O que é um monologo

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A expressão ‘monólogo’ vem do grego monos, no sentido de ‘um’, somado a logos, que tem a conotação de palavra ou idéia, contrapondo-se assim a dia, que significa ‘dois’ ou ‘através de’, mais logos, ou seja, ao termo ‘diálogo’.

Este termo é muito utilizado nos estudos de oratória e no âmbito teatral, constituindo uma fala extensa ou uma atividade discursiva expressa por um único indivíduo ou por aquele que enuncia o discurso. O monólogo tem como principal característica se passar dentro da mente do personagem, como se ele se reportasse apenas a si mesmo.

Desta forma, direcionando-se ao seu próprio eu ou à platéia, ele realiza uma catarse emocional, exteriorizando seus pensamentos e sentimentos, sem para isso ser necessário se voltar para um ser definido.

Segundo alguns pesquisadores, o monólogo ainda assim é uma forma de diálogo, pois o protagonista, em sua fala, pressupõe um outro, seja ele mesmo, quando então ele se dissocia em duas personas, o eu e o interlocutor, ou o público a quem ele se dirige.

Há no monólogo um foco na vida interior do personagem, pois este revolve no palco seus pensamentos mais íntimos, ele se desnuda psicologicamente diante da platéia, e muitas vezes transmite a sensação de ser pessoas diferentes. Isto porque as questões existenciais desdobradas através do monólogo são universais, não inerentes a uma única pessoa.

Este tipo de discurso está presente igualmente nos desenhos animados, no cinema, na poesia escrita na forma de pensamentos ou falas de um individuo, nas óperas – sob a forma de árias ou trechos cantados -, nos romances do século XX, ou em programas de entretenimento.

Normalmente a literatura registra dois padrões de monólogos teatrais. O Monólogo Exterior ocorre quando o personagem se dirige a um indivíduo ausente do palco ou para o público presente no teatro. O Monólogo Interior se desenrola quando o protagonista se reporta a si mesmo. Este último gênero é mais interiorizado e se tornou popular como solilóquio.

Monólogos são a essência do teatro. Um único personagem controla todo o palco ou a tela para abrir seu coração e desabafar, livrar-se de seus ‘fantasmas’ interiores. Podem ser dramáticos ou cômicos. Bons monólogos tendem a ser as cenas mais memoráveis de nossas peças ou filmes favoritos, são momentos que permitem que o ator brilhe e mostre toda a sua técnica. Se você deseja escrever um monólogo para sua peça ou filme, você deve aprender onde colocá-los e como encontrar o tom adequado. Veja mais informações a seguir.

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    Estude monólogos famosos. Seja o famoso desabafo de 'Hamlet' ou a história angustiante de Quint sobre a Segunda Guerra Mundial em ‘Tubarão’, monólogos podem ser usados no drama para dar mais profundidade ao personagem. Eles nos levam para dentro dos personagens e nos mostram suas motivações. Trata-se mais de um estudo do personagem em voz alta do que de um mecanismo da trama (apesar de que ele deve sempre servir para movimentar a trama). Familiarize-se com alguns dos monólogos clássicos do teatro e do cinema e faça um estudo da forma. Veja alguns exemplos:

    • O monólogo inicial do filme de David Mamet "Sucesso a qualquer preço"
    • Os monólogos de "Hamlet"
    • O discurso "Eu podia ter sido um competidor" do filme "Sindicato de ladrões"
    • O discurso "Eu comi os papéis do divórcio" da peça "Goodbye Charles" de Gabriel Davis
    • O monólogo de Masha "Estou lhe dizendo isto porque é um escritor" na peça “A gaivota” de Chekov
    • O discurso do “Homem honorável” declamado por Bill, o Açougueiro, enrolado em uma bandeira Americana em "Gangues de Nova York"

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    Use os monólogos na hora certa. Uma peça de teatro ou um roteiro de um filme compreende uma série complicada de diálogos, ações e pausas. É preciso praticar muito até você conseguir saber quando e onde colocar um monólogo no seu texto. É preciso determinar primeiro toda a essência da trama e dos personagens antes de se preocupar com os monólogos. Eles devem surgir organicamente durante a confecção do seu roteiro.

    • Alguns monólogos são usados para apresentar personagens, enquanto outros podem ser usados para que um personagem sombrio desabafe e mude a opinião da plateia sobre ele.
    • Em geral, um bom momento para usar um monólogo é em uma transição, ou mudança, em que um personagem precisa revelar algo para alguém.

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    Aprenda a diferença entre um monólogo e um solilóquio. Em um monólogo, outro personagem deve estar presente para ouvir o discurso. Se não há mais ninguém em cena, trata-se de um solilóquio. O solilóquio é uma técnica clássica que não é mais tão utilizada no teatro contemporâneo, porém ainda aparece, às vezes, em peças com um único personagem ou peças de teatro experimental.

    • Monólogos internos ou narração com voice over pertencem a uma categoria diferente de exposição, é mais um à parte com os espectadores do que um monólogo. É preciso que o personagem que profere o monólogo saiba que há outra pessoa ouvindo, pois deve haver uma interação entre essas pessoas, que pode ser o combustível ou o propósito para o monólogo.

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    Sempre utilize os monólogos para mostrar mudanças nos personagens. Uma boa oportunidade para um monólogo é quando um personagem passa por uma mudança significativa de atitude. A oportunidade de um personagem desabafar e revelar suas angústias e tensões traz muitos benefícios ao leitor, espectador e à trama.

    • Mesmo que o personagem não se modifique tanto, talvez a decisão de desabafar já seja mudança suficiente. Quando um personagem sombrio se abre em um monólogo, o resultado pode ser bem revelador. Por que ele resolveu falar agora? Como isso afeta a minha opinião sobre ele?
    • Permita que o personagem se modifique durante o curso do seu monólogo. Se o personagem começa com raiva, pode ser mais interessante terminar o monólogo rindo. Se ele começar rindo, ele pode terminar pensativo. Use o monólogo como um veículo para as mudanças.

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    Dê ao seu monólogo um começo, meio e fim. Se você vai dar um tempo no resto da história para permitir que um dos seus personagens dê um discurso, é preciso dizer que esse discurso precisa ser estruturado como qualquer outro texto. Se o personagem estiver contando uma história, ela precisa ter uma linha de narração. Se for um discurso inflamado, ele precisa terminar de uma forma diferente daquela que começou. Se for um apelo, é preciso acelerar um pouco durante o discurso.

    • O começo de um bom monólogo prende a atenção dos espectadores e de todos os outros personagens. O começo deve indicar que algo importante está por vir. Como qualquer bom diálogo, um bom monólogo também não deve desperdiçar tempo com “Oi” ou “Como vai você”. Vá direto ao ponto.
    • O clímax do monólogo deve ser na metade do texto. Vá construindo esse momento até o máximo possível e depois detone toda a tensão e permita que a conversa entre os personagens continue ou encerre de uma vez. É nesse momento em que ocorrem os detalhes específicos, o drama e as tangentes.
    • O fim do monólogo deve transportar os personagens e a trama de volta para a história da peça ou filme. Depois de uma vida de falhas e desgaste, o discurso emocionado de Randy, o Carneiro para sua filha no filme "O lutador" termina com a frase: "Eu só não quero que você me odeie, ok?". A tensão do monólogo é aliviada e a cena termina com uma sensação de “ponto final”.

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    Encontre a voz do personagem. Quando finalmente ouvimos um discurso de um personagem, a voz desse personagem e seu jeito de falar não devem ser uma surpresa. Se você estiver explorando a voz dele enquanto escreve, não faça isso durante um monólogo longo e importante, escolha outro momento do texto.[1] X Fonte de pesquisa Ir à fonte

    • Enquanto estiver treinando, deixe que seu personagem fale sobre vários assuntos livremente, a fim de desenvolver sua voz. O livro “Psicopata Americano” de Bret Easton Ellis possui vários pequenos capítulos em que o personagem Patrick fala sobre vários aspectos da cultura consumista: equipamentos de som, música pop, roupas. Supostamente, Ellis escreveu esses monólogos como exercício e acabou usando no texto final.
    • Responda perguntas sobre o seu personagem, construa um perfil dele. Pense em itens que não aparecem necessariamente no roteiro (como, por exemplo, a decoração do quarto do seu personagem, suas músicas favoritas, sua rotina matinal, etc.).

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    Utilize tons diferentes. Quando um monólogo começa de um jeito e termina totalmente diferente, a tensão fica mais dramática, os personagens mais persuasivos, e o seu texto bem melhor. Um bom monólogo deve alternar a comédia, a angústia e a emoção. Não pode destacar um só sentimento ou um só estado.

    • No filme “Gênio Indomável”, o personagem de Matt Damon tem um ótimo monólogo, em que ele enfrenta um estudante de Harvard em um bar. Além de humor e triunfo, há também uma tristeza profunda e uma raiva palpável em suas palavras.

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    Use histórias para construir um personagem. Os monólogos são uma boa oportunidade para dar uma pausa na trama principal e permitir que um personagem revele algo do seu passado, ou conte uma história sobre alguém, ou sobre ele mesmo. Quando bem feito, no momento certo, esses discursos dão um colorido a mais ao texto principal, mostrando-nos diferentes maneiras de ver a história.

    • A história de Quint sobre como ele sobreviveu ao desastre do USS Indianapolis acrescenta camadas profundas ao personagem. Ele não usa um colete salva vidas, pois isso o lembra do trauma. Essa história não faz necessariamente a trama avançar, mas acrescenta profundidade e compaixão a Quint, que, até aquele momento, não passava de um arquétipo de ‘machão’.[2] X Fonte de pesquisa Ir à fonte

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    Use os pontos de exclamação com parcimônia. Não confunda drama e tensão com “gritos”. Ninguém gosta de assistir a cenas em que as pessoas gritam o tempo todo, portanto é importante aprender a trabalhar com os picos dramáticos para criar a tensão desejada e evitar o excesso de gritos estridentes.

    • Brigas reais são como uma montanha russa. As pessoas se cansam e geralmente não gritam por muito mais do que uma frase. Usa os momentos energéticos com moderação e a tensão ficará ainda mais palpável se o espectador suspeitar que alguém pode explodir a qualquer momento.

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    Deixe o silêncio falar também. O excesso de texto é muito comum entre os autores iniciantes. Costuma ser tentador para o autor criar personagens demais, cenas demais e falas demais. Tente se conter e permita que apenas os elementos essenciais apareçam na peça, especialmente em um monólogo. O que não será dito?

    • Veja alguns monólogos do filme/peça “Dúvida”. Quando o Padre fala sobre “fofoca”, vários detalhes são deixados de fora porque ele está em frente a uma congregação inteira. Porém, a mensagem que ele transmite para a freira com quem tem um conflito é perfeitamente compreendida e palpável.

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    Tente revisar um monólogo dramático e transformá-lo em cômico. Como reescrever um dos monólogos de Al Pacino em “Perfume de mulher” de modo a transformá-lo em algo cômico? E se você tivesse que reescrever a história de Quint de uma forma que sugerisse que ele está mentindo? Escrever uma comédia é difícil porque se trata mais de apresentação e menos de conteúdo.

    • Como exercício, tente reescrever monólogos sérios transformando-os com humor. Existe uma linha tênue entre o drama e a comédia, o que torna esse exercício mais fácil do que parece.
    • Gabriel Davis é um autor contemporâneo com um grande talento para o humor. Uma mulher que come os papéis do seu divórcio? Um homem que decide ter o seu bar mitzvah com 26 anos? Veja o quanto ele faz uso dos monólogos para conseguir um efeito cômico.

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    Tente algo complexo. Um bom monólogo nem sempre é totalmente sério ou totalmente engraçado. Quando você quiser variar o nível da cena de briga, coloque um conteúdo levemente engraçado dentro de uma situação normalmente trágica. Isso vai atenuar o drama e fazer o espectador sentir algo diferente. É isso que a boa comédia faz.

    • Os filmes de Martin Scorsese são famosos por combinar momentos extremamente engraçados com momentos de alta tensão. Os monólogos de Jake Lamotta enquanto se prepara para subir no ringue no filme “Touro Indomável” são ao mesmo tempo bem humorados e emocionantes.

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    Faça-o engraçado, mas não tolo. Bons monólogos cômicos geralmente não envolvem escatologias, ao menos que o restante da história esteja na mesma linha. Construir o humor com ironia, sarcasmo e uma certa complexidade traz melhores resultados e gera mais interesse no espectador.

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    Escreva de uma ponta à outra. Antes de escrever um monólogo, decida onde ele começa e onde ele termina, você pode até escrever a primeira e a última frase do monólogo; pense no tamanho do seu monólogo e, só depois, preencha os espaços vazios. Como você preencheria o espaço entre as frases a seguir?

    • Seu cachorro morreu. / Tire esse sorriso estúpido da cara!
    • Qual é o problema da sua mãe? / Eu não vou entrar no Skype com um gato no quarto.
    • Onde está o infeliz? / Esqueça, esqueça, esqueça, eu vou levar o cavalo.
    • Vamos, só desta vez. / Eu nunca mais vou voltar para a igreja.

  • Sempre faça uma revisão no seu texto. Leia em voz alta para ter uma ideia de como os personagens falarão. Certifique-se de que as falas estão naturais.

  • A noção de tempo é fundamental. Utilize o monólogo de forma sensata, ou acabará entediando a plateia.

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