A comparação é uma figura de linguagem usada para descrever elementos por meio de características de outros elementos, estabelecendo uma ligação entre suas qualidades. Para isso, ela utiliza algumas expressões que explicitam a analogia feita. Show É muito comum utilizarmos a comparação no nosso dia a dia, mas ela também é bastante frequente na literatura, na música e, até mesmo, nas artes visuais. Leia também: Sentido literal e sentido figurado – o uso da conotação e da denotação na construção dos sentidos Exemplos de comparaçãoA comparação é feita ao se criar uma analogia entre dois termos baseada em semelhanças. Essa analogia deve ter um conector que indique o paralelo que se faz entre os dois elementos. Veja: “Ela foi rápida feito um trem.” “Esperava que você fosse curioso como um gato.” “Tal qual uma máquina, trabalhou bastante.” Há numerosos exemplos de comparação nas artes: “Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo” (Chico Buarque) “Meu coração tombou na vida / tal qual uma estrela ferida / pela flecha de um caçador” (Cecília Meireles) “O cajueiro quando perde a sua folha parece morto; não tem flor, nem sombra; chora umas lágrimas doces como o mel dos seus frutos.” (José de Alencar) A comparação é um tipo de figuras de pensamento.Comparação e metáforaA metáfora é outra figura de linguagem bastante recorrente na língua portuguesa e que faz analogia entre termos distintos, como a comparação. A diferença entre esses dois recursos estilísticos é que a metáfora não utiliza expressões que explicitem o paralelo que se faz entre os elementos, tornando mais evidente o uso da linguagem figurada. A comparação, por outro lado, sempre deixa nítido o paralelo que está sendo feito, pois usa expressões que “avisam” se tratar de uma analogia. Veja a diferença: “Eu enxergo bem como uma coruja!” No primeiro enunciado, utiliza-se uma comparação, pois a analogia é feita por meio do termo “como”. O segundo enunciado corresponde a uma metáfora, pois a analogia não se dá usando expressões de comparação, e sim fazendo uma afirmação no sentido figurado: não significa que a pessoa tenha realmente olhos de coruja, mas ela compara sua visão à de uma coruja, indicando que enxerga muito bem. As símiles híbridas são expressões que mesclam comparação e metáfora, comparando uma série de elementos com conectivos que explicitam a analogia (comparação) e sem eles (metáfora). “Então o Botelho ficava possesso e vomitava frases terríveis, para a direita e para a esquerda, como quem dispara tiros sem fazer alvo” (Aluísio Azevedo) No exemplo acima, extraído da obra O cortiço, de Aluísio Azevedo, o narrador emenda uma comparação em uma metáfora: ao narrar as “frases terríveis” que a personagem Botelho esbravejava, o narrador utiliza a metáfora “vomitava frases terríveis”, comparando-a com o ato de disparar tiros. Leia também: Figuras de pensamento – tipo de figura de linguagem que se volta para o campo do significado Exercícios resolvidosQuestão 1 – FGV Todos os pensamentos abaixo partem de uma metáfora ou de uma comparação; o pensamento que mostra uma justificativa para a metáfora ou comparação realizada é: a) A cidade não é uma selva de concreto; é um zoológico humano. (Desmond Morris) b) Todas as especulações são cinza, meu amigo, mas a árvore de ouro da vida é eternamente verde. (Goethe) c) Cada ave, com asas estendidas, é um livro de duas folhas aberto no céu. Protejamos esse livro. E aumentemos, com essa proteção, a miúda bibliografia. (Humberto de Campos) d) A distância é como o vento. Acende os fogos grandes e apaga os pequenos. (D. Modugno) e) A boa sociedade é uma horda de refinados, composta de duas tribos: uma que se aborrece e outra que aborrece. (Lord Byron) Resolução: Alternativa D. O trecho “Acende os fogos grandes e apaga os pequenos” serve como explicação para a comparação da distância com o vento. Questão 2 Assinale a alternativa que contém uma comparação. a) Ela era alta feito uma girafa. b) Minha vida é um livro aberto. c) Os olhos são a janela da alma. d) Lia avidamente para matar a sede do saber. e) Era o mais colorido de todos, um verdadeiro arco-íris ambulante. Resolução Alternativa A. Apenas esse enunciado apresenta um elemento conector que expressa que uma comparação é construída: “alta feito uma girafa.” Os outros itens contêm apenas metáforas. Comparação é uma figura de linguagem caracterizada pela analogia explícita entre termos de um enunciado, já que conta com a presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa. Isso já não acontece com a metáfora, que também realiza uma analogia, porém sem a presença desse tipo de conectivo. Já as símiles híbridas consistem na combinação entre uma comparação e uma metáfora. Leia também: Eufemismo – figura de linguagem que suaviza uma informação Exemplos de comparaçãoA comparação é uma figura de linguagem em que se percebe a analogia explícita entre dois ou mais termos, pois está sempre acompanhada de uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa. A comparação é feita entre dois ou mais elementos.Veja os exemplos a seguir: Fábio é mais velho do que Plínio. O livro é tal qual uma ponte para o infinito. Amo Pedro tanto quanto amei Micaela. Eu vivia como um indigente. Oscar Wilde experimentou o prazer do aplauso, assim como a dor do desprezo. Caminhava pelas ruas como se caminhasse em uma passarela. Elisandro ria que nem um bobo. A comparação e a metáfora são figuras de linguagem, ou de palavras, que consistem na analogia entre um ou mais termos de um enunciado. No entanto, a comparação é caracterizada pela presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa, o que não acontece com a metáfora, na qual a analogia é implícita. A metáfora extrapola o sentido denotativo.Assim, a comparação pode ser apontada no seguinte trecho da letra de música “Construção”, de Chico Buarque, do álbum Construção, de 1971: Amou daquela vez como se fosse a última Subiu a construção como se fosse máquina [...] Sentou pra descansar como se fosse sábado Nessa letra, a conjunção “como” é responsável por explicitar diversas comparações. Já no trecho a seguir, da letra de música “Gita”, de Paulo Coelho e Raul Seixas (1945-1989), do álbum Gita, de 1974, é possível observar uma sequência de metáforas: eu sou a luz das estrelas Eu sou o medo do fraco Eu sou o seu sacrifício E as juras de maldição Eu sou a vela que acende [...] Note que o eu lírico não utiliza nenhuma conjunção ou locução conjuntiva comparativa para se comparar a vários elementos, como ao sangue no olhar do vampiro. Portanto, nessa letra, há várias metáforas. Leia também: Hipérbole – figura de linguagem que expressa exagero proposital Símiles híbridasAs símiles híbridas é um fenômeno apontado por Vladimir Nabokov (1899-1977) ao analisar a obra, de Marcel Proust (1871-1922), Em busca do tempo perdido (1913-1927), e consiste na combinação entre uma metáfora e uma comparação. Assim, Nabokov1 dá o seguinte exemplo de comparação: A névoa era como um véu. Em seguida, um exemplo de metáfora: Havia um véu de névoa. Para, então, apontar as símiles híbridas: O véu da névoa era como um sono silencioso.2 Assim, “véu da névoa”, uma metáfora pura, é comparado, a partir da conjunção “como”, a um “sono silencioso”. Desse modo, são considerados símiles híbridas enunciados tais como: A ponte para o infinito foi como um divisor de águas em minha vida. O botão de rosa sorria como um dia de verão. O grande pássaro era tal qual a alvorada. Veja também: Paradoxo – figura de linguagem que expressa uma ideia contraditória Exercícios resolvidosQuestão 01 (Enem) Não somos tão especiais Extra, extra. Este macaco é humano. Todas as características tidas como exclusivas dos humanos são compartilhadas por outros animais, ainda que em menor grau. INTELIGÊNCIA A ideia de que somos os únicos animais racionais tem sido destruída desde os anos 40. A maioria das aves e mamíferos tem algum tipo de raciocínio. AMOR O amor, tido como o mais elevado dos sentimentos, é parecido em várias espécies, como os corvos, que também criam laços duradouros, se preocupam com o ente querido e ficam de luto depois de sua morte. CONSCIÊNCIA Chimpanzés se reconhecem no espelho. Orangotangos observam e enganam humanos distraídos. Sinais de que sabem quem são e se distinguem dos outros. Ou seja, são conscientes. CULTURA O primatologista Frans de Waal juntou vários exemplos de cetáceos e primatas que são capazes de aprender novos hábitos e de transmiti-los para as gerações seguintes. O que é cultura se não isso? BURGIERMAN, D. Superinteressante, n. 190, jul. 2003. O título do texto traz o ponto de vista do autor sobre a suposta supremacia dos humanos em relação aos outros animais. As estratégias argumentativas utilizadas para sustentar esse ponto de vista são a) definição e hierarquia. b) exemplificação e comparação. c) causa e consequência. d) finalidade e meios. e) autoridade e modelo. Resolução: Alternativa “b”. O autor do texto utiliza os seguintes exemplos: inteligência, amor, consciência e cultura. Além disso, aponta esta comparação: “O amor, [...], é parecido em várias espécies, como os corvos”. Questão 02 (AEVSF/ Facape - adaptada) No trecho “um mundo sem adjetivos é triste como um hospital no domingo” existe a seguinte figura de palavra: a) Catacrese b) Comparação c) Antonomásia d) Sinédoque e) Metáfora Resolução: Alternativa “b”. Nesse trecho, “um mundo sem adjetivos” é comparado a “um hospital no domingo”. Para isso, é usada a conjunção comparativa “como”. Questão 03 (Unimontes - adaptada) Todos os enunciados a seguir apresentam uma estrutura comparativa, EXCETO: a) “Optou por ensinar como proporcionar uma boa dieta com recursos escassos.” b) “Não é esdrúxulo como ser devorado por um jacaré.” c) “... a presença dessa coisa chamada amor como motor, tanto dela como das pessoas em quem ela inoculava o mesmo vírus.” d) “Também não é raro como cair no poço do elevador, como a atriz Anecy Rocha...” Resolução: Alternativa “a”. Todas as alternativas utilizam o termo “como”. No entanto, na alternativa “a”, ele não exerce a função de conjunção comparativa, pois está sendo usado como advérbio para indicar o modo de se fazer algo. Notas [1] Citado por Omar Alejandro Ángel Cortés. [2] Tradução, do espanhol para o português, de Warley Souza. |