Saiba respeitar o ritmo de cada criança e preparar estratégias de ensino que privilegiem as atividades diferenciadasPOR: Roberta Bencini01 de Janeiro | 2003
Existem crianças altas e baixas, loiras e morenas, gordas e magras. Algumas nasceram em lares com pai, mãe e irmãos, todos alfabetizados e leitores. Outras nem conhecem os pais, moram com os avós, os tios, um parente distante. Muitas viajam nas férias. Conhecem o mar, o mato e gente de lugares variados. Há quem nunca tenha saído do bairro em que nasceu. Ninguém é igual a ninguém. Cada pessoa tem uma história particular e única, formada por sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural. É assim na vida, é assim na escola. A questão é como elaborar um projeto de ensino que atenda a todos os alunos, sem exceção, dos mais sensíveis aos mais pragmáticos, dos mais competitivos aos mais colaborativos, dos mais lentos aos mais rápidos, dos vindos de lares desestruturados aos que têm família com laços sólidos, dos portadores de necessidades especiais aos superdotados. Derrubar modelos Pense quantos tipos ou estilos de aprendizagem há em sua sala de aula? Alguns estudantes são mais introvertidos e se dão bem fazendo trabalhos manuais. Outros são mais elétricos e precisam de agitação. Não há certo ou errado, melhor ou pior. É tudo uma questão de respeitar as diferenças.
Estratégia: atividades diversificadas É muito comum trabalhar as mesmas tarefas com todos os alunos, na maioria das vezes sentados em fileiras. Veja alguns dos problemas que essa dinâmica gera: ? Os alunos mais rápidos terminam as atividades antes. Se não têm um novo trabalho, atrapalham o resto do grupo. Com o tempo, a possibilidade de perder o interesse pelas aulas é muito grande. ? Os mais lentos não conseguem terminar a atividade no tempo estipulado, que leva em conta a média. Sentem-se incapazes, pois precisam despender um esforço muito grande para realizar uma tarefa considerada fácil por outros colegas (e pelo professor).? Só os alunos com capacidade média de aprendizagem conseguem adaptar o nível de dificuldade dessas atividades ao seu ritmo. Assim, os mais rápidos e os mais lentos são iguais no mesmo problema: as atividades estão fora da zona proximal de desenvolvimento de cada um (leia mais abaixo). Portanto, trabalhar um determinado conteúdo dessa forma pode atingir determinados alunos, mas outros não. A saída está em promover diversas atividades, de conteúdos diferentes ou iguais, na mesma turma, respeitando o tempo de cada criança. O ideal é que façam parte da rotina diária de um aluno: O mesmo vale para os espaços: E também com materiais pedagógicos que explorem todos os sentidos: ? massinha, ? tinta, ? argila, ? jogos didáticos e esportivos, ? maquetes, ? música,? dança etc.
Teoria Veja como é importante propor trabalhos em grupo e misturar alunos que apresentem diversos níveis de aprendizagem para que cada um desenvolva diferentes maneiras de pensar e trabalhar. Esse conceito, hoje largamente difundido, confirma a tese de que a aprendizagem não depende apenas da estrutura biológica, mas também do meio e da qualidade dos estímulos que todos nós recebemos desde a primeira infância. Por isso, é papel de todo professor ter muito claros os objetivos e resultados que pretende alcançar com uma atividade, para não exigir mais nem menos da turma. Adeus à fila de carteiras Na escola Cresça, em Brasília, os alunos têm sempre diversas atividades ao mesmo tempo. "Se as pessoas não são iguais, não posso conceber atividades iguais e carteiras enfileiradas", diz Consuelo Araújo, a diretora. O segredo para dar conta de 30 alunos na sala é o planejamento. Toda segunda-feira os professores debatem os conteúdos a explorar. Já a avaliação é diária. Enquanto um grupo resolve um problema de Matemática, outro faz uma redação. Num canto, estudantes participam de um jogo de cartas. Até o final do dia todos terão passado por todas as mesas. E a professora terá dispensado atenção por igual às crianças. "Sei as dificuldades de cada um, em qual mesa deve ficar mais tempo e até onde posso avançar", diz Kátia Oliveira Paranaguá Lago, professora da 2ª série. Conheça um dia dessa turma:
1. O dia começa com uma explicação, com todos em círculo. O tema da aula: meio ambiente. O objetivo de Kátia é ajudar as crianças a compreender o mundo em que vivem, a reconhecer as características e condições da vida vegetal e animal e a valorizar atitudes e comportamento favoráveis à preservação ambiental. Para isso ela planejou atividades ligadas ao mesmo tema em Matemática, Português, Artes e Ciências. O primeiro passo é a leitura da letra de uma música sobre a mata Atlântica. Kátia sempre oferece material concreto. No quadro-negro, cartões com palavras do texto e, ao lado, o significado de cada uma. Em duplas, os estudantes têm de escolher uma palavra e acertar seu significado. Assim, aprendem a localizar informações do texto, identificar o tema central e deduzir o sentido. Em seguida cada criança escolhe a próxima atividade que deseja fazer, num grupo de três, quatro ou cinco colegas.
Uma sala para todos Cada passo de uma atividade exige uma organização diferente do trabalho e das tarefas. Portanto, o ideal é que a sala de aula seja um ambiente flexível. Na hora de organizá-la, pense em praticidade, conforto e mobilidade. "Mesmo em salas simples, que não contem com equipamentos modernos, é necessário planejamento e organização para tornar o ambiente inteligente", diz Ângela Soligo. Um bom truque é fazer as seguintes perguntas: Qual a melhor estratégia para ensinar um conteúdo a todos? Quais os recursos de que necessitarei? Qual a organização espacial mais favorável? A. Estabeleça com os alunos regras de convivência e tarefas como limpeza, organização e utilização dos materiais. As crianças só se sentem responsáveis pelo espaço quando podem optar, dar sugestões e estabelecer as normas junto com o professor. B. É preciso materiais para a realização de muitas atividades diferentes que explorem todos os sentidos. Para o visual, mural, cartazes nas paredes, desenhos nos muros, livros, filmes e programas televisivos que sejam educativos. C. Para o tátil, material concreto e objetos de sucata planejados. Não é necessário dispor de muita tecnologia ou infra-estrutura. Quase sempre a criatividade resolve. D. Para o auditivo, músicas, que podem ser exploradas até mesmo com um radinho de pilha. E. Bagunça organizada! É necessário espaço para remover e organizar as mesas e cadeiras em grupos, duplas ou fileiras, de acordo com o objetivo de cada atividade. F. Tapete e almofadas para atividades mais reflexivas e relaxantes como leitura ou reuniões tipo assembléia. Peça a colaboração dos pais para montar um espaço como este.
Quer saber mais? Escola Cresça , SEPS EQ 703/903, 70390-039, Brasília, DF, tel. (11) 224-1640, internet: www.cresca.com.br, e-mail: Compartilhe este conteúdo: |