A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari

Será que é a Arte que imita a Vida ou é a Vida que imita a Arte? Esta pergunta tem sido feita, talvez, desde que o mundo é mundo e que existe o humano e que produzimos Arte. Talvez se substituirmos o “ou” pelo “e”, descobriremos que por vezes nos inspiramos com a Arte e ela modifica nossa forma de ver (e de viver), e por outras, o nosso dia a dia serve de inspiração para criarmos Arte.

Com o café não é diferente! Por isso que nós, do Grão Gourmet, decidimos pesquisar quando a Arte e o Café se encontraram na história da humanidade. E desta pesquisa resolvemos fazer uma viagem pelo planeta e os convidamos, clientes e leitores, para irem conosco nesta aventura.

por vezes nos inspiramos com a Arte e ela modifica nossa forma de ver (e de viver), e por outras, o nosso dia a dia serve de inspiração para criarmos Arte.

A nossa viagem se inicia aqui em terras brasileiras e no mesmo estado aonde o Grão Gourmet também nasceu: São Paulo. Ela começa na pequena cidade de Brodrowski, em 30 de dezembro de 1903, quando nasce Candinho, o pintor Cândido Portinari (1903-1962) em nada mais nada menos que uma fazenda de café. Brodrowski leva o nome do engenheiro que criou a primeira estação ferroviária do município, que nasceu no entorno dos trilhos do trem que trazia diversas famílias de imigrantes italianos, como a de Portinari, para trabalhar nas lavouras de café.

As obras e o café

A infância passada em contato com o café gerou pinturas ao longo de toda sua vida. Das suas obras mais conhecidas, o “Lavrador de Café (1934)”, é uma das suas primeiras pinturas sobre o tema. A tela, pertencente ao acervo do MASP (Museu de Arte de São Paulo) retrata o jovem trabalhador negro com sua enxada na mão, seus pés grandes como raízes das árvores, estas cortadas como a ao lado pelo desmatamento na região, a lavoura de café ao fundo e o trem na ferrovia.

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

Em 1935, a obra “Café” dá ao artista seu primeiro reconhecimento internacional na Exposição de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova Iorque. Nela, a força do trabalho braçal de escravos e camponeses, homens e mulheres trabalhadores da lavoura, carregando sacas de café ou colhendo os frutos, com seus pés se juntando à terra, quase que dela fazendo parte.

A visão social e ambiental fez parte de muitas das telas deste artista e político, considerado um dos maiores pintores brasileiros. Essa obra encontra-se no acervo do museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

Projeto Portinari

No Projeto Portinari (www.portinari.org.br), coordenado pelo seu filho, João Candido Portinari, é possível acessar online o acervo do pintor com diversas telas que trazem o café como tema, como a pintura a guache “Transportando café (1937)”,

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

o desenho a grafite “Peineirando café (1954)”,

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

e a pintura a óleo “Colheita de Café (1957)”.

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

E nasceram também poesias…

Além de pintar, Portinari também escrevia poesias. Elas, e muitas de suas obras, podem ser encontradas no Museu Casa de Portinari (www.museucasadeportinari.org.br) localizado na casa em que ele viveu sua infância e adolescência.

A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
A importância do trabalho com a obra café, de Cândido Portinari
fonte: google imagens

Finalizamos esta visita de nossa viagem com um trecho de “O menino do povoado” (Saí das águas do mar), poesia deste artista que tinha o café e suas lavouras conectados profundamente em sua vida e obra.

 Saí das águas do mar E nasci no cafezal de Terra roxa. Passei a infância

No meu povoado arenoso.

 Andei de bicicleta e em Cavalo em pêlo. Tive medos E sonhei. Viajei no espaço.

Fui à luta primeiro doque o sputnik.

Caminhei além, muito além, para Lá do paraíso. Desci de pára-quedas, Atravessei o arco-íris, cheguei

Nos olhos-d’água antes do sol nascer.

 Nasci e montei na garupa De muitos cavaleiros. Depois Montei sozinho em cavalo de

Pé de milho. Fiz as mais

Estranhas viagens e corri Na frente da chuva durante Muitos sábados. Dava poeira

No trenzinho de Guaivira.

Paco espanhol era meu parceiro. Vivíamos apavorados com os Temporais — pareciam odiar

Aqueles lugares…

Vinham ferozes contra as Sete ou oito cabanas

Desarmadas.

 Num pé de café nasci. O trenzinho passava Por entre a plantação. Deu a hora Exata. Nesse tempo os velhos Imigrantes impressionavam os recém-chegados. O tema do falatório era o lobisomem. A lua e o sol passavam longe. Mais tarde mudamos para a Rua de Cima. O sol e a lua moravam atrás de nossa Casa. Quantas vezes vi o sol parado. Éramos os primeiros a receber sua luz e calor.

Em muitas ocasiões ouvi a lua cantar.

E para quem quer conhecer mais, vale a pena assistir “Imaginário Portinari”, Vídeo da TVescola sobre a vida e a obra de Cândido Portinari em sua cidade natal Brodowski, “Portinari – De lá pra Cá” programa da TV Brasil em homenagem aos 50 anos de sua morte e “Portinari do Brasil” do Canal Arte 1.

E você, conhece alguma obra de Arte que tenha o café como inspiração ou tema? Conte para a gente nos comentários.

Até a próxima parada, em mais um Café com Arte!

Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet.

Gostou da história? Aproveite o clima cafeinado e confira nosso clube de assinaturas!