Quais são os benefícios das bactérias

O reino Monera abriga todos os seres vivos unicelulares, que não possuem um núcleo definido e têm uma parede celular rígida. Isso quer dizer que o material genético desses seres fica disperso no interior da célula. As bactérias e cianofíceas - ou cianobactérias, como são chamadas na nomenclatura moderna -, são os habitantes desse reino.As bactérias, formas de vida de tamanho microscópico, interferem não apenas na vida humana, mas em toda a ecologia da Terra. Quando nosso planeta esfriou, há pelo menos 4,6 bilhões de anos, as primeiras formas de vida que apareceram foram as bacterianas.

Segundo o professor de paleontologia da Universidade de São Paulo (USP), Luis Eduardo Anelli, existem evidências seguras de que as mais antigas formas de vida são fósseis de bactérias com 3,5 bilhões de anos.

Bactérias estão em toda parte

As bactérias estão em todos os tipos de habitat. Por causa de sua capacidade de adaptação, sobrevivem em muitos ambientes que não sustentam outras formas de vida. São encontradas nas mais baixas temperaturas da Antártida, em águas ferventes de fontes naturais quentes e até mesmo nas profundezas escuras dos oceanos.

Algumas são anaeróbias obrigatórias: só sobrevivem na ausência de oxigênio, enquanto outras são anaeróbias facultativas, isso é, vivem tanto na presença de oxigênio como em sua ausência.

Bilhões de bactérias em um grama de solo

Elas são sobreviventes inquestionáveis de todas as alterações sofridas pela Terra durante bilhões de anos. Atualmente, esses microorganismos são a maior parte da biomassa de nosso planeta, segundo o Ray Evert, biólogo e pesquisador da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

Isso quer dizer que o peso total das bactérias existentes excede ao de todos os demais organismos combinados. Para se ter uma ideia, em um grama de solo fértil, agrícola, é possível encontrar 2,5 bilhões de bactérias.

Mais bactérias que células

O número de bactérias que vivem dentro do corpo humano, em especial dentro do trato digestivo e da pele, é mais alto que o número das células que o constitui.

A explicação é do professor Luis Trabulsi, bacteriologista e médico, do Instituto Butantan, em São Paulo. "A variedade de bactérias no mundo é tão grande que só se conhece 50% delas", acrescenta. Pode-se afirmar que sem elas a vida como conhecemos seria impossível. As bactérias nos ajudaram, ao longo da evolução, a criar um sistema imunológico eficiente.

Prova disso é que a administração de lactobacilos em animais promove o desenvolvimento de anticorpos e ativa as células de defesa do organismo, os linfócitos. Acredita-se que as bactérias do tipo lactobacilos têm o mesmo efeito nos seres humanos.

Bactérias nas usinas de reciclagem

A maior parte das bactérias heterótrofas retira o seu alimento de matéria orgânica morta. Quando um ser vivo morre, bactérias conhecidas como saprobióticas, ou decompositoras, causam o seu apodrecimento natural.É por meio da decomposição que as bactérias reciclam substâncias vitais para que essas possam ser utilizadas pelos organismos vivos. Esse fenômeno é conhecido como ciclagem de nutrientes. São exemplos os ciclos do carbono e do nitrogênio.

As bactérias e as algas unicelulares são responsáveis por 50% da fotossíntese produzida no mundo. Antigamente, esse fenômeno era atribuído apenas às plantas. Algumas espécies desses, microorganismos possuem clorofila, assim como os vegetais - são as bactérias autótrofas fotossintetizantes.

A fotossíntese bacteriana não produz oxigênio livre, como fazem as plantas, mas enxofre. Elas proliferam em locais repletos de matéria orgânica morta. Nesses lugares, pode-se sentir um cheiro ruim, devido a liberação do enxofre.

Diferenças entre bactérias

Pode-se distinguir as bactérias quanto à sua forma. As que se apresentam retilíneas e cilíndricas são bacilos. As esféricas são cocos e as alongadas e encurvadas são chamadas de espirilos.Os cocos podem permanecer aos pares - são os diplococos-, em cadeias - os estreptococos - ou em pequenos agregados - os estafilococos. O micróbio que causa a pneumonia é um diplococo, enquanto os estafilococos determinam muitas infecções como furúnculos e abcessos.

As bactérias em forma de bastonetes incluem os microorganismos causadores do tétano, difteria e tuberculose. Bactérias em formato helicoidal podem ser responsáveis por doenças graves, como a sífilis.

A variedade é imensa

As rickettsias vivem quase sempre dentro de outras células e são, portanto, parasitas. Elas causam doenças como o tifo, transmitido pela picada de piolhos e pulgas, e a febre maculosa, que tem o carrapato como agente transmissor.

É importante ressaltar que a variedade bacteriana é imensa, e esse texto deixa de mencionar várias delas.

Queijos e remédios

Quase todos os queijos são produzidos em função da fermentação, induzida por bactérias, da lactose em ácido láctico, o qual coagula as proteínas do leite. Do mesmo modo elas são usadas comercialmente na produção de vinagre (ácido acético), vários aminoácidos e enzimas.

Algumas bactérias auxiliam o ser humano na produção de remédios. Exemplo disso é a bactéria Streptomyces fradiae, produtora do antibiótico neomicina, utilizado para combater infecções da pele.

Muitas pessoas acreditam que as bactérias não servem para nada, ou melhor, que só nos causam diversas doenças. Mas isto está longe de ser verdade - felizmente! De fato, algumas bactérias provocam doenças. Outras, no entanto, são amplamente exploradas para melhorar nossa qualidade de vida, em diversos aspectos: quanto à nossa alimentação, na produção de insulina, nos tratamentos de beleza, no ambiente etc. Vamos ver como isso ocorre?

Para começar, quanto à nossa alimentação, as bactérias são amplamente utilizadas para a fabricação de iogurtes, por exemplo. Você certamente já ouviu falar em lactobacilos vivos, que estão presentes num produto de marca famosa. Mas de que modo as bactérias atuam no iogurte? Bem, elas transformam o açúcar contido no leite (lactose) em ácido láctico.

Desse modo, o leite torna-se azedo, mudando assim o seu pH. Isso faz com que a proteína do leite se precipite, formando o "coalho". Mas, em matéria de alimentação, além das bactérias que atuam no leite, há também aquelas que modificam o álcool etílico em ácido acético, formando o vinagre, que tempera saladas e diversos pratos.

Importância ecológica das bactérias

A atuação das bactérias no ambiente também merece destaque: é extremamente importante para a reciclagem de matéria orgânica, ou seja, as bactérias, juntamente com os fungos, realizam o processo de decomposição transformando a matéria orgânica morta e devolvendo-a ao solo sob a forma de matéria inorgânica.

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    Estrutura celular de uma bactéria

Outro aspecto importante, no âmbito ecológico, se refere ao ciclo do nitrogênio, pois os seres vivos não absorvem este elemento químico diretamente do ar (existem na atmosfera cerca de 71 %).

As bactérias do gênero Rhizobium que se encontram nas raízes de plantas leguminosas, como por exemplo, o feijão, milho, ervilha, etc., é que transformam o nitrogênio atmosférico em sais nitrogenados (nitrito e nitrato) para as plantas, aumentando a quantidade de nutrientes que elas absorvem.

Na seqüência, o nitrogênio é passado para os animais herbívoros, que se nutrem das plantas, e depois aos carnívoros, que se alimentam dos herbívoros.

Bactérias como fertilizantes e digestivos

Há ainda outras bactérias dos gêneros Nitrossomonas e Nitrobacter que transformam respectivamente, a amônia (NH3) liberada pela urina dos animais em nitrito e o nitrito em nitrato, o que aumenta a fertilidade do solo.

As bactérias também associam-se a outros seres vivos, estabelecendo relações ecológicas, sendo o mutualismo (uma união de que dependem dois seres vivos e na qual ambos são beneficiados) muito comum. Um exemplo disso ocorre entre os ruminantes e as bactérias que vivem em seu estômago.

Sem elas, o ruminante não conseguiria absorver o máximo dos nutrientes dos vegetais, devido à falta de uma enzima capaz de quebrar a celulose. Esse trabalho é realizado pelas bactérias. Em troca disso, estas ganham moradia e alimentação. Portanto, o benefício é mútuo.

Bactérias e controle biológico

As bactérias também são amplamente utilizadas no combate as pragas na agricultura. Um exemplo disto é o Bacillus thuringensis, que ataca as larvas de determinados insetos, produzindo cristais de proteínas que acabam por romper seus intestinos, ocasionando a morte dessas mesmas larvas. Desse modo, elas controlam os insetos que atacam as plantações - o que nós denominamos de controle biológico ou natural de pragas.

Ainda no âmbito ambiental encontramos as bactérias, juntamente com outros microorganismos, no tratamento biológico de águas de rios poluídos, em biorreatores, que, operados sob determinadas condições, resultam na estabilização da matéria orgânica poluente. Os sistemas de tratamento biológico de resíduos visam promover a remoção da matéria orgânica e se possível a degradação de compostos químicos.

Uso farmacêutico e cosmético

As bactérias também podem ser programadas, através da engenharia genética, para produzir a insulina. Esse hormônio (insulina) é de suma importância para controlar a taxa de açúcar no sangue, garantindo níveis apropriados à sobrevivência humana.

No campo da estética pessoal, as bactérias também estão sendo utilizadas, ou melhor, sua toxina é posta em ação. É o caso da toxina botulínica (o "botox") que serve para paralisar, por um período, a musculatura do rosto (linhas de expressão), evitando as rugas da idade.

Em suma, a existência de diferentes formas de vida em nosso planeta necessita da presença das bactérias e de sua vasta atuação no ambiente, na alimentação, na saúde física e até na estética.

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