Por que carros sao tao caro no brasil

Por que carros sao tao caro no brasil
Quando pensamos sobre os altíssimos preços dos carros no Brasil, o principal culpado que vem em mente são os tributos. Todo mundo sabe que a carga tributária brasileira é muito elevada e, sem dúvida alguma, compromete o preço dos automóveis.

Entretanto existem alguns indícios sugerindo que a culpa por esse valor ser tão alto é do lucro das montadoras no Brasil. Em nenhum lugar do mundo, que possua um PIB relevante, as montadoras lucram tanto quanto em nosso país.

O intuito deste artigo é mostrar porque o Brasil tem o carro mais caro do mundo e que a culpa não é apenas da carga tributária, e comparar preços de carros no Brasil e nos países vizinhos (Argentina e Chile).

Brasil tem o carro mais caro do mundo

Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais – representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

Alta carga tributária?!

De 1997 até agora, o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

Baixa escala de produção?!

O Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.

Algumas perguntas pertinentes: Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

A culpa é da margem de lucro das montadoras!

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada.

Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

Estima-se que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

Comparação de preços de carros no Brasil, Argentina, México e Chile

A ACARA, Associación de Concessionários de Automotores De La Republica Argentina, divulgou no congresso dos distribuidores dos Estados Unidos (N.A.D.A), em São Francisco, em fevereiro deste ano, os valores comercializados do Corolla em três países: No Brasil o carro custa US$ 37.636,00, na Argentina US$ 21.658,00 e nos EUA US$ 15.450,00.

Outro exemplo de causar revolta: o Jetta é vendido no México por R$ 32,5 mil. No Brasil esse carro custa R$ 65,7 mil.

Quer mais? O Gol I-Motion com airbags e ABS fabricado no Brasil é vendido no Chile por R$ 29 mil. Aqui custa R$ 46 mil.

O Kia Soul, fabricado na Coréia, custa US$ 18 mil no Paraguai e US$ 33 mil no Brasil. Não há imposto que justifique tamanha diferença de preço.

Conclusão

Esse artigo, de forma alguma, vem defender a carga tributária brasileira. Independente do preço final, 30% de tributação é muito alto para um automóvel. Entretanto não faz sentido o preço que pagamos por automóveis no Brasil.

E, pelo visto, a culpa é nossa! Há muito tempo que os preços não são definidos pelo custo do produto. É mercado consumidor quem define o preço. Por que as montadoras baixariam os preços dos carros se continuamos pagando uma fortuna por eles?

Dentre os vários exemplos que dei, o que mais me marcou foi o Gol I-Motion. Se as montadoras dizem que a culpa do alto preço final é dos custos de produção, como pode um carro fabricado no Brasil ser vendido no Chile por um preço 36% menor que no Brasil?!

É difícil deixar de comprar para baixar esses preços, pois muita gente precisa de um carro. Mas é possível passar um ou dois anos a mais com seu automóvel antes de trocá-lo. Ou até, quando for comprar outro veículo, opte por um semi-novo. Além de ajudar seu bolso, ainda pressionará as montadoras a baixar os preços dos carros novos.

Por fim, recomendo a leitura dos textos que foram as principais fontes para este artigo: “Lucro Brasil faz o consumidor pagar o carro mais caro do mundo” e “Por que o carro é mais barato na Argentina e no Chile?“.

Imagem de shutterstock.com.

Que os veículos de passeio são muito caros no Brasil, todos já sabem. Mas, estávamos desacostumados com reajustes tão frequentes nos preços dos carros. Um levantamento feito pela consultoria Carcon Automotive com sete modelos de diferentes segmentos vendidos no nosso mercado (Renault Kwid, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Toyota Corolla, Honda Fit, Toyota Hilux e Chevrolet Tracker), entre maio de 2020 e maio de 2021, revela que houve reajuste médio de 22% no preço. Mas, o que está por trás disso?

É claro que a pandemia de COVID-19 tem boa parcela de culpa para esses reajustes mais recentes. A falta de componentes vem prejudicando a produção desde o início, consequência do fechamento de fábricas e concessionárias, assim como toda a cadeia de fornecedores, seguido de um repentino aumento da demanda. Pela lei da oferta e da procura, os preços subiram.

Hoje, a grande preocupação é a escassez dos semicondutores, amplamente usados na eletrônica dos veículos, tendo paralisado a produção de montadoras importantes como Chevrolet, Volkswagen, Fiat e Honda. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículo Automotores (Anfavea), este problema pode afetar 5% do volume da produção mundial, e foi agravado por uma crescente demanda de semicondutores para a fabricação de produtos das áreas de computação, telecom, eletroeletrônicos e smartphones.

Um aspecto que tem pesado bastante no preço dos veículos é o câmbio, com o dólar caríssimo e o real bastante desvalorizado. De acordo com Julian Semple, consultor da Carcon, de janeiro de 2020 a maio de 2021, a cotação do dólar subiu 29%. E isso não afeta apenas os modelos importados. Mesmo para os produtos fabricados aqui existem vários componentes que são importados, elevando o preço da transação.

As commodities também são diretamente afetadas pelo dólar, como o aço (que subiu 70% em 2020) e a resina plástica (derivada do petróleo). Outro movimento que existe é uma crescente inflação, como aponta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 8% registrado entre maio de 2020 e maio de 2021.

Outro motivo que vem elevando o valor dos veículos ao longo dos anos é a evolução dos projetos nos quesitos segurança e emissões veiculares, quase sempre por força de lei, como a exigência de airbags frontais e freios ABS a partir de 2014. Porém, o mercado também ajuda a elevar o nível dos projetos, principalmente em conectividade. De acordo com Paulo Cardamone, da Bright Consulting, atualmente, o tíquete médio de um veículo de passeio no Brasil é de R$ 95 mil. Há três anos, era de R$ 75 mil, com valores corrigidos.

Um fator histórico que sempre jogou para as alturas o preço dos veículos no Brasil é a alta carga de impostos, que, no caso dos automóveis, ficam na casa dos 40%, em média. Esse é o principal argumento usado pelos fabricantes para justificar o preço dos carros, e se junta a outros tantos, inclusos em um pacote chamado custo Brasil, como os elevados custos trabalhistas, infraestrutura precária e insegurança jurídica, fatores frequentemente citados pela Anfavea.

Outro agente histórico é o enorme apetite dos fabricantes pelo lucro. Mas esse assunto é uma verdadeira caixa-preta, que as montadoras nunca abrem. Apesar desse histórico, de acordo com Julian Semple, que analisou o balanço de várias empresas automotivas, há alguns anos fabricantes operam no prejuízo na região, situação que piorou com a pandemia.

Hoje, a capacidade produtiva instalada no Brasil é de 5 milhões de automóveis por ano, enquanto a demanda não vai chegar nem à metade. O consultor da Carcon Automotive explica que, por volta de 2010, a expectativa era alcançar esse número, mas a demanda foi caindo. Ainda assim, Julian acredita que os fabricantes esperam por uma melhora desse cenário.

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