Na teoria das ideias de Platão qual é a diferença entre o mundo das sombras e o mundo das ideias

FILOSOFIA ANTIGA: TEORIA DAS IDEIAS DE PLATÃO

MÓDULO 1

#PARA COMEÇAR

QUESTÕES FILOSÓFICAS

Como é essencialmente o ser humano? Como são essencialmente as coisas? O que é o conhecimento verdadeiro? Como deve ser o governo da cidade? Como devemos viver?

PLATÃO

OS ALICERCES DA FILOSOFIA OCIDENTAL

PLATÃO (427-347 a. C.) é considerado um dos mais importantes filósofos da história da humanidade e sua filosofia representa a base, o fundamento de todo o pensamento filosófico do ocidente. Suas teorias ainda hoje são discutidas, defendidas e refutadas de maneira calorosa nos debates acadêmicos. O que não se pode negar é que seu pensamento marcou de forma indelével toda a cultura filosófica. Fundou uma espécie de universidade, chamada ACADEMIA, num antigo templo dedicado a uma figura mitológica denominada Academus. Ali ensinava suas teorias a um grupo de discípulos que se formou ao longo dos anos. Sua filosofia foi desenvolvida por meio de diálogos (DIÁLOGOS SOCRÁTICOS) e sua obra conhecida (parte da obra platônica se perdeu) tinha como personagem principal seu mestre SÓCRATES. Há intensas disputas e debates sobre o que é SOCRÁTICO e o que é teoria do próprio PLATÃO nas obras escritas e chegadas até nós.

DUALISMO PLATÔNICO

Sua doutrina ficou conhecida no ocidente como TEORIA DAS IDEIAS. Nesta teoria, PLATÃO postula duas realidades: O MUNDO SENSÍVEL, percebido pelos sentidos, que é ilusório e imperfeito, pois é cópia de uma outra realidade e é a localização da realidade material (MATÉRIA); E o MUNDO INTELIGÍVEL, sede das ideias, que são perfeitas e imutáveis, fonte de inspiração para a confecção do MUNDO SENSÍVEL, mera reprodução do denominado mundo das ideias, que tem no seu vórtice a IDEIA DO BEM, ideia suprema, da qual toda a realidade dos dois mundos participa de modo mais ou menos integrado. Sua originalidade está em colocar a verdade e perenidade das coisas FORA, SEPARADO, da realidade percebida pelos sentidos, ou seja, do MUNDO SENSÍVEL. Os filósofos anteriores a PLATÃO defendiam que a verdade encontrava-se na própria realidade sensível, sendo, portanto, imanente, estando impregnada no mundo percebido pelos sentidos. Já a verdade, para PLATÃO, a justiça e a IDEIA DO BEM são TRANSCENDENTES, estão além da realidade sensível, encontram-se num universo metafísico, no MUNDO INTELIGÍVEL. Com tal teoria, PLATÃO acreditava estar resolvendo o problema e o impasse surgido a partir de HERÁCLITO e PARMÊNIDES sobre a mudança e a permanência. O MUNDO SENSÍVEL é a realidade em constante mutação e o MUNDO INTELIGÍVEL é a realidade permanente, verdadeira e imutável.

DEMIURGO E O MUNDO

PLATÃO postula também uma realidade intermediária entre o MUNDO SENSÍVEL e o MUNDO INTELIGÍVEL. Nessa realidade habita os entes matemáticos e o DEMIURGO, considerado o artesão (construtor) do MUNDO SENSÍVEL. Com base nas IDEIAS ETERNAS e imutáveis do MUNDO INTELIGÍVEL, o DEMIURGO moldou a MATÉRIA INDETERMINADA (chora, em grego), sem forma, dando a ela o aspecto que a mesma passou a apresentar depois de plasmada. O MUNDO SENSÍVEL, então, não passa de mera cópia (e como toda cópia, não saiu perfeita como o original) do MUNDO INTELIGÍVEL (mundo das ideias).

PROCESSO DO CONHECIMENTO

A TEORIA DO CONHECIMENTO, segundo PLATÃO, é ascensional, ou seja, sobe à medida que passamos do conhecimento sensível (aquilo que percebemos pelos sentidos) para o conhecimento inteligível (que percebemos com a razão). O MUNDO SENSÍVEL é um mundo de SOMBRAS, APARÊNCIAS, cópias imperfeitas da realidade inteligível. As ESSÊNCIAS e os SERES VERDADEIROS (a essência de todas as coisas e a verdade sobre as mesmas) encontram-se na realidade das ideias perfeitas, no MUNDO INTELIGÍVEL. O PROCESSO DO CONHECIMENTO inicia-se com as IMPRESSÕES e as SENSAÇÕES advindas dos sentidos. Tal conhecimento era denominado OPINIÃO (doxa, em grego) e possuía um caráter subjetivo e superficial segundo PLATÃO. O CONHECIMENTO (episteme, em grego, que significa conhecimento racional) verdadeiro seria aquele acessado não pelos sentidos, mas pela razão. O MÉTODO (caminho) para ascender a esse conhecimento, segundo PLATÃO, era a DIALÉTICA (diálogo crítico, oposição de ideias para depuração das mesmas e a ascensão ao conhecimento verdadeiro). Conhecer para PLATÃO é recordar, REMINISCÊNCIA, porque a alma já conhece toda a verdade, por ser originária do mundo ideal e estar no mundo sensível, habitando um corpo somente para expiar a culpa por uma espécie de pecado cometido quando ela habitava o MUNDO INTELIGÍVEL. O corpo seria o cárcere da alma, e a mesma, antes de encarna-se e reencarnar-se (metempsicose), atravessa um lago cujo nome em grego (léthe) significa esquecimento. Em cada encarnação, portanto, a alma precisa refazer todo o processo do conhecimento para recordar aquilo que ela já sabia de antemão.  Algumas almas se banham mais e outras menos nas águas do lago. Por isso, umas são mais sábias do que outras, porque esqueceram menos. Essa concepção do conhecimento é denominada INATISTA, pois segundo ela, o conhecimento é inato, ou seja, nós já nascemos com ele, basta disposição para acessá-lo com a razão, enquanto se tenta mortificar as sensações, para a alma sobressair-se ao corpo.

O MITO DA CAVERNA

PLATÃO era um exímio idealizador de alegorias (realidades figuradas para explicar as coisas). A mais famosa é o MITO DA CAVERNA. Em tal alegoria, PLATÃO imagina uma caverna onde se encontram indivíduos presos e acorrentados desde o nascimento, olhando para uma parede na qual são refletidas apenas sombras, projetadas por manipuladores que ficam atrás dos prisioneiros e que projetam tais figuras graças a uma fogueira que existe também atrás dos presos. Como num teatro de fantoches de sombras, os prisioneiros, como crianças, passam a acreditar que a realidade se resume àquela caverna e àquelas imagens projetadas. A verdade é tudo aquilo que eles conseguem perceber, mesmo que mal e estranhamente pela falta de claridade. Até que um dia um dos prisioneiros consegue escapar das amarras e começa um processo ascensional, muito árduo e doloroso, visto seus membros estarem atrofiados por nunca os ter usado da forma adequada. Com muito custo, tal prisioneiro consegue sair da caverna, mas lá fora encontra-se com a claridade do sol e fica num primeiro momento cego, por sua visão não estar acostumada com tal percepção. Aos poucos ele vai se adaptando à claridade e vai conseguido se locomover com mais agilidade, até que consegue vislumbrar plenamente a verdade tal como ela é, e não mais sombreada como era na caverna, assim como passa a se locomover com destreza, graças à prática. Pensa então consigo: Por que não voltar à caverna e resgatar meus antigos companheiros? Tenho um dever ético e moral para com eles, pois não os posso lá deixar vivendo numa condição deplorável e enganosa. Parte então em busca do resgate de seus antigos amigos de cárcere cavernoso. Ao chegar lá, depara-se com os companheiros na mesma situação e começa a tentar dissuadi-los de permanecer naquela situação, contanto aos mesmos tudo que ele havia experimentado na realidade extra-cavernosa. Os antigos parceiros de cárcere começam a se indignar com tal discurso e a se revoltarem com aquele que os queria tirar da situação cômoda na qual se encontravam. Passam a tramar uma forma de eliminá-lo, para assim poderem continuar sua existência alienada. De tanto insistir, o antigo prisioneiro desperta a ira em seus ex-companheiros, que inconformados com a insistência, o matam. Tal alegoria representa a visão de PLATÃO sobre as ideias, o MUNDO SENSÍVEL (da caverna, ilusório, de sombras) e o MUNDO INTELIGÍVEL (fora da caverna, mundo de luz, claridade e contemplação das coisas tais como são e não como sombras). O filósofo que consegue se libertar seria uma representação de SÓCRATES, aquele que por primeiro vislumbrou que uma realidade fora da sensível poderia existir, mas quando tentou persuadir seus compatriotas de tal percepção, foi incompreendido e assassinado. 

REIS-FILÓSOFOS

PLATÃO também elaborou uma DOUTRINA POLÍTICA, onde quem deveria governar eram os filósofos, pois somente estes estavam preocupados e conheciam a verdade, a justiça e o BEM. As QUALIDADS DE UM GOVERNANTE, então, deveriam ser a disposição e a capacidade de buscar o conhecimento da verdade, da justiça e do BEM. A sociedade ideal seria aquela composta de três grupos, que assumiriam suas posições após um processo educacional, onde cada um seria colocado na posição que revelasse maior habilidade. Tal sociedade seria composta de trabalhadores braçais, guerreiros e filósofos. Os primeiros produzindo os bens necessários para abastecer a cidade, os segundos a protegendo e os terceiros a governando de acordo com a verdade, a justiça e o BEM. Na alegoria do NAVIO, PLATÃO acredita estar partindo para uma segunda navegação, não mais fundamentada no MUNDO SENSÍVEL (PRÉ-SOCRÁTICOS), mas no MUNDO INTELIGÍVEL, e o REI-FILÓSOFO é o representante supremo que empreende a segunda navegação, que fundamenta de forma ideal a maneira de governar e conduzir a política.

O BEM, O BELO E O VERDADEIRO SÃO AS ESSÊNCIAS DE TODAS AS COISAS

Segundo PLATÃO, as coisas sensíveis, como cópias das inteligíveis, participavam das segundas, pois expressavam de forma imperfeita as formas originais e essenciais de toda a realidade. Mas as coisas sensíveis eram boas, belas e verdadeiras de forma imperfeita, incompleta. Fundamentado nessa visão, PLATÃO vai olhar com reservas para O PAPEL DA POESIA E DOS POETAS NA GRÉCIA ANTIGA, pois sua arte representava uma simulação do mundo sensível. A POESIA, e a arte, de forma geral, eram vistas somente ENQUANTO ARTE DA IMITAÇÃO. Portanto, a manifestação artística seria imitação de imitação, uma vez que o mundo sensível já era uma cópia imperfeita do mundo ideal, ou seja, a arte seria cópia de cópia, e como toda cópia, jamais sai como o original, à medida que se vai imitando e copiando, mais se afasta da ideia primeva, da verdade e da beleza ideal

.

#CONEXÕES

Você consegue estabelecer uma analogia (relação de semelhança) entre o mito da caverna e algum espaço ou meio do mundo contemporâneo urbano? Há alguma situação ou elemento do cotidiano que recorde a prisão em que vivem os homens submetidos às ilusões da caverna?

#ANÁLISE E ENTENDIMENTO

O que é a concepção dualista da realidade de PLATÃO? O que é e qual o papel do demiurgo na teoria da realidade platônica? Na teoria das ideias de PLATÃO, qual é a diferença entre o mundo das sombras e o mundo das ideias? O que é a dialética platônica? A teoria das ideias de PLATÃO é outra tentativa de conciliar o grande debate da filosofia grega entre PARMÊNIDES e HERÁCLITO?

#CONVERSA FILOSÓFICA

Você considera importante que um governante tenha conhecimentos tão profundos como um filósofo? Em sua opinião, que qualidades dever ter um governante para que possa cumprir sua função da melhor maneira e promover o bem comum?

#CONECTADO

Seria Platão o pai da concepção espirita?

EXERCÍCIOS

QUESTÃO 1 (Habilidade: Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos nas artes.)

Nível de dificuldade: Médio.

Assunto: A Escola de Atenas.

Na teoria das ideias de Platão qual é a diferença entre o mundo das sombras e o mundo das ideias

SANZIO, Rafael. Escola de Atenas, 1511. Palácio Apostólico, Vaticano.

A pintura renascentista Escola de Atenas, através das figuras de Platão e Aristóteles, destacados no centro da tela, expressa um grande tema filosófico em relação à concepção de conhecimento no período clássico , expresso nas figuras representadas. Platão, o mais velho, aponta para o céu com a mão direita, enquanto o jovem Aristóteles, seu discípulo, aponta com a mão direita em direção à terra, expressando, nesse gesto,

(A) a ciência e a filosofia.

(B) a teoria e a prática.
(C) o físico e o psíquico.
(D) o sagrado e o profano.
(E) o sensível e o inteligível.

GABARITO: E

Comentário: O gesto expressa as concepções de conhecimento desses pensadores. Platão, com a mão para cima, alerta para o mundo das ideias ou inteligível, e Aristóteles aponta para a terra, indicando o mundo material, das aparências ou mundo sensível.

QUESTÃO 2 (Habilidade: Inferir o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                          

Nível de dificuldade: Fácil.                                                                                                                                                                     

Assunto: Platão.

Platão diferencia e separa radicalmente quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus são conhecimentos ilusórios e, somente o raciocínio e a intuição alcançam o Ser e a verdade.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia. Ensino Médio. v. 1. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

A partir desses graus, ele classifica duas formas de conhecimento:

(A) a arte e a metafísica.

(B) a filosofia e a ciência.

(C) a religião e a filosofia.

(D) o racional e o intuitivo.

(E) o sensível e o inteligível.

GABARITO: E

Comentário: Conhecimento sensível (crença, opinião) e conhecimento inteligível (raciocínio e intuição intelectual).

QUESTÃO 3 (Habilidade: Articular conhecimentos filosóficos e diferentes formas de linguagem.)                                                       

Nível de dificuldade: Difícil.                                                                                                                                                    

Assunto: Platão.

Na teoria das ideias de Platão qual é a diferença entre o mundo das sombras e o mundo das ideias


Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência, abrange a distinção entre o mundo da aparência (sensível) e o mundo da essência (inteligível). Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias, o inteligível e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisas sensíveis, no grau da apreensão de imagens, as quais são mutáveis, imperfeitas, cópias da verdade, não sendo objetos para gerar conhecimento verdadeiro.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia.  Ensino Médio. v. 1. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

O MITO DA CAVERNA expressa a concepção platônica de mundo sensível e inteligível, que representam, respectivamente

A)   A imperfeição e a perfeição.

B)   A realidade e a sombra.

C)   A essência e a aparência

D)   As ideias e os sentidos.

E)   A verdade e a mentira.

REPOSTA: A

QUESTÃO 4 (Habilidade: Ler textos filosóficos de modo significativo e elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                                                                                                                            

Nível de dificuldade: Difícil.                                                                                                                                                       Assunto: Platão.

Não é à parte melhor da alma, à razão, que ela fala, mas sim aos instintos e às paixões, que espicaça. O homem moralmente superior domina os seus sentimentos e, quando se vê submetido a fortes emoções, esforça-se por refreá-las. A lei e a razão mandam pôr um freio às suas paixões, mas a paixão impele-o a ceder à dor. [...] Mas a Poesia coloca-se na fase infantil e, à semelhança da criança, que, ao sentir uma dor, leva a mão à parte dolorosa do corpo e chora, também ela acentua ainda mais o sentimento de dor que representa, imitando-a. Desse modo compele o homem a entregar-se com toda a força a esta sensação, em vez de habituar a alma a dedicar-se com maior rapidez possível à restauração das partes afetadas pelo mal e a substituir as queixas pela cura.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

O texto fala sobre a concepção de arte em PLATÃO. Ele via com reservas a arte, pois

A)    A arte era fonte da verdade estética.

B)    A arte era imitação de imitação, cópia de cópia.

C)    A arte, como manifestação estética, levava a emoções sublimes.

D)    A arte corrompia os políticos.

E)    A arte poderia substituir a ética.

RESPOSTA B

QUESTÃO 5

Habilidade: Relacionar princípios filosóficos com situações da atualidade.

Nível de dificuldade: Médio

Assunto: Platão e a Alegoria da Caverna

Na teoria das ideias de Platão qual é a diferença entre o mundo das sombras e o mundo das ideias

Disponível em: Acesso em: 18 out. 2012.

Em um diálogo intitulado “A República”, Platão cria uma imagem conceitual, a Alegoria da Caverna, na qual faz uma leitura entre o mundo das aparências, percebido pelos sentidos, e o mundo das essências eternas e imutáveis, captado somente pela razão. Segundo Platão, o filósofo seria responsável para conduzir aqueles que admiram apenas imagens (sombras), a contemplar a verdadeira essência das coisas, através do exercício racional. A alma, que estaria presa a uma caverna (corpo), poderia se libertar e contemplar a “verdadeira realidade”.

Sobre isso, a charge de Mauricio de Sousa mostra os homens da atualidade

A)  libertos  das imagens que os alienava da vida.                                                                                                            

B)  presos às imagens do fantástico show da vida.                                                                                                               

C)  escravos das imagens, como o homem da caverna.                                                                                                      

D)  pensadores, inspirados no homem da caverna.                                                                                                

E)  libertos das sombras, graças às informações do Fantástico.

RESPOSTA: B


COMENTÁRIO: Nota-se, na charge, a crítica de MaurIcio de Souza às pessoas que ficam escravas das imagens, da aparência, fazendo menção a um programa de TV. Apesar de o modelo ter outra roupagem, ele reafirma a escravidão do homem, como na época em que foi escrita a Alegoria da Caverna, de Platão.


Page 2