Aponte alguns comportamentos morais do Fidalgo que justifiquem a restrição feita pelo Anjo

Exercícios para a Prova 1 de Livro 1 Trimestre 1. (FUVEST) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente: (A) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação. (B) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas. (C) É complexa a critica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal. (D) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas. (E) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo. 2. (UNICAMP) Leia o diálogo abaixo, de Auto da Barca do Inferno: DIABO Cavaleiros, vós passais e não perguntais onde ir? CAVALEIRO Vós, Satanás, presumis? Atentai com quem falais! OUTRO CAVALEIRO Vós que nos demandais? Siquer conhecê-nos bem. Morremos nas partes d além, e não queirais saber mais. (Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, em Antologia do Teatro de Gil Vicente. Org. Cleonice Berardinelli, Rio de Janeiro: Nova Fronteira/ Brasília: INL, 1984, p.89.) A) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo?

B) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele? 3. (PUC) Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino. A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar. B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal. C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa. D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza. E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico. 4. Por que é correto dizer que as personagens Vicentinas são alegóricas? Leia os versos 1-180 e responda as questões 5 a 12. 5. Perífrase ou circunlóquio é um "rodeio de palavras", uma maneira indireta de dizer algo, substituindo uma palavra por várias ("o astro do dia", em vez de Sol). Eufemismo é uma expressão suave, que evita que se diga diretamente algo chocante ou desagradável ("ele passou desta para a melhor"). No início da fala do Diabo há uma perífrase eufemística. Qual é ela e por que é utilizada em lugar da expressão direta?

6. Ao saber que a barca vai para o Inferno, o Fidalgo comenta: "Terra é bem sem-sabor". A julgar pelo comentário do Diabo, feito logo em seguida, com que tom o ator deve proferir a frase do Fidalgo? 7. Qual o sentido da frase em que o Diabo explica por que o Fidalgo, já em vida, tinha dado o sinal de sua viagem para o Inferno? 8. Segundo se depreende do que ele diz ao Anjo, o Fidalgo tinha-se preparado para morrer (como, em princípio, deveria fazer todo bom cristão)? Justifique sua resposta. 9. Qual o motivo que o Fidalgo apresenta para ser aceito na barca do Paraíso? 10. Qual a razão do Anjo para recusar entrada ao Fidalgo? Aponte alguns comportamentos do Fidalgo que justifiquem a restrição feita pelo Anjo.

11. Mencione duas ironias do Diabo no diálogo final com o Fidalgo (vv. 110-180). 12. Qual o motivo de o Diabo não permitir que o Fidalgo leve a sua cadeira na Barca do Inferno? Que pode representar Auto da Barca do Inferno a cadeira em relação à vida do Fidalgo? Leia os versos 181-367 e responda as questões 13 a 21. 13. Por que o Diabo trata o Onzeneiro como meu parente? 14. À chegada do Agiota, o Diabo lhe dirige a questão: Como tardastes vós tanto? Segue-se a explicação do Agiota, a que replica o Diabo: Ora mui muito m espanto / não vos livrar o dinheiro! A julgar pela pergunta do Diabo, o espanto referido na segunda passagem é verdadeiro? Justifique.

15. A palavra bolsão ( Porque esse bolsão / tomará todo o navio, v. 216) tem, no texto, um sentido denotativo e outro conotativo. Quais são eles? 16. De que maneira o Onzeneiro interpreta a negativa do Anjo em embarcá-lo? 17. A profissão do Onzeneiro, que era na época severamente condenada pela Igreja, corresponde, em nossa sociedade atual, a um ramo de atividades enorme e importantíssimo. De que se trata? 18. Que representa o Parvo, do ponto de vista social?

19. Como se justificam as agressões que o Parvo profere do verso 268 ao 295? 20. Por que, ao responder ao Anjo, o Parvo diz que era samica alguém (verso 298)? 21. Qual a justificativa que o Anjo apresenta ao aceitar o Parvo em sua barca? Releia os versos 368-556 e responda as questões 22 e 23. 22. Ao ver que o Frade portava um capacete na cabeça, o Diabo exprime espanto ( Cuidei que tínheis barrete! ). Qual o motivo desse espanto? 23. Depois de dirigir-se ao batel do Anjo, o Frade não vê outra alternativa senão enfim concluir. A que conclusão ele se refere e de que maneira chegou a ela?

Releia os versos 557-862 e responda as questões 24 a 28. 24. Para convencer o Anjo a embarcá-la, Brísida Vaz utiliza tanto argumentos quanto formas de tratamento. Explique. 25. Brísida compara a conversão de moças por Santa Úrsula com a que ela própria exercera sobre suas cachopas. A que conversão ela se refere? 26. Em que a representação do Judeu, no Auto da Barca do Inferno, revela a presença de preconceitos da época? 27. Quais as críticas que, na peça de Gil Vicente, são dirigidas aos representantes da Justiça?

28. No Inferno da Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265-1321), as almas dos condenados se acham enredadas nos mesmos pecados que praticavam na vida: os arrogantes estão afundados em sua arrogância, os maldizentes estão envolvidos em uma língua de fogo, etc. No Inferno de Gil Vicente ocorre algo semelhante: os pecadores não se desligam dos objetos de seus pecados. Explique e dê exemplos. Gabarito 1. Alternativa B 2. A) Porque a fala do Diabo revela seu desrespeito para com um Cavaleiro de Cristo, que morre para defender e propagar a fé cristã. Quem defende a causa cristã não vai na Barca do Inferno. B) Porque estão conscientes da salvação e de que vão na Barca da Glória. 3. Alternativa A 4. Porque as personagens não são propriamente um individuo, não tem características particularizadoras, não são apresentadas com psicologia individual; antes, as personagens representam toda uma classe social. 5. É a expressão "ilha perdida", que substitui "Inferno", que seria uma informação muito chocante para ser dada logo de início ao Fidalgo. 6. Com tom de zombaria e desprezo. Depreende-se da observação do Diabo que o Fidalgo tem diante da Barca do Inferno a mesma atitude arrogante e zombeteira que tinha para com tudo. 7. A frase do Diabo afirma que o sinal que o Fidalgo já tinha pagado provinha daquilo que, em vida, lhe tinha dado prazer, lhe tinha produzido contentamento ("do que vós vos contentastes"). Ou seja, os prazeres da vida do Fidalgo correspondiam a pecados que garantem a passagem para o Inferno.

8. Não, o Fidalgo não estava preparado para morrer, pois diz que partiu "tão sem aviso", isto é, foi colhido de surpresa pela morte, não contava com ela. 9. O motivo é que ele é um "fidalgo de solar", ou seja, um fidalgo de casa rica e antiga, de família poderosa e ilustre. 10. O Anjo diz: "Não se embarca tirania / neste batel divinal"; "tirania" é a palavra que resume a crítica ao comportamento do Fidalgo: arrogante, impositivo, injusto. O Fidalgo, com grande arrogância, refere-se a si mesmo de forma solene: "minha senhoria" e se espanta de que não se dê tratamento mais cortês a um homem de tal importância ("senhor de tal marca"). Outro sinal de vaidade está no grande rabo do casaco que veste além da cadeira que faz um servo levar, para quando ele quiser sentar-se. 11. O Diabo é bastante irônico com o Fidalgo, especialmente neste diálogo final. Exemplos: o Diabo chama-o de vossa doçura (v. 122); ironia que fica ainda mais saliente em vista de sua rima com tristura (v. 121); o resto da fala é também irônico (até o v. 127). A parte do diálogo que se refere à amante e à mulher do Fidalgo é igualmente carregado de ironias. [(v. 121) Venha essa prancha! Veremos esta barca de tristura. Embarque a vossa doçura, que cá nos entenderemos... Tomares um par de remos, veremos como remais, e, chegando ao nosso cais, (v. 127) todos bem vos serviremos.] 12. A cadeira, que em vida representava o status social superior do Fidalgo, agora na morte, representa do seu apego aos bens materiais da vida e a sua ilusão de que, mesmo no inferno, ele possa continuar a desfrutar de privilégios que o colocam acima dos demais homens. Por esses motivos o Diabo veta a entrada da cadeira em sua barca. 13. Porque a atividade do Onzeneiro (cobrar juros abusivos sobre dinheiro emprestado) o posiciona do lado do Mal, portanto como parente do Diabo. (Recorde-se de que a usura era condenada severamente pela Igreja.) 14. Não, o espanto fingido pelo Diabo é irônico, pois ele já esperava pela morte do Onzeneiro e espanta-se, antes, da demora, como demonstra sua primeira fala referida na questão. Ademais, ninguém melhor do que o Diabo saberia que o dinheiro não poderia salvar ninguém da morte e do Inferno. 15. Bolsão significa, denotativamente, bolsa grande (dentro da qual está o dinheiro do Onzeneiro). Conotativamente, significa a grandeza da usura, censurada pelo Anjo. 16. Pela fala do Onzeneiro ( Aqueloutro marinheiro, / porque me vê vir sem nada, / dá-me tanta borregada / como arraiz lá do Barreiro ), sabe-se que, no se no seu entender, ele é maltratado pelo Anjo porque vai ao barco do céu sem nada, isto é, sem dinheiro.

17. A atividade do Onzeneiro conhecida então como usura, ou seja, o empréstimo de dinheiro a juros corresponde hoje à atividade do setor bancário. A Igreja mudou de opinião a respeito do assunto: deixou de condenar a usura e até envolveu-se no mundo financeiro moderno. 18. Representa o agricultor pobre e oprimido, explorado pelos seus senhores, que eram os donos da terra (os senhores feudais). Em sentido mais amplo, representa os pobres, desvalidos e ignorantes em geral, vítimas da injustiça e da ambição desmedida das classes dominantes. 19. As agressões do Parvo se devem a sua reação descontrolada ao saber que o seu interlocutor era o Diabo e que aquela embarcação se dirigia ao Inferno. A violência do Parvo é sinal de sua religiosidade primária e de sua ignorância; a confiança com que ele ataca o Diabo é sinal de sua segurança em relação a si mesmo, a seu comportamento honesto, que seria reconhecido por Deus. 20. Porque, de tão oprimido e humilhado socialmente, ele nem achava que pudesse ser alguém : achava-se um João ninguém. (Seu nome, a propósito, era Joane, forma antiga de João). 21. O Anjo afirma que o Parvo pode ir ao Paraíso porque não pecou por malícia (maldade) e porque é uma pessoa de espírito simples e inocente (ou, numa expressão mais pejorativa, um pobre de espírito ). 22. Seria de esperar que sob o capuz o Frade portasse um gorro (barrete), como os demais padres. O Diabo, no tom irônico que lhe é característico, aponta uma vez mais a hipocrisia do Frade em relação aos preceitos clericais. 23. O Frade percebe que não há outra alternativa senão embarcar para o Inferno ( Vamos onde havemos d ir ) depois de sequer obter resposta do Anjo e, pior, notar pela fala do Parvo que todos o têm em péssima consideração: Senhora, dá-me à vontade / que este feito mal está. 24. Brísida Vaz tenta persuadir o Anjo, através de argumentos, a levá-la consigo, aludindo aos favores prestados aos cônegos da Sé, fornecendo-lhes meninas, moças delicadas e de boa educação, para seu deleite, assim como à sua boa ação de encaminhar as moças, jovens prostitutas, a quem as sustentasse como esposas ou concubinas. Quanto ao tratamento, ela dirige-se ao Anjo de forma sedutora, tecendo-lhe carinhosos elogios como mano, meus olhos; minha rosa; meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas.

25. Refere-se à transformação das moças em prostitutas. Há um jogo com a palavra conversão, que, no sentido religioso, significa conduzir de uma a outra religião e, no sentido profano, significa fazer passar de uma a outra condição. 26. Os preconceitos que se revelam na representação do Judeu são diversos e se encontram seja na consideração do judaísmo como se se tratasse de um crime (o bode que o Judeu carrega simboliza o seu apego à religião judaica), seja na crença que o Judeu teria no poder do dinheiro ( Passai-me por meu dinheiro, diz ele ao Anjo no verso 561), seja nos ataques do Parvo, que acusa o Judeu de desrespeitar a religião católica, seja finalmente na atitude de rejeição que até o Diabo manifesta diante dele (verso 603). 27. As críticas são basicamente de corrupção (o Corregedor vendia sentenças por dinheiro) e de pretensão enganadora (todo o latinório não passa de uma tentativa de induzir os outros ao engano, com o uso indevido de regras e leis). 28. Os condenados de Gil Vicente são, todos, de tal forma apegados aos objetos de seus pecados, que os levam para o outro mundo. Assim, o Fidalgo chega acompanhado de um pajem, que segura o rabo de sua luxuosa vestimenta e leva a cadeira de que ele se faz acompanhar ou seja, vai para a morte cercado daquilo que caracterizou sua vida de altivez, arrogância e riqueza. Da mesma forma, o Frade traz a moça, que representa sua devassidão moral, e a espada, que simboliza a sua vida cortesã; o Sapateiro carrega as fôrmas e o avental que lhe serviram, em seu ofício, para explorar os seus clientes; o Corregedor chega ao cais das almas sobraçando os volumes dos processos que julgava de maneira corrupta, pois aceitava propinas em troca de suas sentenças; a Alcoviteira vem provida de himens postiços, todo um armário de mentiras e outros instrumentos de ilusão; o Onzeneiro leva o seu bolsão de dinheiro, e o Judeu carrega a cabra que era tida como símbolo da sua religião.