A importância da população ter conhecimento

Conteúdo validado por Luciana Soldá, Head da Proxismed

A saúde é um direito de todo brasileiro, mas muitas pessoas ainda não têm acesso aos cuidados básicos. Além disso, por falta de informação adequada, muitas delas não se cuidam, ficam doentes e não seguem o melhor tratamento. Pensando nisso, o Dia Mundial da Saúde deste ano, celebrado em 7 de abril, tem como tema incentivar a cobertura universal de saúde.

A data comemorativa marca a fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aconteceu em 1948, e tem como objetivo convidar todas as pessoas, de líderes globais à sociedade, a protegerem o bem-estar da população.

Segundo a OMS, milhões de pessoas no mundo são forçadas a escolher entre cuidados com a saúde e outras despesas diárias, como alimentos, roupas e até mesmo moradia. Pelo menos metade dos cidadãos do mundo ainda não têm cobertura total dos serviços essenciais de saúde.

E qual é a relação disso com a informação ou a falta dela? Primeiramente, a informação é necessária para que as pessoas saibam sobre seus direitos, serviços disponíveis, orientações sobre tratamentos e como prevenir doenças.

É quando questões relevantes entram em cena. Veja alguns exemplos:
Como um médico se comunica com o paciente? Como uma empresa do segmento de saúde ou o governo fala para a população sobre doenças? Como é a busca de uma pessoa sobre sintomas no Google?

Para responder a essas perguntas, é preciso se basear em informação e comunicação. Afinal, somente com a informação adequada, as pessoas conseguem se cuidar, se tratar e ter acesso à saúde. Assim, uma publicação da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos afirma que a “alfabetização em saúde é essencial para o sucesso do acesso ao cuidado e uso dos serviços, autocuidado de condições crônicas e manutenção da saúde e do bem-estar”.

O acesso à informação em saúde

Os pesquisadores explicam que a alfabetização em saúde é o grau em que os indivíduos têm capacidade de obter, processar e entender informações básicas de saúde – e assim tomar decisões adequadas relacionadas com os serviços de saúde.

O trabalho “Acesso à informação em saúde e cuidado integral: percepção de usuários de um serviço público”, publicado pela Universidade de São Paulo (USP), explica que todos temos o direito fundamental à informação em saúde. Segundo o artigo 5º, inciso XIV da CRFV/88, é assegurado a todos o direito de acesso à informação, resguardando o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

“Ao mencionar o acesso de todos à informação como um direito individual, ressalta-se o direito fundamental à informação em saúde. Ou seja, o direito que o usuário de um serviço público de saúde tem de ser informado sobre todos os aspectos que envolvam a sua saúde, e os serviços asseguram o acesso à informação por direito”, explicam os autores da USP.

Entretanto, só é possível chamar de informação algo que se compreende. Isto é, se existe consenso em relação ao seu significado. Pois cada pessoa pode ter uma bagagem anterior para interpretar o que é comunicado e, assim, alguns podem entender e outros não.

Na área da saúde isso é ainda mais importante, pois o setor reúne informações médicas muitas vezes complexas. Portanto, é essencial garantir que eles recebam informações claras e compreensíveis.

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Como fornecer informações eficazes sobre saúde?

A Aliança Internacional de Organizações de Pacientes (IAPO) explica que cada paciente tem valores únicos, assim como perspectivas e preferências. Portanto, a informação personalizada é importante para “melhorar a qualidade e o acesso à informação de saúde para pacientes”. Segundo a IAPO, é importante ter atenção aos seguintes aspectos:

Credibilidade:

Em uma época em que a disponibilidade de informações já não é tanto um problema, tornou-se crucial que sejam usadas fontes confiáveis.

Clareza:

É necessário que a informação seja lógica em sua estrutura e a comunicação seja clara em relação aos seus objetivos e resultados.

Engajamento do paciente:

Se eles se envolvem com a geração e a disseminação de informações, os profissionais da saúde e os pesquisadores podem conseguir entender mais facilmente as necessidades dos pacientes.

Linguagem:

Redação, formato e estilo precisam ser determinados de acordo com as características individuais.

Comunicação:

Estratégias, métodos e canais apropriados devem ser utilizados para garantir o acesso às informações.

Com esses critérios utilizados na jornada do paciente, é possível empoderar o paciente e torná-lo protagonista do cuidado. Além de tê-lo como aliado no tratamento ou prevenção de enfermidades. A comunicação, seja de serviços, cuidados, estudos ou orientações relacionadas com saúde e qualidade de vida, pode ser feita por diversos canais e formatos.

Uma estratégia muito utilizada é a sazonalidade e datas do calendário de saúde. São ótimas as chances de destacar doenças e cuidados com a saúde. Por exemplo, o Dia Mundial de Combate ao Câncer e o Dia Mundial de Sensibilização para a Doença de Cushing são comemorados no dia 8 de abril e podem ser usados para informar pacientes que tenham as doenças ou que buscam se proteger delas.

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A busca da informação em saúde pela internet

Não podemos falar de informação em saúde sem comentar sobre como a internet mudou esse cenário. Afinal, o aumento do acesso à internet transformou significamente o processo de busca de informações e conhecimento. É difícil encontrar alguém que não procure no Google um local para comer, uma explicação de como consertar algo ou cozinhar algum alimento. Na área da saúde, não é diferente.

Um levantamento do Google revela que o Brasil é o país em que as buscas referentes à saúde mais cresceram no mundo no último ano. De acordo com o estudo, 26% dos brasileiros recorrem primeiro ao Google ao se deparar com um problema de saúde.

Outra pesquisa, divulgada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), mostra que, atualmente, 40% dos brasileiros realizam um autodiagnostico médico pela internet. Isso faz parte da jornada do paciente ao tentar descobrir o que se tem, mas é preciso ter muito cuidado. Especialistas recomendam cautela com informações sobre saúde na internet. Para isso, é importante buscar fontes confiáveis e sempre procurar instituições e especialistas do segmento de saúde.

Se a informação não for correta, segura e coerente, ela pode impactar a vida de alguém de forma negativa. Por isso, para ajudar na busca pelo acesso e promoção da saúde, é necessário ter um relacionamento próximo com as pessoas e dados que sejam confiáveis.

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A pesquisa científica colabora para o engrandecimento da sociedade. Afinal, uma pessoa que investiga os processos de transformação, sejam eles sociais, econômicos, humanos ou químicos, e a partir dessa investigação constrói conhecimentos que são essenciais para o desenvolvimento de uma nação. Esta é definição de pesquisador científico segundo Anna Benite, professora-doutora da Universidade Federal de Goiás, mestre em Ciências e Licenciada em Química pela UFRJ, além de integrante da Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino de Ciências e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

A especialista afirma que 95% dos conhecimentos produzidos no Brasil vêm das universidades, e que esse trabalho científico traz explicações para diversos fenômenos que nos movem. “Quem faz pesquisa científica também é quem ensina e forma novos pesquisadores e profissionais do ramo”, reflete.

“Nenhuma nação consegue evoluir sem pesquisa científica”, afirma Benite. “Se estamos hoje em uma sociedade tecnológica, isso se deve aos pesquisadores que criam modelos de pesquisa, validam dados e os publicam. Essa sistematização é fundamental para alimentar a produção de conhecimento”.

 As origens de quem faz pesquisa científica

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi criada em 8 de julho de 1948. A iniciativa organizou pesquisadores de forma a estimular o desenvolvimento científico e institucionalizar a ciência e a pesquisa científica no Brasil. A data se tornou o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador em 2008.

Um dos fundadores foi o médico José Reis, que defendia a educação e o conhecimento para a construção de uma sociedade mais justa. Reis atuou na pesquisa de doenças aviárias (repercutida nos Estados Unidos, onde estudou durante um ano) e na tradução de livros sobre o tema. Ele dá nome ao Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a instituições que contribuíram para a divulgação da ciência no Brasil.

Carreira em pesquisa científica

A carreira de Anna Benite com pesquisa científica começou em sua graduação em Química, no período noturno na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela escolheu o curso por acreditar ser o mais adequado à sua situação naquele momento. “Fiz vestibular para um curso no qual teria mais condições de entrar, que se adequasse ao meu perfil de mulher negra, pobre e que não fosse um curso no qual passasse o dia inteiro na universidade, e que pudesse me formar e já trabalhar”.

A importância da população ter conhecimento

Ao longo do curso, no entanto, as coisas mudaram. Ela viu outras possibilidades ao trabalhar com pesquisa científica no centro de Ciências Biomédicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). “Trabalhei com bioquímicos que me fizeram perceber que eles eram o que eu gostaria de ser. Queria estar naquele meio com a chance de, todos os dias, estudar e ter acesso a novas informações que têm impacto sobre a vida das pessoas e nas trajetórias das sociedades”.

Benite seguiu o caminho acadêmico e atuou com pesquisa científica sobre fármacos e uma série de complexidades científicas. “Foi um caminho no qual as coisas se encaixaram: entrei para um trabalho acadêmico para me manter e ele me encaminhou. Muitas pessoas foram solidárias à minha trajetória. Fiz mestrado e doutorado sem computador, então precisei de pessoas que apostaram em mim. Hoje, eu ensino sobre isso”, diz.

Como fazer uma pesquisa científica

Não existe uma faculdade certa para se tornar pesquisador científico. Para quem tem interesse em seguir na profissão, o caminho mais comum é ingressar um programa de iniciação científica durante a graduação. Muitas universidades oferecem bolsas de estudo para estudantes que participam de projetos de pesquisa executados por professores de várias áreas do conhecimento.

A Iniciação Científica é um programa orientado de longo prazo (de um a dois anos) em que o aluno seleciona um tema — que deve depender da linha de pesquisa, interesse ou currículo do professor que será o orientador — e, com uma abordagem inovadora, desenvolve o estudo.

Após a Graduação, o próximo passo é ingressar em uma Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado), para continuar com as pesquisas, produzir e publicar artigos, além de participar de congressos para que seu nome se torne mais conhecido na área.

Desafios científicos e sociais

Um estudo da Fiocruz publicado em 2019 mostra que 93% dos mais de 2 mil jovens entrevistados não sabem dizer o nome de um único cientista brasileiro. O fato de a ciência ser apresentada tardiamente aos jovens também representa um desafio. “O conjunto de ciências, que é amplo, é apresentado muito tarde aos jovens e um agravante é que valorizamos pouco a profissão de pesquisador científico no Brasil”.

A doutora afirma que um dos grandes desafios da pesquisa científica é atravessar um momento no qual a ciência tem sido desacreditada, além da falta de investimento em pesquisa, que engessa a capacidade de produção de conhecimento.

A diversidade, com destaque para uma maior representatividade de gênero e raça na profissão, é outro item considerado fundamental para aproximar o público em geral, especialmente estudantes, da ciência e da pesquisa científica. “É assim que se muda esse quadro de interesse da juventude, por meio do ensino de uma ciência que seja plural e que dialogue com os problemas de uma sociedade real, que seja dinâmica e cative os alunos justamente por ser viva e empolgar”, finaliza.