Racismo reverso é um termo usado para descrever atos de discriminação e preconceito perpetrados por minorias raciais ou grupos étnicos historicamente oprimidos contra indivíduos pertencentes à maioria racial ou grupos étnicos historicamente dominantes.[1] Em outras palavras, trata-se de discriminação reversa baseada em critérios raciais. É um racismo "ao contrário", onde as minorias são racistas em relação às maiorias.[2] O uso do termo é controverso. Os conservadores acusam a ação afirmativa de ser um exemplo de racismo reverso oficialmente sancionado,[3] descrevendo-o como "tratamento preferencial, discriminando em favor de membros de grupos sub-representados, que foram tratados injustamente no passado, contra pessoas inocentes".[4][5][6] Do outro lado do espectro político, os grupos preocupados com a justiça social e os interesses das minorias étnicas negam a própria possibilidade de que possa existir.[7][8] Entretanto, a semântica deste termo não é considerada adequada, pois seguindo a lógica da língua portuguesa o sufixo reverso denomina o oposto de racismo,[9] logo, nesse contexto racismo reverso[9] seria a não discriminação racial.
O termo é constante no discurso político sul-africano pós apartheid, particularmente em relação ao esforço governamental de equiparação demográfica do serviço público, predominantemente branco.[10] Em 1995, o então presidente Nelson Mandela acusou vice-chanceleres de universidades historicamente brancas de racismo reverso ao permitirem que estudantes negros protestassem violentamente.[11] Seu governo foi criticado por sua suposta lentidão proposital em políticas sociais, causado pelo receio de ser classificado como "racista reverso".[12] Estados UnidosO termo surge nos Estados Unidos no contexto do movimento dos direitos civis dos negros. Na época, era mais frequente o uso de "racismo negro", especialmente em referência a grupos como os Panteras Negras.[13] O discurso do racismo reverso torna-se mais claro após a década de 1970, especialmentente em reação às políticas de ações afirmativas.[14] Atitudes públicasEmbora não seja empiricamente apoiada, a crença no racismo reverso é generalizada nos Estados Unidos,[15] A crença dos brancos no racismo reverso aumentou constantemente desde o luta pelos direitos civis dos negros de 1960s[16] e contribuiu para a ascensão de movimentos sociais conservadores como o Tea Party.[17] A percepção de diminuição da discriminação anti-negra foi correlacionada com a crença dos brancos no aumento da discriminação anti-branca.[18] Pesquisadores da Tufts University e Harvard relataram em 2011 que muitos americanos brancos sentiam como se tivessem sofrido a maior discriminação entre grupos raciais, apesar dos dados em contrário.[15][19][20] Enquanto os entrevistados negros viam o racismo anti-negro como um problema contínuo, os brancos tendiam a ver esse racismo como algo do passado, a ponto de verem o preconceito contra os brancos como sendo mais prevalente.[21]
Estudos psicológicos com americanos brancos mostraram que a crença no racismo anti-branco está ligada ao apoio à hierarquia racial existente nos EUA.[18][23] bem como a idéia de meritocracia, especificamente a idéia de que o sucesso vem do "trabalho duro".[24][25] A maioria (57%) dos brancos entrevistados em uma pesquisa de 2016 do Public Religion Research Institute disse acreditar que a discriminação contra os brancos era um problema tão significativo quanto a discriminação contra os negros, enquanto apenas uma minoria de afro-americanos (29%) e hispânicos (38%) concordaram.[26][27] O teórico crítico da raça David Theo Goldberg argumenta que a noção de racismo reverso representa uma negação da realidade histórica e contemporânea da discriminação racial,[28] enquanto a antropóloga Jane H. Hill escreve que acusações de racismo reverso tendem a negar a existência do privilégio branco e poder na sociedade.[29] Em Racism without Racists,o sociólogo Eduardo Bonilla-Silva argumenta que as percepções dos brancos sobre o racismo reverso resultam do que ele chama de nova ideologia dominante do "racismo daltônico", que trata a desigualdade racial como uma coisa do passado e, portanto, para que se permita a continuar a oposição a esforços concretos de reforma.[17]
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