Maria Helena Varella Bruna é redatora e revisora, trabalha desde o início do Site Drauzio Varella, ainda nos anos 1990. Escreve sobre doenças e sintomas, além de atualizar os conteúdos do Portal conforme as constantes novidades do universo de ciência e saúde. Show
Uso repetido e indiscriminado faz com que muitas bactérias criem resistência aos antibióticos, deixando a população suscetível a infecções banais. A penicilina foi descoberta pelo médico bacteriologista Alexander Fleming, em 1928, meio por acaso, na Inglaterra. Enquanto observava o comportamento de uma cultura de bactérias Staphyloccocus aureus, encontrada na pele dos seres humanos e responsável por inúmeros casos de infecções graves, percebeu que elas não conseguiam sobreviver na presença de um mofo chamado Penicillium notatum, que facilmente se desenvolve nos pães. As pesquisas continuaram até que a penicilina, o primeiro antibiótico conhecido, passou a ser produzida em larga escala e usada com fins terapêuticos. O fato é que esse medicamento causou uma verdadeira revolução na história da Medicina e não demorou muito para que surgissem novas drogas com ação semelhante sobre diferentes tipos de bactérias. Daí, então, inúmeras doenças incuráveis transmitidas por esses micro-organismos, como a tuberculose, sífilis, tétano, gonorreia, difteria, entre outras, puderam ser tratadas e curadas. Em outras palavras: antibióticos são drogas eficazes no tratamento das infecções por bactérias, mas sem nenhuma utilidade nas doenças causadas por vírus, por exemplo. Mesmo assim, muita gente recorre aos antibióticos nos quadros de gripes e resfriados, dengue, catapora e sarampo, todas elas doenças virais que não respondem aos princípios ativos dos antibióticos. Leia também: Uso racional dos antibióticos Bactérias são organismos vivos, que podem sofrer mutações, porque possuem grande capacidade de adaptação ao meio. O uso repetido e indiscriminado dos antibióticos está fazendo com que muitas se tornem resistentes ao tratamento. Como não morrem, transmitem a imunidade para outras bactérias, o que propicia colônias de germes geneticamente modificados e resistentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a situação como alarmante, uma ameaça à saúde pública mundial. Se as bactérias continuarem desenvolvendo resistência aos antibióticos conhecidos, até infecções bacterianas banais e pequenos ferimentos deixarão de responder ao tratamento – como acontecia antes da descoberta da penicilina – e haverá o risco de ocorrerem complicações mortais. Segundo o relatório global sobre a resistência bacteriana, publicado recentemente pela OMS, para evitar que isso aconteça, é preciso investir em múltiplas frentes, que incluem: medidas de prevenção das infecções pela lavagem das mãos e aplicação de vacinas, quando houver; produção de medicamentos mais eficazes e a preços acessíveis; testes rápidos para identificar o agente infeccioso como forma de impedir prescrições desnecessárias. Acima de tudo, é fundamental alertar as pessoas sobre os perigos da automedicação e de interromper o tratamento ao primeiro sinal de melhora. No Brasil, algumas providências já foram implantadas. Antibióticos só podem ser vendidos mediante a apresentação de receita médica especial, em duas vias, uma das quais fica retida na farmácia. Essa medida, de certa forma, dificulta a automedicação e o uso desnecessário do medicamento, mas não basta para evitar o desenvolvimento de bactérias multirresistentes.
Medidas individuais e médicas são importantes para combater o problema A resistência bacteriana aos antibióticos é um problema crescente, presente em todos os países e que vem sendo discutido mundialmente. Para 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o tema como a quinta ameaça à saúde global. Atualmente, o problema atingiu repercussão global pois os novos mecanismos de resistência emergentes ameaçam a eficiência do tratamento de infecções comuns, resultando em estado enfermo prolongado, incapacidade e morte. Sem antibióticos eficazes a prevenção e tratamento de procedimentos médicos como transplante de órgãos, quimioterapia, manejo do diabetes e cirurgias mais complexas (cesarianas ou correção de fratura de fêmur) se tornam de alto risco. No Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cerca de 25% das infecções registradas são causadas por micro-organismos multirresistentes – aqueles que se tornam imunes à ação dos antibióticos. O surgimento de ‘superbactérias’ é um fenômeno associado a vários fatores, incluindo o uso indiscriminado deste tipo de medicamento. Acompanhe, a seguir, cinco fatos sobre a resistência bacteriana aos antibióticos: 1. O que é resistência bacteriana aos antibióticos?A resistência bacteriana é um fenômeno de evolução natural, que ocorre quando as bactérias passam por mutações e tornam-se resistentes aos medicamentos usados para tratar as infecções. Como resultado, os tratamentos padrão tornam-se ineficazes, as infecções persistem e podem se espalhar para outras pessoas. 2. O que causa a resistência bacteriana?O uso de antibióticos, por mais apropriado e conservador que seja, contribui para o desenvolvimento da resistência, mas o uso desnecessário e excessivo torna-o pior. A administração correta de antibióticos eficazes somado a um programa abrangente de controle das infecções tem mostrado limitar a ocorrência e a transmissão de bactérias resistentes a antibióticos. No Brasil, algumas ações já foram tomadas para tentar enfrentar o problema: antibióticos só podem ser vendidos mediante receita médica especial, em duas vias, justamente para combater seu uso inadequado. Ao reter uma via da receita, a proposta é evitar a automedicação e o uso desnecessário de medicamento. Contudo, essas medidas, se isoladas, não são suficientes para evitar o desenvolvimento de bactérias multirresistentes. Desde 2013, está em andamento no país o Projeto Antimicrobial Stewardship, da MSD, que ajuda as instituições a implantarem um sistema eficiente para lidar com infecções e uso consciente de antibióticos. Cada hospital tem um padrão específico de bactérias mais frequentes. Mapeando essa chamada microbiota, a instituição estabelece um protocolo de priorização de uso de antibióticos com ação específica para as bactérias locais, proporcionando uma escolha mais assertiva e direcionada do medicamento, minimizando o uso desnecessário ou excessivo. 3. Como a resistência aos antibióticos se espalha?Bactérias, não seres humanos ou animais, tornam-se resistentes aos antibióticos. O uso indiscriminado dos antibióticos por instituições de saúde, pela população, em práticas agropecuárias e na agricultura é um fator que contribui para a disseminação da resistência aos antibióticos. Portanto, o uso adequado deve fazer parte da rotina dos produtores, da comunidade e dos profissionais de saúde e hospitais. 4. A qualidade dos medicamentos influencia no mecanismo de resistência?Sim. Medicamentos de baixa qualidade podem causar uma concentração inadequada de antibiótico no sangue favorecendo o desenvolvimento de resistência pelas bactérias. Além disso em países onde o acesso da população aos antibióticos é ineficaz, faz com que os tratamentos sejam incompletos ou até mesmo a busca por alternativas não padronizadas, que também contribui para o surgimento das superbactérias. 5. Há novos antibióticos sendo desenvolvidos para contribuir na luta contra a resistência bacteriana?Algumas companhias farmacêuticas estão enfrentando o desafio de desenvolver novos medicamentos eficazes no tratamento das bactérias multiresistentes. Um exemplo dessa movimentação é o investimento da MSD no desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas para combater doenças infecciosas. Desde o ano passado, a empresa disponibiliza um antibiótico que une de forma inédita os princípios ativos ceftolozana e tazobactam e que tem como diferencial a tecnologia desenvolvida para driblar os mecanismos de resistência da bactéria mais comum e mais complexa de tratar no ambiente hospitalar, a Pseudomonas aeruginosa. Fonte: Guia da Farmácia Foto: Shutterstock Antibióticos estão entre os medicamentos mais usados pelos brasileiros MSD resistência bacteriana aos antibióticos |