A cidade como a população ve

Um dos reflexos do intenso processo de exclusão social é a população em situação de rua que, em decorrência da ocupação do solo urbano estar baseada na lógica capitalista de apropriação privada do espaço mediante o pagamento do valor da terra, não dispõe de renda suficiente para conseguir espaços adequados para a habitação e, sem alternativas, utiliza as ruas da cidade como moradia.

Conforme definição da Secretaria Nacional de Assistência Social, a população em situação de rua se caracteriza por ser um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelidas a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por caráter temporário ou de forma permanente. Entre os principais fatores que podem levar as pessoas a irem morar nas ruas estão: ausência de vínculos familiares, perda de algum ente querido, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas e doença mental. Embora grande parte dos estudos sobre esse tipo de população tenha sido realizada no século XX, há registros de sua existência desde o século XIV. Portanto, a população em situação de rua não teve a devida atenção nos séculos anteriores, e sua abordagem pode ter sido impulsionada pelo aumento de seu contingente, visto que a cada ano mais indivíduos utilizam as ruas como moradia. No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou entre os anos de 2007 e 2008 uma pesquisa em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes (exceto São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre). Os resultados dessa pesquisa foram divulgados em 2008, demonstrando que 31.922 pessoas utilizam as ruas como forma de moradia no país. Entretanto, esses números são bem maiores, pois cidades importantes não fizeram parte desse levantamento. Apesar da realização de alguns programas sociais, poucas políticas públicas são desenvolvidas para solucionar esse problema. As Organizações Não Governamentais (ONGs) e as Instituições Religiosas se destacam nos serviços de amparo a essas pessoas, atuando na distribuição de alimentos, roupas e cobertores. Outro trabalho de assistência são os abrigos temporários e os albergues que, de um modo geral, são considerados insuficientes para suprir a demanda dessa população.

O desinteresse do Estado influencia diretamente no comportamento da sociedade, haja vista que os moradores de rua são tratados, ora com compaixão, ora com repressão, preconceito, indiferença e violência. Nesse sentido, devem ser desenvolvidas políticas que atuem na causa do problema, não somente em serviços de distribuição de alimentos e outros objetos, proporcionando dignidade para todos os habitantes.

Por Wagner de Cerqueira e Francisco
Graduado em Geografia

Serrana está com vacinação em massa e com dados baixos de coronavírus entre a população Imagem: Governo do Estado de SP /Divulgação

Daniel César

Colaboração ao UOL, em Pereira Barreto (SP)

10/04/2021 18h45

A cidade de Serrana (SP), escolhida pelo governo do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Butantan para ser referência de vacinação em massa, já imunizou 64% da população, de pouco mais de 45 mil habitantes, na batalha contra o coronavírus. E o mês de abril na cidade vem mostrando que os dados sobre casos e mortes por covid-19 despencaram.

Dados oficiais mostram que a média móvel de mortes por coronavírus em Serrana está em 0,43, um dos índices mais baixos em todo o estado de São Paulo. Nos primeiros nove dias de abril, apenas três pessoas morreram com a doença, uma queda de 50% na comparação com o mesmo período em março. No total, o município contou com 70 mortes desde o início da pandemia, em março do ano passado.

Em novos casos, a população de Serrana tem muito o que comemorar, já que o município viu a média móvel deste quesito cair em 78% nos últimos 45 dias. No início de março, a média móvel estava em 68, e ontem os números mostravam apenas 15.

Para se ter uma ideia, entre os dias 1º e 9 de março, Serrana registrou 489 casos de coronavírus entre seus moradores e, no mesmo período do mês de abril, os dados mostram apenas 157 novos casos. A queda neste cenário foi de 68% de novos casos na comparação entre o início de um mês e outro.

Segundo os dados do governo do Estado de São Paulo, Serrana lidera o ranking de municípios que mais vacinaram, com 64,2% da população imunizada. Nesta semana, o Instituto Butantan confirmou a intenção de aumentar este número para 80% da população local nos próximos dias. Ao todo, a cidade já aplicou 29.307 doses do imunizante Coronavac e o segundo município que mais vacinou no estado, Flora Rica, aparece com 32,2% da população de apenas 1.430 pessoas.

O estado de São Paulo já aplicou mais de 7 milhões de doses, sendo 5,4 milhões de pessoas com a primeira dose, o equivalente a 11,7% da população, e 2,1 milhões na segunda dose, ou 4,73% dos moradores.

Encontro de alto nível da Assembleia Geral observa papel dos grandes centros urbanos na Agenda Global; áreas incluem desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, nutrição e mudança climática; atualmente 55% da população mundial vive em cidades.

As Nações Unidas promoveram esta terça-feira o encontro que debateu “O papel das cidades na agenda global, incluindo cidades para o desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, nutrição e mudança climática”.

O evento foi organizado pela presidente da Assembleia Geral, Maria Fernanda Espinosa em parceria com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, e o Programa da ONU para Assentamentos Humanos.

Em entrevista à ONU News, em Nova Iorque, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, falou sobre a importância da discussão destes temas para que se alcance a #FomeZero.  O objetivo da reunião foi abordar a agenda de desenvolvimento de questões globais para prioridades locais.

“O evento de hoje é procurar mostrar que as cidades têm papel importante a cumprir na provisão de alimentos de qualidades saudáveis para a sua população. Nós queremos mostrar o que se está fazendo em distintas cidades ao redor do mundo, para que isso possa estimular outras cidades também a se juntarem a essa agenda urbana da FAO. Nós promovemos sobretudo oportunidade de mercados locais para os consumidores como por exemplo, o mercado dos produtores, feiras livres, banco de alimentos, restaurantes populares, de baixo preço e boa qualidade.

A cidade da Praia, em Cabo Verde, participou na reunião de alto nível que reuniu prefeitos e representantes de centros urbanos como Valencia, Quito e Nova Iorque. A base do compartilhamento de experiências foram práticas locais eficazes, estratégias inovadoras e lições aprendidas ao lidar com desafios globais como o da insegurança alimentar.

Buscar uma perspectiva sustentável e resiliente do sistema alimentar é uma das metas desta iniciativa.

Segundo a ONU, atualmente 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050.

Este crescimento coincide com um período em que muitos países estão implementando processos de políticas descentralizadas. Isso estaria resultando num aumento das responsabilidades de governos locais.

Neste contexto, cidades estariam tendo que assumir papeis mais ativos ao contribuir com as iniciativas de governos nacionais para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.

Mudança Climática

Entre os desafios enfrentados na vida das cidades no século 21 está a mudança climática. O chefe da FAO destaca como este processo está afetando a produção de alimentos ao redor do mundo, incluindo em cidades brasileiras.

“Nós temos tido regiões sofrendo secas sucessivas, o El Niño tem se repetido, ano atrás de ano, e os impactos que a gente vê de inundações e os temporais. Rio de Janeiro e são Paulo é um bom exemplo por exemplo. Nos últimos meses, no verão brasileiro, tem sido afetado por chuvas torrenciais. Chove no dia. A chuva que normalmente deveria ser distribuída ao longo do mês. Isso dificulta muito os circuitos de distribuição. A população não pode ter acesso aos seus locais de compra. Muitas vezes os locais de armazenamento são inundados e o produto destruído, o produto perecível principalmente.”

Para a ONU, a maior parte dos desafios enfrentados pelas cidades em nível local, incluindo a mudança climática e insegurança alimentar, são de natureza global e exigem soluções multilaterais.

A cidade como a população ve

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