Qual e a diferença entre comparação e metáfora

Comparação é uma figura de linguagem caracterizada pela analogia explícita entre termos de um enunciado, já que conta com a presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa. Isso já não acontece com a metáfora, que também realiza uma analogia, porém sem a presença desse tipo de conectivo. Já as símiles híbridas consistem na combinação entre uma comparação e uma metáfora.

Leia também: Eufemismo – figura de linguagem que suaviza uma informação

Exemplos de comparação

A comparação é uma figura de linguagem em que se percebe a analogia explícita entre dois ou mais termos, pois está sempre acompanhada de uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa.

Qual e a diferença entre comparação e metáfora
A comparação é feita entre dois ou mais elementos.

Veja os exemplos a seguir:

Fábio é mais velho do que Plínio.
(Comparação entre a idade de Fábio e a de Plínio.)

O livro é tal qual uma ponte para o infinito.
(Comparação entre o livro e uma ponte.)

Amo Pedro tanto quanto amei Micaela.
(Comparação entre o amor por Pedro e por Micaela.)

Eu vivia como um indigente.
(Comparação entre a vida do sujeito “eu” e a de um indigente.)

Oscar Wilde experimentou o prazer do aplauso, assim como a dor do desprezo.
(Comparação entre a experiência de ser aplaudido e de ser desprezado.)

Caminhava pelas ruas como se caminhasse em uma passarela.
(Comparação entre a forma de caminhar nas ruas e em uma passarela.)

Elisandro ria que nem um bobo.
(Comparação entre o riso de Elisandro e de um bobo.)

A comparação e a metáfora são figuras de linguagem, ou de palavras, que consistem na analogia entre um ou mais termos de um enunciado. No entanto, a comparação é caracterizada pela presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa, o que não acontece com a metáfora, na qual a analogia é implícita.

Qual e a diferença entre comparação e metáfora
A metáfora extrapola o sentido denotativo.

Assim, a comparação pode ser apontada no seguinte trecho da letra de música “Construção”, de Chico Buarque, do álbum Construção, de 1971:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina


[...]

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
[...]

Nessa letra, a conjunção “como” é responsável por explicitar diversas comparações. Já no trecho a seguir, da letra de música “Gita”, de Paulo Coelho e Raul Seixas (1945-1989), do álbum Gita, de 1974, é possível observar uma sequência de metáforas:
[...]

eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador

Eu sou, eu fui, eu vou

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contramão O sangue no olhar do vampiro

E as juras de maldição

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

[...]

Note que o eu lírico não utiliza nenhuma conjunção ou locução conjuntiva comparativa para se comparar a vários elementos, como ao sangue no olhar do vampiro. Portanto, nessa letra, há várias metáforas.

Leia também: Hipérbole – figura de linguagem que expressa exagero proposital

Símiles híbridas

As símiles híbridas é um fenômeno apontado por Vladimir Nabokov (1899-1977) ao analisar a obra, de Marcel Proust (1871-1922), Em busca do tempo perdido (1913-1927), e consiste na combinação entre uma metáfora e uma comparação. Assim, Nabokov1 dá o seguinte exemplo de comparação:

A névoa era como um véu.

Em seguida, um exemplo de metáfora:

Havia um véu de névoa.

Para, então, apontar as símiles híbridas:

O véu da névoa era como um sono silencioso.2

Assim, “véu da névoa”, uma metáfora pura, é comparado, a partir da conjunção “como”, a um “sono silencioso”.

Desse modo, são considerados símiles híbridas enunciados tais como:

A ponte para o infinito foi como um divisor de águas em minha vida.
(Ponte para o infinito = livro.)

O botão de rosa sorria como um dia de verão.
(Botão de rosa = boca.)

O grande pássaro era tal qual a alvorada.
(Grande pássaro = liberdade.)

Veja também: Paradoxo – figura de linguagem que expressa uma ideia contraditória

Exercícios resolvidos

Questão 01 (Enem)

Não somos tão especiais

Extra, extra. Este macaco é humano.

Todas as características tidas como exclusivas dos humanos são compartilhadas por outros animais, ainda que em menor grau.

INTELIGÊNCIA

A ideia de que somos os únicos animais racionais tem sido destruída desde os anos 40. A maioria das aves e mamíferos tem algum tipo de raciocínio.

AMOR

O amor, tido como o mais elevado dos sentimentos, é parecido em várias espécies, como os corvos, que também criam laços duradouros, se preocupam com o ente querido e ficam de luto depois de sua morte.

CONSCIÊNCIA

Chimpanzés se reconhecem no espelho. Orangotangos observam e enganam humanos distraídos. Sinais de que sabem quem são e se distinguem dos outros. Ou seja, são conscientes.

CULTURA

O primatologista Frans de Waal juntou vários exemplos de cetáceos e primatas que são capazes de aprender novos hábitos e de transmiti-los para as gerações seguintes. O que é cultura se não isso?

BURGIERMAN, D. Superinteressante, n. 190, jul. 2003.

O título do texto traz o ponto de vista do autor sobre a suposta supremacia dos humanos em relação aos outros animais. As estratégias argumentativas utilizadas para sustentar esse ponto de vista são

a) definição e hierarquia.

b) exemplificação e comparação.

c) causa e consequência.

d) finalidade e meios.

e) autoridade e modelo.

Resolução:

Alternativa “b”.

O autor do texto utiliza os seguintes exemplos: inteligência, amor, consciência e cultura. Além disso, aponta esta comparação: “O amor, [...], é parecido em várias espécies, como os corvos”.

Questão 02 (AEVSF/ Facape - adaptada)

No trecho “um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo” existe a seguinte figura de palavra:

a) Catacrese

b) Comparação

c) Antonomásia

d) Sinédoque

e) Metáfora

Resolução:

Alternativa “b”.

Nesse trecho, “um mundo sem adjetivos” é comparado a “um hospital no domingo”. Para isso, é usada a conjunção comparativa “como”.

Questão 03 (Unimontes - adaptada)

Todos os enunciados a seguir apresentam uma estrutura comparativa, EXCETO:

a) “Optou por ensinar como proporcionar uma boa dieta com recursos escassos.”

b) “Não é esdrúxulo como ser devorado por um jacaré.”

c) “... a presença dessa coisa chamada amor como motor, tanto dela como das pessoas em quem ela inoculava o mesmo vírus.”

d) “Também não é raro como cair no poço do elevador, como a atriz Anecy Rocha...”

Resolução:

Alternativa “a”.

Todas as alternativas utilizam o termo “como”. No entanto, na alternativa “a”, ele não exerce a função de conjunção comparativa, pois está sendo usado como advérbio para indicar o modo de se fazer algo.

Notas

[1] Citado por Omar Alejandro Ángel Cortés.

[2] Tradução, do espanhol para o português, de Warley Souza. 

A comparação (ou símile) ocorre no processo de aproximação dos elementos de universos diferentes por meio de nexos comparativos (como, tal, qual, assim como, semelhante a, semelhante ao etc.).

Comparação e metáfora são figuras distintas, devido à ausência ou não de nexos comparativos e ao estabelecimento de desvios de sentido do vocábulo. Também podem ocorrer as símiles híbridas, ou seja, a ocorrência de comparação e metáfora em um mesmo enunciado.

Leia também: Ironia – figura de linguagem que consiste em sugerir o contrário do que se afirma

Tópicos deste artigo

Exemplos de comparação

“Meu coração tombou na vida tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador.”

(Cecília Meireles)

Note a presença do nexo comparativo tal qual, em que o eu lírico estabelece analogia com “...estrela ferida pela flecha de um caçador.”

Qual e a diferença entre comparação e metáfora
A comparação é um recurso linguístico bastante utilizado em diferentes tipos de textos.

Veja um exemplo de comparação na música “Como nossos pais”, gravada por Elis Regina e escrita por Belchior.

Você me pergunta Pela minha paixão Digo que estou encantada

Como uma nova invenção

Perceba a força expressiva do eu lírico ao utilizar a partícula como para colocar-se em um nível de encantamento semelhante às sensações que uma nova invenção pode provocar.

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Comparação e metáfora

Comparação e metáfora são figuras distintas, devido à ausência ou não de nexos comparativos, pois, enquanto na metáfora ocorrem desvios de significação própria da palavra, na comparação ocorre o confronto de pessoas ou coisas, a fim de destacar-se características, semelhanças, traços comuns, visando a um efeito expressivo.

Qual e a diferença entre comparação e metáfora
Comparação e metáfora são figuras distintas, devido à ausência ou não de nexos comparativos e ao estabelecimento de desvios de sentido do vocábulo.

Observe o exemplo, colhido em Crônicas escolhidas de Rubem Braga:

“O pavão é um arco-íris de plumas.”

A cauda armada do pavão forma um leque multicolorido, atribuindo a ela as semelhanças e encantamentos de um arco-íris, configurando assim um processo metafórico, pois não ocorrem nexos comparativos dentro da frase. Perceba que o efeito comparativo ocorre implicitamente ao ponto do sentido da palavra pavão ser desviado.

Agora, veja o exemplo com a inserção do elemento comparativo:

“O pavão é como um arco-íris de plumas.”

A força comparativa e expressiva ganhou destaque por conta da partícula como. Perceba que              o significado das palavras “pavão” e “arco-íris” não sofreu nenhum desvio. Dessa forma, não temos uma metáfora, mas uma figura de linguagem por símile ou comparação. Para saber mais sobre a figura de linguagem que estabelece a comparação implícita, leia: Metáfora.

Símile híbrida

Os estudos em torno da comparação e da metáfora descrevem um fenômeno conhecido como   símiles híbridas. Observe o enunciado:

A ponte para o infinito foi como um divisor de águas em minha vida.

Entenda que “ponte para o infinito” é uma metáfora que expressa os poderes de um livro, que, por sua vez, é comparado, por meio da partícula como, a um “divisor de águas…”. Sendo assim, identificamos a relação entre metáfora e comparação em um mesmo texto, configurando símile híbrida.

Veja também: O que são figuras de sintaxe?

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (Uece 2015)

 A garagem de casa

Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca pública permanentemente aberta para a rua. Mas não são adeptos de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de verão. Esses desocupados matam o tempo jogando porrinha, ou lendo os jornais velhos que mamãe amontoa num canto, sentados nos degraus do escadote com que ela alcança as prateleiras altas. Já quando fazem o obséquio de me liberar o espaço, de tempos em tempos entro para olhar as estantes onde há de tudo um pouco, em boa parte remessas de editores estrangeiros que têm apreço pelo meu pai. Num reduto de literatura tão sortida, como bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva de por puro acaso dar com um livro bom. Ou by serendipity, como dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se tem a felicidade de deparar com outro bem, mais precioso ainda. Hoje revejo na mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é capaz de um dia querer destrinchar. Também continua em evidência o livro do poeta romeno Eminescu, que papai ao menos tentou ler, como é fácil inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma edição em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas cujas ilustrações admirou longamente, como denunciam os filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas. Hoje tenho experiência para saber quantas vezes meu pai leu um mesmo livro, posso quase medir quantos minutos ele se deteve em cada página. E não costumo perder tempo com livros que ele nem sequer abriu, entre os quais uns poucos eleitos que mamãe teve o capricho de empilhar numa ponta de prateleira, confiando numa futura redenção. Muitas vezes a vi de manhãzinha compadecida dos livros estatelados no escritório, com especial carinho pelos que trazem a foto do autor na capa e que papai despreza: parece disco de cantor de rádio. 

(BUARQUE, Chico. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo: Companhia das letras, 2014. p. 60-61.

Texto adaptado com o acréscimo do título.)

A obra O irmão alemão, último livro de Chico Buarque de Holanda, tem como móvel da narrativa a existência de um desconhecido irmão alemão, fruto de uma aventura amorosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Holanda, tivera com uma alemã, lá pelo final da década de 30 do século passado. Exatamente quando Hitler ascende ao poder na Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, na época, solteiro, deixou esse filho na Alemanha. Na família, no entanto, não se falava no assunto. Chico teve, por acaso, conhecimento dessa aventura do pai em uma reunião na casa de Manuel Bandeira, por comentário feito pelo próprio Bandeira.

Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão que Chico Buarque desenvolveu sua narrativa ficcional, o seu romance.

Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que o leitor tem em mãos [...] não é um relato histórico. Realidade e ficção estão aqui entranhadas numa narrativa que embaralha sem cessar memória biográfica e ficção”.

O texto começa com o enunciado: “Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca pública permanentemente aberta para a rua” (ref. 1).

Escolha a opção INCORRETA em relação a esse enunciado.

a) Esse enunciado estabelece uma relação de semelhança entre garagem de casa e biblioteca pública.   

b) Nessa relação, garagem de casa é o elemento comparado e biblioteca pública é o elemento comparante.   

c) O que permite a comparação é a presença de traços de significação comuns aos dois elementos, no caso do texto, a porta aberta para a rua.    

d) Na comparação do texto, como em qualquer comparação, o termo comparante é menos expressivo do que o termo comparado.   

Resolução

Alternativa D. Numa relação de analogia, o termo comparante é sempre mais expressivo que o termo comparado. No segmento do enunciado, o termo comparado, “garagem da casa”, adquire uma significação mais expressiva do que o termo comparante, “biblioteca pública”, por transformar um espaço secundário da casa em outro de utilidade pública e cultural.

Questão 2 - (Uel)

Onde estás

É meia-noite... e rugindo

 Passa triste a ventania,

Como um verbo de desgraça,

Como um grito de agonia.

E eu digo ao vento, que passa

Por meus cabelos fugaz:

“Vento frio do deserto,

Onde ela está? Longe ou perto?”

Mas, como um hálito incerto,

Responde-me o eco ao longe:

“Oh! minh’amante, onde estás?...”

Vem! É tarde! Por que tardas?

São horas de brando sono,

Vem reclinar-te em meu peito

Com teu lânguido abandono!...

’Stá vazio nosso leito...

Stá vazio o mundo inteiro;

E tu não queres qu’eu fique

Solitário nesta vida...

Mas por que tardas, querida?...

Já tenho esperado assaz...

Vem depressa, que eu deliro

Oh! minh’amante, onde estás?...

Estrela — na tempestade,

Rosa — nos ermos da vida,

Íris — do náufrago errante,

Ilusão — d’alma descrida!

Tu foste, mulher formosa!

Tu foste, ó filha do céu!...

E hoje que o meu passado

Para sempre morto jaz...

Vendo finda a minha sorte,

Pergunto aos ventos do Norte...

“Oh! minh’amante, onde estás?”

(CASTRO ALVES, A. F. Espumas flutuantes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p. 84-85.)

Assinale a alternativa que relaciona corretamente versos do poema a figuras de linguagem.

a) A comparação entre o vento e a amada é verificada nos versos “Mas por que tardas, querida?... / Já tenho esperado assaz...”.   

b) Em “Como um verbo de desgraça, / Como um grito de agonia.”, a antítese opõe a fugacidade do vento à tristeza da ventania.   

c) Os versos “Tu foste, mulher formosa! / Tu foste, ó filha do céu!...” comparam a amada à triste e fugaz ventania, pois ambas impedem seu brando sono.   

d) A comparação presente nos versos “Mas, como um hálito incerto, / Responde-me o eco ao longe:” reforça a ausência de resposta sobre o paradeiro da amada.   

e) A antítese, presente em todo o poema, é exemplificada pelos versos “... E hoje que o meu passado / Para sempre morto jaz...”.  

Resolução

Alternativa D. Enquanto que a antítese ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos, a comparação aproxima dois termos entre os quais existe alguma relação de semelhança por meio de um conectivo (que, como).

Por Marcelo Sartel
Professor de Gramática