Qual a importância das redes de informação e das tecnologias da informação para a globalização?

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As Tecnologias da informação e Comunicação: globalização e exclusão

Joaquim Escola

Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)

Paula Flores

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)

Palavras-chave: globalização, tecnologias da informação e comunicação, inclusão.

O acelerado desenvolvimento tecnocientífico na contemporaneidade, com especial

relevo para as Tecnologias da Informação e Comunicação, rasga um horizonte de

novas possibilidades, em muitos casos, não suficientemente avaliadas em relação às

potencialidades efectivas que disponibilizam ou mesmo ao alcance e espectro da sua

acção, bem como das suas possíveis consequências. Assumindo como modelo de

leitura deste fenómeno o paradigma ecológico importa, à luz da história, questionar as

relações entre as tecnologias da informação e comunicação e o fenómeno avassalador

da globalização.

A promessa de uma “aldeia global”, de uma magna cidade, a metropolis do século XXI,

tem hodiernamente nas TIC, um ancoradouro, porto de abrigo das mais elevadas

expectativas de edificação da megalopolis, carente de limites ou margens, albergando

no seu seio todos. Contudo, os fenómenos de exclusão, mau grado os desejos e

ensejos dos políticos ou economistas, continuam a pontuar o mapa mundi da

civilização, deslaçando vastos territórios, destruindo pontes e insularizando

comunidades inteiras.

Nesta comunicação pretendemos pensar a relação entre o desenvolvimento das

tecnologias da informação e comunicação os fenómenos conexos da globalização e da

exclusão.

L'accéléré développement technicien et scientifique dans le present, avec spécial relief

pour les Technologies des Informations et de la Communication, déchire un horizon de

nouvelles possibilités, dans de nombreux cas, non suffisamment évaluées concernant

les potentialités effectives qui mettent ou même à la portée et au spectre de son action,

ainsi que de leurs possibles conséquences. En faisant du paradigme écologique le

modèle de lecture de ce phénomènee importe, à la lumière de l'histoire, interroger les

relations entre les technologies des informations et la communication et le phénomène

dominant de la globalisation.

La promesse d'un "village global", d'une grande ville, à des metropolis du siècle XXI, a

aujourd'hui, dans les TIC, un ancrage, port d'abri des plus élevées attentes de

construction des megalopolis, exempt de limites ou de marges, logeant dans son sein

tous le monde. Néanmoins, les phénomènes d'exclusion, malgré les désirs ardent des

hommes politiques ou des économistes, en continuant à enregistrer des situations dans

le mapa mundi de la civilisation, en délaçant de vastes territoires, détruisant ponts et en

isolant des communautés entières.

Dans cette communication nous prétendons penser la relation entre le développement

des technologies des informations et la communication et les phénomènes connexes

de la globalisation et de l'exclusion.

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INTRODUÇÃO

O acelerado desenvolvimento tecnocientífico na contemporaneidade, com especial

relevo para as Tecnologias da Informação e Comunicação, rasga um horizonte de novas

possibilidades, em muitos casos, não suficientemente avaliadas em relação às

potencialidades efectivas que disponibilizam ou mesmo ao alcance e espectro da sua

acção, bem como das suas possíveis consequências. Assumindo como modelo de leitura

deste fenómeno o paradigma ecológico importa, à luz da história, questionar as relações

entre as tecnologias da informação e comunicação e o fenómeno avassalador da

globalização.

A promessa de uma “aldeia global”, de uma magna cidade, a metropolis do século XXI,

tem hodiernamente nas TIC, um ancoradouro, porto de abrigo das mais elevadas

expectativas de edificação da megalopolis, carente de limites ou margens, albergando

no seu seio todos. Contudo, os fenómenos de exclusão, mau grado os desejos e ensejos

dos políticos ou economistas, continuam a pontuar o mapa mundi da civilização,

deslaçando vastos territórios, destruindo pontes e insularizando comunidades inteiras.

Nesta comunicação pretendemos pensar a relação entre o desenvolvimento das

tecnologias da informação e comunicação os fenómenos conexos da globalização e da

exclusão.

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E A

GLOBALIZAÇÃO

A presença constante das tecnologias da informação e comunicação tende a impor-se

como uma marca decisiva na construção da sociedade da informação e comunicação e,

ao mesmo tempo, na emergência da sociedade do conhecimento. A história da técnica,

como se pode verificar por uma leitura atenta da sua trajectória ao longo dos séculos, foi

marcada por um crescente aumento de importância e uma significativa melhoria do seu

estatuto que importaria evidenciar. O aparecimento desta não pode desvincular-se da

afirmação do homem como ser de acção (homo faber) e, ao mesmo tempo, da sua

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condição de ser racional, construtor que desencadeia uma acção com consciência,

guiado por um saber. A fabricação de artefactos, para além de registar momentos

fulgurantes da inventividade humana, assinala a sua capacidade de transcender as

limitações inscritas na sua mais finita e frágil condição como (ex)istente. A ousadia, a

coragem, a astúcia humana, imortalizadas nas palavras que Sófocles emprestou ao coro

de Antígona, recordam-nos de que forma a acção humana, mesmo em confronto com as

forças mais indómitas da natureza, acaba por as dobrar à sua passagem, dominado quase

tudo que se lhe atravessa no caminho, animado pela vontade de poder, inebriado pela

tocha incandescente que perscruta nas trevas do desconhecido o caminho de luz que

abre e anuncia o futuro. Desde o princípio a τεχνη procurou responder às necessidades

vitais com que o homem se debatia disponibilizando também respostas que saciassem as

necessidades simbólicas, numa afirmação clara do desejo de transcendência. Apesar do

espaço insubstituível que a τεχνη ocupava na manutenção das necessidades vitais viu-

se sistematicamente arremessada para um lugar de menoridade, sempre que confrontada

com a τεορια, aclamada desde a cultura grega clássica.

A técnica moderna, intrinsecamente associada ao desenvolvimento científico,

transformou-se gradualmente encaminhando-se para uma paulatina, mas crescente

valorização, não por desvelar constantes materializações do seu progresso, mas por

assegurar as condições de validação da própria construção científica. O projecto da

modernidade enlaçou de forma única as noções de progresso, técnica e ciência. O

edifício da civilização e do progresso construi-se de modo constante escorado, a partir

de então, na solidez do desenvolvimento técnico e científico. A revolução científica

moderna inaugurava uma nova visão assente no reconhecimento do valor do universo

técnico, cada vez mais convocado para celebrar as conquistas científicas, mapeando as

possibilidades que se abriam na melhoria das condições de bem-estar humanas.

O século XIX assiste à emergência de um conjunto significativo de inovações e

invenções no domínio da comunicação, a tal ponto que mereceu o epíteto do Século da

Revolução das Comunicações, fundeando no mar desconhecido as promessas mais

fortes de uma civilização da comunicação, cenáculo de todos os encontros e

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desencontros. O século XX, pelo desenvolvimento da Cibernética num primeiro

momento, da tecnologia informática e da inteligência artificial num segundo momento,

contribuiu para a consolidação das condições mais adequadas à expansão de uma

civilização progressivamente mais firmada na tecnologia.

A leitura linear da história da ciência e da técnica não responde de forma cabal ao que

pode motivar, legitimar e explicar as transformações culturais, sociais ou educacionais.

Sem se pretender assumir a tese do determinismo tecnológico importa, apesar de tudo,

não esquecer que a evolução da técnica e da tecnologia deverá conservar sempre a ideia

de que a criação no universo tecnológico não se reveste de um carácter meramente

cumulativo, promove transformações significativas na civilização. A vigilância crítica

em relação às possibilidades iniciadas por cada invenção, e que têm no diálogo

platónico Fedro um espaço nuclear pelas indicações de uma inquestionável actualidade

que são disponibilizadas, abre-se como necessidade e exigência na

contemporaneidade. No célebre diálogo onde se narra a invenção da escrita, Platão põe

em confronto as perspectivas de Tamos, rei do Egipto e do deus Theuth, conhecido pela

descoberta da “ciência do número e do cálculo, a geometria e a astronomia, o jogo de

damas e o dos dados e sobretudo da escrita.” (Platão, 97:274d). O texto platónico

conserva a intuição fundamental de que o inventor não é, seguramente, o melhor juiz da

sua própria obra e, simultaneamente, recorda que a intencionalidade que preside à

criação poderá desvanecer-se e desencadear consequências exactamente contrárias às

que estiveram na génese. Escrevia Platão no Fedro (274e – 275b) :

“Quando, porém, chegou a ocasião da escrita, Theuth comentou: ‘este é um ramo do

conhecimento, ó rei, que tornará os Egípcios mais sábios e de melhor memória. Está pois

descoberto o remédio da memória e da sabedoria.’

Ao que o rei responde: ‘Engenhíssimo Theuth, um homem é capaz de criar os fundamentos de

uma arte, mas outro deve julgar que parte de dano e de utilidade possui para quantos dela vão fazer

uso. Ora tu, neste momento, como pai da escrita que és, por lhe quereres bem, apontas-lhes efeitos

contrários àqueles que ela manifesta. É que essa descoberta provocará nas almas o esquecimento

de quanto se aprende, devido à falta de exercício da memória, porque confiados na escrita, é do

exterior, por meio de sinais estranhos, e não de dentro, graças a esforço próprio, que obterão as

recordações. Por conseguinte, não descobriste um remédio para a memória, mas para a recordação.

Aos estudiosos oferece a aparência da sabedoria e não da verdade, já que, recebendo, graças a ti,

grande quantidade de conhecimentos, sem necessidade de instrução, considerar-se-ão muito

sabedores, quando são ignorantes na sua maior parte e, além disso, de trato difícil, por terem a

aparência de sábios e não o serem verdadeiramente”.

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John Condry (1995:33) na obra escrita em parceria com Karl Popper Televisão: um

Perigo para a Democracia, reflectindo sobre a questão das transformações que ocorrem

no mundo natural e no mundo social defendeu que

“A evolução biológica progride lentamente, privilegiando ao longo dos séculos e dos milénios

determinadas mutações em detrimento de outras. A evolução social, por sua vez, é completamente

diferente: estimulada pelas descobertas e pelas e pelas invenções, é muitas vezes rápida e

imprevisível. Algumas invenções limitam-se a provocar alterações ligeiras, geralmente boas, por

vezes más, como a lvora, por exemplo. Porém, outras, modificam a cultura e a sociedade de

uma maneira profunda e imprevisível, e essas só retrospectivamente podem ser compreendidas.”

Neil Postman (1994:23-24) na obra Tecnopolia. Quando a Cultura se Rende à

Tecnologia, na mesma linha interpretativa, reconhece as significativas transformações

provocadas pela presença de novos dispositivos tecnológicos, propondo-nos como

chave de leitura para o universo mediático uma perspectiva ecológica:

“ ... a competição tecnológica desencadeia a guerra total, o que significa que não é possível conter

os efeitos de uma nova tecnologia numa esfera limitada de actividade humana. Se esta metáfora

apresenta a questão com demasiada brutalidade, podemos tentar ser um pouco mais gentis e

suaves: a mudança tecnológica não é aditiva nem subtractiva, é ecológica. Utilizo ‘ecológica’ no

mesmo sentido em que a palavra é utilizada pelos cientistas ambientalistas. Uma mudança

significativa gera mudança total. Se removermos as lagartas de um determinado habitat, não

ficamos com o mesmo ambiente menos as lagartas: temos um novo ambiente e reconstituímos as

condições de sobrevivência; o mesmo é verdade se introduzirmos as lagartas num meio ambiente

em que não existiam. É assim também que funciona a ecologia dos media. Uma nova tecnologia

não acrescenta nem subtrai nada, altera tudo.”

Em tempos de mudança e transformação a grande questão que urge formular é a que

interroga as novidades que as tecnologias da informação e comunicação trazem ao

panorama mediático? Ao mesmo tempo, sem pretender fazer futurologia, procurar

avaliar as necessárias transformações que acolitam as inovações tecnológicas.

um conjunto de dimensões que estão associados às tecnologias da informação e

comunicação.

A primeira constatação radica na centralidade da informação nas sociedades

contemporâneas e, simultaneamente, na importância estruturante desta em todos os

sectores da sociedade. Se no longo trajecto da história da comunicação verificamos a

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permanência de um desejo de transgressão das limitações espacio-temporais, (Cloutier,

2002) as tecnologias da informação e comunicação vieram facilitar o acesso a todas as

formas de informação, independentemente de se encontrarem num formato textual,

icónico ou sonoro e, ao mesmo tempo, permitir o armazenamento de grandes

quantidades de informação em suportes cada vez menores.

1

Disquetes, CD-ROM e

DVD enquanto suportes podem conservar quantidades muito diferentes de informação e

atestam este esforço constante para conservar cada vez mais informação.

O desenvolvimento dos sistemas informáticos (computadores, periféricos e programas)

tem permitido uma melhoria significativa, em termos de rapidez e fiabilidade, nas

tarefas de processamento de dados.

Os canais de comunicação que a sociedade da informação tem hoje à sua disposição

ampliaram desmesuradamente as possibilidades de acesso à informação, convertendo o

que seria a grande virtualidade, condições excepcionais no acesso à massa informativa,

no grande problema, pois o excesso de informação, converte-se numa dificuldade

extraordinária. Contudo, a informação assume um lugar incontornável na economia das

nações. O acesso à informação, a rapidez com que se concretiza a permuta da

informação, a transformação daquela em conhecimento e em riqueza assinala o fosso

entre as economias avançadas, pós-industriais e as economias industriais ou pré-

industriais. A informação converte-se em poder.

As tecnologias da informação e comunicação, potenciadas pelo desenvolvimento e

progresso acelerado da engenharia informática, criam as condições mais adequadas a

esta conversão da informação em fonte de poder. Numa economia liberal a concorrência

impõe-se como condição estruturante do normal funcionamento da economia num

mundo globalizado. As oportunidades de investimento, a criação de empresas, o

lançamento de novos produtos, a exploração de nichos de mercado ou a entrada em

mercados globais nutrem-se do valor da informação.

1

A disquete pode conservar em 1,4Mbytes o equivalente a um livro com umas centenas de páginas, um

CD-ROM com 600 Mbytes pode conservar uma qualquer enciclopédia e, por fim um DVD, equivalente a

20 CD-ROM pode guardar uma longa metragem em boa qualidade.

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GLOBALIZAÇÃO: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO

As grandes promessas que envolveram o desenvolvimento das TIC (a informática, as

telecomunicações e as tecnologias do som e imagem) foram também um local de

concretização de algumas das mais elevadas aspirações da humanidade. As suas

realizações permitiram conquistar uma posição essencial na compreensão da

organização das dimensões económica, política, social, cultural e educacional. A este

propósito Joan Majó e Pere Marquès (2001:35) escreveram:

“Cambiantes, seguindo o ritmo dos contínuos avanços científicos e no marco da globalização

económica e cultural, as TIC contribuem para a rápida obsolescência dos conhecimentos e a

emergência de novos valores, provocando contínuas transformações em nossas estruturas

económicas, sociais e culturais, e incidindo em quase todos os aspectos da nossa vida: o acesso ao

mercado de trabalho, a saúde, a gestão burocrática, a gestão económica, o desenho industrial e

artístico, o ócio, a comunicação, a informação, a maneira de perceber a realidade e de pensar, a

organização das empresas e instituições, os seus métodos e actividades, a forma de comunicação

interpessoal, a qualidade de vida, a educação...”

As oportunidades rasgadas pela digitalização da informação, conversão em código

numérico de letras, signos textuais, imagens, sons, assinalam a entrada num mundo

radicalmente novo.

As TIC melhoraram significativamente a capacidade de processamento de dados

independentemente de se tratarem de textos, imagens, números. A fiabilidade e rapidez

com se organiza, transforma e permuta a informação assinalam uma das conquistas mais

significativas da engenharia informática.

O horizonte comunicacional transfigurou-se absolutamente, abrindo caminho à

emergência de canais de comunicação imediata, síncrona e assíncrona, difundindo

através das auto-estradas da informação dados que atinjam os pontos mais distantes do

globo, permitindo que qualquer pessoa aceda à informação que circula na web, troque

mensagens por intermédio do correio electrónico ou discuta entusiasticamente em

fóruns ou chats.

Se aclamámos em momentos diferenciados da história algumas inovações,

reconhecendo-lhe a dimensão revolucionária de que se revestiram, cabe-nos, na esteira

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de Manuel Castells (2004) anunciar a entrada numa nova galáxia comunicacional: a

galáxia internet. Se MacLuhan sublinhando a importância das revoluções da imprensa e

electrónica consagrou a galáxia Gutenberg e a Galáxia Marconi o século XXI, (Castells,

2002: 434) caminha a passos largos para a confirmação desta nova revolução, que

conserva o mesmo sentido e persegue o mesmo objectivo que encontramos esboçado no

primeiro momento da aventura comunicacional humana, que na aurora da civilização

ousou levar sempre mais longe as mensagens estreitando o mundo e perpetuando no

friso cronológico as mensagens. A internet garante esta nova comunicação à distância

dispensando, em inúmeras circunstâncias, a presença dos interlocutores alargando,

apesar de tudo, o número de possibilidades de realização de outras acções impensáveis

sem aquela. No entanto existe sempre o outro lado da inovação tecnológica, sempre

um preço a pagar.

Quando na década de 80 o pensador norte-americano da comunicação Neil Postman

(1991), no livro Amusing Ourselves to Death. Public Discourse in Age of Show

Business procurava identificar as cidades que em algum momento da sua história

encarnaram o espírito americano e os símbolos a si associados, constatou que a época

em que escrevia tinha na cidade de Los Angeles a grande metáfora do espírito

americano e os seus símbolos eram uma slot machine e um reclame luminoso de

grandes dimensões com uma bailarina de cabaret. (Postman,1985: 7-8) A era do

espectáculo anunciava-se assim na magna sala de espectáculo do mundo, a cidade do

entretenimento, sendo cada ludopolita convidado a mergulhar sem assombro, nem

espanto no agitado jogo da metropolis cada vez mais convertida em ludopolis. As novas

tecnologias que se haviam insinuado na génese da cosmopolis como dispositivos

poderosos no armazenamento, organização e tratamento de informação, assumem

também a instante tarefa de animarem, e perpetuarem o frenesim do mundo do

espectáculo, obscurecendo na imensa pantalha da sociedade da informação o rosto

daqueles que se vão convertendo em meros espectros do patético teatro de sombras que

entra diariamente pelas salas de jantar de cada cidadão da telepolis mas não sem nos

recordar o peso do silêncio em face da miséria e da exclusão.

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A consciência de que os fenómenos de pobreza e exclusão continuam a emergir não

no continente africano mas também nas sociedades consideradas mais desenvolvidas,

põe a descoberto o absurdo de um modelo de desenvolvimento que se nutre do sangue e

sacrifício dos outros como condição essencial para a sua própria prosperidade. Se

assistimos aos longo dos séculos a um esforço contínuo para a humanização da

humanidade, apagando no curso da história algumas das manifestações mais inumanas,

o desafio do século XXI passa pela capacidade de criar condições para que na cidade-

mundo, na omnipolis, se apaguem definitivamente todos os fenómenos de exclusão

deliberada, de violência física e simbólica, de pobreza, num reconhecimento de uma

alteridade diversa. Se nessa diligência se buscou ultrapassar os preconceitos de raça,

condição económica, orientação sexual ou credo religioso alargando os territórios de

comunhão e comunicação na diversidade e diferença, tantas vezes nimbados pelo sonho

de uma sociedade adjuvada pelo desenvolvimento tecnocientífico, rapidamente

descobrimos que a par dos seculares ou mais recentes combates pela dignidade humana,

a globalização impunha uma redobrada atenção à emergência de novas formas de

exclusão. A sociedade do conhecimento encontra-se estruturalmente enraizada no

universo tecnocientífico desvelando uma impotência perante a agonia dos países

grandemente arredados da marcha acelerada do progresso tecnológico. A fractura digital

desvela as fragilidades de um crescimento económico desigual das nações.

A inclusão digital apresenta-se, hodiernamente, como um dos desafios mais importantes

da sociedade do conhecimento. Se a utopia de uma sociedade da informação e

comunicação aparece como promessa e se enraíza no imaginário social, cultural e

comunicacional, as fragilidades económicas de alguns países em vários continentes

comprometem-na. As desigualdades assinalam aqueles que vêem ser acrescentada à sua

pobreza, analfabetismo e manifestações de marginalização a infoexclusão, deixando

crescer o ódio e a revolta, enquanto assistem do outro lado do abismo à exuberância dos

festins nos oceanos de abundância em que os países desenvolvidos se banqueteiam.

O progresso tecnológico, em particular no domínio das TIC, acelerou o tempo, impondo

a todos os cidadãos a exigência de uma formação constante, a actualização permanente,

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uma aprendizagem ao longo da vida que possibilite uma mobilização constante de saber

e saber-fazer como resposta adequada à complexidade e às mutações do tempo.

A ampliação das possibilidades empresariais e laborais, obtidas pelo desenvolvimento

da internet, no domínio do trabalho à distância e à criação de empresas, ao não ter

necessidade de manter num mesmo espaço e em interacção presencial os funcionários

destas empresas, cria novas relações laborais e em muitas situações não consegue

obstaculizar renovadas formas de exploração.

O aumento exponencial da informação tem como consequência directa a

impossibilidade de tratar e seleccionar em tempo útil a massa de informativa. O excesso

pode paralisar conduzindo-nos à situação inversa a situação de informação. A

possibilidade que os meios de comunicação de massa nos proporcionam de acedermos a

informação em tempo real de acontecimentos ocorridos em pontos razoavelmente

longínquos do globo continuam a mostrar-nos perspectivas de acontecimentos, pontos

de vista que não descartam completamente a intenção de manipular ou enganar.

CONCLUSÃO

A evolução tecnocientífica disponibiliza cada vez mais possibilidades, sendo

grandemente responsável pela consubstanciação do fenómeno da globalização. As

tecnologias da informação e da comunicação, fruto das características, abrem novas

oportunidades e contextos de intervenção pelo que vários sectores da sociedade são

convidados a reflectir sobre as mudanças que paulatinamente se vão desenhando.

Assim, pensar a relação entre o progresso das tecnologias da informação e comunicação

e a globalização significa encontrar no espaço movediço destas rápidas transformações.

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