Que importância tem os mitos para quem pesquisa a história dos diferentes povos e sociedades

Mito não é verdade. Também não é mentira. É uma representação. Uma forma de interpretar algo. Ou um conto que carrega mensagens, significados, representações de acordo com a cultura, a ética e a visão de mundo de um determinado povo. É necessário estabelecermos um conceito sobre Mitologia. Mito não é invenção, conto mágico. Também não é verdade, não é fato. Mito é uma representação, como já foi dito. É uma passagem com uma moral, com ensinamento sobre determinado assunto. Existe também a perspectiva cultural do mito. As religiões, os Deuses, se tornam mitologia pra quem não faz parte da tradição. O culto aos Orixás não é o culto a personagens mitológicos, assim como não era mitologia o culto a Zeus, para os gregos. Na Grécia Antiga os deuses não eram seres mágicos inventados em caráter literário ou algo parecido. Da mesma forma, o culto aos Orixás enquanto prática religiosa, ainda vive e perpetua-se.

Há muitas coisas em comum entre mitos de diferentes povos. Por exemplo, os mitos da criação. Em quase todos os mitos da criação das diferentes doutrinas religiosas, que encontramos em livros e sites, o homem tem origem do barro. Como “Adão e Eva”, por exemplo. Nesse mesmo mito há o “sopro da vida” dado por Jah para que se animassem as esculturas de barro. Há também a energia vital, o calor humano, o fogo do amor. Todas essas passagens representam uma visão de mundo que simboliza as forças da Natureza. Forças da natureza que tem como base os quatro elementos. O barro é a junção de dois, água e terra. Enquanto o fogo e o ar são relacionados à energia vital, ou o sopro da vida. Não só no mito hebraico, mas na maioria dos mitos existentes os elementos naturais primários são da base da matéria humana.

Muitos povos criaram mitos diferentes para transmitir seus conhecimentos e visão de mundo. Um dos povos que mais se destacaram por seus complexos mitos foi o povo grego. “O Mito da Caverna” é um ótimo exemplo de como os pensadores gregos tratavam do apego apenas àquilo que se conhece, da alienação do ser-humano.

Os mitos Yorubás são a base ideológica e ética do Candomblé. Consistem em uma centena de contos, histórias, passagens da vida dos Orixás, que carregam um vasto conhecimento sobre a essência da religião. Tais passagens, sobre todos os Orixás, contêm ensinamentos sobre as regências de cada um; sobre suas personalidades; sobre suas fraquezas e seus domínios. E a essência desses ensinamentos é reproduzida cotidianamente dentro dos terreiros e barracões.

Muitas vezes os mitos são desacreditados, ou mesmo interpretados como alegorias sem sentido específico aparente. Isso porque as fontes escritas desses mitos são escassas. Mas principalmente porque a essência do mito é o ensinamento. E todo ensinamento tem o momento certo. Nesse ponto a oralidade se sobrepõe sobre o mito escrito. As mais seguras fontes e mitos, ou itans, são os Babalorixás e as Yalorixás. Pessoas que aprenderam ouvindo e ensinam dizendo. O ensinamento a partir dos itans tem seu maior poder pela oralidade, pois é no momento certo que se orienta pela passagem, pela lição de vida que passam tais itans. Para ilustrar tal questão será utilizado um exemplo prático. Na ocasião de um momento difícil, em uma conversa com um orientador espiritual, foi contado o seguinte itan, que será reproduzido da maneira mais fiel possível:

"Quando da criação do mundo, os Orixás se reuniram para organizar as coisas entre os homens, a natureza e tudo o que passaria a permear a existência humana. Depois de tudo posto em seus devidos lugares, segundo o consenso dos Orixás, sob o ministério de Oxalá, sobrou um último e problemático tema: a felicidade. Muito se tinha discutido sobre o assunto. O que fazer? Onde colocar a felicidade para que os seres humanos possuíssem esse sentimento tão importante para eles? Todos opinaram sobre o que fazer com a felicidade. Ogum quis colocar na luta, nas batalhas e conquistas, mas não convenceu a todos e nem a Oxalá. Odé (Oxossi) pensou em depositar a felicidade na fartura, no pão de cada dia, no alimento. Ossãe opinou pelo mistério, pelo segredo das coisas. Em vão. Obaluayê pensou em depositar a felicidade na caridade, na ajuda aos pobres. Na humildade. Oxumarê, então quis optar na transformação. A felicidade nas mudanças. Nanã pensou em depositar na integridade pessoal. Na seriedade. Na honra. Yansã disse que o lugar ideal seria na sinceridade. Que a felicidade mora na verdade, mas não convenceu. Obá colocou como lugar ideal, a dedicação. Ewá propôs a intuição, na boa visão das coisas. Enquanto isso o mais terreno e humano dos Orixás permanecia quieto. Calado. Para a surpresa de todos. Nisso Oxum disse que o melhor lugar seria a maternidade, a fertilidade e junto com isso a riqueza, o ouro. Mas sem sucesso. Então Logun Edé, com sua graciosidade propôs a vaidade, junto com a fartura e a riqueza como o lugar mais apropriado. Então veio o grande rei Xangô. Propôs que a felicidade ficasse na mais bela virtude: a justiça. Mas, de novo, sem sucesso. E veio Yemanjá, com toda sua sabedoria opinou pela família. A felicidade estaria na família. Sem consentimentos. Por fim, Oxalá propôs a paz como moradia da felicidade.

Depois de muita discussão. Avaliações. Discursos de defesa de suas propostas, não chegavam a nenhum consenso. De maneira alguma. Então, depois de muito tempo, notaram que Exú continuava em silêncio. Dirigiram-se a ele e perguntaram.

-Ora. O mais astuto e auspicioso dos Orixás não vai dizer nada?

Então, com uma expressão um tanto quanto sarcástica e irônica, porém com muita sabedoria, Exú disse:

-ora meus caros, todos, com sua grandeza, sabedoria, conhecimento e tantas outras virtudes, propuseram as mais variadas hipóteses, circundando as mais belas e complexas virtudes humanas, mas esqueceram de um lugar. O mais simples. O mais próximo dos seres humanos e que, com certeza, o mais justo dos lugares onde poderá habitar a felicidade: dentro de cada um. Dentro de si. Só quem olhar pra dentro de si mesmo encontrará a verdadeira felicidade. No ori e no ikan, na mente e no coração de cada um deve morar a felicidade. E a partir daí todos os outros lugares propostos anteriormente serão passíveis de serem alcançados. Busque a felicidade dentro de si mesmo. Pois é lá que ela mora.

Tal conto não teria o mesmo efeito se o ouvinte não estivesse em um momento de busca pela felicidade, ou melhor, de conflitos por achar que não conseguia ser feliz.

A ética que permeia o Candomblé é transmitida e ensinada através desses mitos, ao contrário do Cristianismo que estabelece verdades através da Bíblia e suas interpretações, dando ao mito de Adão e Eva a validade de uma verdade absoluta.

No culto aos Orixás os mitos não são verdades absolutas. O Candomblé não defende isso. Não precisa disso. Tais mitos são a fonte de transmissão e compreensão da essência dos Orixás. De seus ensinamentos.

Um problema existente na mitologia dos orixás existente no Brasil é a (con)fusão que ocorre entre as diferentes origens do culto. Os Jejes, Bantos e Yorubás tem mitos diferentes para cada Vodun, Nkisi ou Orixá. Apesar de essas entidades se dialogarem em suas essências são de povos diferentes, portanto tem passagens diferentes. E isso se confunde nos mitos. A cada vez que se conta um itan corre-se o risco de misturar, confundir passagens que tem representações diferentes e origens diferentes. Mas apesar de tudo, sempre que um itan tem um sentido, uma moral ele é importante e válido.

Publicado por: Alan Carvalho

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Perguntado por: Andreia Bruna Figueiredo  |  Última atualização: 3. April 2022
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Assim como os mitos quando relacionados às sociedades indígenas proporcionam explicações sobre a sua origem, levando os indígenas a manter uma forte ligação com seu habitat e tradições, o que os levam a uma busca de como viviam seus antepassados, de como eles vivem no presente e como poderá ser no futuro.

O que é um mito para os indígenas?

Os mitos podem ser definidos como narrativas orais que contêm verdades consideradas fundamentais para um povo (ou grupo social). São histórias que contam como as coisas chegaram a ser o que são e como as divindades, os homens, os animais e as plantas se diferenciaram.

Qual a importância do mito para a sociedade?

O mito surge a partir da necessidade de explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e finalidade, os poderes do divino sobre a natureza e os homens. ... Organizar – o mito organiza as relações sociais, de modo a legitimar e determinar um sistema complexo de permissões e proibições.

Qual a importância dos mitos para cada comunidade?

Os mitos se relacionam com a vida social, os rituais, a história e o modo de viver e pensar de cada sociedade e, por isso, expressam maneiras diferentes de ver a vida, a morte, o mundo, os seres, o tempo, o espaço... São parte da tradição de um povo, mas essa tradição sempre se transforma!

Quais são os mitos dos povos indígenas?

Cinco mitos sobre os povos indígenas

  • MITO 1: “Os indígenas colocam fogo na floresta”
  • MITO 2: “Tem muita terra para pouco índio”
  • MITO 3: “Os índios atrasam o desenvolvimento do país”
  • MITO 4: “Terras indígenas prejudicam as áreas do agronegócio”
  • MITO 5: “Os índios precisam ser integrados ao resto do Brasil”

Energisa | Mitos Indígenas em Travessia

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Um mito de criação é uma narrativa simbólica pertencente a uma cultura, tradição ou povo, que descreve os seus mais remotos inícios, como o mundo, tal como conhecem, se iniciou e como eles primeiro surgiram nele.

Desta forma os mitos são produtos e instrumentos de reflexão acerca de cada sociedade e sua vida social, mantendo um intercâmbio com a história deixando-se levar e se transformando, dando um novo significado para a sociedade.

Sendo assim, os mitos revelam muito da cultura da qual fazem parte, pois expressam as experiências, anseios e desejos dos seres humanos através de acontecimentos marcados por seres que carregam em suas ações, muito de nosso comportamento contemporâneo.

O que é mito:

Mitos são narrativas utilizadas pelos povos gregos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e dos seres humanos. ... O objetivo principal do mito era transmitir conhecimento e explicar tudo aquilo que era importante na vida das pessoas.

Hoje, o mito perdeu força no papel de ordenador do pensamento e da sociedade. Esse fenômeno é decorrente do avanço da ciência como fonte de conhecimento e explicação dos diversos aspectos da vida, da natureza e do ser humano.

Tendo acompanhado o Homem desde os primórdios da humanidade, o mito encontra-se enraizado nos comportamentos humanos, explicando simbolicamente factos humanos e naturais.

Mito é uma história muito antiga, que explica algum fenômeno através da ação de personagens mágicos. Os mitos de criação são os que surgem nas sociedades, antes da Ciência, para contar como o universo, o planeta ou aquele povo surgiu. No início tudo era um sonho.

Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição.

Os mitos de origem são histórias simbólicas que narram acontecimentos de um passado distante, eles dão sentido à vida no presente, pois explicam como o mundo e todos os seres passaram a existir. Os mitos se relacionam com a vida social, a religiosidade, o modo de pensar de cada povo.

A partir dos mitos podemos analisar as visões de mundo dos nossos antepassados e de que forma encaravam a realidade. Dessa forma conclui-se que o mito constitui-se como aspecto importante, não só para a formação identitária de um povo, mas para sua compreensão em torno de si mesmo e do mundo que o circunda.

Os mitos e lendas fazem parte da identidade do índio, do caboclo, enfim, daqueles que são encantados pelos diferentes modos e maneiras de retratar a realidade que é o resultado dessa relação entre o homem, sua cultura e o meio em que vive.

O estudo da mitologia é importante para a reconstituição da forma como determinado povo enxergava o mundo, assim como de suas crenças religiosas. Nessa área, há também uma análise comparativa entre diferentes mitologias a fim de encontrar aproximações entre elas.

A história da criação é um mito de criação originado do judaísmo e do cristianismo, descrito nos primeiros capítulos do livro do Gênesis, na Bíblia. Consiste na ideia de que Deus criou o universo e os seres vivos de forma sobrenatural.

Segundo a lenda mais tradicional, os dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, participaram da fundação da cidade após terem sido abandonados no rio e salvos por uma loba que os amamentou, mantendo-os vivos. ... Vagando pelo mar Adriático, Eneias chegou à região do Lácio, onde anos mais tarde Rômulo iria construir Roma.

Segundo esses mitos, a criação teve início com o primeiro Sol, Nahui Ocellotl, ou Quarto Tigre. Para alguns códices, durou 676 anos. Devido à pouca luz, Tezcatlipoca11 transformou-se no Sol e se pôs em movimento, convertendo-se no primeiro deus que se fez sol, dando início às eras do mundo.

As mitologias mais conhecidas são as seguintes:

  • Mitologia Grega.
  • Mitologia Romana.
  • Mitologia Greco-romana.
  • Mitologia Egípcia.
  • Mitologia Mesopotâmica.
  • Mitologia Nórdica.
  • Mitologia Hindu.
  • Mitologia Africana.

58 mitos clássicos em que continuamos acreditando

  • Corpo humano.
  • Só usamos 10% de nosso cérebro. ...
  • Os neurônios não se regeneram. ...
  • Um dos hemisférios do cérebro é dominante e isso determina se formos mais artísticos ou mais racionais. ...
  • As partes da língua estão especializadas em diferentes sabores. ...
  • O álcool esquenta o corpo.

Veja, na SUPERLISTA de hoje, alguns mitos da ciência em que quase todo mundo ainda acredita.

  1. Usamos só uma parte da capacidade cerebral. ...
  2. A Lua tem um lado escuro. ...
  3. A Lua cheia afeta o humor. ...
  4. Açúcar faz crianças ficarem hiperativas. ...
  5. Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar.

Em grego, mýthos significa 'aquilo que se diz'. Portanto, mitos são a sabedoria transmitida oralmente de uma geração a outra. Nasceram muito antes da escrita, há milhares de anos, ao mesmo tempo em que a civilização a qual pertencem se desenvolvia. Desse modo, não é possível ter certeza de quando e como surgiram.