A guera das correntes como tesla comparou sua esposa

Também conhecida como a Guerra das Correntes, o episódio real que deu origem a esse filme, dirigido com bastante academicismo por Alfonso Gomez-Rejon, se deu durante as últimas décadas do século XIX e discutia, em termos bastante leigos, qual seria a melhor forma de tornar popular a energia elétrica: se pela corrente contínua, defendida por Thomas Edison, ou através da corrente alternada, como propagavam George Westinghouse e Nikola Tesla. Basicamente, o primeiro dizia que a segunda opção apresentava pouca segurança no seu manejo, podendo, inclusive, causar mortes, enquanto que estes defendiam a economia da prática que empregavam. O tema, como se pode imaginar por estas rápidas linhas, não parece o mais estimulante. Afinal, ninguém em cena está, de fato, correndo risco de vida, e todos os personagens parecem ricos o suficiente – ou, ao menos, com os contatos certos e apropriados – para não se verem obrigados a contar cada centavo. Assim, essa versão ficcional batizada de A Batalha das Correntes resulta em um exercício tão tedioso quanto os termos no seu título se esforça em dissimular: de embate há muito pouco, e suas motivações são puramente técnicas. Um assunto para iniciados, e apenas para estes.

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É curioso constatar que qualquer visita à Wikipedia – ou mesmo uma busca por arquivos mais precisos – irá revelar que aquele que pode ser considerado ‘vencedor’ desta disputa é justamente Tesla, aquele que o roteiro de Michael Mitnick (responsável também pelo malfadado O Doador de Memórias, 2014) menos importância concede. Seu texto prefere se concentrar nas disputas entre Edison e Westinghouse, o primeiro apontado como um gênio incompreendido, e o segundo vendido como um empresário de visão objetiva, mas não desprovido de bom coração. Soma para isso termos como intérpretes dos três atores de talento comprovado, mas que pouco conseguem ir além das suas áreas de conforto: Benedict Cumberbatch é, mais uma vez, o estudioso acima dos demais homens, assim como Michael Shannon parece estar sempre com um segredo prestes a ser revelado. Por sua vez, Nicholas Hoult segue como o jovem menosprezado, que precisa ir além dos demais para, enfim, mostrar seu valor. O Edison do primeiro é um primo distante do Doutor Estranho ou de Sherlock Holmes, assim como o Westinghouse do segundo se sentiria confortável ao lado de John Givings ou Bobby Andes (as duas atuações de Shannon que foram indicadas ao Oscar). Por fim, Hoult está mais uma vez entre a Fera e o grande garoto, entre o João do Pé de Feijão e um Tolkien ainda antes da fama.

Mas o filme de Gomez-Rejon (que antes havia comandado o simpático Eu, Você e a Garota que Vai Morrer, 2015) é tão cheio de si, envolto por uma pompa e circunstância que mais o engessa do que lhe permite chegar aos destinos que se propõe, que consegue envolver ainda nomes como Tom Holland e Katherine Waterston, sem saber qual dos dois está mais perdido, se o ajudante que nunca chega a dizer a que veio ou a esposa que nada mais é do que uma dama de companhia. Se nem com o Homem-Aranha ou com uma caçadora de aliens em cena o filme consegue se mostrar válido, fica claro o tamanho do desperdício reunido. Muito acontece, mas pouco, de fato, parece ter significado. Se exaltam termos específicos, mapas são desenrolados a todo instante, corre-se de lá para cá com uma urgência nunca justificada, e no final das contas nada parece ter o efeito desejado. Há muita discussão, mas pouco é, de fato, iluminado.

Para tanto, pode-se pegar como exemplo o episódio da esposa de Edison, Mary (Tuppence Middleton, de Sense 8, 2015-2018), que vai da alegria ao mal-estar, da convalescência à morte em questão de minutos. Nenhum destes desenlaces chega a ter peso dramático, pois termina por se desenrolar tão apressadamente e em encenações suntuosas que mais parecem servir a uma ordem cronológica do que a um esforço narrativo. É possível imaginar como melhor desenvolvido – e, portanto, aprofundado – cada um destes incidentes poderia ser observado se apresentados por uma minissérie, ou mesmo uma série dramática. Porém, ao se encontrar através da grandiosidade cinematográfica, somente alcança a irrelevância e a condição de descartável e passageiro. Este, por fim, acaba sendo a sina do filme como um todo, tão pequeno quanto o resultado das suas ambições.

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Muito mais interessante do que aquilo que A Batalha das Correntes exibe em cena foram os encontros e desencontros que a produção se viu obrigada a lidar nos bastidores. Pronto desde 2017, este foi o primeiro filme a ser afetado pelo movimento #MeToo e as denúncias de abuso e assédio sexual direcionadas ao produtor Harvey Weinstein, responsável pela realização deste projeto. Com seu nome sob escrutínio público, se viu obrigado a se afastar de seus compromissos, que ficaram, literalmente, sem pai, nem mãe. O efeito imediato foi o esquecimento, não apenas dele, mas de tudo que levasse o seu nome. Assim é possível justificar os dois anos que o longa passou no limbo, mas não o suficiente para uma montagem que a todo momento aponta para caminhos diferentes, sem nunca chegar a lugar nenhum. Falta, obviamente, um olhar acima que apontasse o destino a ser trilhado. Assim, sem rumo nem melhor sorte, um amontoado de boas intenções se vê obrigado a naufragar diante do inevitável desgosto de uma aula de história que ninguém pediu, e nem mesmo esperava por.

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Quinta Retrô: toda quinta-feira, uma curiosidade histórica diferente!

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Os conflitos entre grandes mentes não são incomuns na história. Olhares de perspectivas diferentes sobre a mesma situação, que provocam discussões acaloradas. Um desses casos ocorreu nas duas últimas décadas do século XIX: de um lado, o americano Thomas Edison; do outro, o croata Nikola Tesla. 🔥

Edison nasceu na cidade de Milan, Ohio (EUA) e tornou-se um dos maiores empresários dos Estados Unidos. Foi uma referência em desenvolvimento e inovação, com a patente registrada de mais de mil invenções. 💰 Algumas de suas criações mais importantes foram a câmera de vídeo, o mimeógrafo, o fonógrafo e a lâmpada incandescente. A eletricidade, presente na maioria de seus inventos, foi o motivo da richa com seu rival europeu.

Nikola Tesla nasceu na cidade de Smiljan, no então Império Austro-Húngaro, hoje parte da Croácia. O jovem Nikola confirmou sua aptidão para a ciência ao ingressar na Universidade de Graz, na Áustria, para cursar Engenharia Elétrica. Lá, tornou-se um "mago da eletricidade", como é conhecido, e iniciou uma prolífera carreira como inventor. ⚡ Algumas de suas patentes são o motor de indução, o transformador de alta voltagem e os princípios da transmissão sem fio.

A richa entre ele e o americano começou quando Tesla, que trabalhava na General Eletrics (GE) na época, empresa de Edison, descobriu o princípio da corrente alternada (CA). Uma forma de corrente elétrica mais sustentável, acessível e largamente aplicável no mercado. Tesla buscou seu patrão, oferecendo a patente do seu novo achado, mas ele rejeitou por ser "fantasioso demais". O americano acreditava no uso da corrente contínua (CC), que já era utilizada nos lares norte-americanos da época, além da potente indústria automobilística. Para entender a diferença técnica entre corrente contínua e alternada, confira um documentário do History Channel clicando aqui!

Por esse motivo, somado às exaustivas jornadas de trabalho na GE, que passavam das 14 horas por dia, Tesla pediu demissão. Com a patente da CA debaixo do braço, procurou George Westinghouse, outro magnata das companhias elétricas. O concorrente de Thomas Edison acreditou nas ideias de Tesla e iniciou a produção em massa de aparelhos utilizando a novidade. Quando Edson descobriu a movimentação, usou de seus contatos para iniciar uma ferrenha campanha difamatória sobre o uso da corrente alternada como algo potencialmente perigoso - por trás dos panos, havia o medo do empresário de que as pessoas percebessem a vantagem de utilizar a corrente alternada na iluminação pública, a grande fonte de renda da General Eletrics. 📢

Estava declarada a BATALHA DAS CORRENTES! Edison alegava que a corrente criada pelos aparelhos de Tesla era incontrolável e poderia matar qualquer um que se aproximasse dela. Em contrapartida, o croata realizava demonstrações públicas de que o sistema era totalmente seguro.

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Edson promoveu eletrocuções públicas utlizando a CA de Tesla. Para a maior delas, criou inclusive uma nova patente: a temida cadeira elétrica, que é uma invenção de Edson utilizando-se da corrente alternada para atrelar a invenção à morte. Jornais da época relatam que a exibição de um preso sendo executado em local público foi digna dos mais sinistros filmes de terror. 🤮

No entanto, nada disso foi capaz de parar o avanço que o uso da corrente alternada traria para a humanidade. Edison deu-se por vencido apenas quando Tesla e Westinghouse jogaram sua maior cartada: a construção da hidrelétrica de Niagara Falls, que utilizava a corrente alternada para gerar quantidades colossais de energia. Foi esse o fim da Batalha das Correntes, com Thomas Edison rendendo-se a também produzir aparelhos que utilizassem a CA.

Hoje em dia, muitos historiadores alegam que, se não fosse pela campanha contrária de Thomas Edson, a descoberta de Nikola Tesla poderia ter sido ainda mais explorada pela indústria. 😕 O croata acreditava na possibilidade de se transmitir energia sem a utilização de cabos ou motores elétricos, que não precisassem de combustíveis fósseis. Esse potencial só foi explorado anos depois e criou tecnologias como o sinal Wi-Fi e os carros elétricos.

▶ E fica a dica do Uniftec para quem quer conhecer mais sobre sua história: o filme A Batalha das Correntes 😉

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A história nos mostra que, pessoalmente, Nikola Tesla e Thomas Edison não eram inimigos. Seu contexto e suas concepções da ciência os colocaram um contra o outro, mas ambos buscavam um bem comum: o avanço da eletricidade e desenvolvimento da sociedade. Se você também se preocupa com o amanhã, pode começar dando o primeiro passo com a gente, no curso de Engenharia Elétrica do Grupo Uniftec. Ficou interessado? Então inscreva-se abaixo no nosso vestibular:

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