Como comparar o filme com a realidade

Como comparar o filme com a realidade
Bastidores do filme 1917, de Sam Mendes (Foto: Universal Pictures France/Divulgação)

Vencedor de dois Globos de Ouro e indicado em 10 categorias do Oscar, 1917 chama atenção para um conflito pouco explorado pelo cinema. A Primeira Guerra Mundial se tornou o palco da obra autoral do diretor britânico Sam Mendes, que usou o drama da ficção cinematográfica para retratar o sofrimento de milhões de soldados que participaram do conflito e viveram nas trincheiras.

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Confira algumas curiosidades sobre o que realmente aconteceu no contexto do filme:

1. Personagens

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Dean-Charles Chapman, o Tommen Baratheon de 'Game of Thrones', interpreta o soldado de primeira classe Blake (Foto: Universal Pictures/Divulgação)

Para o roteiro de 1917, Sam Mendes se inspirou nas histórias contadas por seu avô, Alfred Hubert Mendes, escritor de ascendência portuguesa que serviu o exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Além disso, o cineasta se debruçou sobre uma vasta pesquisa com cartas, livros, diários e testemunhos de outras pessoas que vivenciaram conflito. Mas os personagens do filme indicado ao Oscar são, em si, fictícios – e a missão de Blake e Schofield, os protagosnistas, nunca chegou a acontecer.

2. Dia 6 de abril

Apesar de não ter relação alguma com a narrativa, o dia em que a história do filme começa marca a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. Em fevereiro, o país já havia rompido laços diplomáticas com a Alemanha, que foi autora de ataques submarinos e interferências no México contra os norte-americanos.

Em 6 de abril de 1917, os Estados Unidos entram oficialmente em guerra contra os alemães e, em 26 de junho, os primeiros soldados norte-americanos chegam à França. Em dezembro, os Estados Unidos ainda declaram guerra ao Império Austro-Húngaro.

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3. Armamentos alemães inovadores

A indústria bélica europeia se desenvolveu bastante ao longo da Belle Époque, que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Entre os países que mais investiram em armamentos, a Alemanha se destacou em batalhas marítimas, com submarinos capazes de lançar torpedos; a céu aberto, com bombardeios de gases venenosos; e em terra firme, com o uso de lança-chamas e metralhadoras, por exemplo.

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Além disso, como o filme mostra, os alemães eram conhecidos por criar armadilhas e destruir equipamentos assim que deixavam seus postos, para que os inimigos não conseguissem utilizá-los ao chegar ao local.

Outras novidades também foram "lançadas" no conflito por outros países, como os tanques de guerra britânicos e as granadas de gás não letal francesas. O resultado de tudo isso foram cerca de 20 milhões de mortos e 21 milhões de feridos, entre militares e civis.

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4. Ratos. Muitos ratos.

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O resultado de uma caçada de ratos de 15 minutos em uma trincheira francesa (Foto: rarehistoricalphotos.com/Reprodução)

Os ratos são elementos quase onipresentes nas cenas de plano-sequência de 1917. Não é para menos. Os soldados da Primiera Guerra Mundial tiveram que conviver com milhões desses animais, que eram atraídos pelos cadáveres enterrados nas trincheiras.

Com o tempo, os soldados foram desenvolvendo métodos para lidar com a infestação. Atirar estava fora de cogitação, já que era considerado um desperdício de munição. O uso de baionetas era bastante comum. Uma das formas mais eficazes era a caça de ratos por gatos ou, principalmente, terriers, que eram maiores, mais rápidos e mais fortes do que os felinos. Assim como os roedores, cachorros também aparecem em cenas em 1917.

Inclusive, a maioria das raças de terrier foi criada no Reino Unido e na Irlanda para controle de populações de ratos, coelhos e raposas sobre e sob o solo. A própria palavra terrier deriva do latim "terra".

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5. Os Devons

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Regimento Devonshire descansando após ataque próximo à comuna de Fricourt, em agosto de 1916 (Foto: © IWM (Q 1395)/devonremembers.co.uk/Divulgação)

No filme, os mensageiros Blake e Schofield precisam encontrar o segundo batalhão do Regimento Devonshire para avisá-los sobre a emboscada alemã. O regimento britânico de fato existiu e lutou na Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial.

Inicialmente, em época de paz, ele contava apenas com dois batalhões de tempo integral, um reserva e quatro de força territorial. Já durante o conflito, o regimento chegou a ter 25 batalhões. Tanto o primeiro quanto o segundo deles, que estavam em Jersey e no Cairo, respectivamente, desembarcaram na França no ínico de 1914.

Hoje, na comuna francesa de Mametz, é possível encontrar um cemitério de soldados que fizeram parte do Devonshire e a famosa lápide: "Os Devonshires defenderam esta trincheira, os Devonshires ainda o fazem."

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6. Operação Alberich

A operação alemã realizada na primavera de 1917 foi uma das principais inspirações de Mendes para o enredo do filme. Nela, a Alemanha retira suas tropas das trincheiras e recua  em direção à Linha Hindenburg, uma nova fortaleza onde os alemães poderiam se preparar para operações ofensivas. Sendo assim, apesar da confusão entre os alidados, os alemães não haviam recuado, apenas se movido para um lugar mais estratégico, que seria destruído apenas em setembro de 1918.

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Em seu filme, Sam Mendes usou a operação para mostrar a incerteza e as intrigas entre os diferentes batalhões e posições do exército sobre as estratégias de guerra.

Com informações de Esquire, Devon Remembers, Rare Historical Photos, AFP e Britannica.

Filme da Netflix com Leonardo DiCaprio se tornou um dos mais comentados pelo público nas redes sociais e o diretor comparou a produção ao governo de Jair Bolsonaro.

Um dos últimos lançamentos de 2021 na Netflix, Não Olhe Para Cima se tornou não só um dos mais assistidos do streaming, mas também um dos que mais movimentou as redes sociais recentemente - e virou referência até entre autoridades brasileiras. O ministro Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, citou o filme em coluna publicada no jornal O Globo, que foi comentada pelo próprio diretor do longa, Adam McKay. Em postagem no Twitter, o cineasta relaciona a mensagem de seu filme ao governo de Jair Bolsonaro.

“Só para deixar claro, Bolsonaro definitivamente diria às pessoas para não olharem para cima. Sem dúvidas”, escreveu McKay. No artigo, Ciro Nogueira compara o cometa retratado no filme ao Partido dos Trabalhadores para falar sobre as próximas eleições presidenciais. “(...) olhe para cima. Ao fazer isso e pensar no dia seguinte da eleição, não optará pelo cometa do PT”, escreveu.

No filme em que DiCaprio interpreta um cientista, a frase “não olhe para cima” é adotada como lema da campanha da presidente dos Estados Unidos, interpretada por Meryl Streep. A personagem nega completamente a ameaça do cometa e a devastação que causará, incentivando a população a ignorar a existência dele. Além disso, a governante rechaça abertamente a descoberta comprovada pelos cientistas e se recusa a tomar qualquer medida para proteger a população.

Como comparar o filme com a realidade

Assim, McKay compara a postura de Jair Bolsonaro ao negacionismo da personagem de Meryl Streep. As declarações do presidente brasileiro, por exemplo, questionando a necessidade e eficácia da vacina repercutiram entre lideranças e comunidades científicas do mundo todo. Desde o início da pandemia, em março de 2020, mais de 620 mil brasileiros morreram por complicações da Covid-19 - número que reduziu drasticamente com a campanha de vacinação. Desde então, de acordo com dados do Instituto Butantan, 96% das pessoas que morreram pela doença não estavam com a vacinação completa (agosto/2021). 

O Ministro-Chefe da Casa Civil não respondeu diretamente ao comentário do diretor de Não Olhe Para Cima (até o momento), mas, pelo Twitter, comentou a repercussão de seu texto. “As reações ao meu artigo em O Globo, até agora, tem sido o negacionismo político: “não é verdade, falsidade, mentira”. Volto a alertar: olhem para cima! O cometa do PT pode destruir a economia brasileira”, escreveu Ciro Nogueira.

Sobre o que é Não Olhe Para Cima?

Como comparar o filme com a realidade

Desde o lançamento do filme, não faltaram comparações entre a ficção e a realidade e boa parte do público apontou semelhanças entre os personagens e políticos, empresários e cientistas do mundo real. Em uma sátira à forma como a população e os líderes mundiais lidam com perigos reais e iminentes, Não Olhe Para Cima foi muito ligado à pandemia, mas fala também sobre aquecimento global. “É avassaladora e seguramente a maior ameaça à vida na história da humanidade”, disse Adam McKay em coletiva de imprensa.

As estrelas do filme, Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence, também chamaram atenção para o fato de a ciência estar sendo politizada. “É triste e frustrante ver pessoas que dedicaram suas vidas para aprender a verdade serem rejeitadas porque outras não gostam do que a verdade tem a dizer”, comentou a atriz vencedora do Oscar.