectivamente: narrador-personagem, obra e autor do texto acima.

a)Macunaíma – Macunaíma – Mário de Andrade;

b) Macabea – A Hora da Estrela – Clarice Lispector;

c) Sofia – Quincas Borba – Machado de Assis.

d) Riobaldo – Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa.

e) Iracema – Iracema – José de Alencar.

30. (UFVJM) Leia este trecho.

Hem? Hem? Ah. Figuração minha, de pior pra trás, as certas lembranças. Mal haja-me! Sofro pena de contar não… Melhor, se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu uma estranhez? A mandioca-doce pode de repente virar azangada – motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas – vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. P. 27

Com base nesse trecho, pode-se afirmar que Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é marcado

a) pela riqueza da oralidade;

b) pela escassez da linguagem oral;

c) pela pobreza da variação linguística;

d) pelo preconceito contra as variações linguísticas.

31. (UNILAVRAS) Com relação à obra Grande Sertão: veredas, de João Guimarães, podemos afirmar:

I- O personagem principal, Riobaldo, é um exjagunço do norte de Minas que gasta seu tempo com conversas com as pessoas que passam pelo local.II- Riobaldo, o personagem-narrador conta sua vida, numa espécie de monólogo ininterrupto, a um interlocutor que jamais tem a palavra.

III- O narrador-personagem, apesar de ter pertencido à plebe rural e ter aderido à jagunçagem, recebeu educação formal, o que justifica o caráter metafísico de seu discurso.

a) Apenas a alternativa I está correta.b) Apenas a alternativa II está correta.c) Apenas a alternativa III está correta.d) Estão corretas apenas as alternativas II e III.

e) Todas as alternativas estão corretas.

32. (UFVJM) A respeito do enredo de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é correto afirmar que

a) Diadorim, Urutu-Branco e Tatarana são irmãos.

b) Riobaldo e Diadorim tentam vingar a morte de Joca Ramiro.

c) O Diabo, na verdade, é um ex-jagunço que narra sua história.

d) Joca Ramiro é um sacerdote católico mineiro que aconselha os jagunços.

33.(UFPR) Leia trecho de Grande sertão: veredas.

“Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as quase iguais…” E me cerro, aqui, mire e veja. Isto não é o de um relatar passagens de sua vida, em toda admiração. Conto o que fui e vi, no levantar do dia. Auroras. Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui quase barranqueiro. Para a velhice vou, com ordem e trabalho. Sei de mim? Cumpro. O Rio de São Francisco – que de tão grande se comparece – parece um pau grosso, em pé, enorme… Amável o senhor me ouviu, minha ideia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.

O texto apresenta

a) o início da narrativa, revelando a precaução que o narrador tem ao referir-se ao Diabo, preferindo negar-lhe a existência.

b) a conclusão da narrativa, na qual o narrador mostra que, mais do que questionar a existência do Diabo, é necessário conhecer a natureza humana.

c) os entremeios da narrativa, mostrando a forma agressiva como o narrador se põe a falar da existência do Diabo.

d) o início da narrativa, enfatizando que o Diabo não existe, pois o narrador teme que seu interlocutor se sinta ofendido.

e) a conclusão da narrativa, revelando que o narrador, ao contrário do que pensa seu interlocutor, acredita mesmo no Diabo.

34.(ENEM) A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por:

Qual excerto representa melhor a desmistificação do amor romântico

a) romper com a linearidade das ações da narrativa literária.    

b) ilustrar de modo fidedigno passagens representativas da história.    

c) articular a tensão do romance à desproporcionalidade das formas.    

d) potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das artes visuais.    

e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição.    

35. (IBMEC) Utilize o texto a seguir para responder ao teste.

Amor e morte

“Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair.Eu fiquei. E a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal- entendia. Não me mostrou de propósito o corpo. E disse…Diadorim — nu de tudo. E ela disse:— ‘A Deus dada. Pobrezinha…’E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor — e mercê peço: — mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita… estarreci. A dor não pode mais do que a surpresa.A coice d’arma, de coronha…Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; e levantei mão para me benzer — mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável; abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca.Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata… Cabelos que, no só ser, haviam de dar para abaixo da cintura… E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:— ‘Meu amor!…’Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo.A Mulher lavou o corpo, que revestiu com a melhor peça de roupa que ela tirou da trouxa dela mesma. No peito, entre as mãos postas, ainda depositou o cordão com o escapulário que tinha sido meu, e um rosário, de coquinhos de ouricuri e contas de lágrimas-de-nossa- senhora. Só faltou — ah! — a pedra-de-ametista, tanto trazida…O Quipes veio, com as velas, que acendemos em quadral. Essas coisas se passavam perto de mim. Como tinham ido abrir a cova, cristãmente. Pelo repugnar e revoltar, primeiro eu quis: — ‘Enterrem separado dos outros, num aliso de vereda, adonde ninguém ache, nunca se saiba … ’ Tal que disse, doidava. Recaí no marcar do sofrer. Em real me vi, que com a Mulher junto abraçado, nós dois chorávamos extenso. E todos meus jagunços decididos choravam… Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão.Ela tinha amor em mim.

E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi.” (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986, p. 530-1)

A que verdade Riobaldo, o narrador, se refere?

a) Ao fato de que Diadorim andava disfarçada porque não correspondia ao sentimento que Riobaldo nutria por ela.b) Ao fato de tanto terem lutado e, mesmo assim, perderem a luta pela posse e domínio das terras do lugar.c) Ao misticismo que acompanhava Diadorim. Tanto é que se fez enterrar com escapulário, rosário e pedra de ametista.d) Ao iminente fim do bando a partir da morte de Diadorim que era comandante da tropa.

e) Ao fato de que ele se sentia totalmente atraído por Diadorim, mesmo antes de saber que ela era mulher.

36. (UFPE) “Moço: Toda saudade é uma espécie de velhice”.“Amar é reconhecer-se incompleto”.“Viver é muito perigoso”.(Guimarães Rosa)As frases acima são de autoria de Guimarães Rosa. Sobre esse autor, podemos afirmar que:( ) fez parte da geração de 45, cujo diferencial foi a expansão do regionalismo, um regionalismo universal e cósmico.( ) em suas narrativas, retrata o sertão das Gerais, e a gente que lá vive: matutos, vaqueiros, crianças, velhos, feiticeiros e loucos, sem priorizar questões regionais.( ) como se vê nas frases acima, a sua linguagem incorpora o falar coloquial dos sertanejos, com o uso de aforismos.( ) não conseguiu atingir o objetivo de renovação da linguagem literária, tendo sua obra um caráter passadista e pouco inovador.( ) no conjunto de sua obra, destacam-se “Sagarana”, seu livro de estreia, “Corpo de Baile”, “Tutaméia” e um único romance, considerado sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas”.

RESPOSTA:V V V F V

37. (PUCC-SP) Guimarães Rosa – numa linguagem em que a palavra é valorizada não só pelo seu significado, como também pelos seus sons e formas – tomou um tipo humano tradicional em nossa ficção, o jagunço, e transportou-o, além do documento, até a esfera onde os tipos literários passam a representar os problemas comuns da nossa humanidade.

Exemplifica as palavras acima o trecho de Guimarães Rosa:

a) “O chefe disse: me traga esse homem vivo, seu Getúlio. Quero o bicho vivão aqui e, pulando. O homem era valente, quis combate, mas a subaqueira dele anganchou a arma, de sorte que foi o fim dele. Uma parabelada no focinho, passarinhou aqui e ali e parou.”

b) “À sua audácia e atrocidade deve seu renome este herói legendário para o qual não achamos par nas crônicas provinciais. Durante muitos anos, ouvindo suas mães ou suas aias cantarem as trovas comemorativas da vida e morte desse como Cid, ou Robin Hood pernambucano, os meninos tomados de pavor adormeceram mais depressa do que se lhes contassem as proezas do lobisomem ou a história do negro do surrão muito em voga entre o povo naqueles tempos.”

c) “João Miguel sentiu na mão que empunhava a faca a sensação fofa de quem fura um embrulho. O homem, ferido no ventre, caiu de borco, e de sob ele um sangue grosso começou a escorrer sem parar, num riacho vermelho e morno, formando poças encarnadas nas anfractuosidades do ladrilho.”

d) “Qu’é que me acuava? Agora, eu velho, vejo: quando cogito, quando relembro, conheço que naquele tempo eu girava leve demais, e assoprado. Deus deixou. Deus é urgente sem pressa. O sertão é dele. Eh! – o que o senhor quer indagar, eu sei. Porque o senhor está pensando alto, em quantidades. Eh. Do demo?”

e) “O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para seu velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia momentos de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros. E assim o combate continuou madrugada adentro. O dia raiava quando lhe vieram bater à porta. Foi abrir. Era um oficial dos farrapos cuja barba negra contrastava com a palidez esverdinhada do rosto.”

38. — Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.

*Nonada: pode-se traduzir o significado de “nonada” como se o signo fosse um nome: “o nada”, “coisa alguma”; como um pronome substantivo: “nada”; como um advérbio: “em lugar algum”, “em parte alguma”, “no nada”; como uma predicação: “algo não é coisa alguma”, “isso é nada”, “algo é no nada”, “algo é nada”.

Acompanhado dos chefes-de-turma ― que ele dava patente de serem seus sotenentes e oficiais de seu terço ― Zé Bebelo, montado num formudo ruço-pombo e com um chapéu distintíssimo na cabeça, repassava daqui p’r’ali, eguando bem, vistoriava.

*Formudo: formudo = formoso + sufixo de grau 3 aumentativo de adjetivo –udo.

Os fragmentos que você leu acima fazem parte do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. A partir da leitura dos trechos, é possível observar uma grande característica da linguagem desse escritor:

a) uso constante de figuras de sintaxe.

b) emprego de empréstimos linguísticos.

c) uso constante de figuras de linguagem.

d) gosto pelos neologismos semânticos e sintáticos.

39. (UFMG) É CORRETO afirmar que, entre os elementos que evidenciam a presença de intertextualidade na composição de Grande sertão: veredas, NÃO se inclui:

a) o caso de Maria Mutema e Padre Ponte.b) a lembrança recorrente da toada de Siruiz.

c) o relato do assassinato do chefe Zé Bebelo.


d) a narração do pacto de Riobaldo com o diabo.

40. (UNB) Tomando o tempo da gente, os soldados remexiam este mundo todo. Milho crescia em roças, sabiá deu cria, gameleira pingou frutinhas, o pequi amadurecia no pequizeiro e a cair no chão, veio veranico, pitanga e caju nos campos. Até que voltaram as tempestades, mas entre aquelas noites de estrelaria se encostando. Daí, depois, o vento principiou a entortar rumo, mais forte — porque o tempo todo das águas estava no se acabar. João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas, 19.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 319.

A partir da leitura desse fragmento da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, julgue os itens a seguir.

55 O narrador atesta o passar do tempo por meio de uma ordenação de eventos naturais segundo a sucessão temporal desses eventos.

56 Esse fragmento de texto descreve efeitos de uma característica climática: a sazonalidade das chuvas, que se verifica, por exemplo, nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.

RESPOSTAS: C, C41.(UFAM) Leia o trecho abaixo, extraído de famoso romance brasileiro:

“Aprovaram, os todos, todos. Até Zé Bebelo mesmo. Assim Joca Ramiro refalou, normal, seguro de sua estança, por mais se impor, uma fala que ele drede avagarava. Dito disse que ali, sumetido diante, só estava um inimigo vencido em combates, e que agora ia receber continuação de seu destino. Julgamento, já. Ele mesmo, Joca Ramiro, como de lei, deixava para dar opinião no fim, baixar sentença. Agora, quem quisesse, podia referir acusação, dos crimes que houvesse, de todas as ações de Zé Bebelo, seus motivos; e propor condena.”

Pela linguagem em que está escrito e pelo nome de dois dos personagens, refere-se o trecho ao romance:

a) Grande sertão: veredas

b) O quinze

c) O tempo e o vento

d) São Bernardo

e) Vidas secas

42. (MACKENZIE-SP)“O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — ‘Diadorim, meu amor…’ Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas — como quando a chuva entre-onde-os-campos.”

Assinale a afirmação INCORRETA sobre a obra da qual se extraiu o fragmento acima.

a) Retrata determinada região do sertão brasileiro e também tematiza questões universais.

b) Apresenta a travessia do sertão como metáfora da travessia da vida.

c) Atribui novos sentidos a palavras usuais.

d) Reproduz com fidelidade o linguajar do sertão mineiro.

e) Explora recursos comuns à poesia, tais como o ritmo, as aliterações, as metáforas.

43. (UFMG) Assinale a alternativa em que o trecho transcrito NÃO apresenta a descrição de um espaço narrativo.a) Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas por costa; traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras delas vermelhas e delas brancas e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. (“Carta”)

b) Cabralhada. Tiba. De boa entrada, ao que me gasturei, no vendo. Aqueles eram mais de cento e meio, sofreu dos, que todos curtidos no jagunçar, rafaméia, mera gente. Azombado, que primeiro até fiquei, mas daí quis assuntação, achei, a meu cômodo. Assim, isto é, me acostumei com meio-só meu coração, naquele arranchamento. (“Grande sertão: veredas”)

c) O zaino galopava e Rodrigo aspirava com força o ar, que cheirava a capim e distância. Quero-queros voaram, perto, guinchando. Longe, uma avestruz corria, descendo uma coxilha. O capitão começou a gritar um grito sincopado e estrídulo, bem como faziam os carreiristas no auge da corrida. (“Um certo capitão Rodrigo”)d) Chovia a cântaros. Os medonhos trovões do Amazonas atroavam os ares; de minuto em minuto relâmpagos rasgavam o céu. O rapaz corria. Os galhos úmidos das árvores batiam-lhe no rosto. Os seus pés enterravam-se nas folhas molhadas que tapetavam o solo. De quando em quando, ouvia o ruído da queda das árvores feridas pelo raio ou derrubadas pelo vento, e cada vez mais perto o uivo de uma onça faminta. (“Contos amazônicos”)

44. (UFPR) A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:

a)continua o regionalismo dos fins do século passado, sem grandes inovações.

b) exprime problemas humanos, em estilo próprio, baseado na contribuição linguística regional.

c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na tentativa de documentar a realidade brasileira.

d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.

e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição de Alencar

45. (UFRGS) Leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, abaixo. Essas coisas todas se passaram tempos depois. Talhei de avanço, em minha história. O senhor tolere minhas más devassas no contar. É ignorância. Eu não converso com ninguém de fora, quase. Não sei contar direito. Aprendi um pouco foi com o compadre meu Quelemém; mas ele quer saber tudo diverso: quer não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa, a outra-coisa. Agora, neste dia nosso, com o senhor mesmo -me escutando com devoção assim -é que aos poucos vou indo aprendendo a contar corrigido. E para o dito volto. Como eu estava, com o senhor, no meio dos hermógenes. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o trecho.

( ) Riobaldo, narrador da história, tem consciência de que sua narrativa obedece ao fluxo da memória e não à cronologia dos fatos. 

( ) A ignorância de Riobaldo é expressa pelos erros gramaticais e pela inabilidade em contar sua história, que carece de ordenação.

( ) “A sobre-coisa, a outra-coisa”, que o compadre Quelemém quer, é a interpretação da própria vivência e não o simples relato dos acontecimentos.

( ) O ouvinte exerce um papel importante, pois obriga Riobaldo a organizar a narrativa e a dar significado ao narrado.

a) F – V – V – F.

b) V – F – V – V.

c) F – V – F – V.

d) V – V – F – V.

e) F – F – V – F.

46. (UFPE) Alguns clássicos da literatura brasileira da segunda metade do século XX já operavam um desvio no ideário do movimento regionalista de 1930. Leia os textos abaixo e analise os comentários a seguir.

beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães (…) o sertão está em toda a parte. (…) Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades (…) Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente.”(…)

Rebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos. Que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).

O casario, as cruzes, aves e árvores, vacas e cavalos, a estrada, os cata-ventos, nós levando Joana para o cemitério. Chapéus na mão, rostos duros, mãos ásperas, roupas de brim, alpercatas de couro, nós vamos conduzindo Joana para o cemitério, nós, os ninguéns da cidade, que sempre a ignoraram os outros, gente do dinheiro e do poder. Desapareceu a lua no horizonte. E todos viram ser a brancura do mundo apenas uma crosta, pele que se rompia, que se rompeu, desfez-se, revelou o esplendor e o sujo do arvoredo, do chão, a cor do mundo. Jambos, mangas-rosa, cajus, goiabas, romãs, tudo pendia dos ramos, era uma fartura, um pomar generoso e pesado de cheiros. Viveu seus anos com mansidão e justiça, humildade e firmeza, amor e comiseração. Morreu com mínimos bens e reduzidos amigos. Nunca de nunca a rapinagem alheia liberou ambições em seu espírito. Nunca o mal sofrido gerou em sua alma outras maldades. Morreu no fim do inverno. Nascerá outra igual na próxima estação?

(Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina).

“Uma vez por outra tinha a sorte de ouvir de madrugada um galo cantar a vida e ela se lembrava nostálgica do sertão. Onde caberia um galo a cocoricar naquelas paragens ressequidas de artigos por atacado de exportação e importação? (…) Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem

bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. Porque, porpior que fosse sua situação, não queria ser privada de si,ela queria ser ela mesma.”(Clarice Lispector, A hora da estrela).

0-0) Pela exploração literária do aspecto degradado de seus habitantes subdesenvolvidos, nos três trechos citados, fica clara a intenção de denúncia do cenário de miséria do sertão brasileiro.

1-1) Na obra de Guimarães Rosa, ao contrário da maioria dos escritores regionalistas brasileiros, o sertão é visto e vivido de uma maneira subjetiva, profunda, e não apenas como uma paisagem a ser descrita, ou como uma série de costumes que parecem pitorescos.

2-2) No conto Retábulo de Santa Joana Carolina, Osman Lins presta uma grandiosa homenagem à mulher simples e sofrida do sertão nordestino, sobrepondo a riqueza de sua sabedoria e a retidão de seu caráter à aparente miséria do contexto.

3-3) Em A hora da estrela, Clarice Lispector utiliza, em algumas passagens, uma terminologia típica da descrição dos cenários da seca nos romances regionalistas, para descrever a paisagem urbana onde vive a nordestina Macabéa.

4-4) Em todos os textos, o nordestino é valorizado em si, como ser humano que é, e não em função do aspecto do cenário em que se insere ou dos bens que acumula à sua volta.
RESPOSTA: FVVVV

47. (PU-CAMPINAS) A dificuldade inicial que encontra um leitor diante da linguagem de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, uma vez enfrentada e vencida, transforma-se em prazerosa revelação. Isso porque a linguagem desse grande criador

a) vive da exploração de saborosos mas antigos falares locais das províncias mineiras, inacessíveis para um leitor moderno.

b) arrisca tudo no experimentalismo linguístico, influenciada que foi pelas tendências da poesia de vanguarda das décadas de 50 e 60.

c) recupera, em grande parte, o vocabulário erudito de sua matriz ficcional que é o importante romance Os sertões, de Euclides da Cunha.

d) mistura características da linguagem da norma culta com casos de transgressão típicos da oralidade espontânea do falar urbano.

e) vale-se de uma linguagem para cuja criação concorrem tanto expressões de fala regional como operações de um código elaborado pelo gênio do autor.

(UFGD) Em relação à obra veredas, de Guimarães Rosa, responda às questões 48 e 49.

48. Nesse romance, os costumes sertanejos são retratados numa linguagem especial. Quanto a essa especificidade da linguagem, é correto afirmar que

a) a linguagem é literalmente aquela utilizada pelos sertanejos.

b) a linguagem é literariamente construída, mesclando neologismos, expressões poéticas e linguajar sertanejo.

c) a linguagem é científica, formal e se aproxima daquela utilizada na esfera acadêmica.

d) a linguagem é ininteligível, pois apresenta unicamente neologismos.

e) a linguagem é literalmente aquela utilizada pelos sertanejos que eram escravos alforriados.

49. Há, em veredas, o relato de uma bela história de amor, aparentemente impossível por conta de questões sócio-culturais. Sobre a impossibilidade desse amor, assinale a alternativa correta.

a) Riobaldo amava, em silêncio, Zé Bebelo, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão de gêneros.

b) Marcelino Pampa amava, em silêncio, Diadorim, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão étnica.

c) Zé Bebelo amava, em silêncio, Marcelino Pampa, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão religiosa.

d) Riobaldo amava, em silêncio, Diadorim, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão de gênero.

e) Diadorim amava, em silêncio, Marcelino Pampa, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão religiosa.

50. (UFAM) O fragmento a seguir é do texto de Euclides da Cunha, Os sertões, quando ele caracteriza o homem:

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. […] A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. […]”

Assinale a alternativa CORRETA:

a) A visão que o autor tem do sertanejo é alterada ao longo do livro, Os sertões, como se o autor passasse a ver melhor o homem.

b) Mesmo que não alcance o objetivo, o texto tenta seguir uma perspectiva cientificista.

c) A caracterização do sertanejo no fragmento segue o padrão romântico das descrições dos romances sertanejos.

d) Chamar o sertanejo de Hércules-Quasímodo é uma ironia.

e) Ao descrever a aparência do sertanejo, destacando-lhe os aspectos negativos, o autor corrobora a afirmação inicial do parágrafo.

(MACKENZIE) Textos para as questões de 51 e 52.

Texto I

Na paisagem do rio

difícil é saber

onde começa o rio;

onde a lama

começa do rio;

onde a terra

começa da lama;

onde o homem,

onde a pele

começa da lama;

onde começa o homem

naquele homem.

“O cão sem plumas”, João Cabral de Melo Neto

TEXTO II

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado

sertão é por os campos gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de

rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e

do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior. […]

Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é

questão de opiniães… O sertão está em toda a parte. Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa

51. Considerando o texto II, no contexto da obra do escritor, assinale a alternativa correta.

a) O diálogo entre o autor e o leitor – O senhor tolere, o senhor sabe … (linhas 01 e 05) – é traço estilístico de Guimarães Rosa, caracterizado essencialmente pela oralidade e espontaneidade da fala sertaneja.

b) Expressões como Toleima (linha 03) e opiniães (linha 06), entre outras, dão um tom humorístico ao discurso e reforçam a crítica do autor à ingenuidade e cultura não-letrada do sertanejo.

c) Na fala do narrador-personagem problematizam-se os limites de uma determinada região geográfica do Brasil – o sertão –, formalizando-se, assim, o tema da relatividade dos juízos.

d) O fragmento exemplifica o regionalismo de Guimarães Rosa, desenvolvido a partir de um enfoque naturalista, em que se ressalta a cor local – fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia (linhas 02 e 03).

e) O foco centrado na conversa de dois interlocutores de culturas diferentes – o sertanejo e o senhor – é índice da temática neorrealista que caracteriza o escritor, qual seja, o contraste entre cidade e campo.

52. Considere as seguintes assertivas relacionadas aos dois textos, levando em conta a produção dos respectivos autores.

I. O caráter literário de I e de II resulta da beleza, concisão e clareza da linguagem utilizada pelos autores para registrar fidedignamente um universo típica e exclusivamente brasileiro.

II. O valor literário de I e II deve-se ao especial tratamento linguístico que confere às palavras sentidos múltiplos.

III. O efeito conotativo dos textos permite dizer que tanto o homem referido em I, quanto o sertão referido em II, transcendem os limites do regional para representarem valores universais.

Assinale:

a) se todas as assertivas estiverem corretas.

b) se apenas I e II estiverem corretas.

c) se apenas II e III estiverem corretas.

d) se apenas II estiver correta.

e) se apenas III estiver correta.

53. (UF-BA) “Este pequeno mundo do sertão, este mundo original e cheio de contrastes, é para mim o símbolo, diria mesmo o modo de meu universo. Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava tudo o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda.”

O depoimento acima é do escritor:

a) Rubem Braga

b) Dalton Trevisan

c) Erico Verissimo

d) João Guimarães Rosa

e) Mário de Andrade

(UFMT) Responda às questões de 54 a 56.

Eu ouvi aquilo demais. O pacto! Se diz – o senhor sabe. Bobéia. Ao que a pessoa vai, em meia-noite, a uma encruzilhada, e chama fortemente o Cujo – e espera. Se sendo, há-de que vem um pé-de-vento, sem razão, e arre se comparece uma porca com ninhada de pintos, se não for uma galinha puxando barrigada de leitões. Tudo errado, remedante, sem completação… O senhor imaginalmente percebe? O crespo – a gente se retém – então dá um cheiro de breu queimado. E o dito – o Coxo – toma espécie, se forma! Carece de se conservar coragem. Se assina o pacto. Se assina com o sangue de pessoa. O pagar é alma. Muito mais depois. O senhor vê, superstição parva? Estornadas!… Provei. Introduzi. (p.45)

O demo, tive raiva dele? Pensei nele? Em vezes. O que era em mim valentia, não pensava; e o que pensava produzia era dúvidas de me-enleios. Repensava, no esfriar do dia. A quando é o do sol entrar, que então até é o dia mesmo, por seu remorso. Ou então, ainda melhor, no madrugal, logo no instante em que eu acordava e ainda não abria os olhos: eram só os minutos, e, ali durante, em minha rede, eu preluzia tudo claro e explicado. Assim: – Tu vigia, Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela… – isto eu divulgava. Aí eu queria fazer um projeto: como havia de escapulir dele, do Temba, que eu tinha mal chamado. Ele rondava por me governar? (p.458) (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)

54. A leitura dos dois excertos revela um dos temas que permeia a ação do romance. Qual é ele?

a)A coragem do herói em momentos de luta e perigo.

b) A existência ou não do demônio, com o qual teria sido feito um pacto.

c)O embate entre o bem e o mal que atormenta Riobaldo.

d) A necessidade de confissão para alívio do espírito.

e)A indicação do espiritual como refúgio para problemas pessoais.

55. A respeito do processo de narração de Grande sertão: veredas, pode-se afirmar que Riobaldo, o narrador,

a) caracteriza-se pela onisciência, que garante sua certeza sobre os eventos narrados: Se diz – o senhor sabe.

b) faz um relato de fatos passados, interrompendo-se para refletir sobre sua interpretação: Ele rondava por me governar?

c) conta suas aventuras a um leitor virtual, ausente da narrativa: O senhor imaginalmente percebe?

d) utiliza o discurso indireto ao retomar a fala alheia: Tu vigia, Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela…

e) relata, como testemunha, as ações de outras personagens: Repensava, no esfriar do dia.

56. Sobre a renovação da linguagem empreendida por Rosa, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O trecho Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela. exemplifica a quebra da ordem canônica da língua portuguesa.

b) Remedante, completação, imaginalmente são exemplos de neologismos por sufixação, que altera a classe gramatical, mas conserva o sentido original do radical.

c) Em vezes e em meia-noite são expressões correntes na língua, utilizadas com nova regência.

d) O Cujo, o Coxo, o demo, o diabo, o temba, usados como sinônimos no texto, comprovam apropriação do vocabulário popular.

e) Preluzia e me-enleios exemplificam neologismos por prefixação, com alteração do sentido original.

(ESCS) Texto para as questões 57 e 58

Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deogratias; e o troco. […] Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? [.] Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. Mire veja: aquela moça, meretriz, por lindo nome Nhorinhá, filha de Ana Duzuza: um dia eu recebi dela uma carta: carta simples, pedindo notícias e dando lembranças, escrita, acho que, por outra alheia mão. […] Ela tinha botado por fora só: Riobaldo que está com Medeiro Vaz. E veio trazida por tropeiros e viajores, recruzou tudo. […]

Sendo isto. Ao doido, doideiras digo. Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas — e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção. João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 82-4.

57. O fragmento de texto apresentado acima foi extraído de uma das mais conhecidas obras de Guimarães Rosa, escritor que renovou a ficção regionalista brasileira. A narrativa desse autor caracteriza-se por

a) reproduzir a evasão dos sentimentos do herói, que não se reconhece em seu meio.

b) apresentar crítica política severa aos acontecimentos sertanejos nordestinos.

c) criar uma tensão crítica em que o herói luta contra o meio e as suas mazelas.

d) transfigurar metafisicamente o espaço do sertão.

e) retratar fielmente a linguagem e os costumes sertanejos.

58. No texto de Guimarães Rosa, Riobaldo, narrador de Grande Sertão: Veredas, explica ao ouvinte que seu modo de contar é

a) linear, por respeito ao ouvinte e ao leitor.

b) marcado por pesar desgovernado e, por isso, sem lógica.

c) cheio de emendas, porque os fatos relatados são de pouca importância.

d) um misto de ficção e realidade, a depender de sua vivência no momento de narrar.

e) entrecortado pela lembrança específica de cada fato, que possui ritmo e forma próprios.

59. (ESPM) Leia os fragmentos seguintes para depois considerar as afirmações sobre eles e seus autores:

(…) De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rús­tico em suas ações?! Me franzi. Ele tinha a culpa? Eu tinha a culpa? Eu era o chefe. O sertão não tem janelas nem portas. E a re­gra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa… Aquilo eu repeli? (Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa)

Com que então eu amava Capitu, e Ca­pitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto. Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de criança; depois que saiu do colégio, é certo que não restabelecemos logo a antiga inti­midade, mas esta voltou pouco a pouco, e no último ano era completa. (D. Casmurro, de Machado de Assis)

I. Ambos os narradores fazem reflexões retrospectivas sobre suas dúvidas amo­rosas.

II. O narrador de Grande Sertão: Veredas também reflete sobre a grandiosidade do sertão, sobre como o ser humano in­terage com ele.

III. O narrador de D. Casmurro utiliza uma linguagem figurada – “cosido às saias dela” – inexistente no texto de Guima­rães Rosa.

Está correto o que se afirma em:

a) I, somente.

b) II, somente.

c) I e II, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

60. (PUC-CAMPINAS) A linguagem e o universo de Guimarães Rosa na obra prima que é o romance Grande sertão: veredas estão em parte caracterizados no seguinte segmento do texto:

a) apanhando uma realidade moldada mais pela impressão da imaginação criativa do que pelas formas nítidas naturais.

b) o fascínio dos artistas [do estilo gótico] estava em criar efeitos de perspectiva e a ilusão de espaços que parecem reais.

c) as paisagens rurais e retratos de pessoas, sobretudo das diferentes aristocracias, apresentam-se num auge de realismo.

d) paisagens bucólicas e jardins harmoniosos desfilam ainda pelo desejo de realismo e fidedignidade na representação da natureza.

e) acentuará as cores dramáticas, convulsionadas, as formas quase irreconhecíveis de uma realidade fraturada.