Os egípcios acreditavam na vida após a morte de acordo com sua crença o morto era julgado pelos

EGITO E GRÉCIA: A CONCEPÇÃO DE VIDA APÓS A MORTE DENTRO DOS RITUAIS FÚNEBRES

Amanda Martins Hutflesz[1]

RESUMO

A pergunta que instigou a realização desta reflexão surgiu com o objetivo de descobrir se existiam e como ocorriam tantos Rituais e práticas Funerárias na Grécia Antiga, como existiam e ocorriam no Antigo Egito. A partir disso, pretende-se analisar também, qual era o significado de alguns rituais funerários egípcios, e se, para os Antigos gregos, havia algum tipo de similaridade nessas práticas religiosas.

Acredita-se que, seria de senso comum conhecer o imaginário egípcio acerca da vida após a morte. A importância que eles conferiam ao uso da escrita, dos encantamentos e fórmulas mágico-rituais (e imagens) nas paredes de algumas pirâmides e em ataúdes, práticas de mumificação do corpo do morto, oferendas de alimentos e objetos pessoais dispostos na tumba do falecido depois de sua morte, para atender suas necessidades no Além.  Mas será que, os gregos também tinham esse modo de pensar a respeito do ‘Post-Mortem’? Haveria mumificação do corpo na Grécia Antiga? E no que se refere ao enterramento dentro tumbas, sarcófagos ou pirâmides? Os helenos temiam a morte e o Além? Sendo assim, neste trabalho buscarei responder tais questões, pesquisando através da análise das fontes escolhidas como livros, artigos, dissertações e teses de autores que trabalham nessa linha de pesquisa.

Palavras-chave: Egito Grécia - Práticas Funerárias – Embalsamação – Cremação - Alma – Imortalidade – Vida Eterna

ABSTRACT

               The question that instigated the realization of this reflection arose with the objective of discovering if they existed and how it happened so many Funeral Rituals and practices in Ancient Greece, as they existed and they happened in Ancient Egypt. From this, it is also intended to analyze, what was meant by some Egyptian funerary rituals, and whether, for the Ancient Greeks, there was some kind of similarity in these religious practices.                It is believed that it would be common sense to know the Egyptian imaginary about life after death. The importance they attached to the use of writing, spells and magic-ritual formulas (and images) on the walls of some pyramids and coffins, mummification practices of the body of the deceased, food offerings and personal objects arranged in the tomb of the deceased later Of his death, to meet his needs in the hereafter. But did the Greeks also have this way of thinking about 'Post-Mortem'? Would there be mummification of the body in Ancient Greece? And what about burial inside tombs, sarcophagi or pyramids?                Did the Hellenes fear death and the Hereafter? Therefore, in this work I will try to answer such questions, searching through the analysis of the chosen sources as books, articles, dissertations and theses of authors that work in this line of research.   Key - Words: Egypt - Greece - Funeral Practices - Embalming - Cremation - Soul - Immortality - Eternal Life            

1.     OS EGÍPCIOS E SUA CONCEPÇÃO DE VIDA APÓS A MORTE

Na concepção dos egípcios, preocupar-se com a vida após a morte era de extrema importância. Eles acreditavam que, mesmo após a morte do corpo, o espírito (ou alma) continuaria sua jornada no além.

Um dos pontos que nos intriga muito é a concepção de vida e de morte para o homem egípcio. Para os egípcios antigos a morte não era algo ruim, era apenas uma transição, uma etapa. Ou seja, vivia-se a vida terrena, a qual se devia seguir e cumprir tudo que o torna-se um homem pleno, verdadeiro e de valores. Após a morte, o indivíduo passava por um julgamento, feito por Osíris, no qual seu coração devia ser leve como uma pena para que tivesse o direito de ter a sua vida no submundo, caso contrário era condenado à inexistência, acabava ali então a sua jornada. (ROCKENBACK, 2013: 170)

Para Marina[2]: “O egípcio, o ser humano é composto por partes que compõe um todo, vejamos as três partes principais: O KA, o BAH e o AKH, força vital, essência moral e espírito, respectivamente.” (ROCKENBACK, 2013: 172)

Havia por isso, um conceito no qual, a vida as pessoas em geral indivíduos eram compostos por uma pluralidade, isto é, eram dotados de um corpo físico (djet), um princípio do sustento (ka), uma personalidade ou princípio do movimento (ba), um nome (ren), um coração (ib) e uma sombra (shuyt), e que isto não valia apenas para os próprios egípcios, mas para todos os seres humanos. (SANTOS, 2012 Apud ROCKENBACK, 2013)

Pouco conhecemos sobre todas as concepções de religião funerária no Egito Antigo. O que sabemos nos chega através da mídia, e através das vastas pesquisas nesse campo e do que aprendemos nos filmes e nos livros. A questão é que, nem sempre as informações são confiáveis, completas e precisas. Por exemplo, essa civilização não via o cosmos e o universo através da ótica da separatividade; mas sim, como um todo. O universo, os deuses, a terra, o ar, as águas, a economia, política, religião, a morte, a vida, o corpo, a alma, a sociedade, estavam todos interligados.

Por toda a História, os seres humanos muitas vezes, investiram tempo e recursos no intuito de encontrarem uma explicação tanto para o fenômeno da vida, quanto para o fenômeno da morte. Muitas civilizações ainda acreditam que a vida termina no momento que a pessoa morre. Porém, os egípcios tinham sua crença baseada no conceito de que, após o momento da morte, o espírito voltaria a habitar o corpo em outro mundo. Assim: “O homem teve a grande necessidade de explicar o fenômeno da morte. E, a explicação mais aceitável para o fim seria um novo começo: quando o corpo morre, mas outra parte do indivíduo continua vivendo.” (NETO: 2010)

Um aspecto especial e muito importante da religião egípcia eram as crenças funerárias. Também aqui, a sobrevivência depois da morte foi objeto de visões divergentes que se foram superpondo sem eliminação mútua. O morto tanto era imaginado renascendo na própria tumba, que era sua Casa de Eternidade na qual recebia oferendas de comida e bebida (e da qual eventualmente poderia escapar por algum tempo em forma de pássaro), como navegando na Barca Solar, ou ainda sendo julgado no Tribunal de Osíris (...). (CARDOSO, 1987: 91)

No Egito Antigo, a religião funerária estava intimamente relacionada ao uso da magia. E com isso, todos os grandes faraós que governaram no Egito ao longo da história, tanto acreditavam na vida após a morte, como acreditavam que, fazendo uso adequado da magia, e contanto com o auxílio do poder dos sacerdotes, poderiam alcançar o Amenti em e transpor as portas do Duat sem imprevistos, dor ou sofrimento. O uso da magia nos Rituais Fúnebres era uma espécie de garantia para os vivos, de que os mortos conseguiriam viver em paz, alegria e prosperidade quando chegassem ao outro mundo.

A religião funerária era profundamente penetrada de magia em todos os seus aspectos. As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios os mais ricos de toda a História humana, em oferendas enterradas com os defuntos e em representações diversas da vida cotidiana e das atividades profissionais do morto e seus subordinados: Daí a sua extraordinária importância como fonte histórica. (CARDOSO, 1987: 92)

Na Religião funerária egípcia, todo faraó era um Hórus encarnado na terra; um deus. E todo rei morto, se transformava em um Osíris; senhor do Duat, do submundo, juiz dos mortos. Aquele que presidia o julgamento do morto da Sala das Duas Verdades, diante de outros 42 juízes.  E de acordo com as palavras de Marina em seu trabalho “O Deus era o principal do panteão funerário. A pessoa quando morria se tornava um Osíris. Ele também era o Senhor do Tribunal do Julgamento do coração. Se a idéia da mumificação nasce com o mito de Isis e Osíris, essa é a praticada até o final do período faraônico.” (ROCKENBACK, 2013 Apud CÉSAR, 2009)

1.2.            O submundo ou o Além na concepção dos egípcios

Para os Antigos Egípcios, o Além ou o Outro Mundo era dividido em Duat e Amenti. No imaginário dos egípcios, o Amenti era o lugar ou templo onde as almas dos mortos aguardavam o momento do seu julgamento pelo Grande Deus Osíris, em seu Tribunal, e diante dos 42 juízes. Já o Duat, era o submundo dos mortos. Devemos esclarecer também que, aqui que o submundo mencionado, não se está relacionado ao conceito de inferno como se interpreta atualmente. Este é tão somente um termo para nomear o lugar para onde se vai depois da morte, e onde o morto obtém o direito de permanecer existindo e exercendo todas as funções assim como quando ainda se encontrava vivo. (ROCKENBANCK, 2013: 171)

As criaturas más do outro mundo eram os principais obstáculos à jornada pelo outro mundo, sempre tentando enganar os mortos, obstar seu prosseguimento, matá-los, roubar sua magia e uma série de outros males que os egípcios minuciosamente cuidaram de descrever a fim de que nenhuma surpresa desagradável ocorresse no meio do caminho. (JOÃO, 2013: 167)

Acreditava-se que o Duat era um lugar repleto de dor, sofrimento, angústias, monstros, serpentes, crocodilos, e que a função dessas criaturas era a de atacar o defunto, atrapalhando sua jornada até a Sala das Duas Maats[3], onde finalmente, encontraria Osíris, Isis e os outros deuses, para que ali, seu coração pudesse ser pesado, com o resultado desta pesagem sendo registrada pelo deus Thoth.

Com estas considerações sobre alguns dos perigos existentes no outro mundo, procurou-se apresentar alguns elementos referentes ao imaginário religioso egípcio, e atentar para o fato de que houve uma preocupação crescente dos egípcios com a caracterização dos aspectos do outro mundo. Procurando esgotar todo e qualquer mal que poderia acometer o morto em sua nova vida, os egípcios provavelmente se sentiriam mais seguros e certos de que sua imortalidade estaria assegurada, ao contar com a proteção dos encantamentos. (JOÃO, 2013: 167)

As pessoas em geral, temem aquilo o que não conhecem. Principalmente, quando a situação desconhecida a enfrentar, está relacionada à morte. Os antigos egípcios não eram muito diferentes. Pelos relatos e pesquisas que observamos nos escritos sobre o povo do Antigo Egito, eles não pareciam dispostos a transpassar os portões da morte sem antes, munir-se de alguns conhecimentos de magia, já que acreditavam que a magia, além de outros fatores materiais, poderia salvá-los dos diversos perigos e do sofrimento que estava os aguardando após o sepultamento de seu corpo físico.

Os egípcios temiam que, pois de morto, ao chegar ao outro mundo, seu caminho pudesse ser obstruído de diversas maneiras, antes mesmo que encontrasse com o deus Osíris. É um fato que a História não pode: Os egípcios temiam o desconhecido. E, por temer tanto o desconhecido, a morte e a vida após a morte, os egípcios precisavam criar formas para garantirem para si e para seus familiares, um repouso tranqüilo e seguro quando seus espíritos (ou almas) chegassem ao Duat.  O primeiro a fazer o homem cair de joelhos frente a ele. Com o correr dos tempos, esse medo evoluiu, começando o homem por temer a ação direta dos deuses em sua vida, não só nas coisas que cercavam como nas que se manifestariam depois da morte. (FREITAS, 1982: 09)

Luiz Carlos Freitas[4] foi quem escreveu o prefácio desta obra e contribuiu com a tradução para o português. (FREITAS, 1982) Abaixo, ele descreve o Capítulo XIII do Livro dos Mortos e a entrada do falecido no Amenti:

Entro no Céu como um Falcão. Percorro as regiões do Céu como Fênix. Os deuses adoram Rá e ele prepara os caminhos. Agora, penetro na bela Amenti. Eis-me junto ao Lago sagrado de Horus; amarrei seus cães. Que o caminho me seja aberto! Possa eu percorrer e ir adorar Osíris, Senhor da Vida Eterna! Rubrica: Recitar este capítulo junto a uma coroa feita de flores Ankham colocada perto do ouvido direito do morto; recitar igualmente junto a outra coroa envolta em tecido de cor púrpura, no qual, no dia dos funerais, será inscrito o nome do morto. (FREITAS, 1982: 30-31)

A faraônica egípcia, no seu imaginário, acreditava que, após a morte, o defunto iria para o Amenti aguardar o julgamento das suas ações praticadas em vida. Caso suas ações fossem boas enquanto vivesse no Egito, no momento da pesagem do coração na Grande Balança de Maat, ele (o coração) seria leve e seria assim absolvido por Osíris. Caso o contrário, se em vida a pessoa praticasse ações como roubar, trair, matar, trapacear, o peso do seu coração seria observado pelo deus Thoth e ele não seria absolvido pelos juízes, e não teria a chance de desfrutar da vida eterna navegando na Barca Solar junto aos deuses. Com isso, sua alma, a partir desse momento, deixaria de existir.

Não obstante, o Livro afirma que, se a alma não fosse ao Amenti, seria enviada ao Duat, onde permaneceria por tempo não determinado. Sendo absolvido, o defunto seria convertido em Espírito santificado e, desde esse instante, começaria uma luta, pois viriam aos seus caprichos a Terra, o Céu, o Mundo Inferior, poderia reconfortar os condenados, socorrer todos os que houvessem perdido a esperança, visitar os Campos da Paz e dos Bem-aventurados, sentar-se na barca de Rá para poder acompanhá-lo em seu passeio diário, ou na Khepra, para passear no Oceano Celestial. (...) Tudo isso, poderia ser conseguido através do Livro, em troca de um pouco de magia e de saber as Palavras de Potência, irresistíveis a deuses e demônios. (FREITAS, 1982: 13)

Aqui, este conceito significava que, seria bem-aventurado ou justificado de voz (Maa-Kheru) todos aqueles que eram absolvidos diante dos 42 juízes e dos deuses na Sala das Duas verdades, junto a Osíris.

Maa Kheru ou justo de voz, eram todos aqueles cujo coração tinha demonstrado ser mais leve do que uma pena, quando colocado em cima de um dos pratos da Grande Balança de Maat, já que no outro prato da balança estaria a pena, pois esta representava a personificação da deusa Maat, símbolo egípcio de ordem, verdade, justiça e equilíbrio.

No modo de pensar dos egípcios, estes, quando morressem, seguiriam para o Amenti, e ao chegarem lá, precisavam a todo custo receber a sua absolvição diante dos 42 juízes, dentro do Tribunal de Osíris. Mas, caso houvesse algum contratempo e essa absolvição não ocorresse, eles acreditavam que estariam assim condenados pelos deuses a uma espécie de segunda morte.

Assim sendo, no imaginário desse povo tão antigo, a segunda morte significava uma não existência. O nada, o vazio, a escuridão, o esquecimento e o silêncio. Esse era o maior medo dos antigos egípcios. Um medo que os aterrorizava ao longo de toda a sua vida nesse mundo. Por isso, a grande importância que essa civilização conferia à prática contínua das boas ações em vida. Era fundamental manter o zelo pela ordem, pelo bom caráter, pela verdade, pela harmonia, pelo equilíbrio, pela ética, pela honestidade e pela justiça.

Desta forma, o morto, mesmo um tanto quanto temeroso do possível resultado desse julgamento, teria, de qualquer jeito, que transpassar as portas do Amenti para poder iniciar a sua jornada para o Duat, esperando receber um julgamento justo por suas atitudes enquanto vivo. Lá, o deus Anúbis ou mesmo o deus Hórus, ambos, tinham o papel de conduzir o defunto para junto de Osíris e sua esposa-irmã Isis.

O comparecimento é conduzido por Hórus ou por Anúbis, frente a um Tribunal composto de 42 juízes. A deusa da Verdade-Justiça está presente, mas não toma parte no julgamento. Thoth é o escrivão: Faz o defunto confessar não só o que fez, mas o qu e deixou de fazer e Anúbis pesa em uma balança o seu coração. Ali, de pé ante o principal de seus juízes e com os braços erguidos, em sinal de adoração, fica ante o deus que, imóvel, enigmático, quase petrificado, contempla a alma que comparece ante ele. Atrás de si estão Ísis e Néftis, irmã de Osíris (aquela além de irmã é sua esposa); defronte a esse triunvirato de deuses, o defunto pronuncia as palavras sagradas. Feito isso a união mística já está realizada; sua alma e a de Osíris formam um único todo. (FREITAS, 1982: 12-13)

1.3. As Práticas Funerárias da Antiga Civilização Egípcia

Quando dialogamos com as pessoas sobre a civilização egípcia, suas Os primeiros indícios de que ocorria a prática da mumificação do corpo do morto no Egito Antigo, partem dos escritos de Diodoro e de Heródoto. Heródoto traz a descrição do processo em sua obra denominada de História.

Heródoto, oriundo de Halicarnasso na Ásia menor visitou o Egipto c. 450 a.C. durante o domínio Persa. Apresenta uma descrição pormenorizada do processo de mumificação na sua obra de nove volumes intitulada História. Apesar das dúvidas que a sua obra suscita esta é considerada a mais importante fonte escrita relativa á mumificação. Diodoro proveniente de Sicília visita o Egipto alguns séculos mais tarde, mais concretamente no I século a.C. (LABORINHO, 2003)

Muitos relatos descrevem que práticas funerárias no Egito ocorrem desde o IV milênio a.C. Inclusive, os processos de mumificação tornam-se comuns para os faraós a partir da IV dinastia. Nesta época, apenas os reis eram mumificados, já que o custo desse procedimento era alto. Tal como construir grandes pirâmides para usá-las como tumbas; apenas os faraós detinham esse privilégio. Centenas de anos transcorreram até que outras pessoas de Status menos elevado pudessem usufruir em ter seu corpo mumificado.

As descrições mais completas e detalhadas são as provenientes das obras dos autores clássicos Heródoto e Diodoro de Sicília, que apresentam muita informação não encontrada em qualquer outra fonte documental, todavia, os relatos são confirmados pela análise das múmias que sobreviveram. (LABORINHO, 2003: 04)

Os sacerdotes ou pessoas já especializadas extraíam alguns órgãos do corpo do morto, preenchiam as cavidades com ervas aromáticas, salgavam o corpo com natrão, (uma espécie de carvão usado na época), que extraía a gordura do corpo, e depois envolviam a múmia com bandagens envoltas em uma goma de látex (cola para segurar as ataduras). Todo esse processo tinha o propósito de favorecer e garantir a preservação do cadáver, a fim de que a alma pudesse voltar ao corpo e habitá-lo no Além.

O termo embalsamamento deriva do Latim in balsamum, com o significado de preservação pelo bálsamo, aplicado na realidade. A palavra persa mummia possui o significado betume, termo aplicado num Período Tardio aos corpos mumificados que apresentavam uma coloração negra parecendo que tinham sido embebidos em betume. Todavia, o betume não foi utilizado no processo de mumificação, com exceção para uma múmia do período Tardio que possuía vestígios de utilização desta substância, prática não confirmada em análises a outras múmias datadas do mesmo período. (LUCAS; HARRIS apud LABORINHO, 1999: 04)

Quatro órgãos eram extraídos do corpo do morto durante o processo da mumificação: Os pulmões, o estômago, os intestinos e o fígado. O cérebro também era retirado com o uso de uma espécie de pinça. O coração deveria permanecer no corpo, já que, no outro mundo, ele seria necessário no momento do julgamento realizado pelo deus dos mortos Osíris. A extração desses órgãos tornava o processo de desidratação do corpo mais rápido. Após este procedimento, os órgãos eram guardados em recipientes separados, mergulhados em um composto líquido produzido à base de natrão. (LABORINHO, 2003)

(...) certos ritos eram praticados em favor do defunto, com este, depois de embalsamado, envolto em tiras mágicas e provido dos necessários amuletos, estava seguro de ter dado o primeiro passo em direção a uma vida tranqüila no Além, para cuja viagem O Livro dos Mortos o ajudaria a ultrapassar, livrando-o de todas as dificuldades. O Livro era colocado junto à múmia ou embaixo de sua cabeça, outras vezes copiado em partes na tumba. O mais comum era que o deixassem junto ao cadáver para que este aprendesse a recitar seus Capítulos. (FREITAS, 1982: 11)

De acordo com os relatos sobre mumificação no Egito, é possível perceber que, logo nas primeiras dinastias, o processo de extração dos órgãos internos da múmia tinha sido um privilégio da elite faraônica local e de funcionários do rei. Em muitas obras das quais tratam deste assunto, há passagens que descrevem que as múmias dos ricos e a dos pobres recebiam tratamento diferentes durante o processo da mumificação.

Os egípcios acreditavam que seus mortos pudessem desfrutar, no além, de uma vida parecida àquela a qual viviam neste mundo. Porém, para tal evento acontecer, era muito importante que a família do defunto tivesse boas condições materiais, e que os rituais, como as práticas de mumificação fossem realizadas pelos parentes vivos do morto da maneira certa. Caso contrário, o defunto não teria paz na sua jornada até ao Amenti. Com isso, era fundamental realizar os rituais adequados, pois estes que permitiriam que as faculdades físicas e mentais da múmia pudessem ser restauradas. E, uma parte essencial dos ritos fúnebres no Antigo Egito, eram os Banquetes Funerários. (JOÃO, 2011 Apud ROCKENBACK, 2013)

E uma conseqüência natural do culto aos mortos seria oferecer a eles, para sua vida eterna, tudo de que necessitariam, já que onde viveriam – nas tumbas – não encontrariam meios de sobreviver. Essa prática de oferendas mortuárias, realizadas quando do sepultamento do corpo do morto, perdura até hoje, sob a forma de deposição de flores e outras dádivas nas sepulturas. (FREITAS, 1982: 11)

Era comum que, os faraós e as pessoas de maior poder aquisitivo fossem enterradas com dezenas de objetos de uso particular, como jóias, roupas, perfumes, mobília, até mesmo animas de estimação e escravos. Tudo isso era devidamente guardado em suas tumbas. Outro fato freqüente era que houvesse carpideiras contratadas pela família do morto para que chorassem durante o funeral. Os egípcios acreditavam que a morte não era o fim da jornada, sendo assim, eles teriam a necessidade de levar consigo todos os seus pertences em sua longa viagem rumo a outra vida. Outro hábito que se faz importante destacar era que, após a deposição do morto em sua tumba, seus amigos e familiares faziam oferendas de comida e bebida ao defunto. Afinal, havia uma grande preocupação que este poderia sentir fome e sede no além.

1.4. O Livro dos Mortos e sua utilidade para os egípcios

Há centenas de anos, uma tradição esotérica e imemorial faz parte da cultura religiosa da civilização egípcia. Acreditava-se que os sacerdotes e até mesmo os faraós conseguiram alcançar pleno domínio sobre todos os mistérios que cercavam o momento de passagem da vida para a morte. Principalmente por que, um grupo de pessoas, que eram denominado de Juventude Iniciada, ou de Clero de Amon (Sacerdotes que trabalhavam para o rei em Tebas), elaborou uma técnica que supunha ser possível ao morto garantir sucesso, paz, felicidade e alegria em sua existência no além: O Livro dos Mortos. Um livro composto de 190 capítulos, onde o defunto poderia ler dezenas de preces, ou invocações de teor mágico-ritual as quais podemos supor que prometiam ao moribundo salvar sua alma antes que crocodilos ou monstros aterrorizantes o devorassem no Post-Mortem.                        

            O verdadeiro nome do Livro dos Mortos era “Saída para (a luz de) o Dia. (...) Destinado, como sabemos, a guiar a alma do defunto pelo Além. E no Além, a alma, informa-nos que, logo após transpor a Porta da Morte, pode se vir-se-se deslumbrada pela plena luz do dia. Então começa aí a dura e difícil caminhada. A alma atravessa uma região de trevas, caminho árduo e freqüentemente obstruído, onde faltam ar e água. A segunda etapa é a chegada ao Amenti, residência de Osíris, onde é julgada. (FREITAS: 1982: 11-14)

No final da XVII e início da XVIII Dinastia, o Clero em Tebas, que era composto pelos Sacerdotes de Amon, idealizam o Livro dos Mortos. Este tinha o propósito de garantir que, após a morte dos Faraós, eles continuariam a ter uma vida tranqüila, segura e próspera, como era na terra, só que no além. Livre de perigos e monstros desagradáveis, com saúde e felicidade, na certeza de que encontrariam os deuses. Assim, a vida no Outro Mundo seria generosa e alegre. Com isso, finalmente, os reis se uniriam aos Cosmos, e poderiam ser imortais, viveriam em paz e harmonia junto a Rá e ao lado dos deuses por toda a eternidade.

           Quando o morto transpassava os portões do outro mundo, era necessário que ele já estivesse preparado para enfrentar toda espécie de adversidades. Para que tudo corresse bem e o defunto chegasse são e salvo diante do Tribunal de Osíris, para que finalmente recebesse um julgamento que o absolvesse e lhe desse a da eterna junto aos deuses viajando na Barca Solar, ele - o morto – Precisava estar equipado com o Livro. Encontramos esta passagem nos escritos do Dr. Antônio Brancaglion Jr., no Egito faraônico, diversos documentos encontrados indicam que o Livro dos Mortos teve sua origem no Segundo Período Intermediário, e que era designado a sepultamentos de membros da Família Real, do final da XVII e início da XVIII Dinastia, todo escrito em hieróglifo cursivo sobre os sudários de linho que envolvia as múmias. (BRANCAGLION, 2011: 01)

Segundo a interpretação do Livro feita pelo tradutor: “Tudo isso prova a enorme importância que era dada ao Livro dos Mortos, pois seguros de que a vida não acabava na terra, encontravam nele todas as respostas e indicações para uma feliz ascensão rumo à morada dos Deuses. Acreditavam inclusive que poderiam chegar a serem deuses, (...).” (FREITAS: 1982: 11)

A população que vivia no Egito neste período, acreditava no poder, na sabedoria e no caráter divino dos Sacerdotes que trabalhavam para o Faraó. Mas o rei também tinha fé nos desígnios do Clero. Tanto que, a idéia destes de criar do Livro dos Mortos, foi amplamente aceita e difundida na região. Principalmente entre as classes mais abastadas, já que eram estas, as quais tinham o condição material para adquirir o Livro fazer com que este fosse escrito e ilustrado de acordo com suas necessidades no Pós-Vida.  

No Egito Antigo, a alma era imortal e de natureza divina, pois mesmo depois de separada do corpo continuava a viver, viajando para a eternidade. Além dessas condições materiais proporcionadas ao morto, precisava ele para sua viagem de uma boa dose de conhecimentos mágicos. E embora fossem de conhecimento só dos sacerdotes, era o que o Livro procurava dar. (FREITAS, 1982: 11)

Vejamos a interpretação do Livro dos Mortos segundo Carlos: “Era cega a fé nos sacerdotes egípcios, pois o povo acreditava piamente em sua sabedoria. E de tal modo que, mesmo no auge das letras e ciências gregas, estas se voltavam ao misterioso Egito, de onde emanavam os conhecimentos da época.” (FREITAS, 1982: 10)

A utilidade principal do Livro para sair à luz do dia, era a de garantir que o defunto vencesse todos os obstáculos do além. Porém, não apenas isto, mas o morto precisaria de uma boa dose de conhecimentos mágicos para chegar até a Sala das Duas Verdades, onde o Grande Deus Osíris, estava aguardando para começar o seu julgamento.

Assim, graças ao Livro, o defunto poderia vencer todos os obstáculos – monstros, demônios, portas a abrir, etc. -- dado o potencial mágico que este livro apresentava. Estes obstáculos persistiriam em aparecer, tentando barrar-lhe toda e qualquer tentativa de alcançar o Além, cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas e cruzar as sete salas esperando poder chegar até Osíris e os 42 juízes que iriam julgá-lo. Graças ao Livro conheceria também o que iria salvá-lo: Os nomes dos deuses. (FREITAS, 1982)

           No Livro dos Mortos, esses capítulos foram escritos e idealizados pela Elite Tebana, (sacerdotes egípcios do Clero de Amon) desde seu surgimento no Egito (final da XVII e no início da XVIII dinastia), até quando ocorre a tradução e interpretação do Livro pelo escritor. (FREITAS, 1982)

           É importante esclarecer que, todos os capítulos deste livro, para que tivessem eficácia, precisavam ser recitados pelo morto algumas vezes. Acreditava-se que desta forma, as preces de caráter mágico-ritual ditas corretamente pelo defunto, conseguiram salvá-lo de todos os perigos e dos monstros no Duat. Adiante, segue uma pequena transcrição do que o leitor poderá encontrar, de maneira mais detalhada no Livro dos Mortos.

O Livro dos Mortos foi o texto funerário mais popular do Egito Antigo. Sua História começa quando os reis da XIII Dinastia deixam a sua capital It –tawy subindo o Nilo, retornando a Tebas (c. 1690 a.C). Nesta época os faraós e suas famílias deixaram de ter acesso aos textos funerários produzidos em Mênfis e Heliópolis conhecidos como Textos das Pirâmides, sendo forçados a adotar uma tradição no Alto Egito, os Textos dos Caixões, cujo centro difusor pode ter sido o Templo de Thot em el-Ashmunein. (BRANCAGLION, 2011: 01)

           No Livro do Amduat, alguns capítulos se destacam. Tais como, o capítulo XXVI, que era freqüentemente utilizado com a finalidade de devolver o coração ao morto; O capítulo XXVII, para que o falecido não tivesse seu coração arrebatado de si mesmo diante do Tribunal do deus Osíris; Já o capítulo LXV servia para prover a saída da alma do morto à luz do dia, pois este andaria livremente pela terra e vera novamente a luz do sol; O capítulo LXVII: Com ele o morto abriria todas as Portas do Além, já que assim, sua jornada cósmica seria mais tranqüila; O capítulo XCI, recitado de forma que a alma não fosse capturada no Além por monstros ou serpentes cruéis; O Capítulo CXXV eram as palavras recitadas na entrada do Santuário de Maat. Desta forma, estaria recebendo maior proteção da deusa contra todos os perigos que o aguardavam nesse lugar de escuridão; Por fim, devemos nos lembrar da importância de se proferir corretamente a Confissão Negativa de N.°I: Papiro Nu; A Confissão Negativa de N.º II: Papiro Nebseni (...). (FREITAS, 1982: 42-138)

     A Confissão Negativa é aquela onde o defunto nega, dentro do Tribunal e diante de Osíris e dos 42 juízes que presidem o julgamento do seu coração na Sala das Duas Maats, ter cometido ações da pior espécie em vida. Ações como trapacear na medição da metragem das terras do seu vizinho, ou de outras pessoas, flertar ou manter envolvimento amoroso com pessoas casadas, negar água ou comida aos pobres, matar, roubar, etc.

 Em suma, essas eram algumas atitudes inteiramente condenadas pelos deuses e capazes de fazer com que o coração do indivíduo tivesse maior peso do que a pena de Maat nos pratos da Grande Balança.

2. AS CONCEPÇÕES DE VIDA APÓS A MORTE NA GRÉCIA ANTIGA

           Através do material analisado para realizar este trabalho, é possível perceber que, para muitos dos povos que viveram na Antiguidade Clássica, prevalecia em seu imaginário religioso, uma crença de que, esta vida vivida pelas pessoas comuns aqui na terra, poderia prolongar-se após a morte do corpo, e que uma alma, ou espírito continuaria sua jornada em outro plano.

Com certeza, não será aqui, que tencionamos queremos elucidar a questão pertinente à existência da alma humana, nem mesmo adivinhar qual seria o caminho que trilha a alma no além. Apenas, busca-se analisar o problema fundamental da crença dos gregos na existência da alma e de um destino post-mortem. (NETO: 2010)

           Quando o tema da pesquisa é sobre Grécia Antiga, existem sim, inúmeros textos que defendem que, apesar de pouco conhecer sua História e a concepção de vida após a morte de sua sociedade, nos parece aqui que a população mantinha em sua cultura religiosa, certos costumes e rituais que deixam pistas sobre seu modo de viver e de pensar.

Por meio de pesquisas, conseguimos localizar uma grande quantidade de fontes as quais descrevem inúmeras práticas funerárias as quais, pareciam ser bastante comuns no cotidiano dos helenos. Práticas estas que, envolviam familiares, amigos, e que ocorriam durante os sepultamentos e inclusive, depois de muitos meses transcorridos destes.

           Em geral, eram as mulheres da família do defunto que precisavam participar ativamente dos rituais fúnebres. Muitas delas precisavam cumprir com funções de grandes responsabilidades. E de certo que, parte desta responsabilidade, era ir à tumba com certa freqüência para depositar oferendas em homenagem ao parente que deixou esta vida.   

           Há milênios de anos atrás alguns povos antigos já cultivavam a crença de que o corpo mortal estaria vinculado a uma alma imortal, e que estava teria a capacidade de sobreviver no Além, mesmo após a morte do corpo. (NETO, 2010: 03) Assim, não seria a morte, tanto uma contradição, quanto um mistério? Se podemos vencer tudo, por que não a morte? Pois, para muitos de nós, ela é o fim da vida; (“...)” (FLORENZANO, 1996: 63-64) Pois a nossa existência é por si mesma um fenômeno majestoso, e que a humanidade pode contemplar, mas não pode explicar. E a morte, por sua vez, encerra em si não apenas o existir, mas também os mistérios insondáveis sobre o que poderia existir do outro lado.” (NETO: 2010, 01)

É interessante perceber que, na Grécia Antiga, além de outras crenças, havia aquela onde as pessoas acreditavam, que após a morte, a alma do falecido pudesse ficar vagando sobre a terra, atrapalhando a vida dos vivos, espalhando doenças, assombrando as famílias em suas casas, destruindo as colheitas e o trabalho na agricultura. (COULANGES, 2000 Apud NETO, 2010)

Ao observarmos a prática de alguns dos rituais inseridos no cotidiano grego conseguimos observar aspectos fundamentais sobre o modo de viver e de pensar de um povo. As questões relacionadas à morte tendem a representar uma manifestação do comportamento religioso, cultural, material e os valores de uma sociedade. Assim, as práticas funerárias devem ser examinadas com maior atenção, já que elas também expressam uma grande parte do funcionamento da estrutura social. (SANTOS: 2010, 01)

A morte é também um enigma, um mistério. Ninguém sabe o que vem depois dela, ninguém nunca voltou para explicar como é. (FLORENZANO, 1996: 64) Mas muitas pessoas conjecturam o que pode ou não acontecer após a morte. Os rituais e os cultos funerários servem para direcionar a passagem do morto para o além e por isso tem o propósito de facilitar esse momento na vida daqueles que ficam. Assim, amenizam a perda da família, tornando-a menos dolorosa. E é durante o momento do enterro, que as regras de comportamento social dos indivíduos se destacam com maior freqüência diante deles próprios, da família, e daqueles que participam do evento. (FLORENZANO, 1996)

Comumente, pode-se localizar em textos, diversas afirmações a respeito da crença funerária dos gregos, onde se menciona que, os mesmos não tinham por hábito preocupar-se com a alma, já que estavam mais pareciam mais interessados no kléos heróico, da memória gloriosa. No entanto possuímos alguns indícios de que os gregos da Antiguidade Clássica não apenas acreditavam que havia sim uma alma, como da mesma forma, se sentiam receosos para saber qual seria seu destino, após a morte do corpo. (NETO: 2010, 01).

 Acerca deste assunto Ivan Vieira[5], diz que a morte teria sido o seu primeiro mistério, levando a humanidade ao curso de outros mistérios.  Além disso, elevou o seu pensamento do humano ao divino, do visível ao invisível, da existência transitória à eterna. (NETO, 2010)

No primeiro capítulo de seu livro A cidade antiga, Fustel de Coulanges encerra o subtópico intitulado crenças sobre a alma e a morte afirmando que foi talvez por via da morte que o homem pela primeira vez teve a idéia do sobrenatural e quis tomar para si mais do que lhe era legítimo esperar da sua qualidade de homem. (COULANGES, 2000 Apud NETO, 2010)

Para muitos dos povos que viveram na Antiguidade Clássica, prevalecia a crença de que esta vida prolongava-se após a morte e que era função dos vivos proverem tudo aquilo de que o morto pudesse necessitar em sua vida póstuma. Durante os funerais e após estes.  Há milênios de anos atrás os povos já cultivavam a crença de que o corpo mortal estaria vinculado a uma alma imortal, e que esta alma teria a capacidade de sobreviver no Além, mesmo após a morte do corpo. (NETO, 2010: 03)

A mentalidade grega entendia todos os seres como partes do cosmos e, apesar de após a morte tudo se transformar, não existia a morte definitiva, mas somente uma transformação. O cosmos era eterno, perfeito e justo e todos os seres fariam parte dele eternamente como fragmentos que se transformam, mas que não deixam jamais de existir. (SANTOS: 2010, 03)

O processo da morte para os antigos gregos era algo que ocorria por meio de diversas etapas. Iniciava-se esse processo quando a pessoa chegava ao ponto de estar muito doente ou gravemente ferido, passando então para o estágio da inconsciência mental e culminando com a perda total dos sentidos. Ou seja, morrer para os gregos envolvia três estágios: estar morrendo, estar morto, mas não estar enterrado e estar morto e enterrado. Cada uma das etapas precisava ocorrer dentro de determinado comportamento dos sobreviventes. O momento era de todos os participantes, vivos e mortos. E cada um dos vivos tinha uma função repleta de grandes responsabilidades dentro desse evento. (SANTOS: 2010, 02)

Após a morte de um dos membros da sociedade, as relações sociais devem se reorganizar e os direitos sobre as propriedades e as pessoas devem ser recolocados para preencher o vazio deixado pelo morto. Os familiares em luto devem se reajustar psicologicamente. Além disso, para os gregos antigos, após a morte, uma parte do morto deixava o corpo e começava um novo caminho em direção ao mundo dos mortos. Todo esse processo levava tempo e demandava diferentes tipos de atenção por parte dos vivos (SANTOS: 2010,02)

Acreditavam os gregos que, após a morte, a alma iria viver no Hades, espécie de inferno no outro mundo. E que, para chegar a tal local, o espírito teria que ser guiado por um barqueiro, o qual era denominado Caronte. Este era quem teria por missão conduzir diversas almas em seu Barco rumo ao seu destino póstumo no além.

(...) a principal questão levantada (...) é a do outro mundo, a da morada do morto. Onde ficava o espírito depois da morte? Junto ao corpo, no túmulo, ou descia ao Hades para lá viver? Acreditavam o grego que o morto era conduzido por Caronte, o barqueiro infernal, até o Hades, e que, até Caronte, era conduzido por Hermes Psicopompo, isto é, o condutor de almas. (...) o morto aguarda a chegada de Caronte com um óbolo - pequena moeda de prata - para pagar a viagem, na mão. (FLORENZANO, 1996: 84)

Diz Platão: “Aquele que chega ao Hades – lugares aonde, para os gregos, iam todas as almas dos mortos – sem ser iniciado, e sem ter participado dos mistérios, ele permanecerá na lama.” (FREITAS, 1982: 18)

2.1. Os Rituais e as Práticas Funerárias na Grécia Antiga

Na concepção dos gregos sobre a vida após a morte, a alma do falecido precisaria da ajuda dos vivos para que obtivesse a devida paz e descanso no alem. Por isto, alguns rituais Post-Mortem deveriam ser realizados. Parentes e amigos deveriam proceder de acordo com as leis da Grécia nesse assunto. Cada etapa do ritual tinha que ser desenvolvida da forma correta para garantir o repouso e a satisfação do defunto assim que este descesse ao Hades. A observação atenta das práticas funerárias dos gregos nos auxilia na compreensão da importância religiosa que eles atestavam ao momento de passagem mais e definitivo e inevitável do ciclo da vida humana. (FLORENZANO, 1996)

Fazia-se fundamental para a sociedade grega organizar os ritos fúnebres em algumas etapas. Primeiro, era necessário que a família expusesse o corpo do morto para que, muito após disso, este fosse colocado em seu túmulo. Na Grécia, os cidadãos imaginavam que o próximo estágio do rito, fosse que a alma do defunto descesse ao outro mundo. Sendo assim, cabia às pessoas mais próximas; e principalmente às mulheres da casa, prestar freqüentes cultos ao túmulo do falecido. Maria Beatriz diz que a morte se realizava através de uma passagem do morto rumo ao além. Pois com isso, havia um momento onde o defunto estaria totalmente isolado, separado de seus parentes, e que agora, a nova morada do corpo seria o cemitério; e a da alma, seria o Hades. (FLORENZANO, 1996: 68) Para Sandra (SANTOS: 2010) a família do morto inevitavelmente passaria pela dor da perda, e era para tentar evitar isto ao menos em parte, que os cultos e ritos funerários se realizavam.

Através dos monumentos funerários e também de todos os ritos fúnebres, que a sociedade grega tentava evitar a perda total da individualidade pelo defunto, já que a tumba individualiza aquele a quem ali jazia.  Os ritos e os monumentos auxiliavam na manutenção da memória individual do falecido. (SANTOS, 2010)

De acordo com Thiago Mota[6], (MOTA, 2011) na concepção dos gregos, os rituais funerários surgiam de maneira que os familiares do morto demonstrassem grandeza e riqueza diante da sociedade. Porém, também era o momento onde, os parentes e amigos próximos surgiam diante da cena, deixando transparecer toda a sua dor e seu sofrimento pela perda. Uma espécie de teatralização cujo protagonista era o morto marcava no imaginário antigo o encerramento de um ciclo vital, assinalado por etapas de transição tais como a puberdade, o ingresso na vida pública e o casamento. (MOTA, 2011)

           A chegada e a entrada no mundo dos mortos dependiam não só da pessoa que morreu, mas também dos vivos, que deveriam cumprir rituais propiciatórios para ajudar o morto a encontrar o caminho e a ser aceito no seu novo lugar. (SANTOS: 2010, 02-04)

Muitos dos símbolos considerados sagrados na Grécia Antiga estão presentes nos rituais fúnebres, e Sandra (SANTOS, 2010) escreve em seu artigo que, estes têm papel social, uma função, a de unir na sociedade suas noções do belo, suas concepções de moral, de ética, de caráter; enfim, seu Modus Vivendi e sua visão de mundo. Pois, esta visão de mundo é a paisagem onde o povo se vê, mas também se adéqua. Contudo, é a religião que vai unir as ações humanas a uma ordem cósmica imaginada e tende a projetar as imagens da ordem cósmica no plano da experiência humana. E essa experiência na sua simples atualidade, estará fortemente relacionada ao aspecto ritualístico da morte, e de tudo aquilo que as pessoas podem vivenciar a sua volta, onde alguns dos conceitos mais variados sobre a vida e a morte, tornam-se fatores organizacionais, e modelos de comportamento experimentados tratados como uma conduta padrão pelo povo. (SANTOS, 2010)

Na concepção religiosa dos gregos, o plano cósmico designava um lugar para cada um dos seres. E por essa razão, os mortos teriam que encontrar um espaço para viverem no outro mundo, no além. Já que esse seria o local mais conveniente para eles agora,  após terem abandonado o mundo dos vivos para residirem no Hades. Mas, a jornada até o Hades era longa e difícil. Os mortos precisariam contar com a ajuda dos que permaneceram vivos, para estes, através da pratica dos rituais funerários oportunos, auxiliassem os defuntos em sua busca por aceitação, paz e tranqüilidade no submundo. (SANTOS, 2010)

Antes de ser exposto no funeral, o corpo do morto tinha que ser lavado, untado de óleos perfumados e vestido; Os parentes deixavam o corpo em exposição pelo menos por dois dias dentro da casa da família. Esse ritual tinha o objetivo de mostrar para a comunidade onde estariam os verdadeiros herdeiros do falecido. Durante todo o período fúnebre, era comum que os familiares do morto o pusessem deitado em cima de uma cama ou esquife, com o corpo todo coberto, e uma almofada abaixo da cabeça, deixando-a a vista dos convidados. Alguns pesquisadores da área interpretaram o modo como o falecido era mantido suspenso sobre um esquife alto durante o funeral como um dado da fase de transição em que ele se encontrava. (...) nessa fase do ritual, o indivíduo já deixou a vida, mas não foi ainda incorporado ao mundo dos mortos. (FLORENZANO, 1996: 70-71)

 Também era parte do rito deixar junto ao corpo um espelho, e virar os pés do morto para a esquerda, para a direção da porta da casa. A função do espelho era lembrar ao falecido que agora, ele estava morto. Portanto, daqui por diante essa sua seria sua real condição no mundo. (FLORENZANO, 1996: 68-69) Algumas fitas vermelhas, pretas, ou violetas, com longas franjas também eram utilizadas pelas carpideiras sobre o esquife do morto.

Os atos da peça se sucediam numa divisão mais ou menos clara: a exposição do cadáver, o elogio da memória, a deposição na tumba, a cremação ou inumação e por fim o culto após a morte. Pode-se conceber a morte enquanto fator desagregador, que força a resistência das amarras sociais, por outro lado, pensando na criteriosa organização que os funerais aparentavam na Antiguidade, podemos compreendê-los como expressão ou encenação autorizada do desespero de onde o próprio sentido de continuidade saía renovado. (MOTA, 2011)

 A morte se constitui em um acontecimento que coloca em evidência as angústias sobre a finitude presente em todos os homens. Para Sandra Ferreira Santos[7] (SANTOS, 2010) Os rituais funerários e a forma como a morte é encarada pode dizer muito sobre uma sociedade. (SANTOS, 2010: 01)

Após toda a cerimônia, o corpo era conduzido ao cemitério para que fosse enterrado ou cremado, o que seria uma escolha pessoal dos parentes. No caso de escolherem a cremação, as cinzas deveriam ser guardadas dentro um recipiente para que depois pudesse ser enterradas. Alguns relatos descrevem que, após essa etapa final, algumas famílias ofereciam aos convidados banquetes fúnebres; enquanto outras faziam até mesmo sacrifício de animais em favor da alma do morto. (FLORENZANO, 1996)

Os antigos gregos acreditavam que a morte trazia o aspecto da impureza. Ter algum contato com o falecido determinava uma contaminação. Por isso, do lado de fora da casa do morto, os parentes costumavam colocar um grande vaso fúnebre com água limpa. Em geral, essa água era proveniente de uma fonte externa à casa do morto, ou os próprios vizinhos a traziam. Após o funeral, todos os que tivessem vindo prestar os seus respeitos se lavavam nessa água para que pudessem se purificar. Além disso, outra função desse vaso era a de indicar a presença de um ente que estava já morto naquele local. A purificação é também um elemento próprio dos ritos de passagem e de muitos outros ritos gregos. Depois do enterro, amigos e parentes, retornavam as suas casas e começavam mais um ritual de purificação. Finalizado o rito, começavam então a servir um banquete fúnebre. (FLORENZANO, 1996: 70-71)

Depois que o morto era velado, chegava o momento da deposição do corpo em seu túmulo, sua última e eterna morada. Nesse momento, os gregos acreditavam que seres do além viessem para conduzir sua alma rumo ao Hades. E todos os ritos que anteriormente foram realizados pela família, tinham o objetivo de que o finado obtivesse sucesso em sua viagem através do submundo, protegido pela companhia dos deuses até chegar a seu novo e permanente destino. Felizes, os mortos não teriam o desejo de voltar a terra para assombrar ou atrapalhar a continuidade terrena da existência dos vivos. Com isso, o ritual funerário devolve a terra – de maneira dramática – o que dela veio, pois só nasce de novo o que é enterrado. Faz-se importante mencionar que, as fontes consultadas nos dizem que todos os pertencem enterrados junto com o morto, também eram cremados. Este ato constituía uma maneira para que os familiares do falecido deixassem claro para todos que não os pegariam de volta, ou reutilizariam esses objetos. (FLORENZANO, 1996:74)

O período imediatamente após a morte é de acordo com Sandra (SANTOS, 2010) aquele em que os familiares mais próximos têm que lidar com demandas conflitantes. Por um lado, é esperado que eles, de alguma forma, acompanhem o morto na sua saída da sociedade e por outro lado, precisam se envolver com uma intensa atividade social, reafirmando relações e vínculos, mobilizando recursos para o funeral e para o entretenimento das visitas, legitimando uma ordem social alterada pela morte. O contato com o corpo é geralmente considerado poluidor e aqueles que têm contato com ele, na maioria das sociedades, devem se afastar do intercurso social (SANTOS, 2010: 03)

Muitas vezes o morto aparece coroado por uma guirlanda de flores ou de folhas. Assim, de algum modo, depois de morta, durante o ritual fúnebre, a pessoa recebia uma homenagem especial, na forma dessas coroas. Esse tipo de adorno deve ser interpretado como um indicador da dignidade que a pessoa assumia depois de morta. Na Grécia Antiga, o cidadão comum não usava coroa; eram coroados apenas os vencedores de jogos ou de batalhas, os noivos, os heróis. (FLORENZANO, 1996: 71)

Na Grécia Antiga, o esquecimento da memória do defunto configurava a verdadeira morte, pois esse esquecimento levava o falecido a perder de uma vez por todas a sua individualidade e a se misturar ao aglomerado inerte do cosmos. Por isso, era necessário que a família do finado buscasse manter viva a memória do morto e de suas realizações enquanto vivo. Essas realizações poderiam ser gravadas em pedra. A inscrição fúnebre era então gravada nos monumentos, e esses monumentos eram colocados sobre a tumba.

Com a morte, o ciclo da vida se encerra. É a última passagem transposta pelo homem. Mas os rituais funerários gregos revelam como a própria morte renova a vida, reiniciando o ciclo vital. A crença na imortalidade do ser é outro aspecto a ser considerado no ritual fúnebre. (...) o espírito parece ser não apenas imortal, como também sua própria condição parece lhe dar direito a poderes especiais, a uma dignidade característica de deuses. (FLORENZANO, 1996: 74)

          Outro aspecto a ser mencionado, é o sema ou sinal que indicava o local de sepultamento – que podia ser somente um montículo de terra, diz Sandra Ferreira Santos (SANTOS, 2010), mas poderia também ser algum objeto fixado nela, que simbolizasse o status da pessoa em vida – e o kolossos, um substituto de pedra do morto, que também significava a fixidez da morte. Podia ser usada também para espantar fantasmas perturbadores e criava uma relação perpétua entre uma divindade e aquele que oferecia a estátua. Mas, na verdade, o que os gregos desejavam com a colocação de monumentos funerários era garantir para o morto perpétua lembrança por parte dos parentes e estranhos (SANTOS: 2010, 03)

Encerradas as cerimônias de sepultamento, é possível ainda encontrar registros que descrevam o tempo ideal que a família permanecia em luto e que retornariam ao túmulo para prestar suas homenagens póstumas. Alguns autores defendem que esse período de luto familiar durava cerca de nove dias; outros já dizem que poderiam durar trinta dias.  (FLORENZANO, 1996) Existem referências a respeito do culto anual que os mortos recebiam, chamados de Genésia. Essa celebração acontecia no quinto dia do mês, entre setembro e outubro, chamados de Boedromión. Havia também as festas chamadas de Apartúrias, festa na qual todos os mortos eram homenageados em uma grande celebração publica em Atenas (século IV a.C), em geral, realizadas com recursos do Estado. (FLORENZANO: 1996, 76)

2.2. A importância da sepultura para os gregos           

Na antiguidade Clássica, já havia entre os gregos, uma grande preocupação com o destino do indivíduo depois da morte, assim, escreveu em seu livro Maria Beatriz Borba[8] (FLORENZANO, 1996: 65) que todas as pessoas, independentemente de sua qualidade, categoria social ou qualquer outra diferenciação, recebiam uma sepultura onde seus restos eram depositados. (FLORENZANO, 1996) Outra noção é que deixar o corpo insepulto podia resultar em conseqüências nefastas para a alma do falecido. (MOTA, 2011) Assim, não era bom para a família do defunto que por alguma razão, esse encontrasse a morte longe (em geral na guerra) e que o corpo fosse perecer distante da casa de seus parentes. Nesses casos – que não deviam ser poucos - deveria ser feita uma sepultura, mesmo que vazia, de sorte que a alma do morto não ficasse vagando a esmo e para que a transição para o reino dos mortos pudesse ser completada. (FLORENZANO, 1996: 65-66)

Para que possamos melhor compreender aspectos relacionados aos ritos fúnebres, na percepção dos gregos, Ivan Vieira Neto (NETO, 2010) em sua análise diz que, havia necessidade de um local adequado para o repouso do corpo. Logo, estes teriam que ser enterrados em uma sepultura, pois assim alma do morto encontraria paz no outro mundo.

Fustel de Coulanges através de seus estudos conseguiu averiguar a grande pertinência da sepultura para a sociedade Grega, já que todas as almas daqueles cujos corpos não fossem enterrados no devido local, estariam assim, fadadas a perecer com os inúmeros sofrimentos eternos sobre a terra, e passariam seus dias e noites amedrontando os vivos e prejudicariam toda a colheita e também, suas plantações. Dito isto percebemos que, essas cerimônias de caráter funerário, não tinham como objetivo suavizar a dor dos vivos, mas sim, fazer com que, as almas dos mortos alcançassem a felicidade e não viessem à terra incomodar os vivos. (COULANGES, 2000 Apud NETO, 2010)

As mulheres da família eram as responsáveis na manutenção das oferendas após o sepultamento. Elas tinham a responsabilidade de levar as oferendas aos túmulos sempre que chegavam as datas importantes para executar essa tarefa.

 A atenção especial que a sociedade grega conferia à importância de o defunto receber uma sepultura adequada era algo comum ao povo. Acreditava-se então que esse túmulo seria como sua casa, a morada permanente do falecido. E sem essa casa, a alma ficaria vagando pela terra sem jamais voltar a ter paz, e nem mesmo dar paz aos vivos.

Na Grécia Antiga, o sepultamento na tumba confirmava para a sociedade que a jornada do defunto estava começando, e que os vivos, fizeram tudo quanto estava ao seu alcance para que o morto saísse vitorioso dessa jornada. Pois, dentro do imaginário religioso da época, caso o falecido não fosse devidamente enterrado em uma sepultura, sua dignidade e sua reputação, ambas seriam prejudicadas. Atos assim eram considerados pelos gregos um insulto à alma do finado, e poderiam atrapalhar seu ingresso no mundo de Hades. (SANTOS, 2010: 06)

Os gregos preocuparam-se tanto enquanto praticavam a inumação quanto quando a cremação tornou-se uma prática difundida. Mesmo nas ocasiões em que o corpo era incinerado na pira, seus restos eram cuidadosamente separados e colocados em urnas funerárias. O túmulo sempre existiu, estejam nele depositados os corpos ou as urnas, pois se acreditava que serviria ao morto como uma casa, sua morada para a eternidade. (NETO, 2010)

As inscrições nas sepultura, nas lápides funerárias e em todas as estátuas erguidas em favor da perpetuação da memória do morto nos cemitérios, eram também de suma importância para os gregos. Pois, essa forma de registro servia para eternizar a memória da pessoa que ali jazia, mostrando publicamente quem essa pessoa foi em vida. Suas qualidades, seus atos gloriosos, seus grandes feitos, seu papel na família e na sociedade, tinham que ser lembrados.  E a manutenção dessa lembrança dependia dos familiares do morto, que precisavam fazer com que esses registros fossem feitos nos monumentos funerários como lugares de memória, pois guardava ali toda a História sobre o falecido, escrita em pedra, para que essa História fosse eternamente perpetuada. E esse registro escrito em pedra, sobre os feitos em vida do morto nos monumentos, lápides e estátuas recebeu, no passar do tempo, o nome de epigrafia.

História que fermenta a partir dos estudos dos lugares da memória coletiva. Lugares topográficos, como os arquivos, as bibliotecas e os museus; lugares monumentais como os cemitérios ou as arquiteturas; lugares simbólicos como as comemorações, as peregrinações, os aniversários ou os emblemas; lugares funcionais como os manuais, as autobiografias ou as associações: Estes memoriais têm sua História.

(Le Goff,1989 Apud HUTFLESZ, 2016)

Através do uso da epigrafia como um registro dentro dos cemitérios da Grécia Antiga, é possível compreender melhor as diversas maneiras de se construir e perpetuar a memória e a lembrança dos feitos do morto e o legado deixado a todos por ele descrito em seu monumento funerário. Uma memória preservada que ultrapassa gerações, e mostra publicamente como eram os hábitos religiosos de uma família, de uma geração, de uma sociedade, bem como suas crenças e sua vida cotidiana. (HUTFLESZ, 2016: 20)

E assim, podemos até mesmo pensar nessa memória eternizada em pedra nos cemitérios gregos, que tinham o propósito de perpetuar os feitos do falecido, e traços de sua personalidade para que fossem lembrados para sempre pelos familiares e pela sociedade da época e de outras épocas. Para Jacques Le Goff (Le Goff, 1989) este tipo de escrita era visto como uma forma de armazenamento de informações, que permite comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de marcação, memorização e registro. (Le Goff, 1989 Apud HUTFLESZ, 2016)

3.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho, nosso objetivo foi de primeiro, mostrar ao leitor, as principais concepções sobre a vida após a morte tanto na Grécia Antiga (século X ao século II a.C.), quanto no Antigo Egito (IV século a.C até o final do Período Romano cerca de V d.C) É óbvio que neste artigo, tentamos apenas realizar um breve estudo a respeito das práticas funerárias nessas duas antigas sociedades, e aqui foram expostos apenas alguns principais aspectos de cada civilização no que se referem as suas crenças sobre a continuidade da vida após a morte, e da alma. Mesmo por que, sabemos que seriam necessários muitos anos, para que conseguíssemos narrar em algumas páginas todos os ritos fúnebres e todas as mudanças sociais que ocorreram nesses países e acabaram por influenciar o Modus Vivendi e Status Quo desses dois povos distintos.

Não podemos deixar de ressaltar que, os processos de enterramento eram em geral financiados pelos familiares do finado. Com isso, observa-se através das fontes que, em famílias mais ricas e poderosas, o morto recebia um tratamento mais elaborado. Já os membros de famílias menos abastadas, estes recebiam tratamento bem mais simples. O que observamos em nossa sociedade até os presentes dias. Mas, alguns desses ritos Post-Mortem eram realizados pelo próprio Estado (em Atenas, século IV a.C) ou apenas baseado nas posses da família do morto.

Contudo, em todas as épocas, as sociedades passaram por muitas mudanças. E esse fato acarretava também muitas transformações para o povo. Fosse à sua vida cultural, religiosa, política ou econômica. Assim, mudava-se a mentalidade da população, e também sua forma de praticar seus rituais. E todos os sepultamentos e ritos fúnebres eram realizados sempre de acordo com as crenças locais no Pós-Vida e de acordo com a concepção religiosa de cada civilização, que variavam de época para época, de local para local, pois não eram um processo que ocorria nos países de forma estática e homogênea.

Vimos mais acima, no primeiro e no segundo capítulo deste artigo que, tanto os Antigos Egípcios quanto os gregos, eram politeístas, e ambos acreditavam em uma vida que continuava depois da morte, em realizavam rituais fúnebres em favor da alma (ou espírito) do finado para lhes garantir a vitória da vida sobre a morte. No entanto, algumas crenças e deuses eram diferentes, bem como algumas concepções no modo prático que realizam seus rituais funerários também.

Para concluirmos nossa linha de raciocínio, podemos então, tomar primeiramente como ponto de partida para nossa comparação, a civilização egípcia e suas Práticas Funerárias e Processos de Mumificação do corpo do defunto. No Egito Antigo (IV dinastia), já se utilizada o processo de embalsamar e mumificar o corpo do rei morto durante cerca de 70 dias, pois os faraós acreditavam que com isso, sua alma viveria eternamente no além.  Essa prática era algo acessível apenas ao faraó (Antigo Império), e somente com o passar dos séculos essa prática se estendeu a outras camadas sociais. Mas ainda se faz importante destacar que, no Egito, apenas os que tinham uma situação financeira próspera poderiam arcar com tamanha despesa que era gasta para poder proporcionar ao morto uma vida boa e tranqüila no outro mundo. Já que o custo de se embalsamar e de mumificar uma pessoa eram alto. Sem mencionarmos todas as grandes quantidades de oferendas comumente depositadas na tumba do falecido pelos seus familiares ou funcionários. Inclusive, no final da XVII e início da XVIII dinastia, além de todos os ritos egípcios para livrar os mortos do mal durante a viagem ao Duat, esses ainda poderiam receber um auxílio extra chamado de Livro dos Mortos. Pois o povo e a elite faraônica acreditavam que este livro guiaria o defunto através da escuridão da morte e ensinaria a ele todas as fórmulas mágico-rituais que o conduziriam de maneira segura através do melhor caminho até que encontrasse o deus Osíris e fosse finalmente julgado por todas as suas ações em vida. Não observamos relatos desta crença de que havia algum Livro dos Mortos na Grécia Antiga (ou algo parecido), nem mesmo sobre a concepção grega de um julgamento das ações do defunto do Pós-Vida diante dos deuses.

Na Antiga Grécia, (séculos II ao X a.C) não encontramos registros de práticas de embalsamamento nem de processos de mumificação neste período. Mas, os gregos realizavam em suas casas, à noite, uma cerimônia póstuma que durava cerca de três dias. Após esse ritual, ou cremavam (nas piras) ou enterravam seus mortos, e colocavam em suas mãos uma moeda de prata, que serviria de pagamento ao Caronte. Espécie de condutor de almas, o Barqueiro Infernal que conduzia os mortos ao Hades, o inferno grego.

A cremação do defunto ocorria, em geral, de acordo com a vontade da pessoa que deixava escrito isso em vida ou da família, sem necessariamente extrair seus órgãos durante a preparação do corpo do morto (como no Egito). Mas o corpo deste precisava também ser “purificado”, lavado, perfumado e vestido para ser exposto pela família dentro de sua casa durante o velório. Preces e orações também eram proferidas em favor da alma do falecido. E esses recebiam oferendas funerárias dos seus parentes assim como no Egito, e aqui, os faraós construíram grandes tumbas que eram as pirâmides, e eram depositados em sarcófagos após deixarem a vida. Os mortos eram sepultados com diversos objetos que poderiam ser úteis a eles no Pós-Vida. Jóias, roupa, espelhos, coroa de flores, eram alguns dos itens depositados no túmulo em homenagem ao defunto.  

Para a elite egípcia e para a elite grega, era muito importante exibir sua riqueza e prosperidade no momento de enterrar seus mortos. Isso denotava poder e Status social diante da população. E quanto mais riqueza possuísse a família, mais grandiosa seria a cerimônia funerária e melhores seriam as oferendas que o morto receberia em sua tumba para auxiliá-lo em sua viagem rumo à eternidade. Pois, em ambas a cultura vê-se que, preparar o falecido para a vida no além, era função essencial de seus parentes mais próximos (ou sacerdotes egípcios) E deixar de zelar por essa preparação póstuma, era considerado pela sociedade algo absurdo e irresponsável, que inclusive poderia atrapalhar o finado chegar ao local que era agora seu último e derradeiro destino. Preparar o morto deixando-lhe provisões de comida, bebida, perfumes, até mesmo livros que eram como guias funerários eram fundamentais ao bem-estar deste. Mas não eram apenas as oferendas que abririam os caminhos e que proporcionariam a eles paz e alegria no além. Tanto na Grécia quanto no Egito, os rituais fúnebres precisavam existir e seguir certas regras sociais, e variavam de cidade para cidade, de período para período.  Cumprindo todas as etapas desses ritos, todos aqueles que já descrevemos nos capítulos acima, a família poderia ficar tranqüila de que, os mortos não voltariam do Hades no caso da crença grega, ou do Duat, na concepção dos egípcios para atrapalhar suas vidas, assombrar seu sono e destruir suas colheitas.

4.     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 Amanda Martins Hutflesz é professora de História e possui Licenciatura e Bacharelado no Curso de História, pela Universidade Católica de Petrópolis (2011). Iniciou segunda graduação no curso de Línguas Inglesas (Universidade Estácio de Sá/2016); Cursou especialização em Língua Inglesa na área de Egiptologia (Coursera - Plataforma online), sob orientação dos Doutores David P. Silverman e Joyce Tildesley; Pós Graduanda em Cultura Afro-Brasileira (UNOPAR); Freqüentou os cursos de especialização em Língua Egípcia e Religião e Arqueologia Egípcia (UFRJ-UERJ/ 2014-2015); Atualmente é membro e pesquisadora do Grupo de Estudos GEKemet (UFF) com ênfase em Egiptologia e Arqueologia Egípcia e pesquisadora e colaboradora do NEA – Núcleo de Estudos da Antiguidade (UERJ).

[2] Marina Rockenback é Licenciada em História pelo Centro Universitário Augusto Motta UNISUAM; Pós- graduada em História Antiga e Medieval pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – NEA/UERJ; Pós-graduada em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília – ARCHAI/UNB; Professora Pesquisadora do NEHMAAT.

[3] Maat era o conceito egípcio de ordem, verdade, justiça e equilíbrio. Esse conceito aparecia na iconografia egípcia personificado pela deusa Maat, a qual é representada sempre com um laço de fita na cabeça portando uma pena amarrada.

[4]Luiz Carlos de Carvalho Teixeira de Freitas é jornalista, psicólogo e escritor. Também atua como intérprete de Astrologia Arquetípica.

[5] Ivan Vieira Neto tem Mestrado em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade federal de Goiás. Desenvolve pesquisa sobre História Antiga e religiosidades na Antiguidade e Antiguidade tardia sob orientação da Profª. Drª. Ana Tereza Marques Gonçalves. Membro dos grupos de pesquisa LEIR e NEMED filiados ao CNPq. Bolsista CAPES.

[6] Thiago Eustáquio de Araújo Mota concluiu o Mestrado e o Doutorado pela Universidade de Goiás, Departamento de Pós Graduação em História (Linha de pesquisa História, Memória e Imaginários Sociais) e desenvolveu pesquisa, sob a orientação da Professora Doutora Ana Teresa Marques Gonçalves no âmbito da Antiguidade Romana. Atualmente é Professor Adjunto da Universidade de Pernambuco. Desenvolve e orienta pesquisas sobre as reapropriações dos motivos convencionais do épico na literatura do Principado a partir dos conceitos de memória genealógica e poder. 

[7] Sandra Ferreira dos Santos é Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC-UFRJ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, orientada pela Prof. Dra. Marta Mega de Andrade. A pesquisadora desenvolve a temática: Eros e Thanatos: o casamento como violência simbólica e como forma de representação feminina na Atenas Clássica, tendo como órgão financiador o CNPq. Atualmente participa da linha de pesquisa Contextos Funerários e Exposição Feminina em Atenas (sec. VI-IV a.C), órgão financiado pelo CNPq.

[8] Maria Beatriz Borba Florenzano estudou História na Universidade de São Paulo (USP). É professora de Arqueologia do Museu de arqueologia e Etnologia da USP. Fez Mestrado e Doutorado estudando as moedas e a circulação monetária na Grécia Antiga.