A negação da comparação entre lula e vargas

Escrito en BLOGS el 10/4/2018 · 15:06 hs

por Douglas F. Barros A comparação entre Lula e Getúlio Vargas não é boa; é como comparar Grécia e Roma, para saber quem foi mais importante. Mas de toda forma, há uma enorme diferença: Lula fez a Democracia se mover (atores, classes, movimentos, partidos, mídia...) por dentro do sistema. Lula fez a aposta de sua carreira política pela e na democracia porque, não sendo das elites (militar, judicial, agrária, burguesa etc), ou ele alteraria os vetores de mudança social por dentro do sistema ou seria ejetado facilmente como criminoso, bandido, cachaceiro etc. Por isso todas as decisões dele foram no sentido de trabalhar com as instituições, mesmo quando elas lhe são/foram desfavoráveis. Ele sabe que, se movê-las, move ao mesmo tempo os sistemas que travam mudanças sociais no país e as oportunidades lhe são abertas. Por isso, ele topou a batalha nas instituições e forçando os limites dessas mesmas. Veja só, Lula é tão cioso disso que jamais teria feito o que FHC fez pela reeleição. Porque sabe que, se tivesse se movido para fazê-lo nos mesmos moldes que FHC, teria sido expulso do jogo político horas depois. Isso irrita quem deseja a mudança a passos largos. Mas, se a gente observar o discurso dele no sábado, no Sindicato em São Bernardo do Campo, mais de 15 dos 60 minutos foram dedicados às instituições - Judiciário incluído. Ele não pôde e não quis almejar golpes, como Getúlio, nem quis perseguir os adversários (caso Banestado, falência da Globo), nem muito menos encarcerar a direita inimiga, e por aí vai. Esse modo de proceder conciliatório irritou muitos -  à esquerda e à direita. Porque inúmeras armadilhas lhe foram lançadas, fosse para lhe vestir a carapuça de traidor da esquerda, fosse para lhe vestir a de marginal e criminoso em face do sistema vigente, e essas nunca  lhe couberam bem. Ele sempre seguiu no limite das instituições. Por isso, não seria agora que tentaram lhe vestir "a mais bem arranjada" das carapuças costuradas pela UDN de sempre, a de corrupto condenado em todas as instâncias - lembre-se da chamada da GNEWS domingo o dia inteiro: primeiro presidente preso por corrupção e lavagem de dinheiro-, que ele iria aceitá-la assim, facilmente. Se ele tivesse se exilado numa embaixada qualquer, não seria o novo Jango. Como qualquer pobre e preto que corre da polícia com medo de porrete, seria tratado como fugitivo, covarde e ...bandido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Lula fez o que faz sempre: respeitar as instituições e tensioná-las, forçar os seus limites por dentro. Lula não é e jamais será revolucionário, nem mesmo um Getúlio. Em conversa com professora muito próxima minha, antes de ser preso, ele disse que a saída é sempre tensionar na Democracia porque ou fazemos assim, no Brasil, ou não saímos da escravidão. Ele sabe que fora da Democracia e de suas instituições - por pior que elas sejam - ele estaria fora do jogo assim como é mais fácil, é "natural", enjaular preto, pobre e nordestino e coisa e tal. Não sabemos para onde essa mexida no jogo nos conduzirá, mas Lula conseguiu marcar gol e vibrar mesmo com o mando de campo da UDN. Ele mexeu no tabuleiro e a pressão agora está na situação (com medo de ser presa) e com o Judiciário (tendo que mostrar "serviço" para com os corruptos). É pouco? Sim. Pode dar em nada? Sim. É uma aposta. Mas, uma aposta dentro do jogo que pode abrir horizontes de oportunidades. Lula, enfim, mexeu com brios e opiniões valendo-se apenas de imagens, gestos, afagos, suor e lágrimas, muitas lágrimas. Fez política como não víamos havia vários anos. Talvez poucas vezes vejamos/tenhamos visto algo tão intenso como aquele sábado. Mas ele fez política de um modo que paralisou o país (coxinhas em êxtase) e deixou a mídia, que se preparou anos para aquele momento, em silêncio, atônita, sem palavras. A esta só lhe restou xingar: vejam-se Nêumanes, Cantanhedes, Vilas e tantos outros. Lula deu aula, novamente. Com Lula preso, quem dará atenção a qualquer outro assunto? Eleições? Melhora na economia? O tema agora é: quem do lado de lá vai preso? E se ninguém for preso? O vetor do momento é Lula e por muito tempo será ele. Minha aposta desde sempre é que não teremos eleições se o clima virar contra a oposição e Lula continuar a dar o tom geral. A direita terá que dizer com todas as letras: foi golpe mesmo e estamos no poder às custas de porretes e ...leis. Se houver eleições, sem Lula no páreo, o risco Bolsonaro é altíssimo e o mercado detesta riscos políticos, a não ser que fique com a chave do cofre. Então, quem esperava a poeira baixar após domingo, se enganou. Daqui para frente, essa história da mídia de “fim do PT”, ou “e agora PT?”, e ainda “vamos cuidar da normalidade” são apenas sintomas do desejo das elites que querem empurrar o candidato do "centro democrático" para aurna. Minha aposta: não vai colar e a tensão vai aumentar, como Lula deseja. Assim, estamos em momento de suspensão, com os consensos se formando em torno da ideia de que a prisão de Lula é sim uma fase do golpe. Se, mesmo preso, Lula continuar a falar tão alto com o povão, a UDN agirá de que modo? Contra quem? A pressão só aumenta e Lula foi quem botou lenha no fogo, sem detonar as instituições. Como sempre, dentro das regras, nos limites da democracia. Isso irrita, mas é o jogo dele. Quem quiser algo mais pirotécnico que busque outro, que faça a revolução. Ele não fará. * Douglas F. Barros é professor de Filosofia Política na PUC-Campinas (o texto foi escrito a partir de uma provocação deste blogueiro, que lançou a pergunta a um grupo de argutos observadores da cena política: Lula seria um personagem maior ou menor que Getúlio Vargas?)

A negação da comparação entre lula e vargas

O poder político, para representar plenamente a nação, há de reconhecer a grandeza e a importância das artes e da cultura.

Os políticos, sejam eles populistas, demagogos, democráticos ou apenas sensíveis, devem saber compartilhar a cena nacional com os artistas, criadores e fazedores de cultura em geral.

Na história do Brasil, entre os chefes de Estado, analisando sob o ponto de vista da importância que deram às artes e à cultura, se destacam D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino e Lula.

Com diferenças marcantes nessa relação, eles reconheceram a importância da cultura em geral e das artes para a construção e o desenvolvimento do país. Esses quatro estadistas, cada qual à sua maneira, demonstraram ter crença na grandeza da nação e muito afeto pelo Brasil e sua gente.

Juscelino acreditava no Brasil, na sua grandiosidade. Aliás, o Brasil nesta época acreditava em si mesmo e tinha confiança no futuro da nação.

JK não era um populista. Era um desenvolvimentista, o que não é pouco neste país… Demonstrava, com palavras e gestos, que acreditava na grandeza do País e se via como um agente dessa grandeza, pelo viés do desenvolvimento.

JK tinha fortes ligações com as artes brasileiras e com os artistas de sua época: Portinari, Oscar Niemayer, Villa-Lobos e muitos outros. Seu chefe de imprensa era o escritor Autran Dourado. Foi amigo de Villa-Lobos.

Durante o governo de Juscelino, o moderno e o novo refletiram-se na cultura nacional. A Semana de 22 tinha fertilizado o campo do simbólico brasileiro e a era de JK foi um renascimento, com muita força daquele ambiente criativo.

O mundo, nesta época, vivia muitas rupturas e revoluções culturais, o que estimulava e favorecia os artistas e criadores brasileiros.

Nessa época, surgiu a bossa nova na música popular brasileira, cujo termo tornou-se comum nos anos 60, simbolizando o que era novo e moderno. JK mesmo foi chamado de “presidente bossa nova”, por seu espírito jovem e empreendedor.

Nos chamados anos JK, tivemos a consagração mundial do Cinema Novo e também foram criados o Teatro de Arena e o Oficina e lançados, na literatura, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Laços de Família, de Clarice Lispector, e Encontro Marcado, de Fernando Sabino.

Foi quando nasceu o concretismo de Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos.

A imprensa também evoluiu muito no período. Destaque para o JB.

Juscelino manifestava e irradiava uma grande confiança no país e um inquestionável amor e admiração pelo Brasil e sua cultura.

A memória e a recuperação da nossa história são fundamentais. Principalmente neste momento, em que o Brasil está sendo envolto por tanta mediocridade e boçalidade. Momento de negação da arte e da cultura brasileira, de desmonte e demolição de todas as conquistas culturais, de rejeição ao ato criativo, da tentativa de restabelecer a censura e de uma feroz tentativa de reduzir nossa grandeza.

O país, para recuperar sua força e sua vitalidade, terá que recuperar criticamente o nexo com o seu passado, revalorizar sua singularidade como povo e como nação, manifesta em sua arte e sua cultura para restabelecer plenamente sua confiança no futuro.

Querem nos fazer ver o país a partir de um espírito colonizado, subalterno, definido por um amontoado de boçalidades e miudezas nitidamente para nos fazer perder a autoestima.

Os ataques às artes e a narrativa pobre e colonizada que essa extrema direita autoritária e pobre de espírito está impondo ao país são uma ação consciente, uma tática de guerra híbrida.

Esta estratégia medíocre quer passar o Brasil à limpo, apagando, como se fossem nódoas, todos os registros e marcas da nossa singularidade como povo e como nação.

Tentam, em vão, demonizar e desmerecer todos os traços da contribuição africana e dos povos indígenas à nossa identidade e, sistematicamente, desvalorizam a nossa rica diversidade cultural.

Eles demonstram um enorme mal-estar diante das liberdades presentes na nossa cultura e na nossa maneira de ser.

Além do fato de serem ignorantes, colonizados, incultos, os arautos dessa direita neoliberal e autoritária não conseguem compreender que as artes, os saberes e fazeres, incluindo a ciência e os saberes tradicionais, são os verdadeiros pilares da civilização.

O Brasil é bem maior do que esse projeto medíocre e, mais cedo ou mais tarde, nos livraremos desse pesadelo. As artes e a cultura serão importantes para a reconstrução do país e para sua transformação.