Qual comparação entre positivismo e a nova historia

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Olá estudante!

Seja Bem-vindo a disciplina Teoria da História I.

Elaboramos este material com o intuito de facilitar sua aprendizagem de forma autônoma, abordando conteúdos selecionados especialmente com uma linguagem de fácil compreensão para facilitar seus estudos.

Lembre-se que estamos juntos nesta caminhada! Cada passo dado o torna mais próximo do seu objetivo, nosso intuito é tornar seu caminhar mais leve ajudando-o sempre nas dificuldades e dúvidas encontradas.

O material foi construído de forma dinâmica que torne seu estudo prazeroso e significativo, esperamos poder contribuir com o processo de construção do seu conhecimento.

As Autoras

Qual comparação entre positivismo e a nova historia

Juliana Magalhães Linhares é Mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (2011),Licenciada em História pela UFC (2007). Atualmente, professora do curso de Pedagogia e História das Faculdades INTA e coordenadora de área do PIBID -História. Atuou no Departamento de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, atuando também na rede privada de ensino superior na Graduação e Pós-Graduação na área de Ciências Humanas e Educação, com experiência em Educação a Distância - EAD.

Qual comparação entre positivismo e a nova historia

Priscilla Régis Cunha de Queiroz é Mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (2011).Graduada em História pela mesma instituição (2008).Atualmente está vinculada a Universidade Federal do Cariri - UFCA como Professora Assistente I e Vice-coordenadora do curso de Bacharelado em História do Instituto de Estudos do Semiárido - IESA, em Icó-CE.Experiência docente na Universidade Estadual do Ceará-UECE (2014) e na Universidade Regional do Cariri- URCA (2012-2013). Pesquisas na área de História, com ênfase em História do Ceará,atuando principalmente nos seguintes temas: cidade, trabalho, seca, natureza e patrimônio socioambiental.

Os historiadores são responsáveis por criar, desenvolver e dar manutenção ao banco de memória das experiências e vivências dos homens. Todo o passado até os dias de hoje é objeto da história – constitui história. Os historiadores são responsáveis pela compilação e constituição da memória coletiva, os indivíduos contemporâneos têm de confiar neles. (HOBSBAWN, 1998).

Durante muito tempo o passado foi modelo para o presente e o futuro, representava aquilo que cada geração reproduzia. Por isso, o velho significava sabedoria em termos de experiência, como também de memória. Se o presente por algum motivo fosse insatisfatório, o passado fornecia o sentido para reconstruí-lo satisfatoriamente – a sociedade deveria voltar-se para os bons tempos do passado. Mas, atualmente existem poucas situações em que voltar ao passado pareça concretamente possível.

De fato, o presente não é uma cópia do passado; tampouco pode tomá-lo como paradigma operacional, mas, há ainda uma parte considerável do mundo e dos assuntos humanos na qual o passado retém sua autoridade, e, portanto, a história ou a experiência, no genuíno sentido antiquado, opera do mesmo modo como operava no tempo de nossos antepassados. Nesse sentido, o objetivo de se traçar o processo histórico da humanidade não é prever o futuro, mas sim descobrir os padrões e mecanismos da mudança histórica em geral. (HOBSBAWN, 1998)

Sugerimos que leia a obra Teoria da História: Princípios e conceitos fundamentais. O autor retrata que a Teoria da História e a Metodologia da História são duas dimensões essenciais para a formação do historiador.

BARROS, José D’ Assunção. Teoria da História: Princípios e conceitos fundamentais. Petrópolis: R.J. Editora: Vozes, 2013.

Este é o momento em que você irá ler os livros abaixo.

Propomos a leitura de algumas obras.

A escrita da história: novas perspectivas

O Capital: Crítica da Economia Política

Após a leitura das obras escolha uma e faça uma resenha crítica e realize uma postagem na sala virtual.

Qual comparação entre positivismo e a nova historia

Propomos a leitura da obra, A escrita da história: novas perspectivas na qual o autor Peter Burke é um dos principais nomes da nova história britânica e especialista em história moderna europeia. Neste volume, ele retorna às questões de método para apresentar as tendências recentes da prática historiográfica. Reunindo textos de alguns dos mais importantes historiadores contemporâneos, Burke oferece um painel geral das perspectivas e desafios do saber histórico do século XX.

BURKE, PETER (ORG.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. 355 p.

Qual comparação entre positivismo e a nova historia

Indicamos também a leitura da obra O Capital: Crítica da Economia Política de Karl Marx. Uma das principais obras de Marx, o pensador alemão, aprofunda e sistematiza a brilhante análise crítica das formas como o homem vive em sociedade e que caracterizam o mundo moderno. São explicados alguns conceitos-chave do modo de produção capitalista, como, mais valia, capital constante e capital variável, salário e acumulação primitiva, e analisa temas caros a economistas clássicos.

MARX, KARL. O capital: crítica da economia política livro segundo. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. 2 v. 600 p.

Você sabe o que é Teoria? Porque precisamos de teoria para estudar determinado assunto? Você enquanto futuro professor terá muitas vezes que explicar como a História é feita, quem escreve? Quem escolhe os assuntos? Sabemos, contudo que nem só de fontes produzimos conhecimentos históricos. Precisamos do conhecimento teórico para dar base as nossas afirmações. Você já abriu um livro de História e conseguiu identificar a linha teórica seguida pelo autor? A teoria da História é essencial para compreendermos as nossas práticas sociais.

Após a leitura dos questionamentos acima, identifique a linha teórica de um dos autores sugeridos no trocando ideias com os autores em seguida compartilhe com seus colegas na sala virtual.

  • Conhecer a importância dos textos clássicos, bem como o andamento da ciência moderna e as possibilidades de construção do saber histórico ao longo do século XIX.
  • Identificar os princípios e perspectivas do positivismo, historicismo e romantismo na configuração da disciplina histórica.
  • Desenvolver um posicionamento crítico em relação aos textos clássicos, bem como a construção do conhecimento no que se refere às correntes da historiografia.
  • Dizem-se dos clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los. (CALVINO, 2009. p. 10)

    Existe uma força particular em algumas obras que conseguem deixar sua semente. As obras clássicas são aquelas que formaram gerações, incutiram ideias e delimitaram métodos consolidados pelo uso e pela crítica que, através do tempo, são lidas, rememoradas e retomadas sob nova óptica. Quando pensamos em textos clássicos, seja em História ou em qualquer outra área, pensamos em obras que causaram impacto nos estudos, modelaram sua forma ou direcionaram seus interesses. Devemos alguma reverência a esses estudos, mas, principalmente, precisamos conhecê-los para entender as produções mais contemporâneas que, por um acúmulo de saberes e experiências retomam tais modelos antigos.

    O que significa perceber a profundidade da história vista de baixo, senão tomá-la como herdeira de um jeito de perceber o desenrolar da vida humana no tempo que considera as classes sociais em sua dinâmica e diversidade? Ou seja, perceber a contribuição do marxismo para a análise histórica. Como perceber de onde vem a análise cultural preocupada com expressões humanas mais peculiares sem a contemplação das análises de Michelet e do romantismo francês? Enfim, precisamos retomar os clássicos para entender a História feita hoje.

    Os clássicos que retomaremos nessa unidade de estudo exerceram influência particular e se impuseram como inesquecíveis.

    Nesse sentido, cabe esclarecer que cada uma das obras, dos autores ou problemáticas que trataremos tem sua própria história. Precisa ser percebida dentro de um contexto historicamente situado e, principalmente, devem ser revisitados numa perspectiva problematizadora que considera alguns pontos.

    Em suma, ler uma obra considerada como clássica para uma área de estudo significa considerar os usos já feitos da obra e os usos que ainda podemos fazer delas. Essa afirmação, inclusive, parece apontar para a natureza mais íntima de uma obra, de um autor ou de uma ideia clássica: elas são frutíferas e são usadas de forma peculiar ao longo do tempo.

    Outra dimensão importante que decorre dessas múltiplas leituras que um grande texto suscita são as frequentes críticas que acompanham as leituras dessas grandes contribuições. Um clássico provoca discursos críticos. É nesse movimento de leitura, releitura e crítica, que as grandes contribuições são feitas e refeitas. A bagagem que carregam, levantam questionamentos e dúvidas, levam às novas leituras. Portanto, vamos ler e reler, questionar e produzir novos conhecimentos com base na apreciação de ideias e obras clássicas.

    Como afirma Italo Calvino (1993), poderíamos dizer que:

  • Toda releitura é como uma primeira leitura;
  • Toda primeira leitura é na verdade uma releitura;
  • Um clássico sempre tem algo novo a dizer;
  • Os clássicos trazem consigo as marcas de muitas leituras, pois deixaram na cultura uma marca.
  • O autor salienta que ler as críticas que fizeram dos clássicos não é tão importante quanto a ler um clássico que lhe oferece surpresa, que lhe dá prazer e se faz seu livro preferido.

    Teoria em História

    O objeto primeiro desse volume de estudos é a constituição da história enquanto saber científico. Perceberemos no transcurso dessa disciplina o andamento da ciência moderna e as possibilidades de construção do saber histórico ao longo do século XIX; os princípios e perspectivas do positivismo; historicismo e romantismo na configuração da disciplina histórica; alguns dos pressupostos fundamentais da concepção filosófica da História; e conceitos e parâmetros do marxismo no ofício do historiador.

    A História existe enquanto prática de pesquisa, registro e mesmo enquanto gênero literário há milênios. No entanto, como afirma Assunção Barros:

    [...] a ideia de uma História que se constitui entrelaçada com uma dimensão “teórica” que lhe é própria (e que neste movimento se autopostula como “científica”) é bem mais recente na história do conhecimento ocidental. Por outro lado, se não há quase desacordos com relação ao fato de que algo novo ocorre efetivamente com o gênero historiográfico entre a segunda metade do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, também não deveremos esperar encontrar nestes primórdios da historiografia científica aqueles gloriosos começos com os quais se acostuma pintar eloquentemente os grandes acontecimentos e processos da história. (BARROS, 2011. p.11)

    Mas, o que poderia ter ocorrido entre os séculos XVIII e XIX era transformar a forma como a História era escrita e reconhecida?

    Nesta unidade de estudo veremos que a História Científica se constituiu em meio a muitas contribuições e disputas. A mudança foi feita a muitas mãos, partiu pressupostos diferentes e, às vezes, de ideias que dialogavam entre si. Precisamos conhecer um pouco desse percurso para entender como, atualmente, a História se projeta no meio acadêmico, escolar e cotidiano.

    A “revolução historiográfica” do século XIX se deu, paradoxalmente, através de afirmações e posturas que podem ser consideradas como conservadoras em um contexto de afirmação da burguesia pós-revolucionária que emergiu após a Revolução Francesa, diante dos desdobramentos da consolidação dos Estados Nacionais. A esse cenário, soma-se a existência dos projetos positivistas, herdeiro do iluminismo, e o projeto historicista que, por sua vez, teve influência do romantismo do século XVIII. Barros (2011, p. 14) afirma que:

    A primeira proposta de uma historiografia científica se produz no acordo e no desacordo entre estes dois sistemas ou propostas de enxergar o mundo, cada qual resistente à outra, mas nem por isso incapazes de interagir para a formação de um ambiente do qual se beneficiariam os historiadores de novo tipo. E, de fato, se o clássico período do Iluminismo revolucionário e dos primeiros alvores do Romantismo não produziu um “homem novo”, como teria desejado muitos revolucionários e filósofos das últimas décadas do século XVIII, ao menos produziu um “historiador novo.

    Quais seriam as preocupações de “historiador novo”? Quais seriam os parâmetros aplicáveis a esse novo jeito de perceber a História?

    Essas questões serão tratadas à medida que visitarmos os paradigmas que constituíram essa História do século XIX. Ao mesmo tempo, esperamos que os leitores desse material percebam como somos críticos desses novos parâmetros, mas também como somos herdeiros desse modelo de História. Assim, precisamos ter em mente que as preocupações da história da “teoria da história” perpassam a própria teoria e as transformações nos procedimentos do historiador. Reafirmamos que quando pensamos em teoria da história, ponderamos sobre a construção do conhecimento e examinamos correntes da historiografia, mas também entrelaçamos teoria e método.

    As formas de escrever a história são diversas, as técnicas empregadas pelos historiadores são extremamente variadas e os temas da investigação histórica podem ser muitos. As escolhas realizadas entre tantas possibilidades se constituem através da realização de perguntas específicas feitas pelo historiador que seleciona e indaga as fontes, propõem um recorte temporal, realiza extensa pesquisa para entender seu objeto e, entre essas inúmeras operações, utiliza categorias, operacionalizando conceitos e propõe hipóteses que devem ser testadas e reconstruídas.

    Por fim, o historiador “ordena” o passado, torna parte dele inteligível segundo os métodos e debates teóricos próprios.

    Como afirma Thompson (1981, p. 48) quando diz:

    O estudo da história é empresa muito antiga, e seria surpreendente se, entre as ciências e humanidades, ela fosse a única a não ter desenvolvido seu próprio discurso de demonstração. E não consigo ver o que seja esse discurso próprio, a menos que tome a forma da lógica histórica. Trata- se de uma lógica característica, adequada ao material do historiador. Não haverá utilidade em enquadrá-la nos mesmos critérios da lógica da física [...] a história não oferece um laboratório de verificação experimental, oferece evidências de causas necessárias, mas nunca de causas suficientes, pois as leis do processo social e econômico estão sendo continuamente infringidas pelas contingencias, de modos que invalidariam qualquer regra nas ciências experimentais, e assim por diante (THOMPSON, 1981 p 48).

    Por lógica histórica, o historiador inglês entende um método lógico de investigação adequado a materiais históricos. “O discurso histórico disciplinado da prova consiste num diálogo entre conceito e evidência, um diálogo conduzido por hipóteses sucessivas, de um lado, e a pesquisa empírica, do outro.” (THOMPSON, 1981 p. 49). Assim, Thompson informa que um historiador realiza, em sua prática, suposições provisórias e que a evidência que está utilizando tem uma existência “real” (determinante). (THOMPSON, 1981 p. 37-38)

    Assim, entre as disputas realizadas acerca da forma como construímos a escrita da História e erigimos espaços institucionais para esse conhecimento ao longo do tempo, atentemos para o caráter concreto do conhecimento histórico. Portanto, para além da sua existência enquanto abstração teórica, forma de pensamento, evidência, narrativa e testemunho, a análise de um processo histórico pressupõe a compreensão da vida dos homens e das mulheres no tempo. Não seria esse o objetivo do conhecimento histórico?

    Nesse sentido, caro estudante, para o conteúdo referente à disciplina estudada, pensaremos juntos acerca de um momento muito específico da historiografia: quando a História reivindica para si o estatuto de ciência. Veremos o percurso dessa construção tendo em vista que na cultura do chamado, Antigo Regime, as narrativas históricas eram bastante plurais.

    Nos dias atuais, várias questões se colocam ao trabalho do historiador, principalmente no que se refere a sua prática. Atentemos, portanto, que nossa habilidade de interpretar as fontes nos permite analisar contextos e situações que não presenciamos, mas não são apenas as experiências empíricas que garantem o êxito de uma pesquisa. O conhecimento teórico é também fundamental.

    Na Europa nos séculos XVI ao XVIII, a história se tornou um elemento importante para a construção do Estado monárquico emergente e legitimação de princípios e visões de mundo que contemplavam a consolidação das nações. No século XIX, no entanto, esse entendimento do transcurso do tempo e do sentimento de apreensão da história se torna mais complexa e rigorosa, o passado começa a ser tratado por um novo crivo. Nesse ensejo, a história se projeta como ciência.

    A história da época moderna que ressaltavam o tom moralista e exemplar vai cedendo lugar a outras formas de História que contemplam um maior horizonte temático, sobretudo, com o advento das análises pretensamente científicas e neutras. Nesse sentido, a história passou a reivindicar o status de investigação isenta protagonista das ciências sociais. Esse movimento foi motor da complexidade teórica-metodológica que desaguou em novas formas de conceber a história.

    Observaremos duas faces de uma mesma história científica: o Positivismo e o Historicismo, o qual tratará ao longo desse material. Através deles, podemos acompanhar o peculiar desdobramento, no século XIX, de uma “revolução historiográfica” que, apesar de seu caráter transformador, traz consigo elementos bastantes conservadores.

    Percebam que no contexto de surgimento da história científica, existiu o assentamento da burguesia que, mediante um compromisso com as monarquias constitucionais e a aristocracia, tentou manter privilégios. Nessa equação, existiu ainda a importante pressão popular que, depois dos eventos traumáticos da Revolução Francesa, se mostrou cada vez mais forte e atuante. Além disso, a esperança popular em um futuro melhor se projetou através dos desdobramentos do movimento revolucionário francês e também norte-americano que chegaram a se estender até a América Latina.

    É o nome dado ao regime político comandado por um monarca (rei, imperador, príncipe, etc.) que exerce de modo hereditário e vitalício, sem qualquer consulta ao povo.

    Nesse cenário turbulento, o poder continua a se expressar em práticas que marginalizam e oprimem, cada vez mais, em discursos específicos, dotados de um sentido de unidade. Como argumenta o historiador José D’Assunção Barros, a narrativa histórica encontrara boa audiência nesse clima fértil. Os paradigmas do positivismo, do historicismo e, mais tarde do materialismo histórico irão compor o grande bloco teórico que dão base ao saber histórico científico e a “matriz disciplinar” da História será sistematizada (BARROS, 2012. p. 24).

    A pretensão de cientificidade para a história passou pela consolidação da figura do historiador profissional que buscou a ocupar espaços institucionais específicos, muitas vezes ligados diretamente aos Estados nacionais em processo de consolidação. As narrativas historiográficas contribuíram para essa afirmação nacional. A partir da ação bem-sucedida e da conformação de parâmetros específicos para a História, se dá a formação de uma “comunidade científica” e assim a História adentra o mundo acadêmico universitário.

    Sistematização de um método e de regras para a escrita da História é fundamental para a organização de uma História científica. É nesse ensejo que posicionamos a emergência dos chamados paradigmas historiográficos que, como aponta Barros (2001) se encaminham através de “escolas históricas”. É importante reconhecer os elementos que compõem cada uma dessas correntes.

    A análise de alguns de seus expoentes e preocupações pode promover um entendimento mais profundo sobre o que é a Teoria da História. Para seguirmos adiante, cabe fazer uma ressalva fundamental: não podemos tomá-los como sucessivos, pois não aconteceram numa perspectiva sucessória que poderia, erroneamente, nos levar acreditar a um ou a outro um papel de superioridade pautado em uma suposta evolução.

    Se o século XVIII foi marcado pela objetividade da razão iluminista, o início do século XIX seria marcado pela subjetividade. Clima favorável à apreciação de obras que davam atenção especial às coisas humana.

    Nos séculos XV e XVI a cultura europeia foi dominada pelos pensamentos provenientes da Itália. Pintores, escultores e arquitetos renascentistas italianos criaram novas formas de expressão artística e intelectual. Filólogo (É o estudioso da Filologia que é a ciência que tem como objetivo estudar uma língua através de textos escritos.) humanistas reinterpretaram os textos da antiguidade repensando o mundo a partir de parâmetros diferentes daqueles usuais na Idade Média.

    Renascença Italiana: período de grandes mudanças e conquistas econômicas e culturais que ocorreram na Europa, entre os séculos XIV- XVI (transição idade medieval e moderna). Foi um momento de grandes realizações culturais, do aparecimento de nomes como Botticelli, Michelangelo, Maquiavel e outros tantos mestres.

    Essa primazia italiana cederia lugar, desde meados do século XVI e, sobretudo, nos séculos XVII e XVIII, aos novos centros econômicos e culturais sediados principalmente na França e na Inglaterra. Paradoxalmente, foi nesse contexto relativamente inexpressivo que surgiu a figura de vulto da história da filosofia italiana: Giovanni Battista Vico.

    Vico nasceu na cidade de Nápoles, aproximadamente, no ano de 1670. Conduziu boa parte de seus estudos junto a religiosos católicos. Foi preceptor do filho do Marquês Domenicco Rocca, quando se dedicou aos estudos sobre Platão. Nesse período teve seu primeiro contato com a teoria cartesiana.

    Teoria Cartesiana: consiste no Ceticismo Metodológico, duvida-se de cada ideia que pode ser imprecisa: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. A contribuição de Descartes, com sua nova metodologia foi de extrema importância para a constante busca criteriosa do conhecimento verdadeiro a partir das ciências (experimentação). O filósofo estava disposto a encontrar uma base sólida para servir de alicerce a todo conhecimento. “Penso, logo existo“ DESCARTES (1595-1650).

    Da crítica ao cartesianismo resulta o arcabouço metodológico da principal obra de Vico, a Ciência Nova. Em 1699, passou a ocupar o cargo de professor de Retórica em uma Universidade em Nápoles. Nessa oportunidade proferiu palestra e defendeu trabalho sobre Métodos de estudos com base no anticartesianismo. Vico questionou: Qual a melhor maneira de estudar? A dos antigos ou dos modernos?

    Ele criticou o uso dos métodos das ciências naturais no estudo dos problemas humanos. Defendeu a união íntima entre a erudição filológica e a histórica e, por outro lado, entre o conhecimento abstrato e dedutivo.

    Em outros termos, para Vico a filosofia não deve isolar-se no plano das puras abstrações lógicas; ao contrário, deve mergulhar no terreno concreto dos produtos culturais humanos. Passou a amadurecer em seu pensamento, a possibilidade de conciliar o sistema filológico platônico-cristão com uma filologia de caráter científico que pudesse englobar a história das línguas e a história das coisas. Tal pensamento resultou na obra “Direito Universal”, três volumes, em 1720-1722. Um ano depois se candidatou ao cargo de professor de Direito, mas não obteve êxito. Desencantado com a carreira, Vico publicou a primeira versão da obra “Ciência Nova”, seu principal legado. Apesar de sua importância na história das ideias, a obra de Vico não despertou muito entusiasmo durante a vida do autor.

    Para Vico, a teoria do conhecimento formulada por Descartes, orientava-se exclusivamente pelo conhecimento matemático enquanto existem certezas humanas, fundamentais que não podem ser logicamente demonstradas e tampouco evidentes. Através da crítica ao cartesianismo, Vico constitui uma nova teoria da história e do desenvolvimento social. A sua contribuição para a História também pode repousar nesse elemento fundamental do seu pensamento.

    A História foi posta pelo cartesianismo como um aglomerado confuso de fatos, inapto à compreensão. Para Vico (1725) esse desprezo infundado é resultado do equívoco em tomar apenas um método para todos os domínios da investigação. Para ele, o campo de ação da História é aquilo que o próprio homem cria, sendo assim (verdade o mesmo que feito) é passível de análise.

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia

    Vico morreu em 1744, em Nápoles, em relativa solidão. Exerceu influência em alguns estudiosos do seu tempo, sobretudo, naqueles que se preocuparam com a análise social e econômica. Essa realidade se deveu, principalmente, ao fato de as teses de Vico serem opostas às principais linhas iluministas. Outros historiadores partiram de premissas similares. Na Inglaterra sua obra foi revisitada, assim como na França, foi bastante admirado pelo historiador Jules Michelet e na Alemanha por Karl Marx que o via como percursor dos estudos históricos.

    Linhas Iluministas:Corrente de ideias que dominou o pensamento europeu no séc. XVIII que estudava os fatos humanos, de maneira análoga ao modo como se previa o estudo dos fenômenos naturais.

  • O objeto da investigação histórica resulta da expressão da vontade humana, e o próprio historiador, em virtude da sua humanidade, tem todas as condições para apreender seu objeto, de maneira total e completa;
  • Conhecimento contrário às análises do mundo natural como sendo algo sempre exterior ao homem;
  • O núcleo metodológico que serve de base à filosofia de Vico, pode ser esclarecido a partir de sua atitude em relação ao cartesianismo;
  • Ao formular essa clara distinção entre as ciências naturais e o conhecimento histórico, Vico dá uma importante contribuição para a teoria da História.
  • O material para Vico encontra-se, sobretudo na linguagem, a qual conservaria mitos, fábulas e tradições.
  • O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico, nas últimas décadas do século XVIII - XIX na Europa. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa. O romantismo toma mais tarde a forma de um movimento, e o espírito romântico passa a designar uma visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano e ideal utópico.

    É uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento relativamente aos sentidos.

    Como afirma Renato Ortiz (1992), no livro “Românticos e Folcloristas”, os esforços românticos incluíram o interesse pelo antiquário, pelo resgate de costumes e pela cultura popular que adquirem contornos nacionalista estratégico.

    O Romantismo era muito mais que uma escola literária, era uma visão de mundo. Como argumenta M. Löwy tratou-se de uma estrutura mental coletiva comum a certos grupos sociais. Nela, o patriotismo, percebido através de um prisma nostálgico, era peça fundamental. A nostalgia advém de certo entendimento saudosista de um passado pré-capitalista ou sobre um passado que ainda não possui um pleno desenvolvimento socioeconômico. Segundo menciona Löwy (1994, p. 41) afirmando que:

    A visão de mundo romântica apodera-se de um momento do passado real – no qual as características nefastas da modernidade ainda não existem e os valores humanos, sufocados por esta, continuavam a prevalecer – transformando-o em utopia e vai modelá-lo como encarnação das aspirações românticas. (LÖWY, 1994, p. 41)

    Löwy, (1994) esclarece que o passadismo romântico envolve outra dimensão: evoca um futuro. Mesmo permanecendo em uma sociedade patriarcal, se engajavam em lutas que pretendiam criar laços afetivos e comunitários através de histórias nacionais. O reconhecimento de que tudo é histórico aproxima o romantismo do historicismo:

    O que os diferencia, contudo, é o método. Se o historicismo iria desenvolver um rigoroso método de crítica da documentação histórica como base para trazer cientificidade às reconstruções históricas, os românticos preconizavam um método baseado na empatia e na intuição. (BARROS, 2013. p. 83)

    No século XIX, no Brasil, muitos letrados, sobretudo, bem relacionados socialmente, atuantes na imprensa e na literatura, participantes ativos da vida política e cultural passaram a se denominar românticos de maneira a fazer referência a uma comunidade de letrados específica, cujas preocupações com os avanços artísticos, culturais e nacionais eram notórias.

    A introdução do Romantismo no Brasil foi capitaneada por jovens escritores e frequentadores do Instituto Histórico de Paris fundado em 1834.Como esclarece Andrade (2007, p. 133-134):

    A introdução do Romantismo no Brasil apareceu como uma tarefa para jovens escritores exilados em Paris, conhecidos na historiografia como O grupo de Paris, que primeiro entraram em contato com a nova literatura europeia. [...] a convivência nas diversas reuniões do Institut Historique de escritores, estudiosos e cientistas mobilizados por questões étnicas, nacionais, estéticas e culturais, muitos dos quais provinham de correntes de pensamentos e de orientações diversas, constituiu um estímulo a iniciativa pioneira do grupo. Participavam do Instituto o escritor romântico J. Michelet [...]. (ANDRADE, 2007, ps. 133-134)

    A ideia do Grupo de Paris era, assim como pressupunha o pensamento romântico francês, afirmar a nacionalidade através da literatura e da História.

  • Movimento artístico, político e filosófico, nas últimas décadas do século XVIII - XIX na Europa;
  • Visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo;
  • Buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.
  • Visão de mundo centrado no indivíduo;
  • Autores românticos voltaram-se para si mesmos, retratando ideais utópicas;
  • Interesse pelo antiquário, pelo resgate de costumes e pela cultura popular;
  • Contorno nacionalista;
  • Patriotismo;
  • Nostalgia advém de um entendimento saudosista de um passado pré- capitalista;
  • Conservador;
  • Conheça um pouco sobre Jules Michelet

    Michelet, assim como outros autores do seu tempo, deu importância a uma escrita da história que promovesse a união e a consolidação nacional. E, na sua forma de compreender, a História deveria imprimir uma visão específica de nação e trazendo o povo para o cerne da análise.

    Durante os anos de 1825 e 1827 Michelet se dedicou a um número considerável de ensaios que versavam sobre a história moderna, sobretudo, francesa. Já em 1831 publicou a obra “introdução à história universal”. O livro indicava o embrião das ideias visionárias de Michelet, autor, o interesse pela análise de crenças e rituais populares em detrimento ao “imperialismo dos fatos”. A partir de uma postura antirracionalista, Michelet sinalizava para um entendimento próximo ao modelo sistematizado por Vico.

    Problemas políticos, econômicos e sociais foram tratados pelo historiador francês que abordou as modificações acarretadas pela passagem da agricultura para a industrialização, na França e na Europa. O trabalho foi um sucesso de vendas em sua primeira edição, tanto que logo foi traduzido para o inglês. O mote central era tentador: apresentava o povo como elemento central de progresso e relegava a ele o espírito da nobreza da própria humanidade.

    Mesmo depois da grande contribuição, Michelet não retomou o antigo cargo. Até o final de sua vida o autor francês manteve-se defensor do convívio entre as classes e da áurea infalível do povo, o que rendeu muitas críticas por parte, sobretudo, de historiadores marxistas devido ao caráter conciliador de sua posição.

    Com Michelet, o povo é reconhecido como agente histórico. Na sua intepretação romântica, o autor retrata o povo francês em sua generosidade e sagacidade. Michelet tentava construir uma nova maneira de ver e construir a vida do coletivo desacreditando o uso da força e fomentando o diálogo. Através do ensino de História, poderia ser possível sensibilizar as pessoas para o bem comum. Essa perspectiva dá o tom do caráter romântico da produção e das ideias de Michelet.

    Sobre os meios utilizados pelo autor para a escrita da sua história, observamos um amplo uso de fontes originais. O historiador francês teve acesso a arquivos e chegou a exercer a direção do Archives Royales. Michelet foi relido por muitos dos historiadores ligados a revista Annales, considerado até mesmo como inspiração para a “história total”, para a “história das mentalidades”, ambas bem diferentes do propósito fatual expresso na escola metódica.

    A história escrita por ele deixou marcas no fazer histórico. Apesar das críticas, muitas acerca dos juízos de valor emitidos, não desconsideram a contribuição metodológica feita por Michelet.

    MICHELET, J. “Prefácio de 1869”, 1974, p. 24. Apud. MICHELET, L. História da Revolução Francesa: da queda da Bastilha à Festa da Federação. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

    Guia de Estudo

    1. Elabore uma síntese do que você aprendeu nesta unidade destacando a construção da História enquanto ciência, com seus métodos e técnicas.
    2. A partir da leitura da unidade, elabore um resumo destacando as principais características e nomes do romantismo. Para aprofundar o assunto você pode ainda pesquisar na internet sobre eles.

  • Conhecer a origem e as principais ideias do positivismo, bem como as diferenças entre o positivismo e o historicismo.
  • Identificar as diferenças e as semelhanças entre o positivismo e o historicismo.
  • Desenvolver um posicionamento crítico em relação ao positivismo e o historicismo.
  • Após longos debates sobre as teorias da História surgiu no século XVIII influenciado pelo Iluminismo europeu, o Positivismo. Os pensadores positivistas queriam a todo custo que a História assim como outras ciências se tornasse neutra perante as análises sociais. O positivismo procurou adaptar para a humanidade os métodos científicos desenvolvidos pelas ciências naturais. Com base nesse método, buscava as regularidades nas ações dos homens, afirmava a apologia ao progresso e apontava a certeza em um permanente desenvolvimento e aperfeiçoamento da humanidade.

    Um dos fundadores do positivismo e maiores representantes do positivismo foi Auguste Comte (1798 - 1857), aliando as ideias de progresso e o conceito de ordem tornou-se um dos principais nomes do positivismo no mundo. Comte acreditava que o conhecimento científico era o caminho mais provável para a construção do conhecimento humano. Suas ideias relacionavam-se ao natural, tendo como fontes a biologia e a química, onde só a observação empírica proporcionaria um resultado confiável com base na ciência.

    Como o positivismo influenciou a História? Qual sua relação com a produção historiográfica?

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia
    Auguste Comte

    Os historiadores que foram influenciados pelo positivismo acreditavam que a humanidade caminhava naturalmente para um futuro melhor, tendo como conceito a ideia de progresso, onde o desenvolvimento tecnológico permitiria avanços que beneficiariam a humanidade. No Brasil, os grupos ligados ao positivismo tiveram forte militância a favor da instalação de um regime republicano centralizador. As influências das ideias comtianas estão expressas inclusive na frase “Ordem e Progresso” presente na bandeira nacional brasileira. O lema foi idealizado a partir da máxima positivista “Amor por princípio a Ordem por base; e o Progresso por fim”. Os responsáveis pela idealização da bandeira brasileira, Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos ao lado José Veríssimo e Machado de Assis encabeçaram um movimento nos anos de 1870 voltado para a divulgação de novas escolas europeias de pensamento.

    Um dos primeiros espaços de disseminação das ideias positivistas foi a Escola Politécnica da França e do Brasil. O intercâmbio existente entre os estudiosos nessa escola promoveu o contato e as trocas intelectuais entre brasileiros e outros estudiosos do pensamento de Augusto Comte. Como aponta Carvalho (1990), o processo dinâmico de inserção dessas ideias envolveu a disputa entre o positivismo, o “jacobinismo à francesa” e o “liberalismo à americana”. Todas essas compuseram um quadro de debates intelectuais no final do século XIX. As três correntes possuíam históricos e características diferentes, a aceitação de certos elementos variou de acordo com os interesses dos grupos que se apropriavam dessas ideias.

    A ausência de conhecimento das várias formas de positivismo, por vezes, causa equívocos em sua análise. O que tem sido comumente chamado de “positivismo histórico” costuma dar conta de um modo de se fazer história que, tem como base a contribuição do historiador alemão, Leopold Von Ranke que, por sinal, tinha declarada recusa aos modelos filosóficos do século XIX, o que incluía aí o modelo Comtiano. Essa aproximação entre Ranke e Comte tem levado muitos autores a tomarem como inapropriada a nomeação da história “rankeana”, também conhecida como “história tradicional”, de história positivista. Conhecida como tradicional ou positivista essa forma de pensar a História tinha como principais características metodológicas, o uso apenas de fontes oficiais para a escrita da História.

    No livro Ideologias e Ciências Sociais, o sociólogo Michael Löwy (1985) argumenta que os pressupostos teóricos iniciais do positivismo estão relegados ao contexto das ideologias do século XIX. A fundamentação erigida pelo filósofo francês Augusto Comte se tornaria uma das bases da ciência moderna e se mantém presente nas análises das mais diversas áreas das “ciências humanas”. Enquanto corrente de pensamento oitocentista, pois é uma teoria do século XIX, o positivismo traz uma reflexão liberal ambientada no clima pós-revolucionário e de otimismo com relação aos progressos científicos e tecnológicos.

    A origem do positivismo, elaborada segundo um modelo científico-natural, surgiu no século XIII, no mesmo momento do desenvolvimento da filosofia das luzes (enciclopedismo). O filosofo Condorcet, ligado à enciclopédia, pode ser apontado como um dos primeiros a formular com maior precisão a ideia de uma ciência da sociedade com caráter rigoroso, quase matemático. Seu entendimento buscava contrapor-se a existência de uma ciência da sociedade que privilegiava unicamente o interesse das classes dominantes (Igreja, poder feudal e Estado monárquico). Condorcet afirmava que o conhecimento social deveria ser separado das paixões ideológicas e doutrinas teológicas. (COMTE, 1978)

    Augusto Comte (1978) formula uma concepção de ciência natural, chamada, em um primeiro momento de física social. Nela, os fenômenos sociais seriam submetidos às leis naturais invariáveis. A concentração de riqueza, por exemplo, seria explicada de forma a naturalizar sua existência. Assim, o proletário deveria ser esclarecido sobre o seu lugar social, o de submisso, dentro da lógica que resultaria do reconhecimento da lei [natural] que determina os papéis sociais. Os males ou desigualdades seriam inevitáveis.

    Podemos assinalar a existência de um positivismo filosófico, um sociológico, um jurídico, outro histórico e assim por diante, existem ‘positivismos’. O positivismo de Augusto Comte, apontado como fundador dessa corrente de pensamento pode ser descrito como um positivismo filosófico.

    M. Löwy (1985) traça uma análise do positivismo em uma perspectiva histórico-social. Em sua análise, aponta uma síntese fundamental das ideias do positivismo elencando três ideias principais:

    1. Hipótese fundamental: a sociedade humana é regulada por leis naturais, ou por leis que têm características das leis naturais, invariáveis, independentes da vontade humana. Em outras palavras, para o positivismo, existem leis que regulam o funcionamento da vida social, política e econômica que são do mesmo tipo daquelas leis que regulam a natureza. Desse modo, tal como a harmonia da natureza, haveria um tipo de harmonia social.
    2. Dessa primeira hipótese decorre uma conclusão epistemológica: os métodos para conhecer essa sociedade devem ser semelhantes àqueles utilizados para conhecer a natureza. Portanto, as ciências sociais têm que possuir metodologia idêntica à metodologia das ciências naturais.
    3. A terceira conclusão é que assim como as ciências da natureza são objetivas e neutras, livres de ideologias e juízos de valor, assim deveriam ser as ciências sociais, seguindo o modelo de objetividade científica. Nesse método, a ciência só pode ser objetiva na medida em que elimina a interferência de pré-noções.

    No século XIX, chamado o “século da História”, a interação entre as perspectivas objetiva e subjetiva dominaram os debates em História que se dividia, a grosso modo, em bases positivistas e historicistas.

    Enquanto o positivismo francês do século XIX pode ser discutido como uma reconfiguração em geral conservadora da herança iluminista, já o Historicismo alemão, e seus desdobramentos em outros países europeus e mesmo nas Américas, deverá ser entendido em sua relação direta com o contexto de afirmação dos Estados Nacionais do século XIX. (BARROS, 2013, 107)

    Segundo Barros (2013, p. 64), a oposição fundamental entre esses dois paradigmas se assenta em três aspectos fundamentais:

    1. A dicotomia objetividade/ subjetividade: abarcando a possibilidade ou não de a história conseguir alcançar leis gerais aplicáveis a todas as sociedades humanas;
    2. Padrão metodológico: disputa entre, basicamente, um modelo baseado nas ciências naturais, ou um sistema fundado na especificidade das ciências humanas;
    3. Posição do historiador a respeito do conhecimento que produz: o historiador deve se manter neutro, engajado, como no positivismo ou abraçar sua subjetividade como postula o historicismo?

    O autor aponta que a distinção fundamental entre positivismo e historicismo se baseia no fato da existência de perspectivas diferenciadas sobre o Homem: possuidor de uma natureza imutável – positivistas e ser em movimento, pelos historicistas. Isso implicará em uma diferença acentuada de método.

    Por outro ângulo, podemos afirmar que existem semelhanças entre o positivismo e o historicismo apontando, por exemplo, que os dois movimentos foram resultado de uma mesma necessidade de época que ao mesmo tempo pretendia atender às exigências de apoiar os interesses burgueses e, paradoxalmente, sustentar a manutenção de privilégios da nobreza.

    No entanto, esse intento era executado de forma diferente. Conforme Barros (2013) “A ideia de universalidade oferecia uma base consensual para o positivismo francês; Já o historicismo alemão partia da ideia do nacionalismo para proporcionar a harmonia social”.

    No caso alemão, a História forneceria os principais elementos para o consenso nacional. Essa narrativa histórica deveria se apoiar em uma documentação alemã que reportasse o período medieval, a análise das fontes deveria ser realizada por meio de um novo método de base filológica - Mesmo princípio metodológico exposto por Vico (1725).

    Dois paradigmas em contraposição: Positivismo e Historicismo. [..] A oposição fundamental entre positivismo e historicismo dá-se em torno de três aspectos fundamentais: a dicotomia objetividade/subjetividade no que se refere a possibilidade ou não da História chegar as Leis Gerais válidas para todas as sociedades humanas; o padrão metodológico, a história de acordo com o modelo das ciências Naturais ou um padrão especifico para ciências humanas); e a posição do historiador face ao conhecimento que produz (neutro, imerso na própria subjetividade, engajado na transformação social).

    Com relação aos padrões Positivista e Historicista, é importante ressaltar que enquanto o Positivismo, como paradigma, já está praticamente pronto desde o inicio do século XIX – já que herda uma série de pressupostos do Iluminismo, embora por vezes invertendo a sua aplicação social e vindo a constituir de fato uma visão de mundo tendencialmente conservadora, ao contrário dos setores mais revolucionários do pensamento Ilustrado - já o Historicismo estará construindo o seu paradigma no discurso do próprio século XIX. [...] (BARROS, 2013, p. 67).

    Guia de Estudo

    Pesquise as principais características do positivismo, faça um texto dissertativo sobre como o positivismo influenciou as pesquisas em História. Identifique de que forma o positivismo ainda está presente em nossos dias.

  • Conhecer o historicismo e sua importância para as ciências sociais e o materialismo histórico.
  • Identificar o historicismo, positivismo e marxismo e relacionar os termos marxismo e o materialismo histórico.
  • Posicionar-se criticamente em relação à questão da cientificidade da História aprimorando o trabalho do historiador enquanto pesquisadores.
  • O historicismo é uma noção que precisa ser compreendida dentro do seu con- texto, ou seja, tem seus significados transformados e apropriados de formas dife- rentes ao longo do tempo. Esse paradigma é sistematizado durante o século XIX sofrendo influências de diversos autores, podemos citar entre eles, Vico que já no século XVIII se preocupava com a relatividade das sociedades humanas, mas tam- bém de Droysen, Dilthey e, seu maior expoente, Leopold Von Ranke.

    O historicismo é uma importante teoria do conhecimento social que influen- ciou muitas ciências sociais. Apesar de ser possível articular o historicismo ao mar- xismo e ao positivismo, ele não é uma corrente idêntica a estes outros dois sistemas de pensamento.

    Para Löwy, o historicismo pode ser percebido dentro de uma lógica mais am- pla que inclui valores, ideologias e visões de mundo, bem como sua influência nos processos de conhecimento científico. Löwy argumenta que o historicismo parte de três hipóteses fundamentais:

    1. Qualquer fenômeno social, cultura ou político é histórico e só pode ser compreendido através da história;
    2. Existem diferenças básicas entre os fatos naturais e os fatos históricos ou sociais. Portanto, as ciências que estudam esses fenômenos são diferen- tes;
    3. O pesquisador da história está ele próprio, imerso no processo histórico.

    Partindo desses pressupostos, não existiria conhecimento histórico que não estivesse inserido no fluxo da própria história. Para compreender o que é Historicis- mo é necessário entender que o desenvolvimento do historicismo alemão do co- meço do século XIX traz consigo uma visão histórica fundadora da ciência histórica moderna.

    Quando o historicismo surgiu, sobretudo na Alemanha, no final do século XVIII e começo do século XIX, possuía um caráter conservador, pois tinha o interesse em legitimar instituições políticas, econômicas e sociais devido ao contexto político vi- vido pela Alemanha naquele período.

    Guia de Estudo

    Para compreender o contexto alemão em que o historicismo foi criado você deve pesquisar sobre a unificação alemã no final do século XIX. A partir disso relacione às disputas em torno da unificação as ideias do Historicismo.

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia

    O historicismo alemão interessava-se pela realização da unificação alemã em um contexto em que havia inúmeras realidades políticas e culturais, bem como apoiava um projeto de modernização não revolucionária, revelando sua face con- servadora. Esse historicismo conservador condenava as revoluções e as transforma- ções estruturais. Essa dimensão pode, inclusive, ser percebida como relacionada à visão de mundo romântica, também conservadora.

    A escola histórica alemã se desenvolve em um contexto de oposição entre alemães e franceses. Críticos da Revolução Francesa, os historicistas tentavam reto- mar épocas anteriores do passado alemão dando ressonância aos próprios valores a partir de critérios adequados a revelarem a Nação em sua singularidade. Portanto, pretendiam uma história nacional não universalista, ao contrário das propostas do positivismo francês.

    A escola historicista alemã concebe a existência de uma unidade entre homens e forças da natureza, e a história, num fluxo geracional. A essência do homem e as suas determinações fundidas em um mesmo núcleo, teriam seus conteúdos e formas defi- nidos historicamente. O espírito do povo (Volkgeist) é um conceito central dessa cor- rente. Para eles, algumas personalidades estariam imbuídas de um ‘espírito do povo’, e por isso ocupariam o centro da análise histórica. Essa postura da historiografia alemã do século XIX se enquadra muito mais no romantismo alemão e da Escola Histórica Alemã do que no positivismo “filosófico” que nasce com Augusto Comte.

    Outra importante característica do historicismo alemão que deve ser lembrada é a possibilidade de autoavaliação por parte do historiador. Mais um elemento que, hoje, sob formato renovado, se mostra ainda presente na prática histórica.

    A prática historiográfica do “olhar sobre si”, apenas casual e esporádica até meados do século XVIII, iria se tornar uma exigência da própria “matriz disci- plinar” de História. Em vistas de sua predisposição relativista, o Historicismo, mais do que o positivismo, sempre mostrou maior afinidade em relação a esta necessidade de reelaborar constantemente um “olhar sobre si” que é constituinte da própria Teoria da História. (BARROS, 2013. p. 121).

    Esse “olhar sobre si” que Barros destaca soma-se a crítica documental baseada, sobretudo, a uma análise rigorosa da procedência e autenticidade dos documentos que mais tarde estaria totalmente identificada com o ofício do historiador.

    Sobre o Historicismo destacamos, portanto que:

    Atuou para a desvalorização da prática historiográfica que priorizava o teste- munho ocular;

  • Possuía um viés conservador e nacionalista;
  • Exerceu e aprofundou a crítica documental;
  • Interessou-se em perceber diversos períodos históricos;
  • Promoveu a autocrítica historiográfica;
  • Concorreu para o desenvolvimento do potencial interpretativo;
  • Propiciou um maior grau de especialização frente às práticas multidisci- plinares anteriormente estabelecidas;
  • Seus partícipes se posicionaram estrategicamente no contexto de afirma- ção dos Estados Nacionais.
  • Um dos principais nomes do historicismo é o historiador alemão, Leopold Von Ranke, sua figura e seu legado permanecem envoltos em disputas, críticas e releituras até hoje. Ranke viveu muitos anos, e nessa longa jornada acompanhou de perto gran- des transformações na Europa do século XIX: viu os efeitos da ação de Napoleão Bo- naparte, viveu o Congresso de Viena e acompanhou a constituição do Império Alemão.

    Ranke nasceu em 1795, na Prússia. Berço do luteranis- mo, sua cidade, Weihe, abrigou gerações da família Ranke, marcadamente uma linhagem de intelectuais. Essa herança cultural, mas não pecuniária, depositou muitas expectativas de sucesso no primogênito que se formou professor e ini- ciou sua carreira em Frankfurt.

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia
    Leopold Von Ranke

    Pode-se dizer que o parâmetro Rankeano inclui pelo menos três grandes princípios: o rigor do metódico para estabelecer a qualidade da informa- ção extraída das fontes; a ampliação, a articulação e a complementaridade entre os campos de conhecimento (teologia, filologia, antiguidade greco- -romana, direito etc.); a recusa de qualquer forma de pensamento dogmá- tico, transcendente ou dualista. A síntese dessa atitude se dá na História: como conhecimento, como procedimento, como experiência de vida. Para Ranke, é na História, com a História e pela História que o ser humano al- cança o maior saber de si, o único acesso à compreensão plena da vida humana. (BENTIVOGLIO, 2013, p. 17).

    Em 1825, Ranke assume o posto de professor extraordinário de História na mais nova universidade prussiana e tentando conciliar as atividades de professor e pesquisador, publica um livro sobre os Príncipes e povos da Europa Meridional a partir de fontes primárias, logo depois, em 1827, faz uma longa viagem para pes- quisar em arquivos da Áustria e Itália. Nessa oportunidade, quando ainda não era comum a presença de historiadores nos arquivos, Ranke pesquisa e copia e até compra diversos manuscritos originais. Segundo Araújo (2013), “Ao longo dessa via- gem, Ranke desenvolve um novo modelo de pesquisa histórica que transforma os arquivos no lugar mais importante para a produção do conhecimento histórico”, os arquivos de conteúdos políticos recebiam a maior parte da atenção de Ranke.

    Nos arquivos em Veneza, Ranke emprega técnicas de filologia para identi- ficar a legitimidade das fontes documentais. Tendo em vista a importância desse procedimento, afirma: “A narrativa de um historiador pode, ainda que contenha alguns erros, ter certo grau de fidedignidade; mas um documen- to é completamente falso, ou completamente autêntico”. Estamos aqui no âmbito do primeiro princípio do conhecimento histórico que Ranke estabe- lecera em 1824. Para o historiador, a apresentação rigorosa dos fatos é, ao mesmo tempo, um problema empírico do método da pesquisa filológica e de decorrência interna do gênero literário que se opõe, por definição, aos artifícios retóricos da narrativa ficcional. (ARAÚJO, 2013, p. 80).

    Observamos que preocupações de Ranke informam sobre uma história que busca compreender o movimento entre uma História nacionalista e a particularida- de dos contextos políticos. O que nos leva a outro ponto importante da sua contri- buição: a ideia de que o historiador deve compreender histórias particulares frente à uma história universal.

    Dez anos depois de sua viagem, já na década de 1830, Ranke se torna pro- fessor ordinarius em Berlin, daí em diante, o aumento do número de estudantes e admiradores cresce gradativamente, sua ideia de escrita da história ganha maiores projeções. “A história universal deixa de ser apenas um problema de ordem empírica e passa a ser a condição de compreensão das histórias particulares, ao se procurar explicar os acontecimentos singulares e determinar relações de causalidade entre eles – frente a um todo mais amplo” (ARAÚJO, 2013 p. 84).

    Importa esclarecer que não se trata de apresentar a totalidade dos aconte- cimentos históricos. Para sair desse impasse, a impossibilidade de abarcar todos os acontecimentos e não permitir que o peculiar deixe de resvalar em algo maior, Ranke propõe buscar a forma de conexão entre os múltiplos detalhes com o todo: “A principal tarefa da História universal é apresentar o surgimento do espírito que paira sobre todas as nações e sua relação com elas”. (ARAÚJO, 2013, p. 84). Nesse ensejo,“o que compreende esse espírito, de acordo com o historiador, não é isoladamen- te a cultura a ciência ou o Estado, mas o conjunto de todos os elementos que se manifestam nas nações historicamente concretas, e não no pensamento abstrato”. (ARAÚJO, 2013, p. 80).

    Ainda que Ranke tenha procurado se distanciar das formulações pró- prias à filosofia idealista e suas reflexões sobre a história universal evitem adotar uma postura teleológica, a dinâmica expansionista do “espírito que paira sobre todas as nações” aproxima essas duas pers- pectivas. [...] uma preocupação constante em sua obra não poderia deixar de ser, portanto, o “surgimento e a formação do sistema de Estados europeus entre os séculos XV e XVIII, mesmo que o historia- dor se volte apenas – e individualmente – para as particularidades his- tóricas das grandes potências desse sistema”. (ARAÚJO, 2013, p. 85).

    Essas características imprimem uma marca eurocêntrica e nacionalista ao traba- lho de Ranke, uma vez que, em 1863, Ranke foi nomeado historiador oficial do Esta- do prussiano, promovendo a ligação entre a pesquisa histórica e a política prussiana de seu tempo. Em sua escrita, o presente político só poderia ser explicado através da apreensão do passado. A via para exposição do conhecimento histórico era, para Ranke e, mais tarde, seus muitos discípulos, representação rigorosa dos fatos.

    Para executar essa proposta,o historiador alemão, propunha:

    1. Objetividade: conceito já utilizado anteriormente por outros pensadores. Tucídides, por exemplo, esclarecia que buscava narrar sempre o que foi. Em Ranke, a objetividade confere ao historiador o dever de narrar e mos- trar como as coisas aconteceram através de um uso fiel das fontes;
    2. Privilegia a qualidade da literária e até estilística da narrativa vinculando essas caraterísticas ao argumento científico;
    3. As qualidades científicas, no entanto, são mais importantes que os recursos estilísticos;
    4. A busca pela verdade;
    5. O desejo de fazer da História uma ciência.

    A história “rankeana”, identificada como parte fundamental do Historicismo Alemão, por sua vez, é extremamente heterodoxa, tendo sido influenciada por aqui- lo que na Alemanha foi chamado de “positivismo histórico”, mas também se apro- priou do movimento do romantismo alemão. Os críticos apontam que o autor teria uma atitude passiva diante da história, que ele seria partidário de uma “verdade absoluta, imutável”.

    Você já ouviu falar em materialismo? A palavra vem de matéria e se refere aos bens materiais que possuímos ao longo da vida e suas formas de produção, para a Historiadora Vavy Pacheco “o ponto de partida do conhecimento da realidade são as relações que os homens mantêm com a natureza e com os outros homens” (BOR- GES, 2002, p. 37). O paradigma do materialismo surgiu no século XIX e se estende até os dias atuais relacionando materialismo e História. Tratando-se de um âmbito teórico em permanente discussão, o materialismo é uma teoria da história que in- fluencia várias correntes historiográficas. Mesmo exercendo uma grande influência na escrita da História, é importante lembrar que a teoria materialista não é criação de Marx. Segundo Loyd, o materialismo histórico é:

    Uma das mais antigas e importantes tentativas ou série de tentativas de propor uma teoria e\ou metodologia explanatória geral para o domínio da história estrutural. Mesmo a teoria de Marx e Engels foi uma elaboração, síntese e reconstruções de versões anteriores. (LOYD, 1995. p. 191).

    O materialismo histórico proposto por Karl Marx começou a ser organizado em torno da possibilidade de construir uma escrita da história que contribuísse para o desen- volvimento humano. Esse modo de perceber a história humana, o materialismo sistema- tizado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), pode ser tomado como um paradigma revolucionário porque, em última instância, trata-se de um modelo que aponta para a história como trincheira da transformação social.

    José D’Assunção Barros argumenta que devemos ler com cuidado as reflexões que relacionam os termos “marxismo” e o “materialismo histórico”. O Marxismo (marxismo-leninismo) seria um modelo de ação política possuidor de variações próprias. O objetivo final do marxismo é estabelecer uma sociedade comunista a partir de ações específicas, a saber, luta armada, ditadura do proletariado, aliança com a burguesia, mobilização popular, participação na política tradicional. Já o Materialismo histórico, enquanto paradigma seria um método e abordagem teórica para a compreensão dos processos históricos. Não necessariamente ligado a um programa de ação política. (BARROS, 2011, p. 16-17).

    Para compreender mais sobre o Materialismo Histórico leia:

    BORGES, Vany Pacheco. O que é História? São Paulo: Brasilliense, 2002.

    O materialismo histórico oferece um rico arsenal de instrumentos teóricos. Pos- sui conceitos que fundamentam para várias ciências humanas como, por exemplo, os conceitos de mais-valia, alienação e acumulação primitiva. Também realiza- ram reformulações de noções cunhadas anteriormente como as de luta de classes – Guizot, dialética – Hegel. Sobre esta última, Marx expandiu a ideia congregando a inversão da dialética Hegeliana e a crítica ao modelo materialista de Feuerbach - que não considerava a História. Assim, a partir de expansões e inversões críticas, Marx tomou como ponto de partida a história em um materialismo dialético.

    É essencial perceber que no materialismo histórico a história e as mudanças na vida humana são impulsionadas pela vida material, em outras palavras, as transfor- mações partem das condições objetivas e concretas por meio das quais os homens em sociedade reproduzem sua existência (materialismo). Tais transformações sur- gem a partir do desenvolvimento de “contradições” e estas são resultados de forças sociais e produtivas variadas que entram em confronto, gerando um movimento “dialético”. Enfim, tudo é histórico.

    Os agentes dessa história não são apenas os indivíduos, mas os grandes gru- pos de indivíduos que podem ser definidos por classes sociais, possuidoras de iden- tidade em comum. Por meio de lutas concretas, esses grupos confrontam-se ao longo da história. E, a partir das transformações que ocorrem em sua vida material, geram diversas “formas ideológicas” que são derivadas da base social e material. Assim, o germe da destruição/mudança/renovação está na própria sociedade (BARROS, 2011, p. 33)

    Barros (2011 p. 25) menciona elementos imprescindíveis ao materialismo his- tórico enquanto campo teórico-metodológico: “dialética, materialismo e historicida- de radical”.

    Sobre a Dialética, é preciso esclarecer que a concepção marxiana decorre de uma leitura crítica da dialética de Hegel que é, por sinal, uma contribuição exemplar das chamadas filosofias da História.

    Em meio o florescimento das contribuições universalistas e iluministas Hegel propôs uma História Universal. Para o filósofo alemão, “haveria uma racionalidade a ser percebida, uma lógica interna ao desenvolvimento do mundo humano, da qual os milagres estariam necessariamente excluídos. O Real, para Hegel é Racional e o Racional, é Real” (BARROS, 2013. p. 85). Esse entendimento da dialética em Hegel foi ponto de partida para muitas obras interessadas em promover uma “História Universal”, mesmo que na prática fossem nacionais e extremamente eurocêntricas.

    Eurocentrismo: centralizado na Europa e/ou nos europeus; que tende a interpretar o mundo segundo os valores do ocidente europeu.

    O movimento dialético, na perspectiva hegeliana, prevê uma Tese inicial que logo será confrontada pelo desenvolvimento de uma “contradição” saída de si mesma de modo a formar uma Antítese. O confronto entre Tese e Antítese – isto é, entre duas realidades contraditórias que se confrontam dialeticamente – gera ao final do processo a Síntese: um novo momento do processo que, então pode reiniciar da mesma maneira o movimento de transformação dialética. O círculo dialético, orientando-se sempre para novas direções e produzindo sempre o novo, jamais cessa de girar, seja na natureza ou no mundo humano. Totalidade, Contradição, Movimento, é disto que se trata. (BARROS, 2011. p. 39)

    Hegel estabelece o espírito como o início do processo dialético, Marx inverte esse ponto de partida colocando a realidade concreta no centro do movimento dialético. Segundo Marx, para compreendermos o movimento histórico de modifi- cação da realidade precisamos perceber as condições materiais da realidade concre- ta. Assim, a história necessita analisar os desenvolvimentos histórico-sociais da vida humana. Daí a ênfase na perspectiva do materialismo. (BARROS, 2011)

    Marx condena a filosofia hegeliana que para ele reduzia o homem concreto à consciência de si.

    Na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas rela- ções necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. (GARDINER. 2008, p. 162)

    A reformulação executada por Karl Marx e Friedrich Engels, é condensada por Barros na seguinte passagem que aponta para uma forma totalmente nova de con- ceber a escrita da história. Verdadeira base para a história econômica e social con- temporânea:

    [...] o movimento histórico, para os fundadores do Materialismo Histórico, é simultaneamente dialético e depende das condições objetivas e materiais da existência humana. Concomitante a isto, a História dá-se em duas di- mensões distintas, mas interligadas, pois ela é simultaneamente a “História das Lutas de Classe’ e a “História da sucessão de Modos de Produção”. (BARROS, 2011. p. 42)

    No que se refere ao terceiro ponto, à historicidade radical, continuamos se- guindo os esclarecimentos feitos por Assunção Barros no livro Teoria da História. Os paradigmas revolucionários, volume III.

    O Materialismo Histórico radicaliza, por assim dizer, a Historicidade que já havia sido trazida pelo Historicismo em princípios do século XIX. Sequer o historiador escaparia à história, tal como já vinha propondo o setor mais relativista do historicismo alemão desde meados do século XIX. (BARROS, 2011.p. 47)

    Para Marx, as ideias não podem ser tomadas como reflexo exato do real, elas não explicam a diversidade da concretude. Assim, devem ser explicadas, pois foram produzidas a partir das sociedades existentes. Nesse ensejo, os indivíduos são per- cebidos como sendo dependentes das condições materiais da sua reprodução.

    Não mais o homem, mas os humanos, todos singulares, não mais a socie- dade, mas os indivíduos que estabelecem entre eles relações determina- das. E não mais o trabalho em geral, mas modos de produção historica- mente determinado. (MARX, 1998, p. 64).

    Nas palavras de Marx, sua concepção da história está ajustada para perceber o desenvolvimento do processo real de produção. Ainda com base em Barros (2011), apontamos a existência de muitas outras noções também fundamentais para o mar- xismo.

    Ressaltamos mais um conjunto de conceitos que também são importantes para compor o entendimento e a operacionalização do materialismo histórico mais exequível (MARX, 1998, p. 28-29).

  • Práxis: une teoria e prática, pensamento e ação – polêmica em torno da sua obrigatoriedade;
  • Luta de classes: desdobra-se diretamente da combinação entre historici- dade e dialética – que envolve contradição;
  • Modo de produção: busca expressar o núcleo mínimo do materialismo histórico de uma determinada formação social. Modificam-se de alguma maneira continuamente, até que finalmente se transformam em outros modos de produção, já característicos de outra formação social.
  • Há ainda, o papel das noções determinismo, ideologia, revolução e socialismo.
  • Entre os pensadores, oriundos de diversas áreas, existem debates acerca da uti- lização de algumas das ideias e conceitos ligados ao materialismo histórico. Como aponta Barros (2011), as noções de ideologia, determinismo, revoluções e socialismo nem sempre são apreciadas dentro da operacionalização do materialismo histórico. O termo socialismo, por exemplo, não faz parte, necessariamente, do materialismo histórico e pode ser “percebido enquanto expectativa de um modo de produção so- cialista seja atingindo historicamente e generalizadamente para a humanidade - faz parte do “Marxismo” (ou, mais propriamente falando, do “marxismo-leninismo”)”. (BARROS, 2011. p. 29).

    O pensamento marxista foi à base para as concepções de história de grande parte dos intelectuais do século XX. E, ao longo de sua expansão e influência, sofreu críticas e inaugurou uma concepção renovada de História.

    O marxismo é uma das mais brilhantes reflexões teóricas executadas na mo- dernidade, além de ser um produto cultural e político legítimo que passou, e pas- sa, por constante revisão baseadas em críticas e releituras diversas. O objetivo do conhecimento histórico em sua perspectiva é a análise da história “real”, cujas evidências devem ser compreendidas como incompletas. Como argumenta Barros, “O Materialismo Histórico pode ser utilizado perfeitamente para “interpretar o mundo”, embora também possa ser utilizado para “transformá-lo”” (BARROS, 2011, p. 28).

    Essa permanente renovação denota sua força e contribuição para o pensamen- to e produção histórica. Contrapondo-se ao materialismo dos séculos XVII e XVIII e a metafísica hegeliana, Marx apoiou a consolidação de um pensar historicamente. Tarefa levada a cabo por muitos marxistas posteriores, que, buscou explicar a teoria de Marx e, em alguns momentos, terminou por distorcer o seu pensamento. Dentre as várias críticas sofridas pelo pensamento marxista, ao longo dos anos, duas mere- cem destaques. Primeiro, a ideia do determinismo econômico.

    Marx esclareceu em muitos momentos a preferência pelas questões econô- micas. Observamos anteriormente, que Marx foi contemporâneo de diversas trans- formações de ordem econômica e políticas ao longo de sua vida. Sobretudo, os desdobramentos da consolidação do capitalismo. Ele era observador dessas trans- formações. Além, de um sujeito histórico interessado em mudar a realidade social, homem de seu próprio tempo. No que diz respeito a leitura que percebe um certo reducionismo nas análises marxianas apontamos que Marx não negava a contribui- ção das demais categorias.

    Marx segue sua análise ressaltando que é a base material que exerce influência direta nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião) e essas “facetas” da vida social só devem ser interpretadas e compreendidas a partir de sua base material. Ao contrário da visão idealista da história, ela não tem que procurar uma categoria para cada época, pois; “permanece constantemente no terreno real da história; ela não explica a prática segundo a ideia, explica a formação das ideias segundo a prática material” (MARX.1998, p.36)

    Nesse sentido Marx julgava ter denunciado os conceitos errados que serviam de base a todas as teorias e interpretações idealistas e era justamente contra esses conceitos que ele se posicionava. A maior crítica que faz a todos esses conceitos é que nenhum ousou pensar a realidade material.

    Essa crítica se justifica pelo fato de que Marx acreditava e defendia que as concepções políticas, ideológicas e filosófi- cas do homem só possuem significação na medida em que são analisados a partir da produção material e dos conflitos entre os diferentes interesses econômicos ori- ginados pela evolução das técnicas de produção.

    Não mais o homem, mas os humanos, todos singulares, não mais a socie- dade, mas os indivíduos que estabelecem entre eles relações determina- das. E não mais o trabalho em geral, mas modos de produção historica- mente determinado (MARX. 1998 . p. 64).

    Nessa passagem acompanhamos a argumentação de Marx que aponta que a produção das ideias está ligada à atividade material de modo que, para ele, o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e inte- lectual em geral: é ser social que lhes determina a consciência. Esse “determinismo” foi duramente criticado ao longo dos anos por estudiosos que conferem à cultura um papel maior na análise das sociedades humanas.

    Conheça um pouco mais sobre a história de Karl Marx

    Marx nasceu na cidade de Trier (Trèves), Alemanha, em 1818. A cidade foi ocupada por tropas francesas de Napoleão (1806) e permaneceu sob o domínio francês até 1915. Essa situação influenciou toda a região contribuindo para a consolidação cultural deste território levando ao estabelecimento de ideias libertárias e antifeudais.

    Em casa, Karl Marx conviveu com um pai de convicções liberais e formação em direito. Em um contexto de crescente antissemitismo, o patriarca da família mudou o próprio nome de Hirschel para Heinrich Marx e se converteu para o protestantismo, antes do nascimento de Karl Marx, o terceiro dos nove filhos do casal Heinrich e Henriette.

    Marx estudou filosofia, direito e História na Universidade de Bonn, depois foi enviado para estudar em Berlim, espaço onde as ideias de Hegel dominavam. Nesse momento, o jovem Marx se aproxima das ideias Hegelianas e, posteriormente, passa a criticar duramente os preceitos de Friedrich Hegel. Discutiremos esses preceitos logo mais.

    Visando ocupar uma vaga de professor na Universidade de Bonn, Marx escreve a tese de doutoramento intitulada Diferença da Filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro. Apesar de muito bem avaliado, Marx não fica com o cargo. Um dos motivos foi a sua atividade de esquerda. Marx passou a se dedicar ao jornalismo e, na mesma época, iniciou a crítica a Hegel a partir do materialismo. Nesse momento, o pensador passou a centrar o foco de análise do mundo das ideias para colocá-lo no mundo da realidade. Daí em diante, Marx se aproximou cada vez mais do movimento operário socialista de Paris. A situação de vida e trabalho da classe trabalhadora desse período chamou atenção do pensador, o que pode ser percebido em seus escritos e na sua história de vida marcada pela luta para a transformação do mundo.

    Marx foi contemporâneo de grandes momentos de transformação econômica, cultural e política, com destaque para a consolidação da classe burguesa. Até sua morte, em 1883, o pensador alemão acompanhou o desenrolar do modelo capitalista, sobretudo em França e Inglaterra, tema fundamental em seus escritos. Tentando explicar e transformar a sociedade capitalista, o alemão produziu conhecimento em muitas áreas de saber; história, economia, ciência política e etc.

    Outra crítica se refere à questão do evolucionismo, que levou alguns estudio- sos a afirmarem que a teoria de Marx era teleológica. De fato, a leitura da socie- dade proposta por Marx é evolutiva, sobretudo, quando se refere a uma sucessão de etapas para superação do capitalismo e ascensão do proletariado. No entanto, este processo só ocorre a partir da intervenção e da vontade do homem. Portanto é dinâmica.

    [...] enquanto produto de uma específica situação histórica o marxismo inevitavelmente se desenvolveu e se modificou a luz das mudanças, ou seja, como consequência das mais amplas transformações históricas, da alteração das circunstâncias, da descoberta de novos dados, das lições da experiência, para não falar ainda das modificações ocorridas no quadro intelectual em que atuava (HOBSBAWM, 1987. p. 17).

    É importante reconhecer a importante contribuição de Marx, o que não nos impede de enxergar a existência de lacunas no seu pensamento. Como argumenta Reis, a própria validade do materialismo histórico, enquanto teoria explicativa da história tem sido muito questionada, no entanto, a possibilidade de leituras tão diversificadas de uma mesma teoria permite-nos duvidar de seu propalado “rigor teórico‘ de seu “caráter paradigmático” (REIS, 2006. p. 58)

    Assim, mesmo encontrando problemas e limitações na obra de Marx não po- demos desconsiderar o fato de que ele foi um pensador extremamente relevante e original na formulação de conceitos e teorias que transformaram a compreensão e as explicações históricas de sua época até hoje.

    Defendendo as proposições do materialismo histórico, Eduard Palmer Thompson (1981. p. 38) afirma que:

    1. O objeto imediato do conhecimento histórico (isto é, o material a partir do qual esse conhecimento é aduzido) compreende “fatos” ou evidências, certamente dotados de existência real, mas que só se tornam cognoscíveis segundo manei- ras que são, e devem ser, a preocupação dos vigilantes métodos históricos.
    2. O conhecimento histórico é, pela sua natureza provisório e incompleto (mas não, por isso inverídico), seletivo (mas não, por isso, inverídico), limitado e defi- nido pelas perguntas feitas à evidência (e os conceitos que informam essas per- guntas), e, portanto, só “verdadeiro” dentro do campo assim definido. Sob esses aspectos, o conhecimento histórico pode se afastar de outros paradigmas de conhecimento, quando (p. 49) submetido à investigação epistemológica. Nesse sentido, estou pronto a concordar que a tentativa de designar a história como ciência sempre foi inútil e motivo de confusão.

    1. A evidência histórica tem determinadas propriedades. Embora lhe possam ser formuladas quaisquer perguntas, apenas algumas serão adequadas. [...]
    2. A relação entre o conhecimento histórico e seu objeto não pode ser compreen- dida em quaisquer termos que suponham ser um deles função do outro.

    Marx organiza o materialismo de forma a se opor aos pensamentos:

    Idealismo: em específico Hegel, “o real é guia e fundamento do pensar na história” e as contradições históricas ocorrem naturalmente. Pois, para Marx o real também é fundamento do pensar, mas as contradições históricas não ocorrem na- turalmente, elas são provocadas pela diferença econômica de classes.

    A historiografia surgida desse momento, portanto que se esboça desde o iní- cio do século XIX até meados do XX, contou com o surgimento de figuras de gran- de relevo para a consolidação de um saber histórico institucional e reconhecido socialmente. Trata-se de uma época clássica dos estudos históricos, chamada por alguns de “século da História”. Nele, percebemos o aprimoramento dos níveis de reflexão da escrita da história, nesse período, a própria concepção de História vivida se transformou passando a se direcionar para o planejamento visando o progresso da humanidade.

    Autores como Leopold von Ranke, Jules Michelet, Jacob Burckhart e outros oitocentistas, produziram um impacto transformador na história. Apesar de poder- mos apontar nomes específicos e, em alguma medida apontar a possibilidade de explanação numa perspectiva uniforme, cabe ressaltar que mesmo nesse período, é possível observar a existência de mais de um jeito de fazer história. Essas variações motivam a seleção da nossa explanação. Dentre expoentes e contribuições, desta- caremos alguns nomes que elevaram o ofício do historiador com o propósito de oferecer uma visão mais panorâmica da tradição ocidental dos estudos históricos.

    Ressaltamos perspectivas teóricas, concepções, técnicas de investigação e pensamento histórico, portanto, aspectos centrais do pensamento histórico.

    A explanação sobre o positivismo, o historicismo e materialismo histórico tra- zem à tona questões importantes sobre a consolidação da História, a formação do historiador, sobre a questão da cientificidade da História, todos, aspectos centrais das preocupações historiográficas contemporâneas. A verdade é que, para enrique- cer o debate historiográfico e aprimorar nosso trabalho enquanto pesquisadores devemos conhecer vários modelos e padrões analíticos.

    Guia de Estudo

    Você já tinha ouvido alguns dos conceitos apresentados nesta unidade? Qual deles? Em que momento estes conceitos são pensados dentro da sociedade? Comente o conceito que mais lhe chamou a atenção e justifique sua resposta.

    Sugerimos que leia o artigo sobre a História do Romantismo.Nenhum outro movimento intelectual ou artístico teve a mesma variedade e poder de permanência desde o final da Idade Média.

    Propomos também que leia o artigo Historicismo: notas sobre um paradigma. O autor tem por objetivo desenvolver algumas considerações sobre o Historicismo e sua possibilidade de ser examinado como um dos paradigmas que concorrem para o estabelecimento de uma história científica no século XIX. O primeiro ponto tratado é relativo às origens do paradigma historicista na transição do século XVIII para o século XIX. Na sequência,aproximamo-nos da apropriação conservadora do paradigma historicista no novo contexto no qual a burguesia europeia está assentada no Poder,combinando-se com a consolidação dos modernos estados-nações. A especificação das características deste paradigma constitui o principal ponto de análise.

    Após a leitura dos artigos, escolha um e faça suas considerações e compartilhe com seus colegas na sala virtual.

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia

    Propomos a leitura da obra “A História entre a Filosofia e a Ciência”. No século XIX, a história se emancipa à filosofia e à literatura e se adere à ciência, mudando assim o foco das preocupações do historiador. Ele abandona o ‘ser da história’ e passa a indagar as próprias possibilidades do conhecimento histórico. A história poderia, enfim, produzir um conhecimento positivo e aspirar a um lugar entre as ciências.

    REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

    Após a leitura da obra faça um texto dissertativo sobre as direções básicas da história científica no século passado: a orientação rankiana, a orientação diltheyniana e a orientação marxista e realize uma postagem no ambiente virtual.

    Para ampliar seus conhecimentos sugerimos que faça uma pesquisa sobre as influências do marxismo no mundo contemporâneo.

    Após sua pesquisa, relate na sala virtual através de participação no fórum de conteúdo, em que aspectos da sociedade as teorias de Karl Marx mais influenciaram?

    Propomos também uma pesquisa sobre os três importantes conceitos da teoria da História:

  • Dialética
  • Materialismo
  • Historicidade radical
  • Após sua pesquisa escreva com suas palavras o que você entendeu sobre cada um deles.

    Sugerimos que leia a entrevista Diálogos sobre teoria, metodologia e a historiografia: entrevista com José D’Assunção Barros. Neste diálogo,com os professores Hélio Sochodolak e Oseias de Oliveira, o historiador e autor de vários livros na área de História, José D’Assunção Barros faz um balanço de sua produção acadêmica e autoral. Comenta sobre sua trajetória intelectual e destaca a suas recentes produções da série Teoria da História.

    Após a leitura da entrevista, faça um resumo e disponibilize na sala virtual

    Para você saber mais, propomos também a leitura do Processo do modo de produção, onde você verá que determinada sociedade se organiza visando garantir a produção das suas necessidades materiais, de acordo com o nível de desenvolvimento de suas forças produtivas. E também terá aoportunidade de entender os tipos de modo de produção.

    Após a leitura faça um texto sobre o seu entendimento dos tipos de modo de produção e disponibilize na sala virtual.

    Propomos que assista ao vídeo Interconexão, entrevista com Rodrigo Patto Sá Motta, presidente da Associação Nacional de História (ANPUH), cujo tema é o ofício do historiador.

    Qual comparação entre positivismo e a nova historia

    Sugerimos que assista também ao filme Charlie Chaplin Modern Times. O filme trata de um operário de uma linha de montagem, que testou uma máquina revolucionária para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela monotonia frenética do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. A partir do filme é possível perceber alguns conceitos apontados pelo materialismo histórico como: Mais valia, alienação e acumulação primitiva de capital.

    Assista ao filme “Tempos modernos (1936)” identifique nas ações do personagem principal semelhanças as ideias de Karl Marx em suas obras. Atente que o filme se passa no momento de industrialização, cuja riqueza dos industriais vinha da produção das fábricas. Posterior disponibilize na sala virtual.

    Na primeira unidade estudamos a história das obras clássicas. Essas obras formaram gerações, incutiram ideias e delimitaram métodos consolidados pelo uso e pela crítica que, através do tempo, são lidas, rememoradas e retomadas sob um nova óptica. Quando pensamos em textos clássicos, seja em História ou em qualquer outra área, pensamos em obras que causaram impacto nos estudos, modelaram sua forma ou direcionaram seus interesses.

    Nos dias atuais, várias questões se colocam ao trabalho do historiador, principalmente no que se refere a sua prática. Atentemos, portanto, que nossa habilidade de interpretar as fontes nos permite analisar contextos e situações que não presenciamos, mas não são apenas as experiências empíricas que garantem o êxito de uma pesquisa. O conhecimento teórico é também fundamental.

    O romantismo foi um movimento artístico, político, e filosófico, nas últimas décadas do século XVIII - XIX na Europa. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa. O romantismo toma mais tarde a forma de um movimento, e o espírito romântico passa a designar uma visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano e ideal utópico.

    Na segunda unidade de estudo abordamos o Positivismo que procurou adaptar para a humanidade os métodos científicos desenvolvidos pelas ciências naturais. Com base nesse método, buscava as regularidades nas ações dos homens, afirmava a apologia ao progresso e apontava a certeza em um permanente desenvolvimento e aperfeiçoamento da humanidade.

    Os historiadores que foram influenciados pelo positivismo, acreditavam que a humanidade caminhava naturalmente para um futuro melhor, tendo como conceito a ideia de progresso, onde o desenvolvimento tecnológico permitiria avanços que beneficiariam a humanidade. No Brasil, os grupos ligados ao positivismo tiveram forte militância a favor da instalação de um regime republicano centralizador. As influências das ideias comtianas estão expressas inclusive na frase “Ordem e Progresso” presente na bandeira nacional brasileira.

    A fundamentação erigida pelo filósofo francês Augusto Comte se tornaria uma das bases da ciência moderna e se mantém presente nas análises das mais diversas áreas das “ciências humanas”. Enquanto corrente de pensamento oitocentista, pois é uma teoria do século XIX, o positivismo traz uma reflexão liberal ambientada no clima pós-revolucionário e de otimismo com relação aos progressos científicos e tecnológicos.

    Augusto Comte formula uma concepção de ciência natural, chamada, em um primeiro momento de física social. Nela, os fenômenos sociais seriam submetidos às leis naturais invariáveis. A concentração de riqueza, por exemplo, seria explicada de forma a naturalizar sua existência. Assim, o proletário deveria ser esclarecido sobre o seu lugar social, o de submisso, dentro da lógica que resultaria do reconhecimento da lei [natural] que determina os papéis sociais. O positivismo de Augusto Comte, apontado como fundador dessa corrente de pensamento pode ser descrito como um positivismo filosófico.

    Barros (2011) aponta a distinção entre positivismo e historicismo se baseando no fato da existência de perspectivas diferenciadas sobre o Homem: possuidor de uma natureza imutável – positivistas e historicistas. Uma diferença acentuada de método.

    Por outro ângulo, aprendemos que existem semelhanças entre o positivismo e o historicismo apontando, por exemplo, que os dois movimentos foram resultado de uma mesma necessidade de época, ao mesmo tempo em que pretendia atender às exigências de apoiar os interesses burgueses e, paradoxalmente, sustentar a manutenção de privilégios da nobreza.

    Na terceira unidade de estudo abordamos o historicismo que é uma importante teoria do conhecimento social que influenciou muitas ciências sociais. Apesar de ser possível articular o historicismo ao marxismo e ao positivismo, ele não é uma corrente idêntica a estes outros dois sistemas de pensamento.

    Para Löwy, o historicismo pode ser percebido dentro de uma lógica mais ampla que inclui valores, ideologias e visões de mundo, bem como sua influência nos processos de conhecimento científico. Löwy argumenta que o historicismo parte de três hipóteses fundamentais: qualquer fenômeno social, cultural ou político é histórico e só pode ser compreendido através da história; existem diferenças básicas entre os fatos naturais e os fatos históricos ou sociais. Portanto, as ciências que estudam esses fenômenos são diferentes; o pesquisador da história, ele próprio, está imerso no processo histórico.

    Foi mencionado sobre o materialismo histórico. O paradigma do materialismo surgiu no século XIX e se estende até os dias atuais relacionando materialismo e História. Tratando-se de um âmbito teórico em permanente discussão, o materialismo é uma teoria da história que influencia várias correntes historiográficas.

    O materialismo histórico oferece um rico arsenal de instrumentos teóricos. Possui conceitos que fundamentam para várias ciências humanas como, por exemplo, os conceitos de mais-valia, alienação e acumulação primitiva.

    Composição do Materialismo histórico-dialético

  • Crítica do pensamento do filósofo Ludwig Feuerbach (1804-1872), os conceitos de materialismo e alienação.
  • Crítica do filósofo Friedrich Hegel (1770-1831), o conceito de história como dialética.
  • Desta “composição” nasce a filosofia marxista, conhecida como Materialismo histórico-dialético

    Marx organiza o materialismo de forma a se opor aos pensamentos:

  • Idealismo: em específico Hegel, “o real é guia e fundamento do pensar na história” e as contradições históricas ocorrem naturalmente. Pois, para Marx o real também é fundamento do pensar, mas as contradições históricas não ocorrem naturalmente, elas são provocadas pela diferença econômica de classes.
    1. Ler uma obra considerada como clássica para uma área de estudo, significa considerar os usos já feitos da obra e os usos que ainda podemos fazer delas. Como você entende essa afirmação?
    2. Como se deu a “revolução historiográfica” do século XIX?
    3. Quais foram os questionamentos de Vico em relação anticartesianismo?
    4. Quais são as características do pensamento sistematizado por Vico?
    5. Quais são as características do Romantismo Francês?
    6. Em que acreditava um dos fundadores do Positivismo?
    7. Qual o argumento do sociólogo Michel Löwy sobre os pressupostos teóricos iniciais do positivismo?
    8. Quais os argumentos de Löwy em relação ao historicismo?
    9. Descreva sobre o Materialismo Histórico.

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