Por que a China é o país que mais emite gases de efeito estufa no mundo

O Brasil anunciou a meta de atingir a neutralidade climática até 2050 na Cúpula de Líderes pelo Clima, realizada em 22 de abril. Além do Brasil, só os Estados Unidos e a União Europeia adotaram esse prazo para zerar as emissões de gases de efeito estufa entre os 7 territórios que mais emitem gases do efeito estufa.

Ainda que a meta seja alcançada, a colaboração brasileira para a melhoria climática será modesta: o país responde por 2,9% dos gases de efeito estufa.

A China, a nação que mais contribui para o aquecimento global, planeja alcançar a neutralidade em 2060. Pretende, porém, aumentar sua produção de gases de efeito estufa em 30% até o fim desta década. Em 2018 (últimos dados disponíveis), os chineses responderam por 23,9% de todas as emissões do mundo.

Os EUA aparecem em seguida, com 13,6% dos gases de efeito estufa no mundo. União Europeia e Índia vêm em seguida, ambos com 6,8% (mais do que o dobro do Brasil). Indonésia (3,5%) e Rússia (3,3%) são outros países que têm pegada de carbono maior que a brasileira.

Antes de alcançar a neutralidade climática, o Brasil pretende diminuir em 37% as emissões até 2025 e em 43% até 2030. Essas reduções são projetadas em cima dos indicadores do país em 2005. Na prática, as metas pactuadas pelo Brasil permitirão ao país chegar ao fim da década emitindo mais gases poluentes do que em 2018.

O plano brasileiro permite em 2025 emissões 29% superiores às de 3 anos atrás. Em 2030, o país poderá emitir gases de efeito estufa 14% acima do patamar de 2018.

China, Índia e Indonésia também apresentam metas para o final da década com emissões maiores do que as de 2018. Eis abaixo infográfico com as metas detalhadas:

Por que a China é o país que mais emite gases de efeito estufa no mundo

Apesar das críticas, o Brasil é responsável por uma parcela pequenas das emissões se comparado ao ranking de territórios que mais emitem gases do efeito estufa no mundo. Somados, China, Estados Unidos, Índia e União Europeia são responsáveis por 51,2% das emissões. Ainda assim, são alvos de críticas de forma menos frequente que o Brasil.

Eis o ranking com os principais responsáveis pelas emissões globais:

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Emissões brasileiras

Além da pouca participação no aquecimento global, o Brasil conta com certa facilidade para diminuir suas emissões. De acordo com especialistas consultadas pelo Poder360, uma das principais causas do problema no país é o desmatamento, cuja resolução é de baixa complexidade.

Brenda Brito, advogada e pesquisadora do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), afirma que países que precisam alterar suas fontes de energia ou controlar a queima de combustíveis têm dificuldades maiores. “Reduzir o desmatamento tem um custo muito mais baixo“, diz.

Mas o desmatamento no Brasil está em alta. De agosto de 2019 a julho de 2020, o Brasil desmatou 11.000 quilômetros quadrados só da Amazônia. A área equivale ao dobro do tamanho do Distrito Federal. Foi o maior nível desde 2008.

Suely Araújo, especialista em políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirma que isso pode comprometer inclusive o cumprimento das metas internacionais do país.

Em 2019, segundo o relatório de Análise das Emissões Brasileiras de Gases de Efeito Estufa de 2020 (íntegra – 1,1 MB), o desmatamento foi central nas emissões de gases do efeito estufa. A forma como o solo é utilizado pelas pessoas foi responsável por 44% das emissões no ano retrasado. Nisso está incluso o crescimento das cidades e a destruição de florestas nativas.

Por causa do aumento do desmatamento, o Brasil ficou fora de um fundo internacional de US$ 1 bilhão para florestas. A iniciativa foi lançada na cúpula. Eis a íntegra (4,6 MB).

“Bolsonaro baixou o tom no discurso [na Cúpula do Clima], mas essa fala atenuada é apenas isso: discurso. E é completamente incoerente com tudo o que vem sendo feito desde o início do governo”, afirma Araújo.

O presidente prometeu eliminar o desmatamento ilegal até 2030. Para isso, pediu uma “justa remuneração” por serviços ambientais. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, solicitou US$ 1 bilhão para alcançar o objetivo.

Para Brito, o alinhamento do Brasil com a questão climática junta a outros países é necessário para além da questão do meio ambiente. Ela afirma que os desafios do aquecimento global fez com que a sustentabilidade se tornasse central na economia mundial. Para ela o mundo está entrando em uma “nova ordem mundial“.  Assim, “o país que não se adaptar a isso vai ficar de fora“.

Mas essa nova economia também encontra dificuldades. Exemplo disso é o mercado de créditos de carbono. Esse é um mecanismo que estabelece retorno financeiro a países que atingem metas de emissão, inclusive no passado.

Definida no Acordo de Paris, a iniciativa não se tornou viável ainda por falta de interesse na compra dos créditos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil já tem um volume certificado pela ONU que daria ao país o direito de vender mais de US$ 130 bilhões em créditos desde o governo Dilma Rousseff (PT). Mas até o momento, nenhum dos países ricos se interessou em comprar o crédito brasileiro.

“PEDALADA CLIMÁTICA”

Outro ponto é que, apesar de os percentuais da meta brasileira apresentada na Cúpula serem os mesmos do Acordo de Paris, em 2015, a atualização do ano passado representa um retrocesso nas políticas ambientais nacionais, segundo as especialistas ouvidas pela reportagem.

Brito explica que em 2020 o Brasil mudou sua referência de emissão de gases e, com isso, aumentou o valor do saldo em 2005.

Como o saldo do ano-base cresceu, as metas ficaram mais amplas. No compromisso brasileiro do Acordo de Paris proposto em 2016 (íntegra – 575 KB) o saldo de emissões do Brasil poderia atingir até 1,3 bilhão e 1,2 bilhão de CO2e em 2025 e 2030, respectivamente. Agora, podem ser até 1,8 bilhão e 1,6 bilhão de CO2e.

“O Acordo de Paris indica que as metas não podem retroceder daquelas que já foram apresentadas. E quando o Brasil fez essa atualização ano passado, ele acabou retrocedendo. É isso que a gente está chamando de pedalada climática”, diz Brito.

A “pedalada climática” é o tema de uma ação popular (íntegra – 758 KB) que está na Justiça Federal de São Paulo desde 13 de abril de 2021. O grupo de ativistas ambientais questiona as 400 milhões de toneladas a mais que o Brasil vai poder emitir em 2030.

Correção [29.abr.2021 – 15h38]: A 1ª versão dessa reportagem afirmava que apenas o Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia adotavam a meta de neutralidade climática até 2050. Na verdade, entre os 7 países que mais emitem gases do efeito estufa são apenas os 3, mas existem outros países -que emitem menos CO2e-, que também têm essa meta até 2050.

9 agosto 2021

Legenda da foto,

A China conseguiu avanço importante em reflorestamento, mas continua sendo o país com maior emissão de carbono do mundo

A emissão de carbono pela China continua crescendo aceleradamente na comparação com outros países.

Especialistas concordam que, sem grandes reduções nas emissões do país asiático, o mundo não vai conseguir vencer a batalha da crise climática.

O presidente chinês, Xi Jinping, disse que seu país vai tentar atingir o volume máximo de emissões antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060.

Mas ele não especificou como a China pretende alcançar essa meta ambiciosa.

Crescimento explosivo

Todos os países parecem enfrentar dificuldades para reduzir emissões de gases poluentes, mas o desafio é maior para a China.

A emissão por pessoa na China é cerca de metade da dos Estados Unidos, mas a sua enorme população de 1,4 bilhão de pessoas e o crescimento econômico explosivo colocam o país bem à frente de qualquer outro em volume total de emissões.

A China se tornou o maior emissor de dióxido de carbono em 2006 e atualmente é responsável por mais de um quarto das emissões de gases do efeito estufa no mundo.

Usina de carvão

Reduzir as emissões da China é algo possível, segundo diversos especialistas, mas vai exigir uma mudança radical. O carvão tem sido a principal fonte de energia do país por décadas e o seu uso está aumentando.

O presidente Xi Jinping disse que a China vai "reduzir gradativamente" o uso de carvão a partir de 2026, mas o anúncio foi criticado por alguns países e ativistas por não ser o suficiente.

Pesquisadores da Universidade Tsinghua, em Pequim, dizem que a China precisa parar totalmente de usar carvão para gerar eletricidade até 2050, substituindo a geração de energia por fontes nucleares ou renováveis.

Mas longe de fechar usinas de geração de energia a carvão, a China está atualmente construindo novas plantas em mais de 60 localidades pelo país, com várias áreas abrigando mais de uma usina.

Novas usinas costumam permanecer ativas por 30 a 40 anos, portanto a China teria que reduzir a capacidade das novas plantas, assim como das antigas, se quiser reduzir emissões, diz o pesquisador Philippe Ciais, do Instituto de Meio Ambiente e Ciências Climáticas, em Paris.

Seria possível melhorar as instalações de algumas delas para capturar emissões, mas a tecnologia para fazer isso em escala ainda está em desenvolvimento. E várias usinas terão que ser fechadas após utilização mínima.

A China argumenta que tem o direito de fazer o que países ocidentais fizeram no passado: liberar dióxido de carbono no processo de desenvolvimento de sua economia e de redução da pobreza.

Também tem financiado a construção de usinas a carvão fora da China por meio do seu projeto de Cinturão de Ferro, embora agora pareça estar desacelerando esse tipo de investimento.

Mas a China também está investindo em energia verde

Pesquisadores da Universidae Tsinghua dizem que 90% da energia na China deverá vir de usinas nucleares e renováveis até 2050. Para chegar perto desse objetivo, a liderança da China na produção de tecnologia de energia verde, como painéis solares e baterias de larga escala, pode ser de grande proveito.

A China primeiro abraçou tecnologias verdes como uma maneira de reduzir a poluição do ar - problema sério em várias cidades do país.

Mas o governo também acredita que elas têm grande potencial econômico, gerando empregos e renda para milhões de chineses, bem como reduzindo a dependência da China na importação de óleo e gás.

"A China já está liderando a transição global de energia", diz Yue Caro, do Overseas Development Institute. "Uma das razões pelas quais somos capazes de usar cada vez mais tecnologias verdes baratas é a China."

A China produz mais energia solar que qualquer outro país. Isso pode não ser tão impressionante diante da enorme população chinesa, mas é um sinal do trajeto que o gigante asiático está seguindo.

Em 2020, a China tinha mais que o triplo de plantas de energia eólica que qualquer outro país. A China diz que a proporção de sua energia gerada de combustíveis não-fósseis deve alcançar 25% até 2030, e vários pesquisadores acreditam que a meta será alcançada antes disso.

Carros elétricos

A China está em sétimo no ranking mundial em percentual de venda de carros elétricos. Mas, diante do seu tamanho continental, ela produz e compra mais carros elétricos que qualquer outro país, por uma margem considerável. Cerca de 1 em cada 20 carros comprados na China é elétrico.

Calcular quanto a mudança para carros elétricos contribui na redução de emissões não é simples- particularmente quando levamos em consideração as fontes de fabricação e recarga de bateria.

Mas estudos sugerem que as emissões ao longo do período de vida útil dos veículos elétricos são geralmente menores que as geradas por carros movidos a petróleo ou diesel.

Isso é relevante porque transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões provenientes da combustão de combustível, sendo que veículos rodoviários são os maiores emissores.

A China também vai, até 2025, produzir baterias com o dobro da capacidade das produzidas por todo o restante do mundo junto.

Observadores dizem que isso vai permitir o armazenamento e liberação de energia de fontes renováveis num escala antes impossível.

A China está ficando mais verde

Alcançar a chamada Rede Zero de emissões de gases do efeito estufa não significa que a China vai parar de produzir emissões. Significa que a China vai reduzir as emissões ao máximo e absorver o que sobrar por uma combinação de medidas.

Aumentar a área territorial coberta por vegetação vai ajudar, já que as plantas absorvem dióxido de carbono. Nesse quesito, as notícias são boas.

A China está ficando cada vez mais verde e num ritmo mais acelerado que qualquer outro país, principalmente como resultado de seus programas de reflorestamento, criados para reduzir a erosão do solo e a poluição.

Isso também é, em parte, resultado do replantio de campos para viabilizar mais de uma colheita por ano, o que permite que territórios fiquem cobertos por vegetação por mais tempo.

E agora?

O mundo precisa que a China seja bem-sucedida. "A não ser que a China reduza as emissões de carbono, não vamos combater as mudanças climáticas", diz o professor David Tyfield, o Centro de Meio Ambiente de Lancaster, no Reino Unido.

A China tem algumas grandes vantagens, particularmente na sua capacidade de seguir estratégias de longo prazo e mobilizar investimentos de larga escala.

As autoridades chinesas estão enfrentando um desafio colossal. O resultado disso não poderia ser mais importante.

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