O que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra

O sistema terrestre é o conjunto de elementos que garante o funcionamento dos componentes do planeta Terra em sua superfície, bem como as suas recorrentes transformações ao longo do tempo. Compreender o sistema terrestre é, portanto, estabelecer as bases para a compreensão da Terra de um modo geral, de forma a entender os seus ciclos e processos naturais.

Basicamente, o sistema terrestre é constituído a partir do relacionamento entre as formas de relevo e suas influências endógenas (internas) e exógenas (externas), a dinâmica climática e dinâmica cíclica da água. Portanto, podemos entender o sistema terrestre como a relação entre os diferentes componentes da litosfera, atmosfera e hidrosfera, com a consequente formação da biosfera.

Por litosfera entende-se a estrutura física e sólida do planeta. Isso envolve, portanto, as rochas, as formas de relevo e as dinâmicas relacionadas aos seus processos de atuação e transformação, tais como a estrutura interna do planeta e seus efeitos, a exemplo do movimento das placas tectônicas, os vulcanismos e os terremotos. Nesse sentido, embora a Geologia entenda a litosfera como a camada mais externa e sólida da Terra, no sistema terrestre ela envolve tanto essa estrutura como as dinâmicas que nela interferem.

Por atmosfera compreende-se a dinâmica climática e dos gases que envolvem a camada de ar da Terra. Portanto, o funcionamento dos climas e os fatores a ele relacionados, tais como as chuvas, a umidade, a pressão atmosférica, entre outros dispositivos, são itens incluídos nesse subsistema.

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Por hidrosfera conceitua-se a estrutura de água que compõe o ambiente da Terra, elemento que está presente em 70% da superfície. No caso, não se fala somente em água líquida, mas também nos seus estados sólido e gasoso e nas dinâmicas a ela relacionadas. É importante compreender que a água atua tanto na transformação dos climas quanto na dinâmica do relevo, além de ser um item fundamental para a existência dos seres vivos.

Por biosfera compreende-se a inter-relação entre as três esferas acima apresentadas, formando o ambiente próprio para a manutenção da vida. Portanto, falar de biosfera é falar nas condições para o assentamento das vegetações e também dos animais, dos quais os seres humanos não se excluem, embora a humanidade seja a maior interventora entre os seres vivos sobre o meio natural em que habita.

O que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra

O sistema terrestre e sua estrutura física

Na imagem acima, é importante a compreensão de que o sistema terrestre não se encontra dividido por essas esferas ou subsistemas, mas sim unido e composto pela interação entre elas. Basicamente, compreendemos que as formas de relevo interferem no clima, que interfere nos cursos d'águas, que interferem na biosfera e assim sucessivamente. Assim, todas as esferas provocam intervenções múltiplas e caóticas entre si.


Por Me. Rodolfo Alves Pena

A biosfera pode ser definida como o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, diz respeito às regiões habitadas do nosso planeta. Geralmente o termo biosfera relaciona-se com os seres vivos que aqui vivem, entretanto, o termo pode ser ampliado e usado para falar dos ambientes.

Divisões do planeta Terra

O planeta Terra pode ser dividido em quatro camadas esféricas interligadas: litosfera, hidrosfera, atmosfera e biosfera. Essas quatro divisões englobam praticamente todas as características importantes do nosso planeta. Litosfera, por exemplo, é o nome dado à parte sólida formada a partir das rochas. Já a hidrosfera relaciona-se com a porção constituída por água, e a atmosfera é a camada de ar que envolve a Terra.

Por fim, temos a biosfera, que diz respeito às regiões do planeta que possuem seres vivos e está intimamente relacionada com as outras, uma vez que sem as outras partes do planeta, provavelmente, não existiria vida. Alguns autores preferem dizer que a biosfera seria formada pela litosfera, hidrosfera e atmosfera e que o melhor termo para descrevê-la seria ecosfera.

Que ambientes estão englobados na definição de biosfera?

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Todos os ambientes estão incluídos como parte da biosfera, desde o ponto mais alto do planeta até a porção mais funda dos oceanos. Em virtude dessa grande quantidade de ambientes, a biosfera é complexa e possui uma constituição variável.

É importante lembrar que a biosfera é uma pequena porção do planeta, uma vez que, à medida que nos afastamos de sua superfície, as condições necessárias à vida tendem a diminuir. Estima-se que a biosfera não passe de 13 km de espessura, e isso porque os seres vivos, em sua maioria, necessitam de água, luz, calor e matéria.

Complexidade da biosfera

Quando falamos em biosfera, devemos destacar a sua complexidade, a qual é resultado de vários fenômenos químicos, físicos e biológicos. Por causa desses vários fenômenos, podemos concluir que a biosfera está em constante modificação e que os seres vivos exercem papel fundamental nessas mudanças. Em relação ao homem, o quadro é ainda pior, uma vez que ele causa alterações, muitas vezes, irreversíveis no ambiente.


Por Ma. Vanessa dos Santos

1. Pesquise e dê exemplos de comportamento instintivo em seres humanos e em animais.

2. Analise criticamente a seguinte afirmação: Os seres humanos não nascem prontos pelas "mãos da natureza".

3. Que fator parece determinar biologicamente essa diferença entre os seres humanos e os animais?

4. De acordo com Gordon Childe, de que recursos o ser humano faz uso para compensar seus dotes corporais relativamente pobres em comparação com diversos animais? Você concorda com essa interpretação?

5. Exponha a tese defendida neste capítulo a respeito de uma "síntese" humana.

6. Discuta o que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra.

7. De acordo com o que estudamos, existe um ponto claro e definido da transição ou síntese natureza-cultura? Justifique sua resposta.

CONVERSA FILOSÓFICA



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O que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra
O que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra
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Todos os direitos reservados

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cotrim, Gilberto

Fundamentos de filosofia / Gilberto Cotrim,

Mirna Fernandes. -- 4ª ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016.

Suplementado por manual do professor.

Bibliografia.

ISBN 978-85-472-0533-1 (aluno)

ISBN 978-85-472-0534-8 (professor)

1. Educação - Filosofia I. Fernandes, Mirna.

II. Título.

16-01969

CDD-370.1

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação : Filosofia 370.1

2. Filosofia da educação 370.1

Diretora editorial Lidiane Vivaldini Olo

Gerente editorial Luiz Tonolli

Editor responsável Glaucia Teixeira M. T.

Gerente de produção editorial Ricardo de Gan Braga

Gerente de revisão Hélia de Jesus Gonsaga




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Page 3

Capítulo 13 - Pensamento cristão, p. 238

Período medieval - Filosofia e cristianismo, p. 239

Cristianismo, p. 239

Fé versus razão, p. 240

Filosofia medieval cristã, p. 241

Análise e entendimento, p. 241

Conversa filosófica, p. 242

Patrística - A matriz platônica de apoio à fé, p. 242

Santo Agostinho, p. 242

Análise e entendimento, p. 245

Conversa filosófica, p. 245

Escolástica - A matriz aristotélica até Deus, p. 245

Relação entre fé e razão, p. 246

Estudo da lógica, p. 246

Questão dos universais, p. 246

Santo Tomás de Aquino, p. 247

Análise e entendimento, p. 250

Conversa filosófica, p. 250

Propostas finais, p. 251




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Page 4

Capítulo 1 - A felicidade

LEGENDA: O caminho para a felicidade está em você mesmo (1999) - Carl-W. Röhrig (Coleção particular).

FONTE: ALBUM/AKG-IMAGES/CARL-W.RÖHRIG/LATINSTOCK

Observe atentamente os elementos da imagem acima. Que sentimentos ela inspira em você? Como se pode ser feliz, segundo ela? Justifique.

Filosofar é uma "experiência" do pensamento que tem suas peculiaridades. Trata-se de uma maneira um pouco diferente de pensar sobre as coisas, que foge à rotina, ao automático, mas mesmo assim é acessível a todos.

Você provavelmente já deu alguns passos na experiência filosófica em alguma situação e nem se deu conta disso. Quer saber como? É o que veremos em seguida.

Comecemos com uma historieta que aborda um tema muito sensível para todos nós e importante para a filosofia: a felicidade.




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Page 5

Eudemonista - relativo à felicidade ou que tem a felicidade como valor fundamental ou principal objetivo.

Inteligível - que só pode ser apreendido pelo intelecto, por oposição ao sensível, isto é, que só pode ser apreendido pelos sentidos.

Concupiscente - que está relacionado com a concupiscência, isto é, o desejo de prazeres carnais.

Irascível - que é propenso a experimentar a ira, a raiva.

Fim do vocabulário.

LEGENDA: Pintura sobre vaso etrusco fabricado em Sèvres (c. 1827-1832) - Percier/Beranger (Coleção particular). Representa uma corrida entre jovens gregos em aula de educação física. Na Grécia antiga, a educação das crianças - ou paideia (do grego paidos, "criança") - passou por várias etapas de desenvolvimento. À época de Platão, meninos entre 7 e 14 anos (meninas não) recebiam aulas de ginástica e música. Também aprendiam gramática e a recitar de cor poemas antigos, que eram fonte importante de conteúdo moral (cf. JAEGER, Paidea - a formação do homem grego).

FONTE: MASSIMO LISTRI/CORBIS/FOTOARENA

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Conhecer o bem

Por meio dessas práticas - especialmente da dialética - a alma humana penetraria o mundo inteligível, também conhecido como mundo das ideias, e se elevaria sucessivamente, mediante a contemplação das ideias perfeitas, até atingir a ideia suprema, que é a ideia do bem. Para Platão, as ideias perfeitas seriam a realidade verdadeira, e compreendê-las significava, portanto, alcançar o grau máximo de conhecimento.

Por que a supremacia da ideia do bem? Porque o bem, segundo o filósofo, seria a causa de todas as coisas justas e belas que existem, incluindo as outras ideias perfeitas, como justiça, beleza, coragem. Sem o bem não há nenhuma delas, inclusive a ideia perfeita de felicidade. (Voltaremos a estudar a teoria do mundo das ideias no capítulo 12.)

Em resumo, podemos dizer que, para Platão, a felicidade é o resultado final de uma vida dedicada a um conhecimento progressivo até se atingir a ideia do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte fórmula: conhecimento = bondade = felicidade. As três coisas, quando ocorrem em sua máxima expressão, andariam sempre juntas, mas o caminho partiria do conhecimento.

Além disso, para Platão, a ascensão dialética equivaleria não apenas a uma elevação cognoscitiva (isto é, do conhecimento), mas também a uma evolução do ser da pessoa (evolução ontológica, no jargão filosófico). Simplificando bastante, podemos dizer que aquele que alcança o conhecimento verdadeiro (que culmina com a ideia do bem) torna-se um ser "melhor" em sua essência e, por isso, pode viver mais feliz.

Construir o bem de todos

Platão, no entanto, tinha como motivação fundamental de seu filosofar o âmbito político: para ele, a política era a mais nobre das atividades e de todas as ciências, pois tinha como objeto a pólis (cidade-estado grega) e, portanto, a vida do conjunto dos cidadãos. Por isso, seu projeto político-filosófico visou à construção de uma sociedade justa, isto é, aquela que promovesse o bem de todos (o bem comum):

[...] ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar uma única classe eminentemente feliz, mas, tanto quanto possível, toda a cidade. De fato, pensávamos que só numa cidade assim encontraríamos a justiça e na cidade pior constituída, a injustiça [...]. Agora julgamos modelar a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-a como um todo [...] (A República, p. 115-116).

Com esse propósito, em sua obra denominada A República, o filósofo idealizou uma sociedade organizada em torno de três atividades básicas: produção dos bens materiais e de alimentos, defesa da cidade e administração da pólis (tema que será estudado mais detidamente no capítulo 19). Dentro dessa organização, a cada cidadão caberia uma função social (produtor, guerreiro ou sábio), e esta seria definida de acordo com sua própria natureza, isto é, a aptidão inata a cada pessoa.

A identificação dessa aptidão natural ou vocação se faria durante o processo educativo. A educação seria igual para todos os jovens. Aqueles que se revelassem os mais sábios seriam destinados à administração pública. E, como os filósofos eram os mais sábios entre os mais sábios (os conhecedores do caminho da felicidade), seriam eles os governantes da cidade.

Dentro dessa organização, conforme concebeu Platão, cada um já seria feliz pelo simples fato de cumprir a função para a qual é mais apto por natureza (concepção grega à qual voltaremos mais adiante).

CONEXÕES

3. Praticar ginástica ou alguma atividade física disciplinada faz você sentir-se bem? Você percebe resultados concretos em termos de bem-estar físico, emocional e mental? Procure relacionar suas observações com a teoria platônica sobre a felicidade.

Aristóteles: vida teórica e prática

na história da filosofia, ocorre frequentemente que um discípulo acabe não sendo um seguidor fiel das doutrinas de seu mestre e até se oponha a ele em vários aspectos, desenvolvendo um pensamento independente e original.

É o caso de Aristóteles (384-322 a.C.), que refutou a teoria do mundo das ideias, pilar da filosofia platônica, propondo um pensamento que, embora valorizasse a atividade intelectual, teórica e contemplativa como fundamental, resgatava o papel dos bens humanos, terrenos, materiais para alcançar uma vida boa (distintos aspectos do pensamento de Aristóteles serão abordados no capítulo 12 e em outras partes deste livro).

Qual foi, então, o método proposto pelo filósofo?

25

Exercitar a contemplação

Em sua obra dedicada ao tema da ética, Aristóteles apresenta a seguinte explicação:

[...] o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível para ela; e, assim, para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz (Ética a Nicômaco, p. 190).

Para que você entenda esse raciocínio, vamos expor, mesmo que resumidamente, a argumentação que sustenta a tese do filósofo sobre a felicidade:

· Aristóteles afirmava que um ser só alcança seu fim quando cumpre a função (ou faculdade) que lhe é própria e o distingue dos demais seres, isto é, sua virtude (ou, em grego, areté).

· A palavra virtude é entendida aqui como a propriedade mais característica e essencial de um ser, aquela cujo exercício conduz à excelência ou perfeição desse ser, trazendo-lhe prazer. Por exemplo: a virtude de uma faca é o seu corte, de uma laranjeira é produzir laranjas, de um dentista é tratar dos dentes.

· O ser humano, por sua vez, dispõe de uma grande quantidade de funções ou faculdades (caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar, obrar, amar etc.), mas outros animais podem possuí-las também. Há, porém, uma única faculdade que ele possui com exclusividade e que o distingue dos demais seres: o pensar de forma racional. Essa seria, portanto, sua virtude essencial.

· Assim, o ser humano só alcançará seu fim e bem supremo (a felicidade) se atuar conforme sua virtude, que é a razão.

Mas preste atenção: para Aristóteles, não basta ter uma virtude (a racionalidade) - é preciso exercitá-la. O ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência (possibilidade de ser). Portanto, o que o filósofo preconizava era que, para atingir a felicidade verdadeira, o ser humano deveria dedicar-se fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a ordem do cosmo, a autêntica realidade das coisas. E deveria manter essa prática durante a vida inteira, e não apenas em um ou outro dia,

[...] porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não faz um homem feliz e venturoso. (Ética a Nicômaco, p. 16.)

LEGENDA: Platão em estado contemplativo, meditando sobre a imortalidade (1874) - autor desconhecido. (Coleção particular.)

FONTE: BETTMANN/CORBIS/FOTOARENA

Praticar outras virtudes

Sem tirar os pés do chão, no entanto, Aristóteles dizia também que não se pode abandonar a companhia da família e dos amigos, a riqueza e o poder. Todos esses elementos, e o prazer que deles resulta, promoveriam o bem-estar material e a paz social, indispensáveis à vida contemplativa. O sábio não poderá dedicar-se à contemplação se, por exemplo, não houver alimentos, se seus filhos chorarem de fome e se a cidade toda estiver em pé de guerra.

Além do mais, o gozo de tais prazeres estaria vinculado ao exercício de outras virtudes humanas - como a generosidade, a coragem, a cortesia e a justiça - que, em seu conjunto, contribuiriam para a felicidade completa do ser humano.

Portanto, na ética aristotélica, embora o exercício contínuo de uma vida teórica seja essencial (condição necessária, no jargão filosófico) para uma pessoa alcançar a vida feliz, isso não basta (não é condição suficiente). Em resumo, a felicidade seria uma vida dedicada à contemplação teórica, aliada à prática das outras virtudes humanas e sustentada pelo bem-estar material e social.

CONEXÕES


4. Destaque, entre os elementos propostos por Aristóteles para uma vida feliz, aqueles que você considera condição necessária para sua felicidade. Para você há algum que, além de necessário, é condição suficiente para ser feliz? Qual? Justifique sua resposta.

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- Epicuro: o caminho do prazer

Apesar das diferenças entre as duas abordagens anteriores, você já deve ter notado que elas não são tão distintas assim, pois tanto Platão como Aristóteles, por caminhos diversos, valorizam muito o papel do intelecto para obter uma vida feliz.

Resposta realmente distinta foi a de Epicuro (341-271 a.C.), que recomendava o caminho do prazer. Para o filósofo, felicidade é o prazer resultante da satisfação dos desejos, como crê a maioria das pessoas. Mas o que Epicuro quer dizer com isso é que a felicidade é fundamentalmente prazer, pois para ele tudo no mundo é matéria e, no ser humano, sensação, inclusive a felicidade. Assim, ser feliz é sentir prazer.

Com base nessa visão sensualista (baseada nas sensações), Epicuro dirá que todos os seres buscam o prazer e fogem da dor e que, para sermos felizes, devemos gerar, primeiramente, as condições materiais e psicológicas que nos permitam experimentar apenas o prazer na vida. E prazer, para ele, é sobretudo ausência de dor, conforme veremos adiante.

Que estratégias o filósofo propõe para evitar a dor?

Eliminar certas crenças

Uma das principais causas de angústia e infelicidade, segundo Epicuro, são as preocupações religiosas e as superstições. Ele se refere, aqui, ao temor que certas crenças e religiões nos impõem. Por exemplo, os gregos temiam muito ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas interferissem em suas vidas, mudando sua sorte ou tirando-lhes os seres queridos.

Todo esse sofrimento poderia ser evitado, segundo o filósofo, se as pessoas compreendessem que o universo inteiro é constituído de matéria, inclusive a alma humana. Veriam que tudo o que acontece pode ser explicado pelo movimento aleatório dos átomos, que produz forças cegas e indiferentes ao destino humano. Aqui Epicuro segue a teoria atomista e mecanicista de outro filósofo grego, Demócrito (460-370 a.C.), que estudaremos adiante (no capítulo 11).

Vocabulário:



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Page 6

17. Após a Antiguidade, que valores foram assumindo historicamente maior importância na concepção de felicidade? Em que contexto histórico surgiram?

18. Entre as conclusões a que vêm chegando estudos científicos a respeito da felicidade, destaque as que você considera mais instigantes ou reveladoras (pelo menos uma). Justifique.

19. Interprete a última citação do capítulo, de Jeremy Bentham, comparando-a com a busca desenfrea da de felicidade individual na sociedade contemporânea.

CONVERSA FILOSÓFICA

4. Felicidade individual e coletiva

levando em consideração as diversas reflexões contidas neste capítulo, você acha que uma pessoa pode ser plenamente feliz quando busca apenas sua felicidade individual?

a) Se você entende que não, junte-se àqueles que pensam como você para elaborar um conjunto de argumentos a favor de sua posição. Se você considera que sim, forme outro grupo e siga o mesmo procedimento.

b) Depois, um orador escolhido de cada lado deverá defender a posição de seu grupo, expondo os argumentos reunidos. Para isso, poderá solicitar o apoio de seus colegas para consultas, procurando escutar e responder aos argumentos opostos, como em uma conversação filosófica.

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PROPOSTAS FINAIS

De olho na universidade

(UEM-PR) "O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser apreendido, já que ninguém nasce filósofo e já que filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro. [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar" (COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 251-252).

A partir dessas considerações, assinale o que for correto.

01) A filosofia é uma atividade que segue a via pedagógica de uma prática escolar, já que não pode ser apreendida fora da escola.

02) O enunciado relaciona a filosofia com o ato de pensar.

04) O enunciado contradiz a motivação filosófica contida na seguinte afirmativa de Aristóteles: "Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer".

08) Para André Comte-Sponville, quanto antes e com mais intensidade nos dedicarmos à filosofia, mais cedo estaremos livres dela, pois todo assunto se esgota.

16) A citação do texto afirma que sempre é tarde para começar a filosofar, razão pela qual a filosofia é uma prática da maturidade científica e o coroamento das ciências.

Sessão cinema




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DÚVIDA METÓDICA

O exercício da dúvida por Descartes

Para que você entenda de maneira mais concreta o que acabamos de estudar, vamos analisar agora um exemplo de reflexão filosófica que enfatiza ao extremo o ato de duvidar: a chamada dúvida metódica, do filósofo francês René Descartes (1596-1650). (Voltaremos a estudar distintos aspectos do pensamento cartesiano nos capítulos 6, 10 e 14.)

Aprendendo a duvidar

a dúvida metódica tornou-se uma referência importantíssima e um clássico da filosofia moderna. trata-se de um exercício da dúvida em relação a tudo o que ele, Descartes, conhecia ou pensava até então ser verdadeiro. tal exercício foi conduzido pelo filósofo de duas maneiras:

- metódica, porque a dúvida vai se ampliando passo a passo, de modo ordenado e lógico; e

- radical, porque a dúvida vai atingindo tudo e chega a um ponto extremo em que não é possível ter certeza de nada, nem mesmo de que o mundo existe. Como em um jogo ou uma brincadeira, Descartes tentou duvidar até da própria existência. Por isso, a dúvida metódica costuma ser chamada também de dúvida hiperbólica, isto é, maior do que o normal ou o esperado, exagerada. Note que é um exercício bastante difícil, pois não é nada natural duvidar de tanta coisa. Experimente.

Antes de tudo, vejamos por que esse filósofo decidiu empreender tal esforço. O que o teria motivado? A explicação está no início de suas Meditações:

Há já algum tempo que eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências (p. 17).

Em outras palavras, Descartes estava desiludido com o que aprendera até então nos estudos e na vida, depois de perceber que havia muito engano. Aí se tornou uma pessoa meio desconfiada, mas que não ficou só nisso: ele resolveu construir algo diferente, uma nova ciência que garantisse um conhecimento sólido e verdadeiro. Essa era sua ambição.

LEGENDA: Descartes em sua mesa de trabalho. O filósofo buscou o isolamento fora de Paris e, depois, na Holanda, para dedicar-se totalmente aos estudos. Conta-se que ficava dias em seu quarto, imerso em suas reflexões e na elaboração de suas obras.

FONTE: MORET E DESFONTAINES/GROSVENOR PRINTS, LONDRES

Para cumprir tal propósito, no entanto, percebeu que era necessário destruir primeiro todas as suas antigas ideias que fossem duvidosas.

Isso quer dizer que ele já tinha experimentado diversos estranhamentos em sua vida, como qualquer pessoa. A diferença é que ele decidiu, então, viver esse processo de estranhar e duvidar de maneira voluntária e planejada, aplicando-o a todas as suas antigas opiniões. Você também pode fazê-lo, e é isso que queremos lhe mostrar. Observe o caminho seguido por Descartes e procure pensar, sentir e vivenciar com ele cada passo de suas meditações.

As primeiras determinações

[...] não é necessário que examine cada uma [opinião] em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas opiniões antigas estavam apoiadas. (DESCARTES, Meditações, p. 17.)

Essa foi a primeira determinação de Descartes na construção da dúvida metódica. Em outras palavras, para tornar sua tarefa mais fácil, o filósofo decidiu analisar as ideias ou crenças básicas que fundamentavam suas opiniões. Se esses princípios ou fundamentos eram duvidosos, as outras ideias que deles dependiam também eram duvidosas.

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Esse é um procedimento básico tanto em filosofia como nas ciências em geral: uma ideia falsa ou incerta não pode ser o fundamento de uma boa explicação, assim como alicerces de gelo ou de gesso não podem sustentar uma boa construção.

Neste ponto você pode estar se perguntando: "Mas como Descartes distinguia entre o certo e o duvidoso? Que critério ele utilizava?". A resposta pode ser encontrada na obra Discurso do método, na qual o filósofo explicita a seguinte norma de conduta para si mesmo:

[...] jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida (p. 37; destaques nossos).

Trata-se do critério da evidência : uma ideia é evidente quando se apresenta com tamanho grau de clareza e distinção ao intelecto - como define Descartes - que não suscita qualquer dúvida. Duvidosa, portanto, é toda ideia que não pode ser demonstrada com essa mesma clareza, que não passa totalmente pelo crivo da razão. Descartes decidiu que não acolheria como verdadeira nenhuma ideia como essa.

Vocabulário:



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Page 8

Horton e o mundo dos Quem (2008, EUA, direção de Jimmy Hayward e Steve Martino)

Animação baseada em livro homônimo de Dr. Seuss, de 1954. O elefante Horton conversa com uma partícula de pó, onde vive uma comunidade microscópica que ninguém acredita existir. O lema de Horton é: "Toda pessoa é uma pessoa, não importa seu tamanho".

Matrix (1999, EUA, direção dos irmãos Wachowski)

Ficção científica em que o mundo é dominado por máquinas que se alimentam da energia dos seres humanos, enquanto estes vivem uma realidade virtual (matrix), um mundo ilusório criado por essas inteligências artificiais, embora de fato estejam adormecidos em seus casulos.

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Page 9

Diálogo com Eutífron

Vejamos agora um trecho de um dos diálogos de Platão, Eutífron, que constitui um modelo exemplar do método dialético. na cena inicial, à porta do tribunal de Atenas, Sócrates encontra Eutífron, conhecido como grande entendido em temas religiosos. O filósofo conta que movem contra ele uma ação em que é acusado de corromper os jovens inventando novos deuses e desacreditando os antigos.

Eutífron, por sua vez, comenta que veio ao tribunal por ter apresentado uma acusação de homicídio contra o próprio pai. Conta que a vítima era um servo que, embriagado, degolou outro servo. O pai prendeu o homicida em um fosso, sem ter maiores cuidados com ele, enquanto esperava orientação do encarregado de justiça. Só que o servo assassino não aguentou o cativeiro e faleceu de frio e inanição.

Eutífron julga, então, que seu pai teria se tornado um homicida também, por omissão, e que, ao acusá-lo, estava agindo de maneira piedosa, isto é, conforme o dever para com os deuses. E o diálogo prossegue:

Sócrates: - Por Zeus, Eutífron, julgas saber com tanta precisão a opinião dos deuses a respeito do que é e não é piedoso, que não receies que, havendo as coisas sucedido como afirmas, possas cometer uma crueldade movendo esse processo contra teu pai?

Eutífron: - Assim, Sócrates, eu não teria utilidade e Eutífron não se distinguiria do mais comum dos homens se não tivesse conhecimento de todas essas coisas com precisão.

S.: - Perceberás, por conseguinte, meu caro Eutífron, quão proveitoso para mim seria tornar-me teu discípulo, especialmente antes da ação judicial [...]

[...]


S.: - Explica-me, então, o que consideras piedoso e ímpio [não piedoso].

E.: - Digo que é piedoso isso mesmo que farei agora, pois em se tratando de homicídios ou roubos sacrílegos, ou qualquer outro crime, a piedade impõe o castigo do culpado, seja este pai, mãe ou outra pessoa qualquer; não agir assim é ímpio. [...]

[...]

S.: - Pode ser que o seja, mas também existem muitas outras coisas, Eutífron, consideradas piedosas.

E.: - Evidentemente que sim.

S.: - Recorda, porém, que não te pedi para demonstrar-me uma ou duas dessas coisas, dessas que são piedosas, mas que me explicasses a natureza de todas as coisas piedosas. Porque disseste, salvo engano, que existe algo característico que faz com que todas as coisas ímpias sejam ímpias, e todas as coisas piedosas, piedosas. Recordas-te?

E.: - Recordo-me.

S.: - Pois bem, esse caráter distintivo é o que desejo que me esclareças, a fim de que, analisando-o com atenção e servindo-me dele como parâmetro, possa afirmar que tudo o que fazes, ou um outro, de igual maneira é piedoso, enquanto aquilo que se distingue disso não o é.

E.: - Se é isso o que queres, dir-te-ei imediatamente.

S.: - Em verdade, é só isso que desejo.

E.: - É piedoso tudo aquilo que é agradável aos deuses, e ímpio o que a eles não agrada.

S.: - Ótimo, Eutífron, respondeste agora como eu esperava que o fizesses, se o que afirmas é correto, embora eu não o saiba.

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Mas é evidente que me mostrarás que o que declaras é a pura verdade.

E.: - Sim, claro.

S.: - Muito bem, consideremos o que vamos dizer. Uma coisa e um homem que são agradáveis aos deuses são piedosos, ao passo que uma coisa e um homem detestados pelos deuses são ímpios. [...]

E.: - Sim.

[...]


S.: - E não afirmaste também, Eutífron, que os deuses lutam entre si, que apresentam diferenças e detestam uns aos outros?

E.: - Sim, afirmei.

S.: - Mas quais são essas divergências que causam esses ódios e essas cóleras, estimado amigo?

[...]


S.: - Então, qual seria o assunto que, por não ser passível de decisão, causaria entre nós inimizade e nos tornaria reciprocamente irritados? Pode ser que não esteja a teu alcance, mas considera, pelo que estou dizendo, se se trata do justo e do injusto, do belo e do feio, ou do bom e do mau. Com efeito, não é por causa disso que, justamente devido às nossas diferenças e por não poder conseguir uma decisão unânime, nos convertemos em inimigos uns dos outros [...]?

E.: - De fato, Sócrates, eis aqui a divergência mais frequente e também as causas que lhe dão origem.

S.: - Não acontecem igualmente as mesmas divergências entre os deuses e pelos mesmos motivos?

E.: - Com toda a certeza.

[...]

S.: - E não é verdade que aquilo que cada um deles julga bom e justo é também o que ama, e que o contrário lhe desagrada?

E.: - Sim.

S.: - Mas são as mesmas coisas, como afirmas, que uns reputam justas e outros injustas. De suas divergências acerca disso é que se originam as guerras e as discórdias entre eles, não é?

E.: - De fato.

S.: - Temos de afirmar, por conseguinte, que as mesmas coisas são amadas pelos deuses e que lhes são ao mesmo tempo agradáveis e desagradáveis.

E.: - Parece que sim.

S.: - O que significa, Eutífron, que algumas coisas poderão ser ao mesmo tempo piedosas e ímpias.

E.: - É possível.

S.: - Então, estimado amigo, não respondeste à minha pergunta. Pois pedi que me explicasses o que é [...] piedoso e ímpio. Porém vimos que o que agrada a alguns deuses pode desagradar a outros; portanto, querido Eutífron, não seria de espantar que aquilo que fazes ao castigar teu pai fosse agradável para Zeus, mas detestável para Cronos e Urano [...] e, da mesma maneira, agradável e desagradável para uns e outros deuses que divergem a respeito disso.

PLATÃO, Eutífron - ou da religiosidade, p. 39-44.

Fim do complemento.

CONEXÕES

3. Agora é sua vez de analisar esse diálogo. Identifique:

a) o que Eutífron está convencido de conhecer e o parágrafo que expressa esse convencimento;

b) o suposto motivo de Sócrates para querer aprender com seu interlocutor e o parágrafo que retrata esse interesse;

c) a questão investigada por Sócrates nesse início do diálogo;

d) a primeira resposta de Eutífron à questão;

e) o problema identificado nessa primeira resposta;

f) a segunda resposta de Eutífron à questão;

g) o problema identificado nessa segunda resposta;

h) a etapa da dialética socrático-platônica desenvolvida nesse trecho (justifique).

ANÁLISE E ENTENDIMENTO



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Recursividade - capacidade que algo tem de poder aplicar-se sobre si mesmo sucessivas vezes, cada vez usando como base o resultado de sua aplicação anterior.

Fim do vocabulário.

A consciência costuma ser entendida, portanto, como um fenômeno ligado à mente, esfera em que ocorrem diversos processos psíquicos (pensamento, imaginação, emoção, memória, entre outros), especialmente o conhecimento. Para vários estudiosos, nada caracteriza mais o ser humano do que a consciência, pois é ela que nos permite estar no mundo com algum saber, "com-ciência". Como assinala o paleontólogo e filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955):

O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe que sabe: de outro modo, teria há muito multiplicado invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio do Real, no qual nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta de uma mudança de estado. (O fenômeno humano, p. 187.)

LEGENDA: Parece haver níveis distintos de consciência entre os seres e em etapas distintas de cada ser. Significa isso que nossa consciência pode evoluir a estados de maior percepção, clareza e entendimento? O que devemos fazer para alcançá-los?

FONTE: IMAGEZOO/CORBIS/FOTOARENA

Devido a essa diferença específica entre os humanos e os outros animais, durante certo tempo nossa espécie - classificada biologicamente como Homo sapiens ("homem que sabe") - foi designada por alguns estudiosos como Homo sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe. Isso quer dizer que somos capazes de fazer nossa inteligência debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite e seu valor.

Foi o que fez Descartes, em suas Meditações (como vimos no capítulo 2). Essa capacidade seria a base - pelos menos em boa parte - das grandes criações humanas, como a ética, o direito, a arte, a ciência e a filosofia. Ou seja, sem consciência, não haveria nada disso.

Observando a consciência

O curioso é que, em geral, tenhamos tão pouca percepção de nossa consciência no dia a dia. Isso não ocorre, porém, em todo o mundo. Em algumas culturas orientais, por exemplo, a meditação é uma prática frequente, pois muitas pessoas costumam dedicar regularmente algum tempo para a observação da própria consciência e sua expansão, estimulando a introspecção - habilidade muito importante para quem filosofa.

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Vocabulário:




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Page 11

Primordial - relativo aos primórdios, isto é, às origens, à fase de surgimento ou de criação de algo; mais antigo, primeiro, original.

Fim do vocabulário.

Formulou, então, a tese de que existe uma linguagem comum a todos os seres humanos de todos os tempos e lugares da Terra. Ela está formada por essas imagens ou conteúdos simbólicos muito primitivos - chamados arquétipos, na teoria junguiana -, que refletem algo como a "história evolutiva" de nossa espécie. Vividos de maneira não consciente por todas as pessoas, os arquétipos formam, segundo Jung, o estrato (ou camada) mais profundo da psique humana - o chamado inconsciente coletivo (pertencente a toda a humanidade).

O inconsciente coletivo seria, portanto, um conjunto universal de predisposições para perceber, pensar e agir de determinadas maneiras, mas que também sustenta a ação criativa, pois, segundo Jung, constituiria a base sobre a qual se assentam os grandes pensamentos e obras-primas da humanidade.

Principais arquétipos

Jung descreveu uma série de arquétipos. Entre eles estão aquelas imagens que se condensam em torno de experiências tão básicas e universais como o nascimento, a morte, a criança, a mãe, o velho sábio, o herói e Deus.

LEGENDA: Mural que representa a roda da vida, da tradição mahayana do budismo tibetano (Kopan monastery, Bhaktapur, Nepal, Ásia). Seu conjunto forma um mandala. Com uma grande variedade de desenhos, os mandalas são representações figurativas e/ou geométricas organizadas de modo a formar uma imagem concêntrica ou circular (que é o significado da palavra sânscrita mandala). Na simbologia das formas, o círculo pode significar perfeição, unidade e plenitude.

FONTE: ROBERT HARDING/GODONG/DIOMEDIA

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Há outras, porém, que refletem a estrutura da própria psique, como a persona (a "máscara" que usamos para enfrentar o mundo e conviver com a comunidade, incorporando suas expectativas), a sombra (aquilo que não temos desejo de ser), a anima (a imagem de mulher contida na psique de um homem) e o animus (a imagem de homem contida na psique de uma mulher).

Mas o arquétipo mais importante na teoria junguiana é o do self (o "si mesmo", como vimos anteriormente). Corresponde à imagem primordial da totalidade do ser, isto é, a essência de uma pessoa em conexão com uma dimensão maior. Transcendendo a consciência e a dimensão individuais, o self conectaria a pessoa à família, à coletividade, ao planeta e ao cosmos. Desse modo, o self é o arquétipo da "sabedoria" de um ser ou organismo, no sentido de representar a intencionalidade, o propósito ou o sentido de sua existência. (Se essa ideia ficou muito complicada para você, volte a este trecho depois de estudar o capítulo inteiro, ou depois de ler também o capítulo 6, que fala sobre o universo).

CONEXÕES


2. Observe o desenho do mandala da página anterior. Que elementos simbólicos ou figurativos você consegue encontrar? Quais deles você identificaria como um arquétipo?

Boxe complementar:



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Universo de afirmações

FONTE: MAURO TAKESHI

CONEXÕES

4. Este gráfico é semelhante ao da página 83, com uma alteração. Interprete-o.

Ciência e filosofia

Vemos então que, embora hoje em dia a filosofia e a ciência sejam entendidas como duas áreas de estudo muito distintas e separadas, nem sempre foi assim. Desde a Grécia antiga, o saber filosófico reunia o conjunto dos conhecimentos racionais desenvolvidos pelo ser humano: matemática, astronomia, física, biologia, lógica, ética, política etc. Não havia separação entre filosofia e ciência. Elas estavam fusionadas, eram a mesma coisa. Até mesmo a investigação sobre Deus (a teologia) fazia parte das especulações dos filósofos.

Essa visão integradora perdurou até o fim da Idade Média. A partir da Idade Moderna, com o desenvolvimento do método científico, aplicado primeiro pela física, a realidade a ser conhecida passou a ser progressivamente dividida, recortada, atomizada em setores independentes. Desse modo, surgiram as diversas áreas de investigação científica que conhecemos hoje, como a matemática, a física, a química, a biologia, a geografia, a antropologia, a psicologia, a sociologia, entre outras. Acabava, assim, a antiga unidade do conhecimento.

LEGENDA: Uma expressão da visão integradora do conhecimento, que ainda persistia em boa medida na Idade Moderna, é a metáfora da árvore do saber, proposta por Descartes no século XVII. No prefácio de sua obra Princípios de filosofia, ele explica que toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos que saem desse tronco constituem todas as outras ciências, que se reduzem a três principais: a medicina, a mecânica e a moral. Observe que a teologia (ou religião) já não fazia parte de seu projeto científico-filosófico.

FONTE: MAURO TAKESHI

Observação

Tenha em conta que a filosofia ocidental não é a única forma de pensar reflexivo sobre a realidade, embora alguns estudiosos reivindiquem que o termo filosofia deve ser aplicado apenas à produção filosófica do Ocidente. Diversas culturas da Ásia e do Oriente Médio também desenvolveram pensamentos ricos e abrangentes sobre os diversos aspectos do universo e da existência - e até mesmo crítico, conforme assinalam alguns estudiosos -, podendo perfeitamente ser denominados "filosofias".

Fim da observação.

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Mas esse processo de especialização não parou aí, pois cada uma dessas grandes áreas científicas também se subdividiu em outras mais específicas, sobretudo a partir do século XX. Por isso se diz hoje que vivemos a "era dos especialistas".

No contexto dessa separação, a filosofia não abandonou seus vínculos com o campo hoje denominado científico, mas passou a relacionar-se com ele de outro modo. Ela realiza atualmente - notadamente o setor da filosofia da ciência - o trabalho de reflexão sobre os conhecimentos alcançados pelas diversas áreas científicas, questionando a validade de seus métodos, critérios e resultados. Nesse sentido, ela fornece uma importante contribuição para os estudos epistemológicos de cada ciência.

Ao mesmo tempo, por sua abordagem abrangente, a filosofia ainda representa, em certo sentido, a possibilidade de integração de todos esses saberes. Você poderá ter uma boa ideia da abrangência dos estudos filosóficos consultando o esquema e o quadro sinótico deste final de capítulo. Desse modo, poderá ir familiarizando -se com sua terminologia e ambientando-se com seus temas e organização. Bom trabalho!

ANÁLISE E ENTENDIMENTO




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· Campo de reflexão filosófica sobre a linguagem que se ocupa principalmente das relações desta com o pensamento, com o conhecimento da verdade e com o mundo. Também desenvolve reflexões sobre suas origens, transformações e funções. Sua preocupação não é a mesma da linguística, pois mantém certos vínculos com outras áreas filosóficas, principalmente com a metafísica, a lógica e a epistemologia.

Questões principais
O que é significado? E signo? O que é uma palavra? Qual é a função da linguagem? Qual é a origem das línguas? Como a linguagem se relaciona com o mundo? Qual é a relação entre as palavras e as coisas?

Onde encontrar

Especificamente no capítulo 8 (A linguagem).
Quadro: equivalente textual a seguir.
FILOSOFIA POLÍTICA

· A palavra grega polis quer dizer "cidade" (a cidade-Estado da Grécia antiga). Dela se formou o termo politike, "ciência (ou arte) da cidade", isto é, de sua organização e governo, das coisas de interesse do conjunto dos cidadãos.

· Campo de reflexão filosófica sobre as questões políticas e as relações humanas em seu sentido coletivo. Estuda os princípios e mecanismos que fundamentam e explicam a ordem social existente, bem como a melhor maneira de organizar a vida social, suas instituições e suas práticas.
Questões principais
Como surgiu a sociedade? O que é o Estado? É possível uma sociedade sem Estado? O que é justiça? E lei? E igualdade? Por que existem ricos e pobres? Há relação entre ética e política? Por que a guerra? É possível a paz?
Onde encontrar

Especificamente no capítulo 19 (A política), embora suas questões sejam abordadas em vários outros.
Quadro: equivalente textual a seguir.
LÓGICA

· A palavra grega logos significa originalmente "verbo, palavra". No âmbito filosófico, passou a ser identificada com as ideias de razão, pensamento ou discurso racional e raciocínio. Desta última acepção derivou o termo grego logike, "ciência do raciocínio".




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