Quais os motivos que indicam a importância de conhecer as religiões

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Embora cada religião apresente elementos próprios, é também possível estabelecer uma série de elementos comuns às várias religiões e que podem permitir uma melhor compreensão do fenômeno religioso.

As religiões possuem grandes narrativas, que explicam o começo do mundo ou que legitimam a sua existência. O exemplo mais conhecido é talvez a narrativa do Génesis na tradição judaica e cristã. Quanto à legitimação da existência e da validade de um sistema religioso, este costuma apelar a uma revelação ou à obtenção de uma sabedoria por parte de um fundador, como sucede no budismo, onde o Buda alcançou a iluminação enquanto meditava debaixo de uma figueira ou no Islão, em que Muhammad recebeu a revelação do Corão de Deus.

As religiões tendem igualmente a sacralizar determinados locais. Os motivos para essa sacralização são variados, podendo estar relacionados com determinado evento na história da religião (por exemplo, a importância do Muro das Lamentações no judaísmo) ou porque a esses locais são associados acontecimentos miraculosos (santuários católicos de Fátima ou de Lourdes) ou porque são marcos de eventos religiosos relacionados à mitologia da própria religião (monumentos megalíticos, como Stonehenge, no caso das religiões pagãs). Na antiga religião grega, os templos não eram locais para a prática religiosa, mas sim locais onde se acreditava que habitava a divindade, sendo por isso sagrados.

Quais os motivos que indicam a importância de conhecer as religiões

Monumentos megalíticos

As religiões estabelecem que certos períodos temporais são especiais e dedicados a uma interação com o divino. Esses períodos podem ser anuais, mensais, semanais ou podem mesmo se desenrolar ao longo de um dia. Algumas religiões consideram que certos dias da semana são sagrados (Shabat no judaísmo ou o Domingo no cristianismo), outras marcam esses dias sagrados de acordo com fenômenos da natureza, como as fases da lua, na religião Wicca, em que todo primeiro dia de lua cheia esbat é considerado sagrado. As religiões propõem festas ou períodos de jejum e meditação que se desenvolvem ao longo do ano.

A religião no mundo contemporâneo

Desde os finais do século XIX, e em particular desde a segunda metade do século XX, o papel da religião, bem como seu número de aderentes, se tem alterado profundamente.

Alguns países cuja tradição religiosa esteve historicamente ligada ao cristianismo, em concreto os países da Europa, experimentaram um significativo declínio da religião. Este declínio manifestou-se na diminuição do número de pessoas que frequenta serviços religiosos ou do número de pessoas que desejam abraçar uma vida monástica ou ligada ao sacerdócio.

Em contraste, nos Estados Unidos, na América Latina e na África, o cristianismo cresce significativamente; para alguns estudiosos estes locais serão num futuro próximo os novos centros desta religião. O islão é atualmente a religião que mais cresce em número de adeptos, que não se circunscrevem ao mundo árabe, mas também ao sudeste asiático, e a comunidades na Europa e no continente americano. O hinduísmo, o budismo e o xintoísmo tem a sua grande área de influência no Extremo Oriente, embora as duas primeiras tradições influenciem cada vez mais a espiritualidade dos habitantes do mundo ocidental. A Índia, onde cerca de 80% da população é hindu, é um dos países mais religiosos do mundo, ficando em segundo lugar após os Estados Unidos. As explicações para o crescimento das religiões nestas regiões incluem a desilusão com as grandes ideologias do século XIX e XX, como o nacionalismo e o socialismo.

Por outro lado, o mundo ocidental é marcado por práticas religiosas sincréticas, ligadas a uma "religião individual" de cada um faz para si e ao surgimento dos chamados "novos movimentos religiosos". Embora nem todos esses movimentos sejam assim tão recentes, o termo é usado para se referir a movimentos neocristãos (Movimento de Jesus), judaico-cristãos (Judeus por Jesus), movimentos de inspiração oriental (Movimento Hare Krishna) e a grupos que apelam ao desenvolvimento do potencial humano através por exemplo de técnicas de meditação (Meditação Transcendental).

Também presente na Europa e nos Estados Unidos da América é aquilo que os investigadores designam como uma "nebulosa místico-esotérica", que apela a práticas como o xamanismo, o tarot, a astrologia, os mistérios e cuja atividades giram em torno da organização de conferências, estágios, revistas e livros. Algumas das características desta nebulosa místico-esotérica são as centralidades do indivíduo que deve percorrer um caminho pessoal de aperfeiçoamento através da utilização de práticas como o ioga, a meditação, a ideia de que todas as religiões podem convergir , o desejo de paz mundial e do surgimento de uma nova era marcada por um nível superior de consciência.

Número de adeptos por religião

  • Catolicismo: 2100 milhões
  • Islão: 1300 milhões
  • Hinduísmo: 870 milhões
  • Sem religião: 769 milhões
  • Religiões tradicionais chinesas: 405 milhões
  • Protestantismo: 375 milhões
  • Cristianismo Ortodoxo: 220 milhões
  • Anglicanismo: 80 milhões
  • Cristãos independentes: 430 milhões
  • Budismo: 379 milhões
  • Sikhismo: 25 milhões
  • Judaísmo: 15 milhões
  • Religiões tradicionais africanas: 100 milhões
  • Novas religiões: 108 milhões

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Quais os motivos que indicam a importância de conhecer as religiões

Como referenciar: "Características das religiões" em Só História. Virtuous Tecnologia da Informação, 2009-2022. Consultado em 20/06/2022 às 07:13. Disponível na Internet em http://www.sohistoria.com.br/ef2/ccr/p1.php

A religião é um dos fenômenos mais importantes entre aqueles pertencentes exclusivamente ao ser humano. Toda cultura ou civilização, sem exceção, desenvolveu um sistema religioso, fosse ele mais elementar, como as religiões dos povos nativos da América e da Oceania, fosse mais complexo, como as religiões abraâmicas (derivadas do patriarca Abraão) médio-orientais: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.

Após o advento das ciências humanas especializadas, como a antropologia, a sociologia, a história e a psicologia, muitos investigadores vêm tentando explicar o fenômeno religioso e, grosso modo, definir o que é a religião. Alguns deles, como os filósofos alemães do século XIX Friedrich Nietzsche e Karl Marx e o francês Auguste Comte, manifestaram-se como absolutamente avessos à ideia de religião e à existência de uma realidade transcendente, isto é, uma realidade que está para além desse mundo, do mundo físico, material, corpóreo. Concentraram-se em ressaltar aquilo que julgavam ser o essencial no religioso, isto é, o seu suposto caráter nocivo para a humanidade.

Por outro lado, outros pensadores, como o sociólogo Émile Durkheim e o estudioso de mitologia e simbologia Mircea Eliade buscaram entender a religião de forma mais objetiva, procurando entender o funcionamento de noções como o sagrado, o profano, o mito, as imagens, os símbolos religiosos, bem como as práticas rituais, como o sacrifício. Em seu livro As Formas Elementares da Vida Religiosa, Durkheim procura definir a religião como um sistema de crenças e práticas (como os rituais, orações etc.) relativas ao sagrado. Vejamos:

“[...] uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a ela aderem. O segundo elemento que participa assim de nossa definição não é menos essencial que o primeiro, pois, ao mostrar que a ideia de religião é inseparável da ideia de igreja, ele faz pressentir que a religião deve ser uma coisa eminentemente coletiva.” [1]

Além da categoria do sagrado, podemos ver que Durkheim também destaca o caráter coletivo da religião. A ideia de “igreja” (ekklesia, em grego) está aqui posta pelo sociólogo no sentido de comunidade, de estrutura social gregária. Nas sociedades primitivas e também nas grandes civilizações antigas, a manifestação do sagrado, isto é, da ação dos deuses ou de um Deus único (a depender da religião) no mundo, é o que provoca a reunião, a agregação dos indivíduos, que procuram a transcendência e respostas para problemas fundamentais, como a morte. Disso deriva, basicamente, toda a estrutura social.

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Se o sagrado é tão importante para a definição de religião e se dele deriva a estrutura social, é importante ressaltar que ele também exige um espaço especial para as práticas dos rituais religiosos, que têm o objetivo de pôr os homens em contato com a realidade transcendente. A noção de espaço sagrado, isto é, de lugares que estão apartados do mundo profano (entendendo por isso o mero mundo natural, físico) é bem delimitada em toda religião. O altar, o templo, o santuário, etc., tudo isso constitui o espaço sagrado. Mircea Eliade bem define a importância do templo enquanto espaço sagrado em sua obra O sagrado e o profano:

“Nas grandes civilizações orientais – da Mesopotâmia e do Egito à China e à Índia – o Templo recebeu uma nova e importante valorização: não é somente uma imago mundi (imagem do mundo), mas também a reprodução terrestre de um modelo transcendente...”. […] Se o Templo constitui uma imago mundi, é porque o Mundo, como obra dos deuses, é sagrado: lugar santo por excelência, casa dos Deuses, o Templo ressantifica o mundo, uma vez que o representa e o contém ao mesmo tempo. Definitivamente, é graças ao Templo que o Mundo é ressantificado na sua totalidade. Seja qual for seu grau de impureza, o Mundo é continuamente purificado pela santidade dos santuários.” [2]

  • Principais religiões do mundo e do Brasil

Como dissemos um pouco mais acima, toda e qualquer cultura ou civilização desenvolveu um sistema religioso ou, antes, desenvolveu-se junto a esse sistema. Entre as principais religiões do mundo, encontram-se aquelas com mais complexidade de organização e maior envergadura teológica. É caso, como já citamos, das religiões abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) e das religiões asiáticas, como o Hinduísmo, o Budismo, o Confucionismo, o Xintoísmo e o Taoismo. No continente africano, destacam-se o Vodu e o Candomblé.

O Brasil, em virtude da colonização portuguesa, é predominantemente cristão católico. Entretanto, o número de cristãos protestantes vem crescendo bastante no país. Além disso, há outras variantes religiosas, como o Espiritismo, a Umbanda (que nasceu do sincretismo entre o catolicismo popular e o Candomblé) e o próprio Candomblé, herdado da África.

NOTAS

[1] DURKHEIM, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 32.

[2] ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Mircea Eliade ; [tradução Rogério Fernandes]. – São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 34.


Por Me. Cláudio Fernandes